quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O Gancho - As 10 melhores introduções em contos de Lovecraft


Baseado no artigo de Douglas Wynne

Lovecraft sabia como escrever um conto e para isso apostava em um bom gancho. Diga o que quiser a respeito de seu vício por adjetivos e seu linguajar rebuscado, mas uma coisa da qual ele entendia era como começar uma narrativa. Ele podia se desviar um pouco depois de atrair sua atenção (e eu até considero isso parte do charme), mas em sua essência Lovecraft sabia da importância de "fisgar o leitor" logo no primeiro parágrafo. 

Suas histórias são um exemplo de frases de abertura intrigantes que literalmente nos compelem a querer saber mais.     

Frases de abertura são um ponto delicado do processo de escrita. 

Autores se esmeram em construir essas frases com precisão milimétrica, dedicando a elas enorme cuidado, pois sabem que a frase correta pode atrair tanto quanto repelir. Penso que qualquer escritor, não importa o quão moderno seja seu estilo, deveria prestar atenção em como Lovecraft abria suas narrativas de horror. 

A seguir, estão alguns dos dez melhores inícios de contos do Cavalheiro de Providence. 

10 - O HORROR DE DUNWICH
(THE DUNWICH HORROR) 

Escrito em 1928 e publicado na Weird Tales em Abril de 1929
Quando, na região centro norte de Massachusetts, um viajante toma o caminho errado no cruzamento da estrada que vai para Aylesbury, um pouco além de Dean's Corners, ele chega a um lugar solitário e curioso. 
Sutil e atmosférico mas um gancho que mostra que de fato existem caminhos errados. Ninguém vai até Dunwich de propósito e quem vai, se arrepende do erro. 

E saber que existe um lugar assim, tão perto de cidades e da civilização normal nos deixa curiosos para saber como é esse lugar maldito, e por que ele é assim, tão maldito.

9 - NAS MONTANHAS DA LOUCURA
(AT THE MOUNTAINS OF MADNESS) 

Escrito em 1931 e publicado na Astounding Tales em 1936
"Sinto-me obrigado a falar, pois os homens de ciência recusaram-se a seguir meu conselho sem saber o porquê".
Lovecraft trabalhava como ninguém o conceito do narrador relutante.

Várias de suas histórias, contadas na primeira pessoa, tem a forma de um testemunho de alguém que esteve face a face com um terror inominável e inenarrável.

Nesses contos, o narrador relutante faz um enorme esforço para dar seu testemunho dos fatos. Ele não deseja falar sobre o assunto, mas ninguém ouvirá seus alertas sem uma explicação detalhada. E quando ele começa a falar, não para. 

Vamos descobrir o que ele tem a dizer?


8 - HYPNOS
(HYPNOS)

Escrita em 1922, publicada no National Amateur em maio de 1923
"Possam os misericordiosos deuses, se verdadeiramente existirem, proteger-me nessas horas, pois nem o poder da vontade nem as drogas que a astúcia humana inventa podem me guardar do abismo do sonho".
A abertura expõe o sofrimento, o terror e o pânico do narrador em dormir.

O que há de tão ruim em seu sono? O que acontece quando o protagonista cerra seus olhos e se deixa levar para o Reino dos Sonhos? 

7 - O ASSOMBRO NA ESCURIDÃO
(THE HAUNTER OF THE DARK)

Escrita em 1935 e publicada na Weird Tales em dezembro de 1936
"Investigadores cautelosos hesitarão em desafiar a crença comum de que Robert Blake foi morto por um raio, ou por algum grave choque nervoso causado por uma descarga elétrica"
Uma morte descrita de maneira convencional, mas deixando claro que algo muito mais estranho do que um raio matou um tal Sr. Blake.

Quem diabos é Robert Blake? Por que ele morreu? Como foi atingido por uma descarga elétrica? Por que ele se encontrava em um profundo choque nervoso?

Uma série de perguntas não respondidas logo no primeiro parágrafo preparam o leitor para um caso inacreditável em que nada, nem mesmo as forças naturais, é certo.  


6 - O DESCENDENTE
(THE DESCENDANT)

Escrita em 1927, publicada postumamente no Jornal Leaves em 1938 

"Em Londres vive um homem que grita sempre que o sino toca". 
A frase de abertura mais surreal da bibliografia de Lovecraft.

Há algo de profundamente misterioso e assombroso nessa frase. E ela faz com que você queira saber o motivo.

5 - HERBERT WEST - REANIMATOR
(HERBERT WEST – REANIMATOR)

Escrita em 1921, publicada no Home Brew em partes entre Fevereiro e Junho de 1922 
"De Herbert West, que foi meu amigo na faculdade e no pós-vida, não posso falar a não ser em terror extremo."  

Toda uma justaposição dissonante. Por que a memória de um amigo de longa data se transforma em fonte de extremo terror? Quem é esse tal Herbert West? O que ele fez? Como se conheceram? 

E espere... você disse, "amigo no além vida"?


4 - O CHAMADO DE CTHULHU
(THE CALL OF CTHULHU)

Escrita em 1926, publicada na Weird Tales em Fevereiro de 1928
"A coisa mais piedosa que se pode encontrar no mundo, acho eu, é a incapacidade da mente humana de correlacionar todos os seus conteúdos"
Um clássico! 

Uma declaração absolutamente concisa que nos faz pensar que às vezes conectar os pontos e chegar a uma conclusão pode trazer as piores consequências.

Em uma frase Lovecraft exprime o sentido de que "ignorância é uma benção" e que "conhecimento é perigoso". Se você quer saber a respeito do universo, então dê adeus à sua sanidade.

A frase exprime alguns outros dogmas do Horror Cósmico: Até onde você está disposto a ir em busca de respostas? Até onde você pretende mergulhar para conhecer a verdade? E o quanto essas verdades irão mudar sua existência?

3 - O SUSSURRO NAS TREVAS
(THE WHISPERER IN DARKNESS)

Escrito em 1930, publicado pela Weird Tales em Agosto de 1931
"Quero deixar claro que no fim eu não testemunhei nenhum horror concreto".
A história começa descrevendo o final.

Em uma simples linha de abertura, Lovecraft deixa claro o quão estranha será a história apresentada pelo seu narrador à seguir.

Então sente-se e prepare-se para a viagem... 



2 - DAGON
(DAGON)

Escrito em 1917, foi publicado pelo Vagrant em 1919
"Estou escrevendo sob uma forte pressão mental, visto que à noite eu não mais existirei".
Outro clássico!

Desespero, horror e insanidade combinados em uma única frase dita por um narrador desconhecido.

O que o levou a essa ruína emocional? O que ele pretende fazer? Por que ele tem certeza que está com as horas contadas? 

1 - A COISA NA SOLEIRA DA PORTA
(THE THING ON THE DOORSTEP)

Escrito em 1933, publicado na Weird Tales em Janeiro de 1937

"É bem verdade que coloquei seis balas na cabeça de meu melhor amigo e mesmo assim, espero explicar através desse pronunciamento que não sou o seu assassino". 
Possivelmente uma das melhores aberturas de um conto de horror em todos os tempos. 

Com apenas 31 letras, Lovecraft constrói todo o clima para o horror que está por vir. 

Você quer saber como uma bala na cabeça não foi o bastante. Descarregar a arma teria sido o suficiente? E como ele teria matado, mas mesmo assim não seria o assassino de seu amigo? 

Logo no primeiro parágrafo um mistério absurdo se abre e este só será resolvido na frase final.


*     *     *

E então? Quais as suas favoritas? Alguma das suas prediletas ficou de fora?

3 comentários:

  1. De fato, um mestre nessa arte da escrita. Me inspiro bastante na escrita dele e isso me desenvolveu muito.

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  2. Eu gosto especialmente de A Maldição de Sarnath:
    "Existe na Terra de Mnar um vasto lago de águas paradas que não é engrossado por nenhuma corrente e do qual nenhuma corrente flui".
    Acho pura poesia.

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  3. Gosto do começo de A Estranha Casa Alta na Névoa

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