sábado, 26 de junho de 2021

O Mausoléu Misterioso - A estranha História de uma Máquina do Tempo em um Cemitério


Fundado em 1840, o Cemitério de Bromptom localizado em Londres, é um dos mais antigos cemitérios jardinados da Grã-Bretanha. Estendendo-se como um verdadeiro tapete verde por mais de 40 acres, ele possui milhares de sepulturas destinadas a ricos e pobres, com bem cuidadas lápides de granito branco e outras tantas já deterioradas pelo tempo, praticamente ilegíveis. Brompton conta ainda com centenas de suntuosos mausoléus vitorianos e uma verdadeira galeria de estátuas à céu aberto.

Em meio a essa magnífica necrópole, um túmulo em especial merece destaque. Trata-se de uma estranha e imponente estrutura, diferente de tudo mais que existe no cemitério. É um mausoléu incrivelmente elaborado, de fato, o mais elaborado de todos, com seis metros de altura e construído em granito branco polido, num estilo que remete aos ancestrais monumentos egípcios, com direito a uma pirâmide no topo.  O acesso ao seu interior é barrado por um maciço portão de bronze com curiosos entalhes místicos e todas as paredes possuem inscrições e hieróglifos. O mausoléu invoca uma aura de grandeza e mistério, um sentimento de decadência opulenta típico do período vitoriano. Sua aparência torna compreensível a existência de tantos rumores a seu respeito, inclusive um que afirma existir em seu interior nada menos do que uma máquina do tempo.     

A tumba em si pertence a uma rica e excêntrica herdeira do século XIX, uma dama da alta sociedade chamada Hannah Courtoy, que escandalosamente herdou sua fortuna através do testamento de um rico e idoso comerciante chamado John Courtoy. Ela foi sua governanta e de acordo com as fofocas da época, sua amante. Os dois jamais se casaram, mas ela teve três filhas de ascendência desconhecida, cuja paternidade reputava ao septuagenário Courtoy. Durante sua vida, Hannah fez alguns amigos muito estranhos. Um destes foi o egiptólogo e arquiteto Joseph Bonomi, que incutiu nela um profundo fascínio pela cultura egípcia. Os dois conversavam por horas a fio sobre o Egito antigo e segundo todos os relatos, Hannah era absolutamente obcecada pelo tema. Esta foi uma das razões pelas quais ela ordenou a construção de uma tumba em estilo egípcio, supostamente projetada por Bonomi e outro homem chamado Samuel Alfred Warner

É com Warner e Bonomi que tem início nossa história.

A entrada do Cemitério de Brompton

Warner era o que se poderíamos chamar hoje em dia de projetista de armas, embora o termo "cientista maluco" também caiba muito bem. Ele alegava ter projetado todo tipo de armamento altamente avançado, como o que chamou de "concha invisível", supostamente uma bomba do tamanho de um ovo, que podia ser armada, jogada de um balão e detonada remotamente para dizimar navios inimigos. Ele também desenvolveu um engenho tubular motorizado que carregava cargas explosivas sob a água. Warner afirmava ter realizado uma única demonstração bem-sucedida desse dispositivo no Canal da Mancha em 1844, criando o que afirmava ser o primeiro torpedo funcional da história. Ele se gabava de ter desenvolvido vários outros engenhos militares bem à frente de seu tempo, apesar de muitos dos seus críticos considerarem que ele não passava de um trapaceiro.  

Contudo, Warner certamente tinha um know-how técnico acima e além do normal para a época, e com sua parceria com Bonomi as coisas ficam ainda mais interessantes. De acordo com a história, Bonomi, em seus complexos estudos de hieróglifos esbarrou numa série de papiros que relatavam como construir uma máquina que permitia viajar através do tempo. Não há muitos detalhes, mas o rumor é que estes documentos foram adquiridos com um contrabandista de artefatos que por usa vez os encontrou numa ruína em Memphis. Bononi, embora fosse capaz de entender os esquemas, carecia de alguém com conhecimento científico para tornar a construção da máquina uma realidade. A parceria com Warner permitia tudo isso.

Na época, Bononi havia sido contratado para erguer o mausoléu em Brompton e segundo rumores, aproveitou para usar o local para construir a máquina do tempo na companhia de Warner. Os dois realmente trabalharam juntos nessa empreitada e de fato, a ideia de um cientista auxiliando na construção de um mausoléu é um tanto estranha. Isso fortaleceu a suspeita de que a dupla estava trabalhando em algo muito mais avançado e secreto.

Hannah Courtoy morreria em 1849, cinco anos antes do mausoléu ser concluído em 1854, com seu corpo sendo levado para lá tão logo a obra foi concluída. Um ano antes, Warner também morreu em circunstâncias um tanto misteriosas. Rumores sobre o que aconteceu com Warner vão desde que ele foi silenciado por seu conhecimento de tecnologia avançada, até que ele foi morto por Bonomi após ameaçar revelar o que estavam fazendo. Alguns amigos próximos de Warner relataram que seu comportamento nos últimos dias era atípico, que ele parecia paranoico e temeroso afirmando temer a represália de terceiros. Quando perguntado por um amigo, quem ele temia, o homem teria dado uma resposta enigmática: "A humanidade, ela jamais me perdoará". Warner morreu em decorrência de uma repentina infecção alimentar, ainda que alguns suspeitem que ele tenha sido envenenado. Ele foi enterrado a poucos passos do Mausoléu de Courtoy.

Joseph Bonomi, conhecido como Bonomi, o moço.

Bonomi viria a falecer mais tarde em 1878, seus últimos anos foram marcados por uma extensiva produção literária, na qual ele escreveu um verdadeiro tratado de teor desconhecido. O material, redigido inteiramente com hieróglifos, desapareceu misteriosamente após seu falecimento. Sua tumba, também bem próximo ao Mausoléu trazia uma inscrição dedicada à Anúbis, o Deus egípcio que rege a vida após a morte. Uma imagem da divindade com cabeça de chacal foi colocada voltada na direção da tumba que ele ajudou a erguer. Há boatos de que Bononi deixou instruções expressas de como desejava ser sepultado, mas não se sabe se as suas vontades foram atendidas. Entre os pedidos ele desejava passar por um processo similar à mumificação, em que os órgãos deveriam ser removidos e colocados em jarros canópios. 

Após a conclusão da tumba e a morte de seus construtores, as lendas realmente começaram a decolar.

Além do fato desses dois homens, parceiros improváveis, ​​estarem trabalhando no mesmo projeto de Mausoléu, este demorou mais do que o normal para ser terminado e com um custo absurdo. Finalmente, quando concluído ele trazia algumas curiosidades. A estrutura foi erguida no meio de uma encruzilhada, um lugar já famoso em Brompton, onde testemunhas afirmavam ter visto fantasmas e aparições se materializando. Originalmente o lugar não estava disponível para a construção de mausoléus, mas o arquiteto defendeu que aquele era o lugar ideal. Subornos e agrados aos administradores do cemitério permitiram que ele fosse disposto exatamente naquele local. Uma teoria controversa é que aquele exato local seria o ponto de contato entre duas ou mais Linhas de Ley, fluxos invisíveis de energia mística que supostamente cruzam o planeta. Também havia a hipótese defendida por ocultistas de que exatamente naquele lugar, duas realidades se chocavam, o mundo dos vivos e dos mortos, por exemplo. Com o Mausoléu ocupando esse espaço, a construção estaria imersa em energia sobrenatural constantemente.

Havia ainda a questão do design incomum da própria tumba, bem como a inclusão de características estranhas: motivos em forma de roda na parte inferior da porta, grandes orifícios circulares nas paredes altas que parecem um relógio e os entalhes hieroglíficos. O propósito de todos esses desenhos, talhados com enorme cuidado, permanecem desconhecidos. Somando-se a isso está a falta de plantas para a construção do mausoléu, bem como o fato de que a chave da porta de bronze há muito desapareceu. Isso significa que não há como entrar na tumba para ver o que existe lá dentro. Sabemos que Hannah e duas de suas filhas estão enterradas no local, mas fora isso nada mais está claro.

O misterioso Mausoléu

Um dos principais defensores de toda a bizarra teoria da Máquina do Tempo é o músico escocês Drew Mulholland. Em 2003, no seu blog particular, ele refletiu sobre a ideia, afirmando que uma alegada Sociedade Secreta teria ficado com o manuscrito redigido em hieróglifos por Bonomi. Essas pessoas mantiveram tais informações em sigilo e continuam sendo as únicas com acesso a esse segredos ancestrais. Quem seriam essas pessoas e qual a sua agenda, ele não soube dizer. 

Em  2011 surgiu uma teoria ainda mais estranha; a de que o Mausoléu inteiro seria uma câmara de teletransporte. De acordo com o ocultista londrino Warren Coates, o mausoléu se conecta a seis outros cemitérios históricos de Londres. Ele forma assim um anel perfeito chamado de "Sete Magníficos", que pode ser usado ​​para teletransportar pessoas de um ponto para outro através da cidade usando as Linhas de Ley como condução. Seria possível que esse mesmo mecanismo enviasse a pessoa que o utilizasse para outros tempos e dimensões.

Coates conjectura que um oitavo ponto focal semelhante a tumba de Courtoy, existe no cemitério de Montmartre, em Paris. Segundo ele, esse Mausoléu na França teria sido idealizado por ninguém menos que o próprio Bonomi. 

Coates explicou ainda:

"Era uma rede de transporte muito engenhosa ao redor de Londres, criada para reduzir o tempo gasto para percorrer as grandes distâncias da vasta metrópole. Uma forma de se locomover pela cidade e através de diferentes períodos de sua história. Os egípcios conheciam esses métodos e ele foi reproduzido aqui. Warner e Bonomi trabalharam juntos na teoria e na ciência do ocultismo egípcio antigo."

A porta de bronze com entalhes

Embora Coates não tenha oferecido nenhum prova a respeito de sua teoria, ela sem dúvida ajudou a popularizar ainda mais a lenda do Mausoléu de Brompton. Desde a publicação dessas e outras teorias, o mausoléu sofreu repetidas tentativas de arrombamento e invasão. Nenhuma, até onde se sabe, foi bem sucedida e a sólida porta de bronze permanece como um obstáculo intransponível. Ao menos, até agora...

Toda essa fantástica história sugere uma curiosa fusão de fatos, lendas e boatos, que foi ganhando vida própria ao longo dos anos. Considerando que todos os envolvidos diretos na construção do Mausoléu estão mortos há muito tempo, que não deixaram pistas e existem tantos indícios estranhos, é provável que jamais venhamos a saber se havia realmente algum propósito oculto nessa construção cercada de rumores.

2 comentários:

  1. Ótimo artigo como sempre. Continuem nos trazendo artigos assim cada vez mais interessantes.

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  2. Adorei o texto,só falta ir lá para conferirmos a história que é digna de Lovecraft e Edgar Rice Burroughs.

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