terça-feira, 17 de junho de 2025

Mão de Ferro - A vida do brutal comandante Gotz Von Berlichengen



Gotz Von Berlichengen, mais conhecido pelo apelido de "Gotz da Mão de Ferro", foi um Cavaleiro Teutônico cuja vida real soa como uma versão hiper violenta e bizarra do personagem Ash da franquia Evil Dead, mais especificamente Army of Darkness. Não apenas pela atitude, mas pelas palavras que marcaram época. Por exemplo, em 1520, Gotz e uma pequena guarnição estavam em uma cidadela sitiada por um exército inimigo muito superior. Quando o comandante inimigo ofereceu a ele rendição, Mão de Ferro teria se tornado a primeira pessoa na história a responder dizendo "eu me rendo quando você vier aqui e beijar meu traseiro". Até onde sei sabe, a historia registra que ele foi o primeiro a usar essa expressão popular até os dias atuais - "Kiss my Ass".

Na sua Alemanha natal, ele é tratado como um Robin Hood e considerado uma espécie de anti-herói até os dias atuais. Gotz teve uma carreira militar que durou 47 anos em uma época em que a maioria das pessoas raramente viviam até os 47 anos. Ele foi um Cavaleiro Germânico Teutônico no século XVI, travando batalhas e servindo em Guerras Civis em toda Europa Central. Inimigo ferrenho do Sacro Império Romano, participou de incontáveis lutas, escaramuças e confrontos. Fazendo juz ao seu apelido de "Mão de Ferro" ele esteve em várias batalhas usando uma prótese no lugar da mão esquerda arrancada numa batalha.

Seu nome, em alemão, aparentemente também era uma espécie de apelido, já que Gotz se assemelha muito a "Gutz" que significa "coragem". Verdade ou não, ele era um tipo de casca grossa que marcou época pela sua determinação, violência e habilidade marcial.



Nascido no ano de 1480 em Wurttemberg, Gotz se alistou no exercito aos quinze anos, embora ele parecesse mais velho e forte segundo todas as narrativas. Sendo de uma familia notável, Von Berlichengen fazia parte de uma longa linhagem de Cavaleiros Imperiais. Seu primeiro combate foi na Guerra dos Suevos na qual ele teve participacao notável. Aos quinze anos teria matado pelo menos oito homens em combate direto, usando machado e maça, suas armas favoritas que ele usava para esmagar o crânio dos inimigos.

Ele aprendeu com os demais guerreiros veteranos as práticas da epoca que envolviam cercar castelos, incendiar cidades e enforcar camponeses e soldados inimigos. Gotz aos 16 anos ja tinha seu próprio cavalo de guerra, um presente de um companheiro de armas que disse brincando: "se você conseguir montar essa besta, ela é sua, mas você pode muito bem morrer tentando". 

Gotz não apenas domou o enorme cavalo negro, como o tornou sua montaria favorita. Alguns diziam que tamanha era a fama dele ao cavalgar esse animal que a grama nao crescia por onde ele passava (algo que se falava também de Átila, o Huno).

Aos vinte anos, Gotz deuxou os Cavaleiros Imperiais e se tornou um comandante mercenário, um dos mais jovens de seu tempo. Seus homens o adoravam, mesmo os mais experientes, pois Gotz tinha fama de permitir saques quando suas tropas desempenhavam bem. Ele alugou sua espada para diferentes contratantes, oferecendo seus préstimos a quem pagasse mais. Ele imediatamente encontrou trabalho com o Duque da 
Bavaria, que enviou Gotz para a Batalha de Landshut em 1504. 

Em menor número, Gotz recorreu a uma estratégia que envolvia fazer ataques ousados usando sua cavalaria, contornando as linhas inimigas e pegando os oponentes de surpresa. Sua tática de guerrilha deu tão certo que ela se tornou famosa sendo estudada e imitada por generais na segunda guerra mundial usando tanques ao invés de cavalaria.



Foi nesse conflito que ele perdeu a sua mão, ferida por um estilhaço de bala de canhão. O ferimento infeccionou e ele acabou perdendo parte do braço que precisou ser amputado. 

Para muitos guerreiros, ter a mão explodida por uma bala de canhão seria o fim da carreira, mas Gotz Von Berlichen, nao era como os outros guerreiros. Fiel a sua casca grossa ele teria dito: "Eu tenho outra mão para empunhar uma espada".

O que poderia ser o fim da historia, se tornou apenas o início de sua lenda.



Em 1506, Von Berlichengen recebeu uma alta condecoração por sua brilhante resistência, na ocasião em que ele proferiu a famosa frase envolvendo "beijos e traseiros".

Como reconhecimento ele ganhou como presente uma mão prostética construida por mestres armeiros e engenheiros. A peça, verdadeira obra prima da metalurgia medieval, foi presa ao seu braço mutilado, por uma série de amarras, tornando-se um substituto perfeito. Usando um sistema de alavancas e molas, Gotz podia manipular os dedos de ferro individualmente, permitindo assim fazer quase tudo, de manipular uma espada a cavalgar, atividades essenciais a um guerreiro. A prótese era tão bem feita que ele era capaz de ações delicadas como segurar uma pena para escrever ou um garfos para comer. Melhor que isso, a mão era pesada o bastante para ser usada como arma, podendo golpear com toda força de um punho de ferro.

Com sua nova mão e coragem renovada, Gotz Von Berlichengen continuou a liderar sua tropa, expandindo sua Companhia de Mercenários em um verdadeiro exército com sete mil homens. Em 1512 ele se meteu em problemas por compartilhar com seus homens as riquezas pilhadas de um nobre alemão. A transgressão fez com que ele perdesse seu status como comandante por alguns anos. 

Não muito tempo depois ele acabou enfrentando novas acusações, dessa vez por raptar o Conde de Waldeck e cobrar resgate de sua influente família. A pratica de cobrar resgate era muito comum na época, mas Gotz havia feito prisioneiro um aliado e se recusava a libertá-lo. Irritado com o jogo da nobreza feudal, ele se envolveu numa Revolta de Camponeses ocorrida em 1525. Gotz esteve à frente da luta, enfrentando seus antigos contratantes. Ele se tornou uma espécie de herói para os plebeus, ja que era extremamente generoso com os espólios das batalhas, permitindo que até o mais humilde servo de gleba recebesse uma porcentagem dos ganhos nas pilhagem. 

Mas apesar de sua liderança, a Revolta camponesa acabou sendo esmagada, terminando em vários massacres nas mãos do Exército Imperial. Uma vez que o Imperador conhecia e respeitava Gotz, ele lhe deu chance de se explicar. De alguma forma ele conseguiu convencer o Imperador de que "os nobres e aristocratas o forçaram a pegar em armas" e ele se safou de uma execução quase certa.



Gotz Von Berlichengen, então um veterano com mais de 30 anos, voltou para suas terras disposto a desfrutar de sua riqueza. Ele se ocupou em ter vários filhos legítimos e ilegítimos que adorava instruir na arte de lutar e cavalgar. Também desfrutava dos passatempos de um típico senhor feudal. Há uma historia "divertida" dessa época que envolve uma caçada que terminou com o comandante aposentado matando um javali com um golpe de sua manopla de ferro. Mas apesar de toda diversão, a vida pacífica de fazer herdeiros e participar de caçadas não era tão excitante quando o perigo de uma campanha militar.

Dessa forma, em 1542 aos 62 anos, o guerreiro decidiu sair da aposentadoria e viajar até a Hungria para auxiliar seus vizinhos europeus a lidar com a a Invasão dos Turcos. Ele foi parte da campanha que expulsou o Exército Otomano da Hungria e que permitiu a consolidação do Reino. Na Hungria ele também se tornou uma espécie de herói nacional apesar de seu historico de massacres e gosto exagerado por execuções de prisioneiros. Alguns documentos atestam que Gotz ordenava frequentemente que as masmorras fossem limpas de prisioneiros promovendo execuções em massa. Quando um de seus imediatos disse que nao havia como alimentar os prisioneiros, ele simplesmente deu de ombros e disse: "Mortos não comem e não precisam ser vigiados".

Depois desse sucesso na frente oriental, o Exército de Gotz debandou, mas ele conseguiu manter uma tropa que novamente abraçou a causa mercenária. Ele foi contratado para liderar uma ofensiva contra os franceses na qual se saiu vitorioso em várias batalhas. 

Com uma carreira de quase 50 anos combatendo bávaros, suevos, turcos, nobres germânicos e franceses, Gotz Von Berlichengen finalmente estava pronto para se aposentar de uma vez por todas.

Ele escreveu sua autobiografia, que foi um surpreendente sucesso e se tornou uma espécie de conselheiro militar de seus filhos e netos. Eventualmente ele acabou morrendo em 1560, aos 80 anos, gozando de relativa saúde ate seus últimos dias - uma façanha notável para alguém que serviu como soldado em diversas guerras e que carregava vários ferimentos.

O dramaturgo Goethe escreveu uma peça sobre ele em 1773 que continua popular nos dias atuais, e até mesmo Mozart fez referência a famosa frase "Beije meu traseiro" em 1780. Na Segunda Guerra, um submarino foi batizado com seu nome, enquanto a 17ª unidade de Tanques recebeu o título de Unidade Gotz Von Berlichengen.

Mais recentemente, o Guerreiro se tornou referência na Cultura pop. O anime japonês Berserk é baseado em sua tumultuada vida. Um dos vilões favoritos da ambientação Dragonlance, Lord Soth, o infame Cavaleiro da Rosa Negra tambem foi inspirado em Gotz. Finalmente ele foi a base para o personagem Jaime Lanister de Game of Thrones que também tinha uma prótese no lugar da ação perdida em combate. 

Sua Mão de Ferro e armadura favorita estão em exposição no Museu de Guerra do Castelo Jagsthausen.

Um comentário: