A histórica cidade de Nápoles, Itália, foi o lar de alguns dos maiores mestres e artistas ao longo do Renascimento. Andando pelas suas ruas antigas e pelos majestosos museus, o visitante pode encontrar lugares exóticos como a Cappella Sansevero, também chamada de Capela de Santa Maria della Pietà. À primeira vista, ela parece ser apenas mais uma igreja, construída nos primeiros anos do século XVI, mas ela possui certas peculiaridades que a tornam única. A Capela foi erguida para servir como uma espécie de depósito para algumas das mais belas obras concebidas pelos maiores artífices italianos; um acervo que reúne um dinâmico tesouro, parte da herança cultural da nação.
Em meio às notáveis telas à óleo pintadas por mestres renascentistas e maravilhosas esculturas em mármore resplandecente, o viajante pode não perceber alguns detalhes pitorescos em meios aos tesouros que adornam a capela. Contudo, o visitante mais cuidadoso poderá descobrir detalhes inesperados, sendo alguns deles criações absolutamente bizarras. A sensação de estranheza vai aumentando a medida que que se desce para as câmaras inferiores, nas criptas labirínticas da capela onde os clérigos depositaram - ou talvez ocultaram - algumas das mais sinistras e menos compreendidas obras de arte produzidas por mãos humanas, as enigmáticas e assustadoras máquinas anatômicas de Sansevero.
A Capela em si foi erguida em 1590 por ordem do Duque de Torremaggiore, Johannes Francesco di Sangro, em um terreno doado pela próspera Família Sansevero. O lugar deveria ser um templo privativo de adoração, que posteriormente foi convertido em uma capela de sepultamento, com criptas e câmaras mortuárias se espalhando no subsolo. O projeto foi concebido por Alessandro di Sangro, um importante arquiteto renascentista. Em meados de 1749, seu descendente, o influente Príncipe Raimondo di Sangro empreendeu uma enorme obra de renovação, fazendo com que a capela ganhasse detalhes em estilo barroco e uma forte influência maçônica. Raimondo di Sangro contratou alguns dos mais importantes artistas de sua época e não fez economia para transformar a até então simples igreja em uma obra luxuosa.
Cappella Sansevero
O Príncipe Raimondo di Sangro era conhecido pela sua excentricidade e era tido como um homem enigmático com interesse por misticismo e pelo mundo oculto. Ele supostamente era o grão mestre da Casa Maçônica de Nápoles, o que explica a grande quantidade de símbolos maçons adornando as paredes e painéis da capela. Raimondo era extremamente curioso, um estudante de vários campos da ciência, bem como um entusiasta da alquimia e das disciplinas ocultas. Dizem que ele chegou a estudar as artes proibidas da necromancia, pagando feiticeiros para lhe ensinar seus segredos. Ele teria livrado mais de um acusado das masmorras ou do patíbulo em troca de instrução mística. Mas esses são rumores, de concreto sabe-se que ele dominava idiomas exóticos como hebraico e árabe. Ele também era um inventor, que desenvolveu projetos curiosos como uma carruagem mecanizada com cavalos de bronze na qual dizem, ele costumava passear andando sob a terra e água.
Os boatos a respeito do príncipe concediam a ele um certo grau de notoriedade, alguns o viam como um estranho, mas outros o acusaram de práticas impuras de magia negra que poderiam condená-lo ainda que fosse um nobre da mais alta estirpe. As acusações mais sérias, cochichadas na corte, afirmavam que o príncipe presidia rituais mágicos e sacrifícios humanos. Dentre as incríveis proezas mágicas que Raimondo podia alcançar, ele seria capaz de transformar água em sangue, de converter chumbo em ouro e extrair uma poção mágica a partir de várias misturas que prolongava a vida muito além do natural. Os servos mais próximos relatavam estórias aterrorizantes sobre os rituais macabros realizados na calada da noite pelo seu mestre, inclusive estórias que envolviam a reanimação de cadáveres.
Todos esses rumores obscuros e lendas que envolviam o Príncipe serviram para tornar o nobre um sujeito temido e evitado. Um bispo influente quando convidado a visitar as terras do Príncipe teria dito que preferia visitar o inferno a sentar à mesma mesa que Raimondo. Curiosamente, o Príncipe fazia pouco para negar esses rumores e de certa forma até os encorajava, como forma de ganhar notoriedade.
A excentricidade de Raimondo di Sangro se reflete em algumas das muitas peças de arte em exibição na capela que ele ajudou a restaurar, elas são um atestado da devoção do Principe por temas incomuns e pelo chocante. Segundo as estórias, di Sangro era um adorador da arte macabra e adquiria com artistas proscritos novas aquisições para sua coleção. Estranhas pinturas, esculturas e até mesmo equipamento científico compunham sua inusitada menágerie, trancafiada nas câmaras subterrâneas da Capela. Em meio a coleção, era possível encontrar trabalhos de arte atípicos para o período.
Uma das peças, uma escultura criada por Giuseppe Sanmartino, normalmente referida pelo nome Cristo Velato, ou "O Cristo Velado", retrata uma cena pós-crucificação e foi cinzelada com um mármore peculiar escolhido especificamente pela sua fluidez. É uma estatua notável, famosa pela sensação de hiper-realismo na qual o mármore assume uma textura idêntica a pele humana. O efeito chega a ser enervante, como se a figura humana coberta por um véu fosse realmente uma pessoa prestes a se mover, ao invés de uma construção inanimada. A arrepiante estátua parece tão real, que por muitos anos alguns supersticiosos acreditaram que ela havia sido criada com feitiçaria, com a transformação de uma pessoa viva, em pedra.
Outras estátuas únicas em exibição causam um efeito similar de inquietação, incluindo uma obra de Francesco Queirolo chamada de Disinganno (Desilusão), que retrata um homem tentando se livrar de uma rede, e Pudicizia (Modéstia) de Antonio Corradini, também conhecida como "Verdade Oculta", no qual uma figura feminina - supostamente inspirada pela mãe do Príncipe, veste uma máscara assustadora.
Há outras maravilhas para serem vistas na capela. O teto é recoberto por um impressionante afresco com uma paleta caótica de cores vibrantes como em nenhuma outra igreja do período. Pintado por Francesco Maria Russo ele é chamado de "A Glória do Paraíso", as cores predominantes na obra não saõ o branco e o azul celeste - como seria de se supor, mas o vermelho e o dourado. Além disso, ainda que pouco reste intacto do piso original, idealizado por Francesco Celebrano, é possível ver um padrão preto e branco, com um efeito labiríntico que aponta para tradições de iniciação maçônicas. Boa parte do piso foi destruído após o colapso de uma porção do teto em 1889, mas ainda é possível discernir os padrões concêntricos em alguns trechos do corredor. Mais curioso é que, exatamente esse corredor, conduz à escadaria e ao porão onde o Príncipe di Sangro reunia suas obras de arte mais desconcertantes.
Seguindo por essa escadaria de mármore amarelado até as câmaras inferiores da capela, o visitante é saudado por uma tela incomum datando de 1750, pintada pelo artista romano Giuseppe Pesce intitulada Madonna con Bambino (A Virgem com o Menino), que foi executada usando uma tinta com base de cera de abelha. Os séculos se encarregaram de derreter parcialmente a tinta, concedendo a tela uma aparência lúgubre.
Os boatos a respeito do príncipe concediam a ele um certo grau de notoriedade, alguns o viam como um estranho, mas outros o acusaram de práticas impuras de magia negra que poderiam condená-lo ainda que fosse um nobre da mais alta estirpe. As acusações mais sérias, cochichadas na corte, afirmavam que o príncipe presidia rituais mágicos e sacrifícios humanos. Dentre as incríveis proezas mágicas que Raimondo podia alcançar, ele seria capaz de transformar água em sangue, de converter chumbo em ouro e extrair uma poção mágica a partir de várias misturas que prolongava a vida muito além do natural. Os servos mais próximos relatavam estórias aterrorizantes sobre os rituais macabros realizados na calada da noite pelo seu mestre, inclusive estórias que envolviam a reanimação de cadáveres.
Todos esses rumores obscuros e lendas que envolviam o Príncipe serviram para tornar o nobre um sujeito temido e evitado. Um bispo influente quando convidado a visitar as terras do Príncipe teria dito que preferia visitar o inferno a sentar à mesma mesa que Raimondo. Curiosamente, o Príncipe fazia pouco para negar esses rumores e de certa forma até os encorajava, como forma de ganhar notoriedade.
A excentricidade de Raimondo di Sangro se reflete em algumas das muitas peças de arte em exibição na capela que ele ajudou a restaurar, elas são um atestado da devoção do Principe por temas incomuns e pelo chocante. Segundo as estórias, di Sangro era um adorador da arte macabra e adquiria com artistas proscritos novas aquisições para sua coleção. Estranhas pinturas, esculturas e até mesmo equipamento científico compunham sua inusitada menágerie, trancafiada nas câmaras subterrâneas da Capela. Em meio a coleção, era possível encontrar trabalhos de arte atípicos para o período.
Uma das peças, uma escultura criada por Giuseppe Sanmartino, normalmente referida pelo nome Cristo Velato, ou "O Cristo Velado", retrata uma cena pós-crucificação e foi cinzelada com um mármore peculiar escolhido especificamente pela sua fluidez. É uma estatua notável, famosa pela sensação de hiper-realismo na qual o mármore assume uma textura idêntica a pele humana. O efeito chega a ser enervante, como se a figura humana coberta por um véu fosse realmente uma pessoa prestes a se mover, ao invés de uma construção inanimada. A arrepiante estátua parece tão real, que por muitos anos alguns supersticiosos acreditaram que ela havia sido criada com feitiçaria, com a transformação de uma pessoa viva, em pedra.
Outras estátuas únicas em exibição causam um efeito similar de inquietação, incluindo uma obra de Francesco Queirolo chamada de Disinganno (Desilusão), que retrata um homem tentando se livrar de uma rede, e Pudicizia (Modéstia) de Antonio Corradini, também conhecida como "Verdade Oculta", no qual uma figura feminina - supostamente inspirada pela mãe do Príncipe, veste uma máscara assustadora.
Há outras maravilhas para serem vistas na capela. O teto é recoberto por um impressionante afresco com uma paleta caótica de cores vibrantes como em nenhuma outra igreja do período. Pintado por Francesco Maria Russo ele é chamado de "A Glória do Paraíso", as cores predominantes na obra não saõ o branco e o azul celeste - como seria de se supor, mas o vermelho e o dourado. Além disso, ainda que pouco reste intacto do piso original, idealizado por Francesco Celebrano, é possível ver um padrão preto e branco, com um efeito labiríntico que aponta para tradições de iniciação maçônicas. Boa parte do piso foi destruído após o colapso de uma porção do teto em 1889, mas ainda é possível discernir os padrões concêntricos em alguns trechos do corredor. Mais curioso é que, exatamente esse corredor, conduz à escadaria e ao porão onde o Príncipe di Sangro reunia suas obras de arte mais desconcertantes.
Seguindo por essa escadaria de mármore amarelado até as câmaras inferiores da capela, o visitante é saudado por uma tela incomum datando de 1750, pintada pelo artista romano Giuseppe Pesce intitulada Madonna con Bambino (A Virgem com o Menino), que foi executada usando uma tinta com base de cera de abelha. Os séculos se encarregaram de derreter parcialmente a tinta, concedendo a tela uma aparência lúgubre.
Por muitos anos o método utilizado foi fonte de discussão entre cientistas e médicos especializados em anatomia. A principal dúvida era se o sistema circulatório, seria real e se fosse esse o caso, como ele teria sido preservado dessa maneira? Seria ele artificial? Mas se esse é o caso, como o artífice conseguiu reproduzi-los com tamanha fidelidade? Uma vez que não restaram registros da construção das máquinas anatômicas, as respostas para essas questões parecem fadadas a jamais serem obtidas. A principal teoria é que as duas máquinas anatômicas tenham sido criadas através de um processo conhecido como "plastificação" ou "metalização humana", que envolve injetar substâncias diretamente na corrente sanguínea de uma pessoa enquanto ela ainda está viva. Dessa forma, o sistema circulatório se encarrega de distribuir o material através das veias, irrigando órgãos e os enrijecendo, num processo extremamente doloroso e irremediavelmente fatal. Há outros exemplos de plastificação na história médica, mas é provável que o utilizado nessas estátuas tenha sido pioneiro. Ninguém, entretanto, sabe ao certo.
Um exame mais detalhado de Adão e Eva demonstrou evidências da utilização de substâncias químicas como líquidos de embalsamamento e outros compostos. Através de vários testes sofisticados usando o escaneamento com microscópio eletrônico e espectroscopia infra-vermelha, descobriu-se que as veias foram expandidas por uma substância metálica, possivelmente mercúrio acrescida de fibras de seda, tratadas a seguir com cera de abelha. Essa detalhada análise ajudou a lançar uma luz sobre a criação das misteriosas estátuas, mas ainda pesam sobre elas vários enigmas. Não é possível determinar, por exemplo, se as duas vítimas já estavam mortas ou se foram sacrificadas no decorrer do processo que lhes concedeu (um tipo) de imortalidade. Também é impossível saber se essas pessoas tinham ideia do que aconteceria com elas quando o processo de transformá-las em máquinas anatômicas se iniciou. Considerando os poucos registros sobreviventes, é provável que jamais venhamos a saber como tudo aconteceu.
Seja lá por quais razões e métodos as máquinas anatômicas foram construídas, as estátuas que continuam em exposição na Capela de Sansevero certamente se encontram entre as mais estranhas e perturbadoras obras de arte concebidas pela imaginação humana. Se o excêntrico, Principe Raimondo di Sangro, o alegado nobre necromante, estava tentando intencionalmente chocar as pessoas, então, sua missão foi cumprida à contento.
A "ciência" a qualquer preço!!!
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