domingo, 20 de junho de 2021

O Pássaro Trovão - Um animal pré-histórico fotografado no século XIX


Conhecida em certo momento como uma próspera cidade da prata, a empoeirada Tombstone no coração do Arizona também foi a localização de um dos mais estranhos e discutidos casos de Criptologia de todos os tempos. 

O Tombstone Epitaph, um jornal local  publicado em 26 de abril de 1890 trazia uma matéria a respeito de um curioso incidente nos arredores da cidade. O artigo detalhava o fantástico avistamento e consequente abate de uma enorme criatura alada. O monstro teria sido encontrado por dois rancheiros na região desértica entre as montanhas de Whetstone e Huachuca. Os rancheiros realmente não tinham ideia do que tinham em suas mãos. Jamais haviam visto um animal daquele tipo. O descreveram como uma espécie de grande jacaré com uma cauda alongada é um par de asas semelhantes às de um morcego. 

Quando encontrada, a criatura ainda estava viva, movendo-se com dificuldade e batendo as asas, ainda que não conseguisse obter força o suficiente para alçar voo. Os dois observaram embasbacado a criatura se erguer alguns metros do chão, tentar voar e cair repetidas vezes no solo.

A descoberta daria início a uma série de controversas e acaloradas discussões sobre o tema, lançando as bases para o que hoje conhecemos hoje como criptozoologia, o estudo de animais extintos, míticos ou simplesmente impossíveis ainda presentes na natureza.

Os dois homens relataram ter seguido a estranha criatura por cerca de 400 metros a medida que ela tentava se afastar deles em voos esporádicos. Eles a mantiveram sob constante vigilância e ao alcance de seus rifles. Dispararam repetidas vezes contra a criatura, conseguindo causar nela ferimentos. Eventualmente, o monstro se voltou contra a dupla, investindo em sua direção agressivamente, ocasião em que eles o alvejaram com maior eficiência. Depois de seis a oito disparos, a criatura parou de se mover e eles julgaram que estivesse morta.

|Os dois então se aproximaram com cuidado da carcaça para obter suas medidas. O corpo da criatura nas suas estimativas tinha cerca de 3 metros de comprimento da cabeça aos pés, 1,60 de largura e um par de imensas asas que atingiam incríveis 18 metros de envergadura. A enorme cabeça da besta era alongada atingindo 1,80 de comprimento, dotada de fortes mandíbulas por sua vez, repletas de dentes afiados e olhos grandes como "pires". As asas eram cobertas por uma membrana fina e o corpo inteiro parecia revestido com algo que os homens não conseguiram decidir ser escamas ou penas.  


As duas testemunhas cortaram uma porção de uma das asas para levar consigo. A ideia deles era mandar empalhar o bicho e enviar para um cientista averiguar do que se tratava. Jamais ficou claro se esse plano foi levado adiante ou não. O artigo terminava dessa maneira, com uma nota de excitação a respeito da grande descoberta que havia sido feita, mas nenhum detalhe do que foi feito a seguir e que fim levou a carcaça que poderia comprovar toda a história ali relatada. A matéria atraiu certa atenção na época que foi publicada e da mesma forma, recebeu inúmeras críticas, não apenas por conta do tamanho absurdo da criatura, mas por parecer algo fabricado para atrair turistas e curiosos até Tombstone.  

Na época, Tombstone já se encontrava em franca decadência em face do esgotamento das minas de prata responsáveis por um período de considerável riqueza. Os habitantes locais estavam desesperados por encontrar uma maneira de colocar a cidade no mapa, e uma história sensacional a respeito de uma criatura alada poderia ser a salvação para a pequena comunidade.

A história poderia mudar tudo o que se sabia a respeito do Mundo Natural, contudo havia alguns claros problemas na narrativa. A descoberta nem chegou a ser mencionada por outros jornais, nem mesmo as publicações locais que sem dúvida teriam conhecimento de tão impressionante achado. A ausência de uma fotografia também tornava tudo muito suspeito. Finalmente, a imprensa do final do século XIX era conhecida por seus exageros, muitas vezes criando histórias a partir de rumores ou fabricando fatos de acordo com a necessidade.

A bizarra história entretanto não terminaria ali, e de fato, iria evoluir para um dos maiores mistérios da Criptozoologia. Em 1966, após décadas de debate a respeito da autenticidade da reportagem à respeito do "Pterodactilo de Tombstone", um escritor chamado Jack Pearl veio à público afirmando ter em sua posse uma fotografia da criatura alada, ou ao menos, de uma criatura muito semelhante. A fotografia teria sido feita em 1886, quatro anos antes da história publicada pelo Epitaph. 

Pearl contou ter obtido a fotografia através do neto de um antigo editor do Tombstone Epigraph que a havia guardado por todos aqueles anos. Junto com a foto, havia uma carta que explicava o que estava sendo visto na incrível imagem. Segundo esta, um grupo de prospectores teria abatido o estranho animal alado após ele ter sido avistado repetidas vezes sobrevoando uma região alguns quilômetros ao sul da cidade. O grupo formado por seis homens, entre os quais, o xerife, delegados e soldados veteranos da Guerra Civil, foi responsável por abater o monstro à tiros. Depois disso, ele teria sido trazido para a cidade, com o inusitado incidente sendo registrado por um fotógrafo local. A foto que está no alto desse artigo mostra um grupo de homens portando armas posando ao lado de uma besta alada, com uma envergadura de pelo menos 6 metros de comprimento. A imagem claramente mostra o que se veio a chamar de pterodáctilo, um animal pré-histórico extinto muito antes do surgimento do homem.


Em 1966, o Tombstone Epigraph já não existia mais, contudo um de seus editores, que ainda estava vivo afirmou que a Fotografia jamais havia sido feita e que nenhuma edição do jornal mencionava o ocorrido. Ele garantiu que a foto era uma farsa.  


Mas a história não seria facilmente esquecida.  

O escritor H.M. Cranmer, um estudioso de mitos e da história do Arizona publicou um artigo em 1967 no qual corroborava a legitimidade do incidente e da fotografia. Cranmer disse ter colhido testemunhos de pelo menos uma dúzia de pessoas que lembravam do dia em que a criatura - apelidada de "Pássaro Trovão" havia sido trazida até a cidade. Ele havia entrevistado inclusive o filho de um dos homens envolvidos na morte da criatura. Este lhe confidenciou uma série de detalhes contados pelo seu pai, na época com 25 anos de idade.

Desse ponto em diante, a lenda do "Pássaro Trovão" e sua fotografia ganharam ainda mais destaque.

Outras pessoas vieram à público contar que seus pais e avós lembravam do incidente que foi um grande acontecimento para a população de Tombstone. Uma segunda fotografia, dessa vez com o animal pregado na parede de uma casa. com um grupo de pessoas posando abaixo dele, chegou a ser apresentada como prova do ocorrido.

Com toda discussão à respeito da veracidade da foto, seria o caso de um especialista examiná-la em busca de adulteração ou montagem. Um profissional também poderia determinar a idade da foto e verificar se ela realmente correspondia a uma fotografia tirada no final do século XIX, mas infelizmente nada disso foi possível. Em 1969, Jack Pearl faleceu e alegadamente a fotografia original que mostrava o Pássaro Trovão foi roubada de seu escritório. O fato desanimou todos os que defendiam a legitimidade do ocorrido e que se amparavam na fotografia como uma prova incontestável. Ao longo dos anos outras fotografias do Pássaro Trovão vieram à tona, sendo que todas foram descreditadas como falsificações modernas. A fotografia original, no entanto, jamais reapareceu.


Muitos nomes proeminente no campo da Investigação Paranormal e Forteana afirmaram que a fotografia original teria aparecido repetidas vezes nas mãos de colecionadores e entusiastas do estudo do estranho. A foto teria sido alegadamente reconhecida como um produto do século XIX com papel e método de revelação condizentes com o usado no período, contudo sem a fotografia, toda e qualquer alegação se perde. 

Mas no final das contas, o que temos aqui? Que tipo de história é essa envolvendo um animal pré-histórico abatido no Arizona no final do século XIX?

Teriam os moradores de Tombstone testemunhado um acontecimento incrível ou tudo não passava de uma grande farsa? E se esse é o caso, por que tantas pessoas se apresentaram com uma narrativa que não passava de mentira? O que levaria tantas pessoas a inventar uma história como essa e jurar que ela era real?

Todos os tipos de teorias foram lançadas tentando explicar como tantos indivíduos poderiam se lembrar de ter visto uma foto e vivido um acontecimento que aparentemente jamais ocorreu. Algumas explicações parecem perfeitamente racionais, outras são decididamente absurdas. Uma ideia é que se trata de um tipo de falsa memória, ou uma memória propagada através do poder da sugestão. As pessoas passam a acreditar que algo de fato aconteceu e ficam convencidas de tal coisa. Outros creem em algum tipo de conspiração de acobertamento ou mesmo de um caso clássico de "Efeito Mandela", no qual um acontecimento é lembrado apenas por um determinado grupo de pessoas. No fim das contas, ninguém realmente sabe ao certo!

Embora todas as evidências apontem para o fato de que o incidente com o Pássaro Trovão de Tombstone jamais tenha ocorrido, a fotografia perdida do pterodáctilo permanece como um mistério persistente que atrai uma infinidade de curiosos 

De qualquer maneira, ele faz com que nos perguntemos: e se for verdade? 

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