Continuando nossa jornada pelo bizarro na Espanha.
Talvez tão infame quanto O Vale Cinzento de La Mussara seja a pequena cidade fantasma de Ochate, no distrito do Condado de Treviño, na província de Burgos. Bem como sua colega fantasmagórica do Norte, Ochate foi no passado uma cidade próspera, uma das aldeias mais movimentadas de sua região. Ela servia como uma importante rota comercial entre as aldeias piscatórias ao longo do Golfo da Biscaia e os campos férteis e vinhedos de La Rioja.
Contudo, em 1860, o povoado experimentaria a primeira das muitas calamidades que desceriam sobre ele como uma nuvem sinistra. Primeiro, a cidade foi atingida por um tipo de epidemia que dizimou a população. Aqueles que sobreviveram e permaneceram foram atingidos por uma sucessão de epidemias semelhantes ao longo dos anos que pareciam afetar apenas o povo de Ochate e nenhuma das aldeias vizinhas.
Dizem as lendas que ao longo de dez anos a cidade foi devastada por três grandes surtos de doença. As pessoas contraíam a moléstia, cujo sintoma mais comum era fraqueza, sonolência e confusão mental, convalesciam por alguns dias e morriam de forma inexplicável, geralmente durante o sono. Poucos se recuperavam depois de manifestar os primeiros sintomas e estes ficavam com graves sequelas. Mesmo hoje, não existe um consenso entre pesquisadores a respeito da doença que devastou Ochate. Há suspeitas de que possa ter sido uma variação da Encefalite Letárgica, a infame Doença do Sono, mas essa teoria esbarra no fato de que ela era desconhecida até então e que os primeiros casos só foram registrados após a virada para o século XX. Seja lá o que tenha recaído sobre a população, vitimou mais de 40% dos habitantes em um espaço de uma década
Mas o círculo de tragédia não parou por ai...
Ao mesmo tempo que a doença letal se alastrava incontrolavelmente, Ochote foi atingida pelo flagelo da fome. As colheitas antes abundantes sofreram com uma praga também desconhecida que atingiu os campos e transformou a paisagem antes verdejante numa triste mancha marrom. Até os dias atuais, o solo de Ochote apresenta uma notável esterilidade, um fenômeno circunscrito aos limites do povoado visto que seus vizinhos jamais reportaram nada semelhante. Incapazes de manter as suas fazendas, as pessoas que viviam da agricultura se viram em uma dramática situação e muitos simplesmente partiram em busca de um lugar mais aprazível.
A gota d'água no entanto foi um horrível crime, ocorrido em meados de 1869 que abalou toda a região de Burgos e teve repercussão nacional. Um pai num momento de incompreensível loucura massacrou a própria família - esposa, filha e três rapazes, o mais novo de apenas 3 anos, sem motivo aparente. Isso antes de tirar a própria vida. A chacina, conhecida como o Dia Sangrento de Ochote, deu vazão a toda sorte de lendas e rumores na região. Alguns acreditavam que o criminoso havia sido possuído por um espírito maligno ou por um demônio que o forçou a agir daquela maneira ensandecida. Outros acreditam que a explicação repousava em uma antiga maldição que incidia sobre toda região e que teria sido lançada no século XVI por uma bruxa.
Os habitantes mais antigos de Ochate conhecem a história sobre uma bruxa chamada Silmarina, que teria vivido nos limites do povoado. Ela era considerada uma "mulher sábia", versada em medicina natural, no uso de ervas, chás e beberagens, além de ser chamada para auxiliar em partos complicados. Apesar de seus muitos dotes benignos, Silmarina era muito temida pelos habitantes do povoado, sobretudo pelas lendas de que ela conhecia feitiçaria. Entre o povo cristão, mencionava-se que ela tinha um pacto diabólico e que realizava o temido Aquelarre, a missa negra em que o Demônio era invocado em pessoa.
Não há registros que comprovem a existência de Silmarina, mas sabe-se que naquela época a Inquisição Espanhola ganhou grande influência na região de Burgos. De fato, o Tribunal do Santo Ofício foi muito atuante na Província, julgando e condenando alegadas bruxas. Sabe-se de pelo menos três grandes Autos de Fé, nos quais os agentes da Inquisição realizaram a purificação dos infiéis e blasfemadores pelo fogo. Embora não exista menção sobre uma mulher chamada Silmarina, processada formalmente, a história sobre ela é bastante conhecida. Ela teria sido capturada e condenada por conluio com as trevas, uma das mais graves ofensas aos olhos da Inquisição.
Silmarina foi levada até a masmorra onde lhe apresentaram os instrumentos: a mesa, as polias e a infame roda. Ela sofreu as indignidades da tortura, mas jamais revelou ao Inquisidor mor quem eram seus companheiros. Após cuspir na face do Inquisidor, ela teria proferido uma maldição sobre a cidade e sobre o povo de Ochate. Sua maldição, no entanto não atingiria aos que foram responsáveis pela sua morte, mas aos seus descendentes - estes sofreriam pelos Pecados dos Pais.
E sua maldição seria terrível!
"Devo reconhecer que fiquei completamente abalado quando estivemos em Ochate e gravamos um especial sobre o povoado. O primeiro choque foram os gritos que ouvimos claramente. Lembro bem do grito de uma garotinha dizendo "kampora" que em basco significa "saia". Esta voz foi captada mais de uma vez pelos microfones. Depois ouvimos sussurros vindos de dentro da torre da igreja e apesar de não termos sido capazes de decifrar o que era dito, era claro se tratar de uma pessoa falando. Houve outra voz gravada no mesmo local e que deixou no ar diversas questões. Esta última voz era a de uma mulher que num tom lamentável e rouco perguntava: “Por que a porta ainda está aberta?”
Jimenez conta todas essas histórias, mas reconhece que não estava preparado para o que aconteceu em seguida:
"Nós já havíamos visitado vários sítios assombrados. Eu confiava muito na minha equipe e no pessoal que me acompanhava. Jamais havia visto alguém reagir daquela maneira. A pessoa em questão era um profissional muito dedicado e não posso crer que inventaria aquilo. Ela realmente falava e agia como outra pessoa. Era alguém diferente! Nós filmamos o ocorrido e mantivemos o nome da pessoa em segredo para não prejudicá-la, mas tenho para mim que sei o que houve. Por mais bizarro, não tenho como afastar a sensação de que aquilo foi uma possessão. Todos ficamos transtornados, sem saber o que fazer... talvez tenha sido um dos momentos mais assustadores da minha vida."
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