terça-feira, 28 de novembro de 2023

A Procissão Celestial de 1913 - O dia em que um inexplicável fenômeno astral foi visto nos céus


Os céus guardam muitos segredos.

Todos os tipos de coisas estranhas e inexplicáveis já foram observadas nos céus, fenômenos que nos deixam embasbacados sem reação, surpresos e até mesmo assombrados. Alguns mistérios são tão surpreendentes que resistem a passagem do tempo, entrando para a história como enigmas inescrutáveis que jamais foram convenientemente explicados. Um destes mistérios ocorreu no ano de 1913, envolvendo um show de luzes brilhantes que até hoje permanece sem explicação. 

Tudo começou no dia 9 de fevereiro de 1913, um pouco antes das nove da manhã. Algo muito esquisito foi visto à princípio sobre os céus do Canadá, Estados Unidos e o norte do Oceano Atlântico. Muitas pessoas acreditavam se tratar de um fenômeno meteórico de algum tipo, consistindo no avistamentos de uma verdadeira procissão de algo entre 40 e 60 globos de luz brilhante, movendo-se lentamente em uma trajetória perfeitamente organizada. Testemunhas afirmaram ainda que os objetos voadores ao passar velozmente provocaram um ruído de trovão e deixaram um risco no céu. Muitos relatos mencionavam que o movimento dos globos envolvia aceleração e desaceleração e evoluções atípicas. A estranha procissão demorou quase 29 minutos para cruzar os céus noturnos e pode ser observada em regiões remotas do Canadá em face do céu limpo. Na mesma data, testemunhas em outras partes do Continente americano também relataram o avistamento de globos similares, supostamente os mesmos objetos se deslocando em velocidades vertiginosas. 

Testemunhas nos Estados Unidos, Bermudas e Brasil também se apresentaram nos dias que se seguiram para relatar o que haviam visto. A área coberta pela misteriosa esquadrilha em seu voo, era de aproximadamente 11 mil quilômetros, talvez até mais (!!!)  Na época, muitas pessoas pensaram se tratar de um fenômeno celestial incomum e nada mais. A população das grandes cidades já estava familiarizada com eventos como chuvas de meteoros, mas a quantidade e duração dela foi surpreendente. O espetáculo de luzes foi, na ausência de outra palavra, singular. 

O evento acabou atraindo a atenção de um astrônomo que começou a buscar informações e realizar cálculos, tornando a coisa muito mais bizarra do que se poderia imaginar. 


A Procissão Celestial de 1913 poderia ter sido quase esquecida não fosse o Astrônomo canadense da Universidade de Toronto, o Professor Clarence A. Chant. Curiosamente ele não chegou a ver o fenômeno com seus próprios olhos, mas se dispôs a reunir e analisar centenas de relatos feitos por testemunhas que tiveram essa sorte. Chant concluiu que o incidente foi "algo sem paralelo na historia da observação dos céus". 

Uma das testemunhas, um certo Walter L. Haight, residente de Toronto, no Canadá, escreveu sobre o acontecimento:

"Na noite em questão, eu estava voltando de uma caminhada quando meu colega que ia junto, gritou: “Olhe! Olhe aquilo!" e imediatamente levantei a cabeça para avistar um grande globo luminoso no céu que parecia estar viajando muito devagar - tão lentamente que seu movimento despertou minha mais viva surpresa e admiração... não sabia o que podia ser aquilo. Enquanto meu olhar estava fixo no grande corpo, e justamente quando ele estava prestes a desaparecer de vista, meu companheiro gritou novamente: “Olha! Ali e ali! Tem mais deles!” e eu olhei para cima e vi um grupo inteiro de itens semelhantes cruzando os céus. Antes que eu pudesse me recuperar do espanto, um novo grupo de corpos menores surgiu... eu comparei na época, aquele desfile astral a uma formação de embarcações da marinha de guerra, onde um grande cruzador avança guarnecido por esquadrões de torpedeiros e fragatas menores."

Mas o relato de Haight, um experiente marinheiro, não seria o único sobre o incidente. Haveriam muitos, muitos outros. Alguns fizeram menção a faíscas e bolas de fogo espetaculares sendo disparadas pelos objetos, bem como um rastro deixado pela passagem dos objetos à medida que eles rasgavam a abóboda celeste. Um observador em Appin, Ontário, escreveu:

"Parecia um enorme meteoro viajando de noroeste a oeste, que, ao se aproximar, se dividiu em duas partes. A forma como se deslocava era incomum. Pareciam duas barras de material em chamas, uma seguindo a outra. Eles lançavam um fluxo constante de faíscas e, depois de passarem uma pela outra, dispararam bolas de fogo para a frente, que viajavam mais rapidamente que os corpos principais. Eles pareciam passar lentamente e ficaram à vista por cerca de cinco minutos. Imediatamente após seu desaparecimento, uma bola de fogo, que parecia uma grande estrela, passou pelo céu atrás deles. Esta bola deixou um risco que demorou quase 10 minutos para desaparecer".

A procissão também foi vista por navios em alto mar. Um desses relatos vem de W. W. Waddell, primeiro imediato do SS Newlands, que na época estava na costa de Recife, no Brasil. Ele escreveu em seu registro oficial sobre o fenômeno:

"Oito sinos, meia-noite. – Tinha acabado de passar pela ponte e estava prestes a me retirar do convés para ir para meu aposento quando meu olhar foi atraído por uma estrela cadente brilhante no céu ocidental. Esta viajava pelos céus a uma altura de cerca de vinte graus acima do horizonte. À medida que avançava, parecia lançar faíscas para todo lado como um foguete de fogos de artifício quando explode... Tive tempo de gritar para o segundo imediato, que havia me substituído na ponte, perguntando se ele tinha visto aquilo. De repente, uma chuva de estrelas do mesmo tipo apareceu na esteira da primeira, cada uma delas oscilando na mesma velocidade e mantendo distâncias regulares umas das outras, todas deixando um rastro de estrelas menores após sua passagem. O imediato e dois marinheiros também viram o estranho incidente, mas nenhum de nós conseguiu entender do que se tratava".


Relato após relatos como estes, vindos de inúmeras fontes, fizeram com que Clarence Chant buscasse informações sobre o estranho fenômeno visto sobre os céus do continente americano, de norte à sul. Um elemento comum em praticamente todos os testemunhos era de que a procissão descrevia um movimento em linha reta "em um trajeto perfeitamente horizontal com uma deliberação peculiar, como se fossem conduzidos de forma racional". Os objetos na maioria dos relatos também se moviam muito mais lentamente no céu do que os meteoros típicos, não tinham nenhum radiante ou ponto de origem claro, não mostravam sinais de descida em direção à Terra, além de manter uma formação perfeita. Para completar a estranheza, a Procissão durou um período de tempo incomumente longo e cobriu uma distância muito maior do que qualquer outra chuva de meteoros normal. 

Chant descreveria o evento em seu artigo para uma edição do Journal of the Royal Astronomical Society, com o título "Um Extraordinário Evento Meteórico". Ele escreveu na introdução de seu ensaio:

"Como todos sabemos, a maioria das estrelas cadentes são visíveis durante pouco tempo, e as mais brilhantes geralmente descem em direção à Terra, aparentemente (como observou um dos meus correspondentes) “com muita pressa para chegar ao seu destino”; entretanto no incidente em questão viu-se corpos movendo-se vagarosamente. Alguns relatam que pouco antes de desaparecer estes corpos explodiam, deixando para trás um rastro de estrelas e faíscas, marcadas em alguns casos por grandes estrondos. Outros corpos astrais menores também eram vistos, cruzando o céu em uma formação peculiar que atendia requisitos de distanciamento e velocidade incomuns para qualquer meteoro já observado. Avançavam no mesmo ritmo, em dois, três ou quatro pares, com rastros fluindo atrás de si. Todos percorriam o mesmo curso e se dirigiram ao mesmo ponto no céu sudeste. Gradualmente, os corpos foram ficando menores, até que os últimos não passavam de faíscas vermelhas, algumas das quais foram apagadas antes de chegarem ao seu destino. Vários relatam que no centro da grande procissão havia uma estrela maior em forma de globo brilhando mais que todas as outras, até que ela também desapareceu".

Para a maioria dos observadores, a característica mais marcante do fenômeno era justamente o movimento lento e majestoso dos corpos; complementado pela igualmente notável formação que mantinham. Muitos obviamente os compararam a uma esquadrilha de aviões, contudo não havia nada nem remotamente semelhante entre os veículos aéreos de 1913. Os aviadores e seus aparelhos rudimentares teriam de se modernizar muito, antes de serem capazes de voar de maneira tão ordeira. Outros, compararam a formação a grandes navios de guerra, acompanhados por navios menores de apoio. Alguns ainda pensaram que se assemelhavam a um trem de passageiros brilhantemente iluminado, viajando em seções e visto a uma distância de vários quilômetros. O vôo dos meteoros também foi comparado ao de um bando de gansos selvagens, a vários homens ou cavalos em corrida e a um cardume de peixes, assustados e disparando em uma única direção. Esses e muitos outros detalhes interessantes seriam transcritos em relatos feitos em diferentes partes.


Quanto ao número de objetos há grande controvérsia. A estimativa habitual é de 15 a 20, mas alguns dizem 60 ou 100, enquanto outros afirmaram ter visto centenas deles. Várias razões podem ser atribuídas à discrepância entre esses números. Aqueles que dão números pequenos provavelmente referem-se apenas aos corpos principais, e como algumas pessoas têm melhor visão do que outras, onde alguém veria um único corpo, outros viam vários deles. Aqueles que relatam os grandes números incluíam, sem dúvida, fragmentos dos corpos maiores.

Curiosamente, houve descrições de uma segunda chuva de meteoros apenas 5 horas após a inicial, embora a rotação natural da Terra não devesse permitir tal ocorrência. No dia seguinte também haveria um avistamento estranho em plena luz do dia, sobre o qual o Toronto Daily Star noticiou:

"Por volta das 14 horas, algumas testemunhas oculares avistaram objetos estranhos movendo-se sobre o lado leste e passando rumo ao sul. Eles não foram vistos com clareza suficiente para determinar sua natureza, mas não pareciam ser nuvens, nem pássaros, nem fumaça, e foi sugerido que, talvez, fossem aeronaves cruzando o céu sobre a cidade. Contudo estavam tão altas e se moviam de forma tão incomum que a suposição foi abandonada. Posteriormente, presumiu-se que eles poderiam ter sido meteoros movendo-se na mesma direção daqueles vistos na noite anterior."

Os objetos teriam sido vistos movendo-se primeiro de leste para o sul, depois retornando na outra direção antes de desaparecerem de vista, o que significa que seria impossível serem meteoros normais. Não se sabe se este incidente teve relação com o evento da noite anterior. 

Quando o artigo de Chant foi publicado, gerou um enorme interesse entre outros astrônomos e cientistas, muitos dos quais analisaram o assunto por conta própria e criaram várias teorias para explicar a ocorrência, incluindo que tinha sido apenas uma chuva de meteoros normal ou composta de múltiplos aglomerados de meteoritos. Ou ainda, que foi um evento natural causado por um corpo ou grupo de corpos que ficou temporariamente preso na órbita da Terra e depois se desintegrou. O próprio Chant finalmente chegou a essa conclusão: que havia sido um aglomerado de rocha espacial errante que orbitou o planeta até cair na atmosfera e se desintegrar em várias partes. Ele no entanto reservou a hipótese de que poderia ser "qualquer outra coisa" tamanha a estranheza do movimento e incomum disposição dos objetos que constituíam o incidente. 


Entretanto, alguns não estavam tão certos da explicação natural para o incidente. O famoso pesquisador do sobrenatural, o escritor Charles Fort, sugeriria em seu livro de 1923, Novas Terras, que o incidente ocorrido dez anos antes não era natural, mas possivelmente um avistamento em larga escala de veículos alienígenas desconhecidos. Alguns outros pesquisadores do fenômeno OVNI também sugeriram isso.

Fort acreditava que naves alienígenas haviam sido vistas ao longo dos séculos e que incontáveis relatos sobre a presença de tais veículos, guiados por mentes conscientes, faziam parte da história. Ele escreveu: "Luzes, objetos e formas incomuns são descritas por testemunhas ao longo de toda história humana. Desde a Estrela de Belém até os mais recentes incidentes avistados quase que diariamente, os céus parecem fervilhar com atividade incomum e que carece de uma explicação razoável além do mero convencimento de que são meteoros ou meteoritos. Há algo muito mais estranho nos céus, e até o momento, ninguém foi capaz de explicar sua natureza verdadeira".

Ele definiu o incidente de 1913 como um dos maiores, senão o maior e mais impressionantes evento do início do século - uma Procissão de Objetos voadores não identificados, avistados por milhares de testemunhas ao mesmo tempo.

No fim das contas, até os dias atuais, cientistas e ufólogos, pesquisadores e céticos se dividem sobre o que aconteceu naquele dia em especial. O incidente permanece como um grande mistério astronômico cuja explicação nos escapa. O que torna ainda mais difícil solucionar o incidente é que não foram tiradas fotografias e apenas alguns esboços do ocorrido foram feitos por testemunhas. Com isso, ficamos com nada além dos relatos de testemunhas coletados por Chant e pesquisadores subsequentes sobre o assunto deixando tudo no reino do debate e da especulação.

O que foi visto, talvez nunca saibamos ao certo... mas em todo caso, é importante continuar observando os céus em busca de respostas. 

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