quinta-feira, 3 de março de 2022

Segredos da Ucrânia - Estranhos artefatos e antigos mistérios arqueológicos


Continuando nossa série sobre os Segredos da Ucrânia.

Os mistérios desse país do Leste Europeu vão muito além de criaturas, monstros e animais mutantes alterados pela radiação liberada por Chernobyl. A nação inteira está mergulhada em estranhos enigmas históricos que desafiam a compreensão dos estudiosos há séculos. Provavelmente, o mais antigo artefato encontrado na Ucrânia é o controverso Livro de Veles, um manuscrito supostamente redigido entre os séculos VI e VIII aC. O livro é uma obra tão desconcertante que os estudiosos que tentaram estudá-lo não conseguiram sequer determinar sua autenticidade. 

O tomo teria sido encontrado em um compartimento secreto num antigo castelo ucraniano saqueado em 1919 por um ambicioso tenente russo chamado Fedor Arturovich Izenbek. O militar czarista havia trabalhado em museus de São Petersburgo e sabia reconhecer objetos de valor histórico que poderiam se traduzir em lucro. O livro tinha um texto enigmático entalhado cuidadosamente em uma série de tábuas de madeira medindo 38 cm de largura, 22 cm de altura e cerca de 0,5 cm de espessura. As bordas irregulares eram unidas no topo por dois orifícios que o mantinham íntegro como um bloco de notas. As tábuas haviam sido preparadas antes de serem talhadas, foram pintadas com algum tipo de substância betuminosa que embora tenha se desvanecido ao longo dos séculos o protegeu da corrosão. Ainda que desgastado era possível ver letras bizarras e ininteligíveis e uma variedade de formas, como sóis, cabeças de touro e vários animais distribuídos em cada prancha.


Izenbeck acreditava estar diante de algo único e tentou negociar o livro com museus e colecionadores durante uma passagem por Belgrado, entretanto, não teve sucesso. Ninguém se interessou em adquiri-lo, em parte porque o dono se negava a revelar onde havia encontrado a peça. Izenbeck acabou guardando as tábuas em uma caixa de papelão no porão de sua casa em Bruxelas e lá elas ficaram por anos. Durante esse tempo, ele não pensou muito sobre as pranchas até conhecer um excêntrico cientista russo chamado Yuriy Mirolyubov. Este seria o primeiro a estudá-las formalmente transcrevendo, fotografando e tentando traduzir o manuscrito ao longo de mais de uma década. Izenbeck se recusava a permitir que o livro fosse levado para fora de sua casa ou que fosse analisado em laboratórios que poderiam atestar sua autenticidade. Mirolyubov se viu forçado a fazer todo seu trabalho no mesmo lugar.

O livro continha confusos caracteres cirílicos que o estudioso desconfiava ser um tipo de idioma pré-eslavo, talvez até uma das primeiras formas de escrita da região. Aos poucos ele conseguiu decifrar o material e entender sobre o que ele versava. O Livro de Veles era uma obra vasta e completa sobre folclore, costumes e tradições de tribos que haviam vindo de um lugar descrito como a "terra dos sete rios além do mar". Esta tribo até então desconhecida teria migrado através da Síria para os Cárpatos no século X aC. O tomo também fazia menção a esse povo sendo escravizado e travando guerras com povos selvagens, adorando deuses e se estabelecendo temporariamente em diferentes territórios. As tábuas continham a descrição de rituais dedicados a entidades ancestrais como Belbog, e sua contraparte, o maligno deus negro, Chernobog. Dentre os rituais haviam sangrentos sacrifícios, cerimônias de Solstício de Verão e modalidades de adoração que incluíam automutilação, tatuagens e escarificação.

Mirolyubov deu prosseguimento ao seu estudo do Livro de Veles até a invasão nazista de Bruxelas. Ele temia que o Livro de Veles caísse nas mãos dos nazistas, sobretudo depois da morte de Izenbeck em 1941. Os alemães estavam recolhendo artefatos históricos para suas coleções particulares e ele decidiu contratar um ladrão para subtrair o livro. No entanto, algo aconteceu e o artefato acabou se perdendo indo parar, possivelmente nas mãos de algum colecionador particular ou interceptado pelos próprios alemães. O único material restante foram as anotações e fotografias reunidas por Mirolyubov durante seus estudos. 


Após a guerra, ele as levou consigo quando imigrou para os Estados Unidos, tendo as repassado para um professor chamado Andrey Kurenkov em 1953. A partir daí o livro se tornou um tema controverso e muito debatido, com vários pesquisadores concordando ou discordando de sua autenticidade. Mais estranho ainda, autoridades soviéticas negaram que ele fosse verdadeiro e proibiram seu estudo no país. De fato, os Soviéticos chegaram a tentar comprar as anotações e fotos com o intuito de destruí-las.

Os céticos apontaram que análises linguísticas das anotações sobre o Livro de Veles revelaram o que seria uma mistura de várias línguas eslavas, sem uma gramática consistente, tendo porções que pareciam completamente inventadas e passíveis de inúmeros erros linguísticos. Esses indícios lançaram uma sombra sobre o trabalho de Milyubov, sugerindo que ele teria inventado boa parte da tradução. Lascas do artefato que haviam sido salvas em 1930 também foram analisadas e embora os resultados tenham sido inconclusivos, parecia certo que a madeira não era anterior ao século V da Era Cristã.

Infelizmente, com o livro em si foi perdido, era praticamente impossível dizer quando ele havia sido criado. Tudo que restava eram as evidências e testemunhos fornecidos por Mirolyubov, e só podemos rastrear com segurança a história do Livro de Veles até a década de 1950. Além disso, muitas versões modernas do livro possuem textos diferentes entre si, uma vez que ele foi alterado e deturpado largamente nos últimos anos. 


Muitos pesquisadores chegaram à conclusão de que o livro era uma farsa elaborada, possivelmente perpetuada pelo próprio Mirolyubov, e que ele teria sido fabricado em tempos mais recentes e não no passado distante. Apesar dessas conclusões desanimadoras, ainda há estudiosos que insistem que o Livro de Veles é genuíno, um tratado fantástico sobre as origens dos povos eslavos.

Após o fim da União Soviética, a abertura de documentos até então mantidos em segredo revelaram que os soviéticos viam o livro como um perigo em potencial, pois era uma obra que glorificava o orgulho eslavo ucraniano. Por essa razão, ele teria sido alvo de uma tentativa de censura. Outra curiosidade é que uma alegada versão do Livro de Veles chegou a ser publicado na Ucrânia em 2008 tornando-se um sucesso editorial. Pouco depois vieram à tona rumores sobre a descoberta do livro original em uma coleção particular na França e que seu dono estava disposto a vende-lo para o Museu de História de Kiev. O boato foi negado pelos diretores da instituição, a localização do Livro de Veles permanece desconhecida.  

Outro mistério histórico impressionante da Ucrânia diz respeito a enigmática cultura Cucuteni-Trypillian, que habitou uma vasta região da Europa Oriental, incluindo porções da moderna Moldávia, Romênia e Ucrânia entre 5400 e 2700 aC. O grande mistério à respeito desse povo é o que teria acontecido com ele, já que parece ter desaparecido da história sem deixar vestígios claros de sua passagem. 


A cultura recebeu o nome da vila em que seus restos mais importantes foram descobertos, um lugar chamado Cucuteni, na Romênia, rico em peças de cerâmica e estranhas figuras de terracota achadas em 1884 pelo arqueólogo Teodor T. Burada. As descobertas à princípio não chamaram muita atenção, já que se imaginava que seriam tão somente fragmentos de povos eslavos, contudo, um exame mais criterioso demonstrou que esses artefatos eram bem diferentes, evidenciando a existência de uma civilização até então ignorada. Alguns pesquisadores chegaram a dedicar a essas descobertas uma série de artigos, afirmando que elas poderiam constituir resquícios de uma civilização antediluviana dispersa após a destruição do Grande Dilúvio bíblico. 

Escavações eventualmente revelaram antigas ruínas da cultura, centrada no Oeste da Ucrânia, perto da vila de Trypillia, em 1893. À medida que os arqueólogos exploravam essas ruínas misteriosas, tornou-se evidente que essa cultura havia construído cidades extremamente desenvolvidas para sua época, de fato, algumas das maiores da história neolítica europeia, exibindo um incrível conhecimento arquitetônico e notável engenhosidade para sua época.

Isso já seria intrigante o suficiente, pois até essa descoberta se pensava que não haviam contribuições particularmente significativas feitas pela antiga Europa Oriental para o avanço da civilização na Europa. A descoberta arqueológica era portanto algo inovador e de suma importância. No entanto, os mistérios desta antiga civilização estavam apenas começando. 


Um dos grandes mistérios é que as evidências sugeriam que a cultura Cucuteni-Trypillian havia  deliberadamente incendiado seus próprios assentamentos. Constatou-se que muitos assentamentos foram construídos diretamente em cima de locais anteriores que haviam sido destruídos pelo fogo, com habitações destruídas ao longo de um ciclo que durou entre 60 a 80 anos. Não há sinais de que a devastação foi causada por invasões, pilhagem ou povos inimigos, não há sepulturas comunais, oq ue geralmente aponta para esse tipo de ação exterior. No caso dessa civilização, tudo aponta para um momento em que eles próprios decidiram destruir suas realizações e apagar intencionalmente sua passagem pelo mundo.

Ninguém sabe ao certo o que levaria um povo antigo, aparentemente capaz de construir e se estabelecer a arrasar suas próprias cidades, aldeias e plantações. Muito debate se seguiu sobre o assunto, com alguns historiadores supondo que uma epidemia ou quem sabe um movimento religioso central tenham sido a causa desse comportamento. Estudiosos supõem que em determinado momento, uma profecia pode ter motivado o povo Cucuteni-Trypillian a cometer uma espécie de suicídio cultural, algo bastante raro.

Outro mistério à respeito desse povo envolve os estranhos artefatos que eles deixaram para trás. Vários santuários sagrados foram encontrados entre as ruínas que abrigavam uma infinidade de estatuetas e relicários enterradas por alguma razão desconhecida. Consideradas de natureza religiosa, as estatuetas retratam homens e mulheres, com as mulheres sendo retratadas como inexpressivas, enquanto as dos homens mantêm características proeminentes ou exageradas. Alguns estão nus e alguns vestidos, e todos eles mostram uma clara progressão de diferentes penteados e estilos de roupas ao longo dos tempos. Suspeita-se que eles fossem totens mágicos de algum tipo, destinados a afastar o mal ou conceder algum tipo de benefício místico aos seus adoradores.


E finalmente permanece sem respostas o mais desconcertante de todos os mistérios sobre essa civilização. Para onde essas pessoas foram? Uma teoria é que eles encontraram um fim violento nas mãos da violenta Cultura Kurgan composta por guerreiros e saqueadores que varriam a região em busca de cidades que pudessem pilhar. Os Kurgan costumavam capturar escravos e os levavam para terras distantes onde eram negociados com outros povos.  

Outra ideia é que houve algum tipo de Idade das Trevas ou cataclismo natural, do qual o povo Cucuteni-Trypillian jamais consegui se recuperar. Os sobreviventes acabaram se espalhando e basicamente se dissolveram nas populações de outras áreas da Europa. Ainda outra teoria é que a cultura Cucuteni-Trypillian experimentou um impacto devastador em sua sociedade dependente da agricultura devido a profundas mudanças climáticas que estavam afetando a região na época. Nada disso, no entanto, explica as razões que os levaram a apagar seu modo de vida de maneira deliberada. Como afirmam arqueólogos, já é difícil compreender o passado de povos que desapareceram naturalmente, que dirá uma civilização que se empenhou em promover esse desaparecimento. 

Ninguém tem certeza do que aconteceu com eles, e tudo que restou foram ruínas sombrias e assentamentos misteriosamente incendiados. Provavelmente esse mistério continuará e o debate à respeito dessa civilização se manterá ainda por muito tempo. Ao menos até alguma pista crucial ser encontrada.

2 comentários:

  1. Parabéns pela pesquisa e por esta série de artigos sobre a Ucrânia.O mistério da cultura Cucuteni é fascinante.

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  2. Esta mensagem está direcionada ao admin do site, sou responsável pelo programa de parceria do terrortotalmais.com , entre em contato caso tenha interesse

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