terça-feira, 24 de novembro de 2009

Foto-resenha do Malleus Monstrorum

Por Daniel Cenoz (Cuervo)



Para quem é fã de Lovecraft e joga Call of Cthulhu, este livro é um prato cheio. Não é apenas mais um bestiário, mas uma fantástica fonte de informações que retrata exaustivamente centenas de criaturas do Mythos e a melhor parte: dá um enfoque novo a muitas delas, permitindo ampliar as possibilidades de situá-las de forma inovadora, surpreendendo seus jogadores e criando melhores oportunidades de introduzir investigações.

Um dos pontos fracos do Call of Cthulhu é a arte que ilustra as criaturas, no geral vai de razoável a fraca. Neste livro, vamos encontrar ilustrações que não são maravilhosas mas surpreendem pelo inusitado. As criaturas são apresentadas em fotografias estranhas, gravuras medievais, desconcertantes peças de arte de diferentes épocas (que podem ir de uma gravação em pedra pré-histórica, passando por uma ilustração medieval, uma xilografia do século XVIII, folhetos turísticos ou obras de arte modernas), em cada uma temos um testemunho de como diferentes épocas e culturas se defrontaram com as criaturas alienígenas e a impressão causada.

O livro é acompanhado de anotações e comentários do nosso velho conhecido Sir Arthur Poplan, pesquisador que na década de 20 leciona na Universidade Miskatonic e mantém uma detalhada coleção de testemunhos, peças relacionadas e pistas sobre a atividades dos Mythos e os cultos e organizações que atuam nas sombras com os mais variados propósitos.

Na minha opinião uma excelente compra e o complemento perfeito para o módulo básico, inclusive para ambientações em outras épocas (medieval, império romano) já que tem muita, muita, muita informação descritiva e, também, notas alternativas sobre manifestações dos mythos.



O M.M. é um senhor livro, do mesmo volume que o módulo básico do CoC.



O livro está dividido em uma seleção bem exaustiva de monstros e criaturas, produto de uma longa pesquisa nos livros “core” dos mythos e vai desde os manjados monstros arroz-de-festa até criaturas bem obscuras de livros pouco conhecidos.

Na ordem: Criaturas dos Mythos, Divindades dos Mythos, Criaturas lendárias e folclóricas (inclui vampiros, lobisomens e outras pragas) e Animais.

Segue a mesma arte interna que podemos ver na 6ªed. Um grande progresso em relação às edições anteriores, de diagramação e arte interna pobre.

Apêndices - muita, mas muita informação e dicas para o mestre. Desde sugestões para enriquecer as descrições e os efeitos provocados pela presença dos Mythos até dicas para criar seu próprio monstro (Yes!!! It’s alive!! Bwuahahaha!!)

I – Dicionário fonético da Chaosium: Você, mestre já se sentiu frustrado quando os jogadores pronunciaram todos os nomes impronunciáveis errado? (“Azatótchii”?!! quiquéissu?!)
Já admitiu, humilhado que não sabe se o certo é HAS-tur ou HAS-tur? Este capítulo foi feito para você. Ligue djá!

II – Descrevendo o indescritível: Quer mestrar, mas tem vergonha do seu limitado vocabulário? Seus problemas acabaram, temos uma tabela de adjetivos que vai de “Aberrant” até “Zymotic”, passando por “Creamy”, “Idiotic” e “Shrieking”. Seus jogadores estão cansados de revirar bibliotecas atrás do Necronomicon? Pois que revirem o dicionário!!!
The list of lists of adjetives.

III – Mortalidade e imortalidade: (só a primeira é para os investigadores). Trata da metafísica associada às diferentes formas em que o tempo afeta as criaturas, já que algumas tem um ciclo de vida similar à humana, podem ter mais em comum conosco que outras que são imortais ou são afetadas pela passagem do tempo de forma completamente diferente. Dormindo, hibernando ou indo e voltando pela eternidade.

IV- Meu monstro: Dicas para criar uma criatura única que vai provocar exclamações de admiração dos players enquanto os investigadores são dilacerados-devorados-derretidos ou tem membros lançados por diferentes dimensões e depois dilacerados-devorados-derretidos ou tem membros lançados por diferentes dimensões... já parou pra pensar nos efeitos que essas criaturas provocam? As sensações, aparência, cheiro... gosto... delas? Isso diferencia um bom mestre de um cara que berra “então vc vem isto!!!!” enquanto agita uma foto para os entediados jogadores.

Vampiros, lobisomens, aparições, esqueletos ambulantes... acompanhadas de conhecimentos folkóricos que podem ou não ser reais, para manter a turma atenta...



O investigador tomou uma bordoada do Grande Cthulhu e caiu no mar? É óbvio que ele espera algum Deep One, que tal surpreendê-lo com alguns tubarões famintos? Ele achará hilário!!!

A longa lista de adjetivos que podem ser usados para descrever os horrores dos Mitos.


Como comentei acima, o ponto forte do livro são as ilustrações, algumas rendem uma aventura sozinhas. O investigador está folheando um livro secular e descobre uma imagem de uma lenda popular como esta acima. Como explicar o inexplicável? Como representar uma coisa que não conseguimos compreender? Com uma foto, oras! Ou na falta uma xilografia.

A cultura popular e a arte tem seu lugar, também. Que tal se o Cubismo, um dos mais importantes movimentos artísticos do Século XX fosse na verdade uma forma de representar coisas tão embarcáveis como os Mastins de Tíndalos? Criaturas que vivem nos ângulos do tempo-espaço e não como nós nas suas curvas?



Os artistas são naturalmente mais sensíveis que as pessoas comuns (pessoalmente acho que é conversa para pegar meninas, mas vamos lá...). Obras rejeitadas por editores ou censuradas pelo próprio autor podem aparecer no meio de uma investigação. Coisas como estas: Coitado do Milú!!!

Esse tipo de material faz a realidade e a fantasia do jogo se misturarem de forma perturbadora. Os personagens que alegraram a infância dos investigadores assumem uma aura sinistra...

O Malleus Monstrorum é uma excelente compra, não há chance de não achar muitas idéias e oportunidades de introduzir os elementos que ele inclui em qualquer aventura de Call of Cthulhu. Também é um compêndio de referências de obras que não chegam aqui e só ficamos conhecendo pelo texto introdutório das entradas.

Espero que aproveitem essa leitura!!

Um comentário:

  1. Fico imaginando se veremos essa obra publicada no Brasil algum dia.Talvez o mais provável seja uma tradução em pdf feita por fãs dedicados,ótimos em inglês.

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