segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Madeira Morta - Árvores incrivelmente assustadoras e terrivelmente sinistras


O nome é Dendrophobia.

Enquanto a maioria das pessoas acham a visão de árvores algo tranquilizador e pacífico, aqueles que sofrem de Dendrophobia ficam absolutamente aterrorizados ao encarar galhos retorcidos e folhagem densa.

O medo irracional de árvores é algo muito mais comum do que se pode imaginar. 

Na verdade, árvores são categorizadas entre os cinco itens que mais causam aflição e terror nas pessoas ao redor do mundo. A fobia possui mais casos diagnosticados do que medos considerados comuns como aracnophobia (medo de aranha), cynophobia (medo de cães) e aquaphobia (medo da água).

Diferentes tipos de árvores podem afetar a pessoa afligida por essa condição, evocando uma sensação indescritível de ansiedade e paranoia. Em casos realmente graves, a pessoa desmaia, sofre ataques de pânico ou fica paralisada se forçada a se aproximar de uma árvore.

Mas o que causa esse medo tão específico?

O receio de ser esmagado por uma árvore em queda é um gatilho conhecido de Dendrophobia. O indivíduo evita florestas ou áreas com densa vegetação acreditando que pode ser vítima da queda fatal de uma árvore. O peso e o tamanho de algumas árvores despertam o terror no indivíduo. Às vezes, árvores sofrem infestações ou apodrecem por dentro e é isso que causa o medo irracional. A ideia de que árvores escondem em suas cascas insetos ou fungos pode também ser a causa da angústia.

Para alguns o medo só vem à noite, quando árvores anciãs projetam sombras sinistras como se seus galhos secos e contorcidos fossem braços se esticando para agarrar e puxar. A literatura gótica usava muito a imagem de velhas árvores - olmos, castanheiras e carvalhos - cujos galhos secos balançavam ao sabor do vento.

As lendas sobre árvores vivas - os Treants (Entes no folclore nórdico e na literatura do Senhor dos Anéis de Tolkien) - são muito antigas e remontam a Grécia, sendo também difundidas entre os povos britânicos e celtas. Longe de serem guardiões benevolentes da natureza interessados em proteger as florestas e matas virgens, as Árvores Vivas do mito original são entidades vingativas que odeiam os homens por cortar suas irmãs. Eles perseguem e esmagam aqueles que entram nas florestas em busca de lenha.

Em outros mitos difundidos na Idade Média, certas árvores podiam se tornar malignas quando cresciam nos arredores de cemitérios, valas e campos de batalha onde notoriamente haviam ocorrido muitas mortes violentas. No folclore medieval, as árvores que cresciam nesses lugares eram envenenadas a medida que suas raízes profundas tocavam nos cadáveres sepultados e deles se alimentavam. O próprio solo se tornava negro com as carcaças e isso repercutia na vegetação, sobretudo nas árvores. Quando uma árvore crescia se contorcendo acreditava-se que isso representava a agonia dos mortos sepultados aos seus pés.

Na mesma época, algumas árvores passaram a ser associadas com crueldade e sofrimento. As árvores dos enforcados (hangman tree), eram usadas para executar criminosos conforme a brutal justiça medieval. Árvores de troncos grossos e fortes eram escolhidas para essa tarefa. Ao redor deles se lançava uma corda e na ponta o condenado era pendurado até sufocar. Após a morte, o corpo ficava pendurados por dias a fio como recado para outros criminosos. No entender medieval, as árvores ficavam contaminadas pelo mal dos homens nelas enforcados ou fantasmas podiam possuí-las malignamente.

Mas nem sempre foi assim. Antes da Cristandade se instalar na Europa, algumas árvores eram consideradas sagradas por culturas pagãs. Os Druidas celtas e bretãos reverenciavam as grandes e antigas árvores que cresciam magnânimas nas florestas primordiais da Europa. Aquelas que eram tocadas pelos deuses (por exemplo um carvalho atingido por um raio) eram consideradas ainda mais importantes para os rituais. Nas celebrações pagãs, as árvores desempenhavam um papel fundamental como testemunhas dos deuses, daí o costume de entalhar rostos humanos nos troncos.

Talvez por terem representado uma comunhão divina para as comunidades pagãs, é que os primeiros cristãos difundiram a ideia que certas árvores eram malignas. Quando os cultos pagãos foram desarticulados, centenas de árvores vieram abaixo com eles. É possível que o temor pelas árvores seja uma reminiscência desse temor antigo ainda causando danos psicológicos.

Vou confessar uma coisa: árvores me deixam nervoso. Longe de ser uma fobia, mas não me sinto muito à vontade perto delas, sobretudo aquelas que tem troncos parecidos com rostos distorcidos ou galhos que lembram braços.

Mas acho que não seria o único a ficar intimidado diante de árvores bizarras como estas das imagens à seguir:



Essas árvores estão em um Parque do Canadá e são consideradas (junto com a árvore no topo desse artigo) como as três árvores de aparência mais sinistra do mundo. Essa mais de baixo é incrível, parece ter sido moldada como um ídolo com braços erguidos, uma barba espinhosa e costelas na base do "corpo".


Essa daqui é bisonha demais... parece a face deformada de um animal. Olhos, nariz e boca ficam muito claros nessa ângulo.



Ruínas de Angkor Wat, no Camboja

Árvores com mais de 1000 anos virtualmente engoliram os restos da antiga cidade crescendo (quase se derramando) por cima dos prédios de pedra que sobreviveram. As raízes são tão grandes que destruíram o piso de pedra e envolveram as construções fundindo-se a elas de maneira orgânica.



Uma árvore particularmente bizarra em Ontário, Canadá. 

Um dos principais parques nacionais do Canadá, o Ridgemont Reserve, é considerado o parque com os mais bizarros troncos do mundo. Uma placa na entrada do parque possui inclusive um aviso para que pessoas impressionáveis evitem entrar sozinhas.


Screaming Trees (Árvores gritadoras), no parque Hither Hills, interior de Nova York.


As árvores do Parque de San Francisco, na Califórnia, são consideradas as mais contorcidas da América. Elas tem a estranha característica de se torcer de maneira absurda e seus galhos parecem imensos tentáculos.


Um dos temores mais recorrentes entre os indivíduos afligidos pela Dendrophobia é justamente o temor de serem agarrados e ter seus movimentos restringidos por galhos de árvore. Estas pessoas tem verdadeiro pavor de encostar em galhos e o simples roçar da pele em madeira causa um efeito danoso.

Em 2001, uma pesquisa feita pela Associação de Psiquiatria Norte Americana relacionou os materiais que mais causavam desconforto nos entrevistados. O primeiro lugar foi para substâncias porosas, a segunda posição coube a madeira.


Rostos distorcidos, faces macabras e sorrisos maldosos nos tronco de árvores.


Na antiguidade algumas religiões pagãs acreditavam que árvores antigas eram capazes de reter a alma das pessoas que ficavam aprisionadas pela eternidade. Isso fazia surgir nos troncos os rostos transfigurados em agonia dessas pessoas. 

Alguns rituais celtas envolviam sacrifícios ocorridos em florestas nos quais o Druida executava a vítima amarrada no tronco de uma árvore afim de que seu espírito se fundisse com a madeira. O sangue da vítima por vezes era drenado e injetado no interior do caule, ou então derramado nas raízes para que pudesse ser sorvido. A ideia é que o sangue da vida se misturava à seiva da árvore unindo os dois para sempre.

Embora fosse uma punição cruel, alguns Druidas se submetiam a esse ritual para se converter em eternos guardiões das clareiras sagradas.


Essa famosa árvore do interior da Nova Inglaterra foi usada como base para a criação da "Twisted Tree" que aparece no filme "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça" e também no filme "Alice no País das Maravilhas", ambos do diretor Tim Burton. 


A clássica árvore no meio do nada... não dá uma sensação estranha imaginar porque apenas essa árvore restou no local?

8 comentários:

  1. As três primeiras fotos são nitidamente montagens espelhadas, dessa forma não dá pra ver estas árvore em toda sua magnificância. Mas as outras são do capeta mesmo.

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  2. Maravilhoso post!
    Costumo pesquisar muito sobre o assunto (árvores e mitos) e inclusive escrevi um conto a respeito que estará na antologia "Na sombra de Cthulhu", que estou organizando.
    Acho que dá pra explorar muita coisa sobre o tema e CoC... QUem sabe, quando eu terminar de descrever os outros artigos sobre psicologia para o blog, eu não faça algo sobre árvores, também, complementando este post? kkkk
    Muito obrigado pela matéria bem pesquisada e inspiradora.

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  3. Certamente uma grande e útil inspiração para mestres que pretendem usar o horror. O texto é bem informativo e aprendi muitas coisas da cultura.

    Porém, quanto as imagens, não me impressionei muito. É apenas um fenômeno psicológico conhecido como pareidolia, que nos fazem ver homens na lua, homens nas nuvens e até Jesus na bunda de um cachorro!

    Belo post e espero ansioso pelos próximos.

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  4. Boa matéria , as árvores inspiram alguns desenhos meus.

    abs

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  5. Adorei a reportagem, textos assim me fazem lembrar principalmente de filmes como Poltergeist e a árvore que tenta engolir a garotinho, e tantos outros filmes que se utilizam do nosso medo infantil, afinal quem nunca achou tenebroso as sombras geradas ou formas bizarramente humanoides que certas árvores possuem.

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  6. As primeiras imagens são trabalhos de um artista, Paludario, não são árvores reais.

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  7. Sofro disso desde meus cinco anos.mas nenhuna dessas explicações me satisfaz.meu medo é de ver grandes árvores,com grandes copas e troncos imensos.eu gostaria de entender o motivo pelo qual isso me afeta tanto.nao tenho medo por achar que ela vai cair,por insetos dentro do tronco,me agarrar ou achar que é maligna .mas sim devido o formato grandioso.

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  8. Obrigado pela dica, King! Serviu pra me dar putos arrepios!

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