quarta-feira, 24 de julho de 2024

Artefatos Fora de seu Tempo - Objetos impossíveis e que não deveriam existir no passado


Em abril de 1886, um grupo de mineiros de carvão que trabalhava em uma mina em Broad Top Hills, no centro da Pensilvânia, encontrou algo ao mesmo tempo intrigante e notável. Enquanto extraíam carvão, descobriram um pedaço de ardósia que parecia trazer uma série de rostos humanos toscamente esculpidos. Eles acharam a descoberta notável o suficiente para removê-la com cuidado e mostrá-la aos seus empregadores e à imprensa. 

A descoberta causou grande alvoroço, sendo relatado no Lewistown Gazette em 25 de abril de 1886. As figuras foram descritas como se tivessem sido "cortadas com um cinzel de gravador" e trazendo imagens de rostos humanos com "queixo, boca, bochechas, testa e olhos claramente delineados." Dada a profundidade da camada de carvão e a época em que ela teria sido construída, as esculturas teriam que ter sido feitas milhões de anos antes de qualquer um dos ancestrais da humanidade perambular e trabalhar em pedra, para não falar, ter a tecnologia para produzir ferramentas capazes de realizar esse trabalho.

Então, qual a explicação para tal coisa existir?

Um editor do jornal, rapidamente arriscou o palpite de que as imagens eram "uma formação fossilifica de mofo ou germes que floresceu ali". Não seria nada, senão uma enorme coincidência parecerem rostos humanos. Os mineiros mantiveram sua história e as descrições das testemunhas colocaram em dúvida tal explicação. As testemunhas insistiram que se tratava de esculturas de rostos humanos, mesmo que não estivessem à altura dos escultores modernos. Foram tiradas fotos da placa, mas, infelizmente, nenhuma delas sobreviveu até a era atual. Ainda assim, as esculturas da mina de carvão Broad Top eventualmente tomaram seu lugar como um dos menos relatados, mas numerosos relatórios do que é amplamente conhecido como Artefatos Fora do Lugar, ou Ooparts

Há muitos exemplos desses artefatos ao redor do mundo, mas a maioria dos cientistas tradicionais buscam diligentemente encontrar explicações razoáveis para eles. Para estes pesquisadores, eles não passam de fenómenos prosaicos e meras coincidências que não devem ser usados como base para questionamentos sobre a cronologia da ciência e progresso humano. 

Muitas vezes as “explicações” são convincentes e acabam explicando a real natureza desses artefatos, contudo há aqueles que desafiam qualquer argumento racional. São artefatos tão estranhos, tão incomuns e tão fora de seu tempo que não há uma explicação razoável para sua mera existência.

Há apenas dois anos, um relatório foi divulgado nas redes sociais apresentado a sensacional descoberta feita por  jovem nas margens de um rio perto de Watertown, Nova Iorque. Ao extrair do leito do rio uma placa de xisto, ele encontrou preso a ela o que parecia ser um relógio de bolso do início do século XX. A descoberta não parecia nada demais, exceto pelo fato de que o relógio era bastante peculiar por não ter símbolos convencionais em seu mostrador ou qualquer indicação de para que ele servia. Mas não era só isso... A misteriosa peça, chamada de relógio, estava incrustada na rocha, com evidente fossilização e cristalização que não poderiam se formar em apenas um século. Para isso, seriam necessários milhões de anos.

Não obstante, o relógio estava ali, desafiando a cronologia e uma explicação razoável.


Este não é o único artefato Oopart  descoberto que passa incólume diante de refutações normais.

Um dos artefatos Fora do Lugar mais famosos é a conhecida Bateria de Bagdá. Encontrada no Iraque em meados de 1940, a peça foi estimada como sendo de 250 a.C. Ela é composta de uma simples jarra de barro com tampa feita de asfalto. Pendurada nessa tampa está acoplada uma barra de ferro envolvida por um cilindro de cobre. Testes foram realizados na era moderna mostrando que se você enchesse a jarra com vinagre (substância comum na época), ela seria perfeitamente capaz de produzir uma pequena quantidade de eletricidade. 

Como o responsável por essa criação teria essa noção? Os pesquisadores que tiveram acesso a Bateria de Bagdá  atestaram que todos os materiais usados para sua criação eram de uso comum na época. Contudo, sua combinação é no mínimo estranha. Para que alguém envolveria uma barra de ferro com cobre e encheria uma jarra com vinagre se não para gerar uma reação química? A combinação é muito inusitada para não ser proposital. Não existe nenhuma menção a iraquianos em 250 aC pesquisando à respeito de geração de eletricidade, então quem criou essa coisa? E como ele sabia que ela geraria eletricidade?

Outro item curioso do passado é o lendário Mecanismo de Anticítera, que tem aparecido em tantos documentários que muitas pessoas sem dúvida já ouviram falar dele. Datado de uma época antes de Cristo, parece ser um engenho incrivelmente complexo de engrenagens e alavancas, capaz de realizar todos os tipos de cálculos de navegação com base em observações celestes. Numerosas reproduções modernas do dispositivo foram criadas e ele parece totalmente funcional. Em resumo, o artefato poderia ser o primeiro GPS da história.


Mas como seus criadores tinham noção de tal coisa? Eles estavam simplesmente muito à frente de seu tempo em termos de criação de engrenagens e alavancas? E o que dizer de sua notável capacidade de observação dos céus? Nada explica como eles foram capazes de construir tal coisa em uma época em que a tecnologia e ciência eram mera superstição. Tal como acontece com outros exemplos, talvez fossem pessoas excepcionalmente inteligentes que estavam à frente do seu tempo, mas cujo conhecimento se perdeu até que o resto da civilização os alcançasse. Infelizmente as explicações sobre "pessoas extraordinariamente capazes" em um determinado tempo e lugar deixam muito a desejar. 

Há um monumento apelidado de "A Grande Muralha do Texas", descoberto em 1852 que desperta dúvidas sobre quem, como e por que ele foi erguido. Trata-se de uma enorme construção de pedra erguida quando os indígenas eram os únicos habitantes da América do Norte. As pedras são enormes e quase simétricas, encaixando-se como um quebra-cabeça. As pessoas que viviam na região nessa época sequer possuíam montarias equestres, para não falar da capacidade de mover enormes monólitos. Especialistas afirmam que o monumento poderia ser uma formação natural, mas essa explicação não parece satisfatória. Ao observar as pedras é impossível deixar de perceber o encaixe perfeito delas e o fato de serem peças diferentes. 

Dizem o mesmo da infame Estrada Bimini, localizada no litoral das Bahamas. A "estrada" é formada por enormes pedras com centenas de toneladas perfeitamente encaixadas, resultando no que parece ser uma arquitetura inteligentemente projetada. Mais incrível ainda, ela se encontra num lugar submerso, no fundo do oceano há ​​milhares de anos. Como então teria sido montado esse arranjo? Não poderia ser mera coincidência ou decorrência da ação natural.


Alguns dos mais notáveis exemplos de Oopart são difíceis de refutar e as explicações oferecidas pelos céticos parecem ser, na melhor das hipóteses, um esforço de imaginação.

Consideremos o Cubo de Salzburgo, também conhecido como a Peça de Ferro Wolfsegg. Embora não tenha realmente a forma de um "cubo perfeito", ele é um pedaço de ferro de altíssima pureza dotado de uma estranha ranhura no centro. Foi descoberta numa mina de carvão em Wolfsegg am Hausruck, na Áustria, no ano de 1885 e se encontra em exibição no Museu de Viena. O que o torna notável é que foi encontrado dentro de um bloco de carvão que os mineiros estavam processando. Essa camada externa de carvão mineral se formou ao longo de aproximadamente 60 milhões de anos. A única explicação sugere que "de alguma forma" ele ficou incrustado no carvão durante o processamento. Contudo carvão é muito frágil e inserir um objeto de ferro tão refinado em um bloco de carvão sem quebrá-lo é algo praticamente impossível. Para todos efeitos, o cubo parece ser algo de outro mundo. Como ele foi construído? Como chegou lá? E quem o moldou nessa forma quase perfeita?

Depois, há o caso da Fuente Magna que foi descoberta no início do século XX, uma peça de cerâmica lindamente gravada com estranhas figuras de animais e escrita no interior em pelo menos dois idiomas diferentes. Sendo que um deles foi traduzido como sumério antigo! O que torna esta descoberta verdadeiramente única é o fato de ter sido descoberta a cerca de 75 quilômetros da cidade de La Paz, na Bolívia. Na mesma escavação arqueológica foram recuperados outros artefatos datados de muito antes de os primeiros exploradores europeus chegarem América do Sul. 

Como poderia alguém na Bolívia estar familiarizado com a língua suméria séculos atrás? Alguns críticos argumentaram que o texto sumério dentro da tigela contém erros na forma como os caracteres são formados, mas outros apontam que os escritos evoluíram ao longo do tempo. Outros céticos simplesmente levantaram as mãos e declararam que a tigela deve ser uma farsa, mas mesmo assim, ela permanece um mistério até hoje.


Outro objeto que desafia teimosamente a maioria das explicações convencionais é o Martelo de London. Em 1934, um operário chamado Max Hahn o descobriu numa escavação nos arredores de London, Texas. O artefato é formado por uma pedra de aparência curiosa com um pedaço de madeira semelhante a um cabo de ferramenta firmemente embutido nela. Sem pensar muito à respeito, a família Hahn o colocou em uma prateleira durante anos, até que um de seus filhos ficou curioso e conseguiu quebrar a pedra para investigá-la melhor.

No interior da rocha, encontraram a cabeça de um martelo claramente feito pelo homem, provavelmente do final do século XIX. Os restos do cabo de madeira eram velhos o suficiente para que partes dele se transformassem em carvão. Como ele foi inserido em pedra sólida ou como rocha se formou ao redor dele? Os céticos afirmam que o martelo foi perdido por alguém e a pedra ao redor se formou através do processo de concreção mineral. Mas o London Hammer não parece estar envolto em substâncias simples, mas em rocha muito sólida. Como isso aconteceu? Não há uma explicação razoável para tal coisa no reino da geologia.

O martelo está em exibição no Creation Evidence Museum e constitui um enigma até os dias atuais. Ninguém foi capaz de oferecer uma teoria para tal formação inusitada. 

Diante de todas essas peças incomuns, o que podemos dizer?

O tema Artefatos fora do Tempo é realmente fascinante e desperta debates acirrados na comunidade científica. Sem dúvida, existem aqueles que são quase certamente o resultado de fraudes, interpretações erradas ou uma má compreensão das capacidades tecnológicas das sociedades antigas. No entanto, há casos realmente inexplicáveis que não possuem uma explicação razoável. 


Uma possibilidade defendida por alguns pesquisadores metafísicos é que poderíamos estar diante do que é conhecido como Fenômeno dos Objetos Desaparecidos (DOPs). Muitas pessoas experimentam isso. Seriam objetos comuns que aparentemente desaparecem, apenas para reaparecer mais tarde em um lugar onde ninguém esperava ou supunha ser possível seu surgimento. Não se sabe como tais objetos poderiam entrar e sair da nossa realidade e que força seria responsável por isso, mas os postulantes afirmam que a causa seria um aparente deslocamento de matéria. 

Alternativamente há os postulantes da Teoria dos Deuses Astronautas que especulam sobre visitantes alienígenas que estiveram em nosso mundo há milhões de anos atrás. Eles teriam deixado pistas de sua passagem, sendo que algumas sobreviveram à passagem das eras. Algumas dessas ferramentas poderiam ter sido esquecidas e acabaram encapsuladas pela passagem do tempo em formações geológicas que demandam milhões de anos. Há ainda a hipótese levantada por alguns de que os artefatos não teriam origem extraterrestre, mas sim de homens capazes de viajar através do tempo. Estes teriam visitado pontos do passado remoto e lá esqueceram suas ferramentas que acabaram incorporadas ao ponto focal do espaço/tempo após seu descarte.

Se nenhuma dessas explicações preencher adequadamente as lacunas, honestamente não restam muitas outras opções. Seriam extraterrestres ou viajantes do tempo descuidados? Civilizações avançadas desconhecidas? Uma espécie de Falha na Matrix? 

Talvez nunca saibamos com certeza, mas o que sabemos é que os céticos nem sempre são capazes de explicar os mistérios que surgem. O universo e as coisas que o constituem parecem ser muito mais complexos do que ousamos imaginar. Nossa compreensão do tempo e da realidade ainda é muitíssimo vaga e os Artefatos Fora do Tempo podem ser as peças de um quebra-cabeça incrivelmente complexo.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

O Habitante das Cloacas - Uma entidade de terror urbano

 

baseado no original por Luis Bustillos Sosa

Nas lobregas e esquecidas entranhas da Cidade do México, onde as trevas devoram vorazmente as fontes de luz e o ar se torna um veneno para os pulmões, existe um labirinto escuro de túneis e condutos infindáveis: as Cloacas.

Neste submundo putrefato, onde as águas residuais fluem e refluem como um rio desbocado e os ruídos discordantes da civilização desaparecem na negritude eterna, vagam horrores indizíveis. As cloacas são terreno perigoso, infestado de pragas e doenças infeciosas. Os refugos da civilização escorrem por esses canos e desaguam nas galerias repletas com o excremento e sujeira, rescaldo e secreções imundas.

Num ambiente tão insalubre, inacessível para qualquer ser que não se alimenta de podridão e faz dela seu covil, vive uma criatura nascida das mutações mais perversas e da decadência urbana.

Poucos ousam mencionar o seu nome, mas os que o fazem, entre sussurros nervosos, o chamam simplesmente de o "Habitante".

Alguns sugerem que ele pode ser uma terrível mutação catalisada pelas substâncias aviltantes presentes na água poluída. Existe a noção de que ele possa um dia ter sido um ser humano, transformado pelo meio após anos de confinamento nos esgotos. Gradualmente teria sido consumido e deformado, até se tornar uma paródia grotesca do seu antigo eu. Outros, mais temerosos, murmuram que se trata de uma entidade demoníaca, atraída pelos segredos ocultos e pelas misérias insondáveis da grande metrópole. Finalmente há os que apontam para uma forma que nasceu espontaneamente em meio ao lodo cru e que se desenvolveu, tendo nesse meio uma espécie de caldo primordial.

Mas ninguém sabe ao certo que forças nefastas teriam sido combinadas para dar vida a esse horror. Sua origem permanece imersa em incertezas, sendo impossível aferir como se deu gênese tão profana.


Não obstante, o Habitante vaga pelos alagadiços, nutrindo-se com as formas de vida rasteiras e extraindo desse meio aquilo que necessita. Ele atrai ratos e os devora, bem como baratas, mocas e larvas. Quando o calor dos túneis chega a uma temperatura insuportável nos meses de verão, ele rasteja laboriosamente até perto da superfície na esperança de recolher alguma presa maior. Desaparecimentos de animais domésticos e pequenas crianças não são algo raro próximo das grades de coleta de chuva. E mais de um vagabundo já foi capturado pela coisa. De fato, alguns anos atrás, a descoberta de ossos, tanto de animais quanto de humanos numa galeria, reascendeu as histórias sobre o Habitante.

Há lendas que são contadas sobre ele desde os anos 60, quando as pessoas mencionavam os ruídos guturais de algo grande se arrastando pelos túneis. Falavam também do fedor pútrido, algo pior que mil fossas abertas num dia de calor, um odor ocre que emergia por bueiros e canos irrompendo das profundezas. Nas décadas seguintes a história se popularizou, como uma espécie de lenda urbana da qual as pessoas riam, mas apenas quando estavam na segurança de suas casas, bem distante das cloacas. 

Entre técnicos e pessoal de manutenção, as lendas sobre a coisa nas Cloacas eram bastante populares. A maioria deles jamais ousariam descer sozinhos ou explorar algum túnel sem levar consigo uma gaiola com um gato. A ideia é que se a coisa fosse ouvida ou o fedor detectado, o felino fosse deixado para garantir a fuga apressada de volta à superfície. Há muitos relatos de trabalhadores citando tais situações, e narrativas dramáticas sobre colegas que não tiveram a mesma sorte. "As cloacas são cheias de ossos" - diz um ditado conhecido entre esses funcionários da companhia mexicana de água e esgoto.

Mas com o que se parece o Habitante das Cloacas?

Esta abominação é descrita como uma massa revoltante de carne pálida, pele pustulenta e escorregadia, similar a borracha que se contorce e arrasta. Uma bolha aviltante de sujeira gordurosa que deixa um rastro após sua passagem, como uma gigantesca lesma. O Habitante não tem membros e sim pseudopodes mal formados que se esticam, agarram e puxam a massa informe, impelindo-o pelos túneis. Ele vive em câmaras submersas ou cheias de lixo e não parece se importar com o ambiente que o cerca encontrando nichos onde passa dias imóvel.


A coisa se move lentamente, mas aperfeiçoou táticas para atrair vítimas em potencial deixando objetos brilhantes, por vezes de valor, próximo de onde está escondida. Quando alguma presa se aproxima, ela avança para capturá-la ou cai sobre ela. A criatura também faz uso de uma toxina química produzida por seus órgãos internos. Essa substância se concentra em uma espécie de bolha inchada e escura na superfície de sua massa. Quando assim deseja, ela se infla e estoura, liberando uma nuvem causticante de cheiro nauseante que age sobre as sinapses cerebrais paralisando a vítima que a respira. O habitante simplesmente então avança sobre a vítima que não consegue se defender.

Não há como saber quais os sentidos que a guiam ou se ela é dotada de real consciência. Seus olhos são como dois poços profundos que engolem a escassa luz ao seu redor e suas fossas respiratórias fungam constantemente fazendo um som de roufenho. É sua enorme boca rasgada que chama mais a atenção. Ela é dotada de dentes compridos e afilados como cerdas nas costas de um porco espinho. Uma vítima colhida pelo monstro é empurrada por essa bocarra que se distende, escorregando para dentro da goela graças a uma saliva que corre em profusão. No processo, ela é rasgada e fatiada. Grande o bastante para consumir um homem adulto, o Habitante pode engolir sua presa e lentamente a matar em seu interior.

É costumeiro que após a vítima parar de se debater, ele regurgite os restos uma e outra vez afim de absorver todo material. A criatura não consegue processar ossos, couro sintético ou cabelos e esse material é vomitado.

O Habitante é uma entidade solitária, passa a maior parte de seu tempo imóvel sendo difícil de distingui-la de uma simples pilha de refugo. Após se alimentar ela passa semanas deglutindo, período em que se mantém inativa. Contudo, seu apetite voraz, mais cedo ou mais tarde, irá levá-la a caçar novamente.

Os degredados e maltrapilhos compartilham seu saber em torno de fogueiras moribundas, trocando histórias de terror sobre essa coisa atroz e seu reino subterrâneo. Para alguns, o Habitante é um castigo nascido dos pecados da urbanização desenfreada. Outros acham que ele é um guardião sinistro que protege segredos velados de um mundo nauseante.

Em torno desse horror se formou uma espécie de culto doentio que venera o Habitante como uma espécie de divindade que deve ser aplacada e apaziguada. Esse bando de degenerados manifestam em seus corpos todo tipo de doença e carregam essas pústulas com distinção, considerando-as como símbolos de sua devoção irrestrita. São fanáticos e completamente insanos. Eles marcam os túneis que formam seus domínios com grafites elaborados em tinta.


A criatura aprendeu a confiar no séquito e a aceitar interagir com ele, ainda que, se especialmente faminta, devore um ou dois desses cultistas dementes. Os rituais improvisados são realizados nas galerias profundas, feitos na presença da criatura que asperge sua gordura vitriólica como uma espécie de sacramento batismal aos recém iniciados. Ele causa alucinações e revela portentos místicos. Os iniciados recolhem os restos regurgitados pela criatura, que são reunidos com grande devoção e empilhados em altares profanos. Sacrifícios, auto mutilação e outros comportamentos desprezíveis são levados à cargo na presença do Habitante na esperança de distraí-lo ou agradá-lo. Não há como saber se tal coisa o satisfaz de alguma maneira.

O Habitante das Cloacas é um enigma para aqueles que se aventuram a contemplar as profundezas proibidas da capital mexicana, mas é provável que seres semelhantes existam em outras metrópoles modernas ao redor do mundo.

Suas motivações são inextricáveis, mas uma verdade permanece inabalável: essa perversa entidade é a perdição daqueles que cruzam seu caminho.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

O Czar e os alienígenas - Quando extraterrestres implantaram um chip em Ivan, o Terrível


Um estranho pormenor do fenômeno ufológico, é aquilo que estudiosos convencionaram chamar implantes alienígenas. Pequenos objetos que seriam inseridos no corpo de indivíduos que supostamente tiveram contato com seres extraterrestres. Esses implantes, geralmente chips, peças de metal ou fios seriam inseridos cirurgicamente no indivíduo abduzido por razões desconhecidas.

Essa crença só se tornou realmente popular no inconsciente coletivo por volta da década de 1960, mas, a história é estranha e se você quiser acreditar em alguns relatos, há casos similares ocorrendo há séculos, inclusive com pessoas importantes. Entramos em um território estranho envolvendo uma abdução alienígena, implantes bizarros e um governante notório da história russa.

Ivan IV Vasilyevich, mais conhecido como Ivan, o Terrível, é frequentemente mencionado como um dos déspotas mais notórios da história e um dos grandes idealizadores do Império Russo. Nascido em 1530, filho de Vasili III, o governante do Grão-Ducado de Rurikid que incluía Moscou, Ivan logo provaria ter um destino forte. Nascido na realeza e se tornando o Grão-Príncipe de Moscou com apenas 3 anos de idade, mais tarde se tornou o primeiro Czar da Rússia aos 16 anos. Como governante, ele é considerado uma figura formidável, famoso por suas numerosas campanhas militares ferozes e épicas que colocaram sob seu punho de ferro vastas extensões e território que ajudaram a transformar a Rússia de um estado medieval em um poderoso império. No entanto, ninguém ganha um apelido como “O Terrível” sem boas razões, e Ivan Vasilyevich é igualmente conhecido por sua astúcia, crueldade e imensa inteligência.

Segundo relatos, Ivan sempre foi negligenciado em sua juventude e tinha uma propensão a torturar pequenos animais e não mostrar sinais de remorso por más ações. Foi essa educação que talvez tenha impulsionado seus atos perversos como um governante sanguinário. Quando Ivan tinha apenas 13 anos, ele já clamava pelo assassinato de seus inimigos, matando um príncipe e toda a sua família e servindo seus corpos aos cães e embora as pessoas comuns o respeitassem pelas reformas que trouxe ao país, eles estavam absolutamente aterrorizados com ele. Ivan foi descrito como um indivíduo incrivelmente instável, propenso a ataques de raiva repentinos vindos do nada. Ele batia a cabeça no chão, destruía móveis e atirava animais das paredes do Kremlin. Esses acessos turbulentos de raiva podiam ser desencadeados pelas menores coisas ou mesmo por nenhuma razão discernível. 


Em alguns casos esses acessos de raiva tornaram-se mortais até mesmo para pessoas próximas, como um incidente em que ele assassinou seu filho mais velho, também chamado Ivan. Ele também obrigou sua esposa grávida a abortar, espancando-a por perceber que ela usava roupas indecentes em público. Esses acessos de raiva esporádicos e imprevisíveis eram muitas vezes acompanhados de episódios intensos de paranoia. Quando a primeira de muitas esposas, Anastasia, faleceu, após 13 anos de casamento, ele estava convencido de que ela havia sido envenenada e frequentemente acusava seus assessores mais próximos de conspirar contra ele. 

Com o passar dos anos, Ivan ficou tão paranoico que, para ter certeza de que ninguém tentaria nada contra ele, reuniu seus próprios guarda-costas escolhidos a dedo, a Oprichnik para ficar de olho na população e aterrorizá-la. Os homens vestiam-se de couro negro e cavalgavam cavalos igualmente negros pelas ruas. Para efeito dramático levavam cabeças de cães decepadas presas às selas deixando um rastro de sangue após sua passagem. Esse bando servia como olhos e ouvidos do Czar, destinada a reprimir a oposição e punir qualquer um que falasse mal de seu chefe. A Oprichnik executava tanto plebeus quanto nobres com impunidade e sem julgamento. Estima-se que eles mataram milhares de nobres e incontáveis ​​civis. Também se envolveram em misteriosos rituais e missas negras. Corriam boatos de que alguns praticavam feitiçaria e até mesmo canibalismo.

Havia um contingente de trezentos destes Oprichniki que o serviam com lealdade beirando o fanatismo. Eles viviam no interior do extenso castelo de Ivan, onde alegadamente realizavam sacrifícios humanos, tortura de vítimas capturadas e mortes ritualísticas.

À medida que envelhecia, os ataques de raiva, paranoia e depravação de Ivan só pioravam. Ele era conhecido por torturar pessoalmente aqueles que considerava criminosos ou como uma ameaça ao seu governo absoluto. E ele o fazia de maneiras horríveis: atiçando seus ferozes cães famintos sobre vítimas amarradas, promovendo esquartejamento, morte por fervura, empalamento, usando de ferros em brasa ou assando-os vivos. Ivan também ordenava o massacre de supostos inimigos, fez um ataque à cidade de Novgorod onde matou milhares de pessoas, simplesmente porque tinha a ideia de que os nobres da cidade iriam desertar para o estado da Livônia. Alguns de seus métodos de limpeza em Moscou também eram extremos, como a vez em que ele afogou em um lago todos os mendigos que seus capangas conseguiram prender. Seu governo foi uma demonstração horrível de crueldade desenfreada e, apesar de todas as mudanças que trouxe, Ivan era visto como um dos tiranos mais opressivos e sádicos que o país já tinha visto.


Nos seus últimos anos, a saúde de Ivan se deteriorou e ele acabaria por dissolver a Oprichnik, chegando até a tornar crime mencioná-los novamente. Ele morreria de acidente vascular cerebral em 1598, deixando para trás um vácuo de poder que daria início a uma era de revoltas, guerras e fome chamada Tempo das Perturbações. Ao fim desta milhões teriam morrido, trazendo ainda mais dificuldades à Rússia. Ivan, o Terrível, certamente deixou sua marca sangrenta na história, e tem havido muito debate e discussão sobre por que ele era tão instável, depravado e propenso aos tais ataques de ira extrema. 

Uma ideia é que ele simplesmente teve uma infância difícil que o transformou em um monstro, enquanto outras teorias dizem que ele sofria de dores crônicas ou que sofria por envenenamento de mercúrio devido a pomadas que usava nas articulações, ou possivelmente, ele era simplesmente louco.  Mas há relatos ainda mais estranhos envolvendo alienígenas e é aqui que damos uma guinada brusca em nossa história e entramos no reino do bizarro.

O pesquisador de OVNIs Albert S. Rosales conseguiu rastrear um artigo bastante curioso em um jornal russo sobre OVNIs chamado Inoplanetyane. Escrito por Alexander Bogatikov, o relato sugere que o comportamento bizarro de Ivan, o Terrível, a inteligência incomumente elevada e a depravação desenfreada foram causados ​​não por uma infância difícil ou por dores ou ainda, envenenamento de qualquer tipo, mas sim por um implante alienígena que foi colocado em sua cabeça. durante uma abdução quando ele era criança. 

Existem muitas evidências oferecidas para esta teoria, incluindo que Ivan supostamente teve vários encontros com pequenos seres humanoides, tratados como fadas, em seu quarto. Essas "fadas" pequeninas com grandes olhos e corpo frágil, levavam o Príncipe em viagens em seu reino "brilhante e imaculado". Ivan contava até o fim da vida essas histórias e tudo indica acreditava que elas realmente haviam, acontecido. Também há relatos de que o Czar era propenso a tocar um ponto em sua cabeça com frequência. O ponto, exatamente onde o objeto estava alojado, na têmpora direita, deveria ser fonte de algum tipo de desconforto, embora ele nunca tenha reclamado com os médicos sobre algo errado ali.


Contudo, a principal evidência oferecida seria a suposta descoberta de um acadêmico e antropólogo chamado Dr. Rudolph Vanzhaev. De acordo com o artigo, publicado na década de 1990, Vanzhaev teve acesso ao crânio de Ivan com o propósito de reconstruir suas características faciais. Ao examinar o crânio, encontrou um “minúsculo objeto metálico com saliências semelhantes a dentes afiados”. O item incomum lembrava algum tipo de chip de computador e media pouco mais de um centímetro de diâmetro. Esta “placa metálica diminuta” estava coberta de osso, diz o artigo:

"Uma descoberta impressionante foi feita pelo acadêmico e antropólogo Dr. Rudolph Vanzhaev, que no final do século XX estava reconstruindo as características faciais do famoso czar russo Ivan (ou Ivan, o Terrível). Dr. Vanzhaev descobriu uma pequena placa metálica no crânio de Ivan enquanto a estudava. O estranho artefato, com pouco mais de um centímetro de diâmetro, lembrava um complicado mecanismo eletrônico. O Doutor concluiu que este objeto de alguma forma aumentava as habilidades intelectuais do Czar, mas, ao mesmo tempo, causava seus periódicos ataques descontrolados de raiva. O minúsculo objeto metálico com saliências semelhantes a dentes afiados foi descoberto acidentalmente. Vanzhaev estava estudando o esqueleto exumado de Ivan, o Terrível, tentando encontrar a causa fisiológica de sua morte (mais tarde foi estabelecido que os ossos do czar continham uma enorme quantidade de mercúrio). Movendo a mão ao longo da superfície interna do crânio de Ivan, Vanzhaev sentiu uma pequena protuberância. Tentando ver melhor, pegou uma grande lupa e viu algo muito pequeno e metálico, coberto por tecido ósseo.

O dispositivo era semelhante a um chip eletrônico usado em computadores ou outros equipamentos eletrônicos. Quando o dispositivo foi estudado mais de perto, utilizando diferentes técnicas e equipamentos, parecia ser um transmissor em miniatura de impulsos elétricos para o cérebro e coração. Tais impulsos, enfatizou o Dr. Vanzhaev, aumentaram drasticamente a capacidade do cérebro de resolver tarefas intelectuais difíceis, mas, ao mesmo tempo, criavam efeitos colaterais que influenciaram a psique do homem. A camada de tecido ósseo que cresceu ao redor do dispositivo metálico era bastante perceptível. Isso significava, de acordo com Vanzhaev, que quando Ivan foi “implantado”, ele era muito jovem, possivelmente na infância. Outro pesquisador baseado em Moscou, Vladimir Alexeevich Smemshuk, também mencionou em seus livros que Ivan, o Terrível, estava sob “controle alienígena” e experimentou vários encontros de terceiro grau à noite, quando estava sozinho em seu quarto.

Bem, o que diabos está acontecendo aqui? Considerando que a fonte parece ser bastante fraca, sem nenhuma corroboração real e sem nenhuma maneira de saber se esse Vanzhaev é mesmo real, é definitivamente algo para se duvidar. Mas existiria alguma verdade nessa história bizarra? Ou seria tão somente uma notícia falsa e bombástica? Um dos maiores tiranos da história humana foi controlado ou influenciado por alienígenas? Provavelmente não... mas ainda assim é delicioso imaginar tal coisa. 

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Ladrões de Cabeças - O inacreditável roubo de crânios em nome da ciência

Há muito que tentamos compreender o que nos torna aquilo que somos, o que nos torna humanos.

Durante séculos, houve muitas tentativas de descobrir o que provoca nossas emoções, os nossos pensamentos, o que constrói nossa personalidade e, na verdade, as nossas próprias almas. Uma área que desperta muita curiosidade é exatamente a origem da genialidade. Cada geração produz alguns indivíduos que transcendem a norma, para surgirem com uma visão incrível que impulsiona a nossa espécie. De onde isto vem? É alguma característica inata, algo que nasceu com eles? É apenas diligência e prática de um ofício? Ou é algo mais? Durante séculos houve uma investigação séria sobre essas questões, e isso teve muito a ver com o roubo de cabeças de pessoas mortas.

Na última parte do século XVIII, surgiu a ideia de que o formato do crânio de uma pessoa, seus vários contornos, saliências e depressões, poderiam prever todo tipo de coisas sobre uma pessoa, incluindo traços de personalidade, talentos, afinidades, propensões e muito mais. Estava muito em voga e esta foi a época de ouro de um estudo conhecido como Frenologia

Embora tenha sido praticada desde o século XVII, a Frenologia foi popularizada e incentivada pelo médico alemão Franz Joseph Gall em 1796. Rapidamente se tornou influente no século XIX, especialmente de 1810 a 1840. A ideia básica era que o cérebro é o órgão da mente e que certas regiões do cérebro possuíam funções ou módulos localizados e específicos que influenciavam a pessoa. De acordo com a frenologia, essas diferentes regiões eram como músculos do cérebro, e seu funcionamento afetava o formato do crânio, razão pela qual todos tinham inchaços em lugares diferentes e todos tinham cabeças com formatos diferentes. Acreditava-se que, ao examinar o crânio de alguém, você poderia dizer muito sobre ele, incluindo sua personalidade e muitas outras coisas, como quão religiosa uma pessoa poderia ser, quão zangada ela estava, quão bem ela conseguia se concentrar, se ela era ou não destinada a uma vida de crime ou fama, se seriam bons cientistas ou soldados, ou uma boa esposa ou mãe, a lista era infinita. 

Para os frenologistas, seu crânio revelava tudo o que precisavam saber sobre você.


À medida que a frenologia ganhou popularidade, ela foi usada para estudar os crânios de criminosos, para determinar até que ponto eles eram resgatáveis, para escolher os melhores escravos, as melhores esposas e por empregadores que procuravam eliminar quaisquer funcionários cujos crânios fossem considerados impróprios para sua profissão. Não demorou muito para que as pessoas também refletissem sobre se o formato do crânio também poderia nos dar um vislumbre da fonte da qual se origina a criatividade dos gênio. Na época, havia a ideia de que talvez o gênio não viesse apenas da prática e do aperfeiçoamento do ofício, mas de uma característica inata proveniente de uma fonte nebulosa e intangível dentro do cérebro, e que isso poderia ser identificado através do exame dos crânios. O problema era que a maioria dos gênios não queria realmente que suas cabeças fossem examinadas e não estavam dispostos a doar seus corpos para a ciência. Foi então que ladrões de túmulos dispostos a fazer isso à moda antiga entraram em ação. Colin Dickey, autor de Cranioklepty: Grave Robbing and the Search for Genius, chama o ato de roubar crânios de gênios de "Craniocleptologia". 

A ideia era que diferentes partes do seu cérebro fizessem coisas diferentes e isso é algo que ainda afirmamos ser verdade. Mas o que os frenologistas acreditavam era que, se uma parte específica do cérebro fosse mais desenvolvida, seria fisicamente maior e, na verdade, pressionaria o crânio e criaria uma espécie de reentrância. Então o crânio funciona como uma forma de registrar onde seu cérebro está mais forte ou mais fraco. Se você pudesse estudar a cabeça de alguém descobriria se ele seria um grande cientista ou um bom soldado ou uma boa esposa e mãe ou alguma bobagem assim.

Nessa época, a noção de gênio artístico era algo completamente místico e mágico. Ninguém tinha ideia do que fez de Mozart o grande compositor que ele foi. Os frenologistas acreditavam, entretanto que se conseguissem, cabeças suficientes de grandes pensadores famosos, de grandes artistas e músicos, eles poderiam descobrir onde haveriam os inchaços que denotavam a genialidade. Portanto, a ideia de pegar a caveira de uma pessoa famosa – não apenas de uma pessoa famosa, mas especificamente de um gênio artístico – era uma necessidade. E então a noção de roubar crânios de pessoas famosas surgiu como uma "nobre causa". Ao menos aos olhos desses cientistas alucinados...

Embora já fosse comum que crânios de criminosos executados e de loucos fossem roubados e vendidos a frenologistas, os crânios de gênios eram muito mais difíceis de obter e muito mais valiosos. Por conta disso, ladrões de túmulos faziam dessa atividade macabra um mercado lucrativo. Havia pessoas que queriam desesperadamente encontrar aquela fonte de gênio, o coração da criatividade, e estavam dispostas a fazer grandes esforços para colocar as mãos nesses crânios. Alguns chegavam a acreditar que poderiam absorver parte dessa genialidade inata como uma espécie de osmose mística.


Um dos mais conhecidos e estranhos roubos de crânios ocorrido nesse período foi o do famoso compositor austríaco Franz Joseph Haydn, muitas vezes chamado de "Pai da Sinfonia" e "Pai do Quarteto de Cordas". Amigo e mentor de Mozart, tutor de Beethoven, e um dos compositores mais célebres da Europa, Haydn morreu em 1800. Cinco dias depois seu corpo foi desenterrado e sua cabeça decepada por Carl Joseph Rosenbaum, contador da família Esterhazy, nobres que eram patronos de Haydn e conhecidos do compositor. Segundo todos os relatos, Rosenbaum vinha planejando o roubo da cabeça de Haydn muito antes de o compositor morrer, e até fez um teste para roubar o túmulo da cantora e atriz Elizabeth Roose de quem removeu o crânio. 

O contador roubou com sucesso o crânio de Haydn subornando um coveiro e o preservou, mantendo um diário meticuloso sobre tudo, desde como ele o roubou, até o cheiro que exalava e como ele removeu a carne e músculos do seu troféu macabro usando ácido.

Durante anos, Rosenbaum manteve o crânio de Haydn em sua casa, em um armário preto adornado com uma lira dourada, e só 11 anos após o roubo é que alguém perceberia que a cabeça estava faltando, quando foi decidido desenterrá-lo e depositar o músico em um tumba mais luxuosa. Quando a sepultura foi aberta, logo se descobriu que, embora o corpo de Haydn ainda estivesse lá, tudo o que restava da cabeça era a peruca com a qual ele havia sido enterrado. Isso levou a uma investigação policial massiva para rastrear o crânio desaparecido, que apontou Rosenbaum. Mesmo assim, o ladrão lhes devolveu um crânio diferente para que pudesse ficar com a verdadeira. Dickey conta mais detalhes:

"Ele realmente sentiu como se estivesse prestando um grande serviço ao profanar o cadáver desse grande homem para que sua cabeça pudesse ser preservada. As autoridades só descobriram o roubo 11 anos depois, quando finalmente tentaram dar-lhe o seu tão esperado enterro cerimonial e perceberam que sua cabeça estava faltando. Isso levou a uma investigação policial massiva para encontrar a cabeça de Haydn e eles chegaram até Rosenbaum e alguns de seus conspiradores. E eles devolveram à polícia uma cabeça diferente. O crânio verdadeiro ficou em poder dos frenologistas, passando de mão em mão para estudos prolongados."


Só em 1954 é que a cabeça de Haydn seria finalmente encontrada e reunida com o seu corpo. Compositores famosos parecem ter sido os principais alvos de roubo de cabeças, pois outro caso bem conhecido é o do genial compositor Wolfgang Amadeus Mozart. Apesar de ser uma lenda da música clássica respeitado e reverenciado até hoje, quando morreu em 1791, ele não era um homem particularmente rico, e por isso foi enterrado num túmulo simples. Quando a sepultura foi escavada sem cerimônia em 1801 para dar lugar a novos corpos, o coveiro removeu o crânio o que deu início a uma jornada bastante estranha.

A cabeça de Mozart foi repassada de mão em mão até chegar ao famoso anatomista Joseph Hyrtl, que a estudou. Nela encontrou sinais da grandeza do compositor, em particular na forma e tamanho do osso temporal direito do crânio, ao qual ele anexou uma nota nomeando-o "musa vetat mori" (a musa evita a morte). O crânio foi doado ao Mozart Museum, em Salzburgo, Áustria, em 1902, onde ficou exposto até a década de 1950, período em que adquiriu a estranha reputação de ser mal-assombrada, já que os frequentadores do museu relatavam que às vezes podiam ouvir uma música fraca vindo da peça. Durante esse tempo, houve algum debate sobre se era mesmo o crânio de Mozart, já que tal coisa nunca havia sido provada conclusivamente. Alguns frenologistas poderiam facilmente ter trocado o crânio para manter o verdadeiro para si, como Rosenbaum havia tentado. No final da década de 1980, o crânio foi analisado pelo antropólogo forense Dr. Pierre-François Puech, do Museu do Homem da França, que concluiu que provavelmente era o verdadeiro crânio, mas em 2006 cientistas contratados pela televisão estatal austríaca para fazer testes de DNA no item não conseguiu encontrar correspondência com nenhum dos parentes vivos de Mozart. Até hoje a caveira está no Museu, mas ninguém sabe se realmente pertenceu a Mozart ou não.

Juntando-se às fileiras dos grandes compositores que tiveram suas cabeças roubadas para dar uma espiada em sua genialidade está ninguém menos que o grande compositor e pianista alemão Ludwig van Beethoven. Um dos compositores mais admirados da história da música ocidental, Beethoven morreu em 1827, aos 56 anos, e foi sepultado no Cemitério de Währing, a noroeste de Viena. Quando exatamente sua cabeça desapareceu e quem a levou é um mistério. Contudo, quando o corpo dele foi exumado em 1866, ainda tinha a cabeça totalmente intacta, mas quando os restos mortais foram transferidos em 1888 para serem reenterrados no Zentralfriedhof de Viena, a cabeça havia sido dilapidada e partes estavam faltando. Obviamente elas haviam sido removidas seletivamente e roubadas. 

O autor do crime nunca foi encontrado, mas acredita-se que os pedaços de crânio foram levados por um médico amigo de Beethoven e frenologista, Gerhard von Breuning, que pode tê-los mantido secretamente durante o período em que o corpo foi exumado pela primeira vez. Ele foi o único que ficou sozinho com o crânio na época e demonstrou um intenso interesse em estudar o crânio de um gênio, então faz sentido. Os fragmentos foram encontrados décadas depois e identificados como sendo de Beethoven por análise de DNA em 2005.


Não foram apenas os compositores que tiveram seus túmulos profanados para que alguém pudesse roubar seu precioso crânio. O místico, filósofo e intelectual cristão do século XVIII, Emanuel Swedenborg, estava no radar dos frenologistas muito antes de morrer, não apenas porque era famoso por seu intelecto, mas também devido ao fato de muitas vezes afirmar estar em comunhão com vários espíritos e demônios e também por afirmar ser imortal. Quando ele morreu em 1772, alguns até pensaram que ele havia forjado a própria morte. Quando o corpo foi exumado em 1816, a cabeça desapareceu e, ao longo dos anos, apareceu e sumiu em várias ocasiões, sem que ninguém tivesse certeza se era realmente de Swedenborg ou não. Um frenologista que supostamente colocou as mãos nele nessa época afirmou que o estudou em busca do “órgão da imaginação”. O mistério do crânio de Swedenborg nunca foi resolvido.

Somando-se à lista está o célebre pintor Francisco Goya, que morreu em 1828 de derrame cerebral durante uma visita à França. Quando ele foi enterrado novamente em 1899, a bizarra descoberta foi feita de dois esqueletos no túmulo e apenas um com cabeça. Nunca foi possível determinar quais restos eram quais e a cabeça desaparecida nunca foi encontrada. Há também o caso do escritor britânico Sir Thomas Browne, que morreu em 1682, após o qual sua cabeça desapareceu quando seu caixão de chumbo foi acidentalmente reaberto por trabalhadores em 1840. A cabeça acabaria sendo recuperada em 1922 e reenterrada, mas o culpado permanece desconhecido.

Outro crânio desaparecido famoso é o de ninguém menos que o famoso dramaturgo, poeta e ator inglês William Shakespeare, cujo túmulo há muito é um mistério por si só. Shakespeare morreu em 1616 e foi sepultado na Igreja da Santíssima Trindade, em Stratford-upon-Avon, com uma lápide sem nome que traz a mensagem bastante sinistra: 

“Bom amigo, pelo amor de Jesus, deixe repousar, 
/ Não cave a poeira aqui encerrada.
 / Bendito seja o homem que poupa estas pedras, 
/ E maldito aquele que move os meus ossos.” 

Ao longo dos anos, houve muitos rumores sobre o túmulo, incluindo que o dramaturgo havia sido enterrado em pé, que foi enterrado a 5,7 metros de profundidade para evitar ser perturbado ou que na verdade ele havia sido enterrado em outro túmulo. Um boato persistente é que ladrões de túmulos do século XVIII haviam roubado o crânio de Shakespeare, mas isso não foi confirmado. Apenas em 2016, o arqueólogo Kevin Colls e sua equipe usaram um radar de penetração no solo para examinar o túmulo e descobriram que havia muitas evidências de que de fato a cabeça tinha sido levada. Colls disse sobre suas descobertas:

"Nos deparamos com uma coisa muito estranha e estranha. Era muito óbvio, com todos os dados que recebíamos, que havia algo diferente acontecendo. Concluímos sinais de perturbação, de material sendo escavado e recolocado. Há também uma estrutura de tijolos muito estranha que atravessa a cabeceira da sepultura. O roubo de túmulos foi um grande acontecimento nos séculos XVII e XVIII. As pessoas queriam o crânio de pessoas famosas para que pudessem analisá-lo e ver o que os tornava um gênio. Não me surpreende que os restos mortais de Shakespeare tenham sido um alvo."


A popularidade da frenologia continuaria a crescer no século XIX em toda a Europa e até mesmo através do mar chegando à América, mas ao longo dos anos cairia gradualmente em desuso. Um problema é que passou a ser vista como uma pseudociência sem base em factos empíricos, ao mesmo tempo que havia também o facto de ser uma prática controversa e macabra para não dizer desagradável. A Igreja também não concordava com ela e condenava sua realização. Enfim, a frenologia foi tecnicamente proibida em Viena em 1802 pela Igreja, embora tenha continuado a ser praticada até meados do século XIX. 

Dickey conta à respeito:

"Sempre foi um tema controverso, A frenologia foi proibida em Viena, onde surgiu, em 1802, embora a razão pela qual foi banida pela igreja tenha sido porque a frenologia postulava que a alma estava localizada dentro do cérebro, o que era quase sacrilégio. Mas foi isso que deixou os religiosos incomodados. Mas além disso, muitos estudiosos viam a frenologia como uma ciência ridícula, mesmo quando se tornou muito popular. Mark Twain ficou famoso por expor, frenologistas em Nova York, após ser informado que ele próprio tinha um crânio chato e não muito interessante. Eles certamente continuaram a postular ideias sobre onde estava o gênio no cérebro e como, poderiam manifestar sinais específicos no crânio."

Mais do que estudar os crânios, os frenologistas estavam também interessados ​​em ter esses souvenires guardando-os como colecionadores. Isso explicaria porque mesmo quando a ciência caiu em descrédito, em meados do século XIX, os crânios continuaram em poder dos ladrões. Por mais que fosse uma ideia ultrapassada, muitos gênios ficaram sem seus crânios, e nós ainda permanecemos sem resposta sobre o que nos move, ou de onde brota o gênio e a criatividade. Seja qual for o caso, trata-se, no mínimo, de um pedaço bastante macabro da história e de um olhar sombrio sobre os nossos esforços passados ​​para compreender os mistérios da condição humana.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Laboratório dos Horrores - A descoberta de um aterrorizante complexo médico na China


"Uma descida vertiginosa rumo a um pesadelo".

"A descoberta de terríveis crimes ou algo ainda mais sinistro".

Ou apenas 

"Uma creepy pasta, falsa como todas, mas muito bem executada".

É dessa forma que as pessoas se referem aos vídeos compartilhados pelo explorador urbano chinês Beanbag em sua página oficial The Beanbag Adventures.

Bastante popular na China desde 2020, o Explorador Urbano que usa a alcunha Beanbag, possui mais de uma centena de vídeos em sua pagina oficial. Em seus videocasts com duração entre 30 e 40 minutos, ele invade, vasculha e registra sua exploração de ruínas. Suas incursões ocorrem em velhas fábricas, prédios abandonados, estações de metrô desativadas e outros lugares desertos há muito tempo.

Agindo sozinho, acompanhado apenas de sua câmera e de uma potente lanterna, Beanbag oferece uma visão sinistra de construções dilapidadas cobertas de poeira e detritos, esquecidas pelo tempo. Há centenas de videocasters ao redor do mundo que fazem algo semelhante, muitos países possuem os seus representantes, mas a China é um lugar perigoso para esse tipo de atividade. Invadir propriedade estatal pode ser passível de prisão e penas severas. Na China as autoridades não toleram esse tipo de indiscrição.

Recentemente Beanbag obteve fama internacional depois de compartilhar o registro de uma de suas mais macabras explorações. O vídeo gerou enorme repercussão, foi largamente discutido, debatido, analisado e criticado desde que foi ao ar.


Para alguns é um registro assombroso da existência de um complexo utilizado para fins bizarros, possivelmente criminosos, por pessoa ou pessoas desconhecidas. Um achado chocante de algo abominável ocorrendo em algum lugar não identificado na China e que carece de investigação oficial. Já os céticos veem o registro como um bem executado golpe de marketing no qual o explorador urbano visava apenas promover seu site e a si mesmo, construindo uma narrativa aterradora. Aterradora mas falsa.

Tudo teve inicio com um vídeo postado em fevereiro de 2022 no qual Beanbag apresenta o objetivo de sua exploração. No início da gravação ele mostra a fachada de uma construção imponente que descreve como sendo um hospital abandonado. Em sua apresentação, afirma que o prédio foi abandonado no início dos anos 90 e que ele foi gradualmente se transformando numa ruína.

O explorador comenta ter tomado conhecimento sobre o local através de fãs de seu site que o convidaram a explorar o local tratado como uma espécie de ruína assombrada. Ele diz que esses fãs se referiam ao lugar como "Laboratório". Conforme suas fontes, o local tinha constante vigilância feita por guardas armados, mas essa segurança foi removida em meados de 1998. Desde então ele foi sendo abandonado.

Os rumores, atestam que o hospital realizava intervenções médicas e cirurgias reparadoras, sobretudo em crianças. Embora ninguém fosse capaz de explicar exatamente a natureza das cirurgias, alguns acreditavam se tratar de uma unidade intensiva para queimados, enquanto outros tratavam o hospital como uma unidade de reparação para doenças infantis. Havia também boatos sobre ser uma unidade de pesquisa genética, o que explicaria em parte o apelido de "Laboratório" da instalação.

Seja como for, Beanbag foi atraído pela história misteriosa o que o motivou a explorar o lugar em busca de pistas sobre o propósito da instalação.


Em fevereiro de 2022 ele fez sua primeira incursão ao local acessado por uma precária estrada de terra. Nas imagens externas fica claro que o lugar é realmente enorme, um complexo médico hospitalar de grande porte com aparência de desleixo e abandono. O explorador não fornece a localização do complexo, se limitando a dizer que ele fica nos arredores de uma grande cidade chinesa. Como todos os vídeos do Explorador, a introdução filmada diante do prédio é cortada abruptamente e na cena seguinte já vemos ele no claustrofóbico interior do hospital.

Ele percorre corredores tortuosos, aposentos misteriosos e enormes salas de cirurgia, algumas com plateia. As filmagens escuras, iluminadas pela lanterna mostram imagens de escadarias decrépitas levando a um complexo subterrâneo de proporções labirínticas. Há salas e mais salas com arquivos vazios, armários de ferro e o que parecem ser depósitos contendo garrafas, vidros de laboratório e frascos com substâncias desconhecidas. Alguns destes frascos ainda estão cheios e contém líquidos esfumaçados de aparência insalubre que parece formaldeído. O explorador se pergunta o que seriam aquelas substâncias e qual seria o seu uso já que eles não estão rotulados.

Beanbag pontua sua exploração com descrições sensoriais não apenas o que ele está vendo e captando através das lentes de sua câmera, ele descreve sons, texturas e principalmente cheiros. Desde o início de sua descida, ele menciona um odor muito forte que parece impregnado no hospital. Esse fedor rescende, segundo ele, em cada canto e se torna cada vez pior a medida que ele desce as escadas e encontra os níveis mais profundos.

Aqui a coisa começa a ficar ainda mais estranha.

Após uma descida abrupta a um nível inferior, seguindo através de escadas bastante dilapidadas, Beanbag chega a um local onde, é difícil respirar tamanho o fedor impregnando o ar. O explorador engasga repetidas vezes, mal podendo disfarçar a ânsia de vômito que sente. Nesse lugar ele encontra piscinas ou tanques cobertos por tábuas de madeira. Sob a luz da sua lanterna, o explorador remove uma dessas tábuas para poder espiar o que existe no interior das piscinas. E sua descoberta é aterradora: Corpos. 


Dezenas de corpos de crianças boiando no que parece ser uma mistura de formaldeído e outros compostos químicos para acelerar o processo de decomposição. Os restos estão simplesmente largados dentro da piscina, boiando em diferentes estados de dissolução orgânica. Beanbag respira com dificuldade, ofegando laboriosamente, claramente incomodado pela descoberta bizarra. Ele então deixa o lugar em uma fuga desabalada.

O vídeo se encerra no momento em que ele atinge a superfície e desliga a câmera.

O material bombástico foi publicado em seu site oficial com o nome de "Exploração no Laboratório" e dado seu teor macabro, obviamente chamou a atenção, obtendo um grande número de visualizações. Ele também gerou controvérsia e debate, dividindo opiniões ao redor do mundo.

Um detalhe curioso é que o próprio Beanbag em sua descrição do vídeo sugere que os "corpos" poderiam ser na verdade material cenográfico usado em filmes. Muitos, no entanto, sugerem que ele usou essa explicação para poder postar o vídeo sem que os filtros o excluíssem. Assim ele também não chamaria a atenção de autoridades chinesas que poderiam censurar o material ou até processá-lo.

Após algumas semanas sem qualquer atualização em seu site, e sem responder a questionamentos sobre o Laboratório, Beanbag retornou a sua rotina de postagens de lugares abandonados. Algumas pessoas começaram a supor que o vídeo não passava de uma montagem bem engendrada para gerar repercussão e aumentar o interesse por suas expedições exploratórias, o que poderia ser verdade. Nenhuma palavra é dada sobre o ocorrido.

Contudo, em 26 de dezembro de 2022, o site Beanbag Adventures postou um novo vídeo que se iniciava com o explorador urbano naquela mesma estrada de terra levando ao infame laboratório.

Nessa segunda incursão ao local, ele verifica que algumas coisas haviam mudado nos oito meses transcorridos entre uma visita e outra. Haviam sinais claros de que o lugar havia sido visitado e que objetos foram movidos de um canto para o outro. Da mesma forma, várias garrafas de compostos químicos haviam sido levadas para os níveis mais profundos. Havia também caixotes com material novo estocado nos depósitos evidenciando que alguém havia estado lá utilizando as instalações.


A maior surpresa, contudo estava reservada para o complexo subterrâneo onde ficavam as macabras piscinas e tanques. O odor pungente permanecia forte, mas diluído por compostos químicos provavelmente adicionados para combater o fedor ocre. As piscinas estavam cobertas por uma lona azul, presa por alças de borracha que a vedavam de modo mais eficiente.

Ele teve alguma dificuldade para abrir os tanques, mas quando o fez, a revelação tétrica se confirmou uma vez mais. Os mesmos cadáveres de crianças - dezenas deles - permaneciam nas piscinas se decompondo na sopa de compostos químicos. Os restos estavam muito mais deteriorados, passados oito meses, muitos deles expondo até os ossos. Beambag que usava máscara e óculos para se proteger do odor nauseante dizia que ele era quase insuportável. Ele também se referia ao material nas banheiras como "cadáveres" e não como props cinematográficos.

Para demonstrar a veracidade de sua filmagem, ele mostra a data e hora em seu aparelho celular.

O explorador segue nesse complexo subterrâneo e encontra o que parece ser uma nova ala conectada às piscinas e que congrega um grande número de salas e aposentos imersos numa escuridão indevassável. A lanterna revela arquivos contendo prontuários médicos, papéis e chapas de raio X que ele examina rapidamente. 

Em outra sala adjacente há estantes contendo frascos de vidro escuro com o que parece ser material orgânico preservado em formol. Ele sugere que alguns destes frascos contém fetos e formas não identificadas. "É aterrador", ele comenta em um sussurro ao examinar um dos vidros na luz da lanterna. 

Mas o horror dessa descoberta bizarra empalidece diante do que vem a seguir. 

Em outra sala, semelhante a um depósito, ele encontra uma quantidade assustadora de ossos humanos. Essas ossadas foram colocadas em grandes sacos de mortuário numerados e parecem completas com crânios, costelas e ossos longos. Estas ossadas foram acondicionados nos sacos de transporte, ainda que alguns tenham se rompido deixando o material espalhado pelo chão.

A gravação editada em um vídeo de 50 minutos tem como título "De volta ao Laboratório" e foi postado dois dias depois da filmagem. O material chamou atenção do público e atingiu um número enorme de visualizações, mas o autor se negava a comentar.

Três dias depois, uma terceira postagem é colocada no site. Esta tem aproximadamente 25 minutos e poderia ser material não divulgado anteriormente, mas o explorador afirma que ele teria sido colhido em uma terceira expedição ao Laboratório. Nesta ele parece dedicar a exploração a uma ala que até então não havia sido mostrada.

Um dos aposentos contém caixas e malas de viagem largadas no chão com roupas de crianças, brinquedos e máscaras de plástico. O material está sujo e empoeirado, guardado sem cuidado algum. As máscaras de personagens infantis, como um coelho sorridente, parece algo extremamente deslocado naquele ambiente soturno. Em outro depósito escuro há uma quantidade considerável de sacos usados por legistas contendo ossadas humanas. Estas parecem pertencer a indivíduos adultos.

Beanbag não faz comentários nesse terceiro vídeo sobre o Laboratório, a postagem ficou no ar por apenas 24 horas. Tão inesperadamente quanto surgiu, o material simplesmente desapareceu. De fato, o site inteiro, hospedado no Tic-Toc, foi removido sem qualquer explicação.

O incidente gerou grande discussão, com fãs assumindo que a autoridades chinesas enfim haviam tomado conhecimento do teor das filmagens e censurado o conteúdo inconveniente. Muitos temiam pela segurança de Beanbag acreditando que ele poderia estar correndo algum perigo.

O mais estranho aconteceria alguns dias depois, quando o site Beanbag Adventures retornou ao ar, sem os três vídeos controversos. Não houve uma explicação formal para o ocorrido, apesar das muitas perguntas deixadas por fãs. O proprietário parou de interagir com seus fãs e não respondeu mais nenhuma solicitação.

Ele seguiu no ar, com atualizações regulares nas quais o Explorador Urbano continua fazendo visitas a ruínas abandonadas como se nada tivesse acontecido. A falta de interação levantou suspeitas entre os frequentadores regulares do sites, com pessoas acreditando inclusive que o material postado dali em diante no site era antigo ou que mostrava uma pessoa que não era o verdadeiro Beanbag e sim um sósia.

A controvérsia permanece, uma vez que o Explorador não se pronunciou mais à respeito do ocorrido. Seus vídeos, preservados pelos fãs e compartilhados exaustivamente continuam sendo analisados e esquadrinhados em busca de pistas que possam comprovar sua origem e veracidade. 

Não há um consenso, o que obviamente gera uma série de teorias animando fóruns de discussão na Web e grupos dedicados a investigar teorias conspiracionais.

Algumas pessoas que assistiram aos vídeos traçaram a sua possível localização. As instalações poderiam ser a Escola de Medicina Jilin na cidade de Changchum, noroeste da China. Esse hospital foi desativado em 2005 sem maiores explicações e permanece desativado atualmente. Alguns acreditam que ele teria sido destruído em 2008 por um incêndio que fez com que o prédio fosse considerada insegura e portanto desativada. Não há confirmação à respeito dessas suspeitas.

Dentre as teorias mais populares sobre o Laboratório, uma delas aponta que as instalações seriam usadas para a criação de modelos anatômicos humanos. Estes manequins criados com ossos e partes reais da anatomia humana são usados em escolas de medicina e de artes. A produção deles envolve o uso de corpos reais o que poderia explicar o processo de remoção da carne dos restos. Entretanto dada a quantidade de corpos e o fato deles permanecerem nos tanques por tanto tempo, essa teoria é bastante questionável.

Uma teoria muito popular contempla a possibilidade de que as instalações eram usadas clandestinamente pelo Mercado Negro de Órgãos humanos. A China é um dos países no mundo que permite a venda de órgãos para transplantes. Apesar de haver leis dispondo à respeito e sanções severas, existem contrabandistas negociando, vendendo e comprando órgãos humanos. Os defensores dessa hipótese acreditam que Beanbag pode ter topado inadvertidamente com uma quadrilha envolvida nesse ramo de atividade. O mercado negro negocia além de órgãos uma série de outros itens, de cabelo a pele, de dentes a ossos, usados para os mais variados fins. Embora bizarro e antiético, a atividade é relativamente comum. Além disso, existe a possibilidade de que os contrabandistas poderiam estar fornecendo insumos para empórios especializados em medicina tradicional chinesa.

O governo chinês não costuma divulgar ações de sua polícia e raramente oferece informações sobre crimes ocorridos em sua jurisdição. É possível que Beanbag não tenha sofrido sanções por expor contrabandistas, mediante remover o conteúdo de seu site e manter silêncio sobre o assunto.

A verdade ninguém sabe ao certo! O que aconteceu e que fim levaram os corpos estocados no Laboratório, se é que eles são verdadeiros? Teriam as autoridades limpado o lugar? E quem seria o responsável por aquilo? É possível acreditar nas imagens ou elas teriam sido produzidas? Difícil dizer... 

De toda forma, a macabra exploração de Beanbag nesse lugar dá muito o que pensar, sem mencionar que é combustível para pesadelos. A única certeza que temos é que esse mundo é um lugar muito estranho, onde coisas igualmente estranhas acontecem. A macabra jornada de Beanbag pelos corredores do Laboratório apenas comprova isso.