terça-feira, 6 de junho de 2023

Vilarejo dos Mortos-Vivos - A história de um povoado acossado pelo Vampirismo


Oculta na pitoresca paisagem do Vale Madawaska em Ontario, Canadá, encontra-se a agradável  e serena vila de Wilno. Foi esse ambiente pastoral que atraiu colonos da região de Kashubia na Polônia em meados de 1850, já que o local lembrava em muitos aspectos sua terra natal. Os imigrantes decidiram lá se estabelecer também para escapar do domínio opressivo imposto pela sua vizinha, a Prússia. De fato, Wilno é o mais antigo assentamento permanente polonês no Canadá. Os colonos decidiram construir lá uma igreja, um armazém geral e uma agência dos correios. A vila gradualmente foi crescendo, atraindo uma grande quantidade de colonos poloneses-cashubianos graças ao incentivo da Canadian Atlantic Railway que ligou o povoado a Ottawa em 1894. 

Até hoje, Wilno mantém suas orgulhosas tradições e permanece imersa em história e imbuída de um charme pitoresco do velho mundo que faz dela um destino turístico muito procurado. Entretanto, sob a sua superfície pacata há antigos rumores envolvendo superstições, magia negra e até mesmo, criaturas mortas-vivas.

Embora os colonos de Wilno fossem católicos romanos, eles trouxeram consigo seu folclore e cultura. Vigorava entre eles a crença persistente na bruxaria, na magia negra e na existência de várias criaturas sobrenaturais, incluindo espíritos malignos, súcubos e vampiros. Apesar de seu catolicismo arraigado, muitos dos colonos acreditavam que forças das trevas também eram muito reais e que os haviam acompanhado até seu novo lar. Foram essas crenças populares que, na década de 1960, chamaram a atenção de um professor de línguas eslavas formado em Harvard chamado Jan Louis Perkowski. Ele ficou fascinado ao descobrir que antigas tradições e crenças da Polônia rural estavam vivas e fortes na América. Com o financiamento do Museu Nacional do Homem (atual Museu Canadense de História), ele fez uma jornada até Wilno em 1968 para estudar as superstições locais penetrando profundamente em um mundo sobrenatural sinistro.

Através de entrevistas com vários habitantes locais, Perkowski estabeleceu que de fato a crença em criaturas sobrenaturais ainda existia entre o povo de Wilno, especialmente em relação aos vampiros. Os moradores acreditavam que esses seres vagavam pela região e os viam de maneira muito semelhante a como seus antepassados os viam no Velho Mundo. 

A crença local era de que havia dois tipos de vampiros, os vjeszci e os wupji, ambos amaldiçoados desde o nascimento e condenados a se transformarem em mortos-vivos após a morte. No caso dos vjeszci, a criança nascia com um saco membranoso na cabeça, escondido sob o cabelo, enquanto os wupji nasciam com dois dentes afiados. Um vjeszci poderia ser curado se a mãe mantivesse a membrana por sete anos, depois a cortasse, triturasse e fizesse com que a criança a comesse. Com um wupji, não havia cura, quando eles morriam, estavam condenados a voltar dos mortos para trilhar na calada da noite em busca de sangue. 


De acordo com as tradições locais, um vampiro estava fadado a matar seus familiares um por um até que não restasse mais ninguém. Uma vez completado esse objetivo, ele iria para uma igreja ou capela e tocaria o sino. Qualquer um que ouvisse o som morreria dentro de um ano. 

Na tradição local, havia várias maneiras de eliminar os vampiros. 

Uma forma era enterrá-los imediatamente após a morte, preferencialmente de bruços no caixão. Assim eles simplesmente cavariam cada vez mais fundo, ao invés de voltar à superfície. Também era aconselhável enterrá-los com areia ou envolvidos numa rede, porque dizia-se que essas criaturas eram incapazes de deixar seu túmulo até que contassem todos os grãos de areia ou desatassem cada nó da rede. Outras maneiras mais terríveis de lidar com um vampiro era decapitar o morto-vivo e colocar sua cabeça entre os pés, ou enfiar um prego comprido em sua testa. Finalmente, enfiar um grande tijolo entre os seus dentes também poderia evitar a transformação. 

É tudo muito sinistro e à primeira vista parece mero folclore, mas Perkowski descobriu através de sua pesquisa que haviam relatos de que esses costumes foram realizados pela população local. Muitos relatos colhidos por ele eram de testemunhas que haviam visto cadáveres sendo mutilados, decapitados, enterrados de bruços ou trespassados por pregos, tudo isso para evitar que se erguessem como vampiros. 

Os registros obviamente não mencionavam nomes, contudo, muitos habitantes de Wilno estariam  envolvidos e dispostos a acreditar nessas coisas. Também permitiriam que tais coisas fossem perpetradas contra seus entes queridos. Perkowski descobriu ao menos cinco famílias que relataram histórias pavorosas sobre o fim dado aos restos mortais de parentes, com o objetivo de frear uma epidemia de vampirismo.

O Coração de um Vampiro sendo incendido

Em 1886, uma senhora que supostamente havia sido mordida por um morcego foi enterrada de bruços em um caixão com duas tábuas pesadas depositadas sobre a tampa. Em 1892, o Sr. Piekarsky, do qual alguns habitantes suspeitavam de realizar missas negras (e de não ir à Igreja) teve dois pregos de ferro atravessados na cabeça, um em cada têmpora para que não se erguesse após sua morte. Já a sra. R. Etmanski teve a cabeça separada de seu corpo e depositada entre as pernas, depois que sua boca foi enchida com alho.

Os casos se multiplicam e as memórias de família fornecem indícios de que era algo aceito e até costumeiro que cada família lidasse com um parente suspeito. Quando eles não o faziam, algum cidadão preocupado podia interceder.

Em 1901, o sr. G. Emany, foi enterrado no cemitério de Wilno, sendo que seus parentes se negaram a realizar uma cerimônia de purificação nos restos mortais, os quais, muitos desconfiavam poderiam se animar na forma de um vampiro. Um grupo de locais, foram então até a sepultura e o desenterraram, depois de haver boatos de que o sr. Emany havia sido visto por crianças, transitando pelo vilarejo. Para não correr nenhum risco, o cadáver foi recuperado do caixão, e embora não houvesse sangue visível em sua boca, os bons cidadãos não quiseram correr riscos. Arrancaram de seu peito o coração e o incendiaram em uma pequena fogueira. Em seguida, o corpo foi depositado de bruços, com um tijolo instalado entre os dentes do cadáver e um prego em sua testa.

Já em 1908, há o relato de uma família de sobrenome Kilby, no qual, após a morte de um primo distante, vários parentes começaram a morrer. Sem saber como explicar o estranho fenômeno, a população culpou o tal primo pelas mortes. Um grupo de pessoas foi até a cidade vizinha, onde o sujeito havia sido enterrado, escavaram a sepultura e atearam fogo aos restos mortais que "queimaram com uma chama esverdeada". Depois disso, as mortes entre os Kilby supostamente cessaram! Contudo, só por desencargo de consciência, os membros que ainda restavam da família deram autorização para exumar os parentes mortos a fim de fincar um prego na testa de cada um.   

Perkowski também conversou com pessoas que afirmavam ter testemunhado a existência de vampiros. De fato, ele descobriu que muitas pessoas nos anos 1910 e 1920 acreditavam que as epidemias de Cólera e Gripe Espanhola haviam sido disseminadas por vampiros e não por agentes patológicos naturais. Em Wilno, mesmo nos anos 1920, vampiros continuavam sendo apontados como uma das causas de mortes e tragédias, entretanto, os locais preferiam manter em segredo para que o mundo exterior seus costumes funerários. 


Uma das fontes de Perkowski contou que era costume em Wilno que ao menos três pessoas preparassem os cadáveres antes do enterro. O corpo era lavado - preferencialmente por um parente próximo. Em seguida, era examinado por um sacerdote que buscava indícios de algum sinal específico - crescimento dos dentes, palidez atípica ou ainda a cor dos olhos e cabelos se alterando. Finalmente, uma pessoa apontada pela família, em geral um agente funerário procedia em um preparativo especial, que podia envolver rezar sobre o cadáver ou aspergir o corpo com uma solução de alho. Se a qualquer momento durante esse procedimento surgisse algum sinal de vampirismo, o corpo era submetido a algum procedimento purificador. E isso podia ser qualquer coisa, desde perfurar o corpo com pregos até fazer uma decapitação com golpe de machado.

Além disso, em Wilno costumavam acontecer muitas exumações. Diante de qualquer suspeita, um grupo de coveiros abriram sepulturas para inspecionar o conteúdo. Se o corpo parecia ter se movido, se houvesse pouca decomposição ou se encontrassem sinais de arranhões na tampa, eles cortaram a cabeça ou incendiavam os restos.
 
Perkowski entrevistou mais de uma dúzia de testemunhas em Wilno que confirmaram que esses costumes ocorreram até o início da década de 1940, caindo gradualmente em desuso posteriormente. Contudo, um dos últimos casos registrados teria ocorrido em 1958, envolvendo uma mulher que foi desenterrada e decapitada depois que dois parentes dela morreram alguns dias depois de seu falecimento. 

O pesquisador escreveu um trabalho intitulado "Vampiros, anões e bruxas entre os Kashubs - Práticas e Costumes do Velho Mundo na moderna Ontário". O excêntrico relatório de 200 páginas foi submetido ao museu, mas foi recebido com certo grau de ceticismo. A maioria das pessoas não estavam dispostas a acreditar que em pleno século XX tais coisas aconteciam. Muitos estudiosos trataram a obra como lixo sensacionalista e decidiram varrer a história para baixo do tapete. 

Apenas na década de 1980, a mídia tomou conhecimento do trabalho de Perkowski que havia falecido em 1977. Em pouco tempo repórteres estavam se reunindo em Wilno procurando investigar as macabras lendas sobre o povoado em que vampiros eram combatidos pela população. Para os residentes locais, que se viram ridicularizados e tratados como tolos supersticiosos, as histórias não passavam de lendas. Contudo, várias pessoas citadas no relatório confirmaram que seus antepassados realmente se preocupavam com vampirismo ainda que acusassem Perkowski de ter distorcido seus testemunhos ou simplesmente inventado coisas que eles jamais haviam dito.


Independentemente de toda essa publicidade negativa e do povo de Wilno tentando afastá-la, a história do vampirismo se espalhou e até hoje a cidade é famosa pelas histórias sombrias de monstros chupadores de sangue. A reputação perdura até os dias atuais ainda.

Um comunicado oficial emitido pela Câmara de Comércio de Wilno em 1985 dizia:

"O trabalho d Sr. Perkowki é um absurdo. Não é bem pesquisado. Não é contextualizado. E ele interpretou mal a comunidade e seus informantes. Ele pegou muitas palavras dos residentes e as distorceu. Houve muita dor nos anos 60 e 70, quando esse trabalho foi lançado, e ainda hoje ela continua. Infelizmente, a história de vampiros sobreviveu e as histórias verdadeiras não foram divulgadas. Há outras histórias e tradições muito mais ricas na região. É por isso que queremos que esta comunidade seja conhecida e não por algo inventado. Às vezes, os jornalistas e a mídia simplesmente espalham essa falsidade, porque isso gera curiosidade. Mas não é justo com o povo de Wilno, porque essa não é a nossa história." 

Então com base nessa história no que devemos acreditar? Aparentemente, muito do que Perkowski escreveu deve ser considerado com cautela. Ele fornece poucas evidências de que defende além de alegados relatos de testemunhas. Não há relatos oficiais de mutilações de cadáveres, nenhum nome sólido real, datas ou locais para verificar. É muito fácil acreditar que o relatório é no mínimo embelezado e até certo ponto fabricado. Por outro lado, muitos dos comentários sobre as lendas de vampirismo e folclore polonês parecem corretamente endereçados e discutidos. O trabalho de Perkowski é no mínimo instigante.

Haveriam vampiros de verdade em Ontário? Provavelmente não. A pesquisa foi manipulada? Definitivamente. No entanto, o teor da obra ainda serve para descortinar velhas tradições e lendas sobre terrores incompreensíveis e coisas que espreitam nas trevas.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Estranhos e Sinistros encontros com o Povo Pequeno


Embora a maioria das pessoas considere absurda a existência de um "Povo Pequeno", o fato é que tais criaturas são vistas por aí, com incrível frequência. Muitas vezes, testemunhas preferem manter esses encontros em segredo por medo que, ao compartilhar tais histórias, possam ser chamadas de loucas. Contudo, é preciso separar os casos em que pessoas afirmam encontrar fadinhas e seres da floresta dos encontros com o povo pequeno das lendas antigas, criaturas muito mais assustadoras e perigosas.

O Povo Pequeno é uma raça de criaturas não-humanas, seres deformados e de baixa estatura que habitam lugares inóspitos nas florestas, geralmente em tocas subterrâneas. Quase todas culturas ao redor do planeta possuem alguma versão desse mito ancestral. Não faltam lendas sobre seres furtivos que raramente interagem com os humanos, preferindo ficar escondidos. Contudo, quando tal interação ocorre, em geral o resultado tende a ser desastroso. 

Com isso em mente, que tal conhecer alguns casos fascinantes envolvendo encontros com o lendário Povo Pequeno?

O primeiro caso vem do ano de 1975, quando o casal britânico Barry e Elaine Milgrey, ambos na época com vinte e poucos anos, estavam dirigindo pelas estradas de Stratfordshire com seus dois filhos. Era véspera de Natal e eles seguiam para a casa dos pais de Elaine em Penkridge, onde iriam comemorar as festas do fim de ano. 

É preciso mencionar que Penkridge foi o centro de um curioso caso na década de 50, envolvendo estranhos seres semelhantes a goblins que pareciam infestar as matas próximas. Na época, a história despertou interesse nacional, com pesquisadores e estudiosos dispostos a se meter nos bosques em busca de alegados membros do Povo Pequeno vistos por pelo menos uma dúzia de indivíduos. Muito antes disso, em tempos medievais, Penkridge, chamada na época de Penkow foi o centro de muitas lendas sobre "pessoas pequenas" vivendo em esconderijos subterrâneos. Eram anões, goblins e kobolds, a maioria deles malignos que perseguiam e matavam animais domésticos, provocavam incêndios e por vezes até sequestravam alguma criança.

Enquanto o casal se dirigia para o povoado (com pouco mais de 300 habitantes), o motor do automóvel começou a apresentar problema até que pifou de vez. Após estacionar no acostamento da estrada, Barry foi dar uma olhada no motor e verificar o que havia acontecido. Não parecia haver nenhum fio solto, o radiador certamente não estava superaquecido e uma verificação dos fusíveis do carro não forneceu nenhuma indicação de qual poderia ser o problema. Mas, como eles haviam andado apenas uns 800 metros, Barry tomou a seguinte decisão: As crianças estavam dormindo no banco de trás e [tinham] apenas quatro e seis anos na época. Disse a mina esposa para ela ficar ali. Eu iria correndo até nossa casa, pegaria outro carro e os apanharia em seguida”. 

Mas nada saiu conforme planejado. Segundo Barry, logo que se afastou do carro, Elaine soltou um grito alto, apavorada com a visão de uma figura que atravessou a estrada correndo na frente deles. Barry voltou imediatamente a tempo de ver uma coisa bizarra. "Eu vi claramente aqueles seres. Eram três deles! A melhor maneira de descrevê-los é como pequenos homenzinhos. Tínhamos um pouco de luz e pude ver que eles eram muito feios e atarracados. Não usavam roupas, estavam sujos e eram cabeludos com enormes orelhas. Eu diria que eles tinham menos que um metro e trinta de altura, e quando surgiram agiam de forma cautelosa."


Nesse ponto, as coisas ficam realmente estranhas, diz Barry: "Nós dois temos noção de que eles vieram em nossa direção, muito lentamente, e pensei que eles estavam interessados em nós ou queriam saber quem éramos. Eles se aproximaram lentamente. Elaine ficou histérica temendo pelas crianças, ela disse ter sentido que eles queriam fazer algo com as crianças. Em algum momento nós resolvemos correr e corremos sem parar sabendo que eles estavam atrás de nós. Eu não tenho uma lembrança clara do que aconteceu, mas quando chegamos ao povoado as pessoas contam que estávamos em pânico. Nenhum de nós tem uma lembrança clara de como chegamos".

O que se sabe através de testemunhas é que o casal estava em um tipo de histeria e que foi difícil acalmá-los. Moradores do vilarejo foram até o bosque e supostamente encontraram rastros e estranhas pegadas - muitas delas pequenas, no entorno de onde o automóvel havia sido deixado. Nos dias seguintes ao evento várias pessoas teriam visto as mesmas criaturas repugnantes vagando por aquelas matas isoladas. O avistamento se tornou um grande acontecimento e atraiu jornalistas e curiosos que chamaram os seres de "Goblins de Penkridge

Barry afirma que, até hoje, perto de completar setenta anos, ele e Elaine ainda se sentem incomodados com a experiência que tiveram e faz questão de afirmar que está certo de ter visto as criaturas. "Elas estavam lá, eram reais e essa é a única certeza que tenho e que vou carregar para todo sempre".  

Mas essa é apenas uma das muitas histórias sobre o Povo Pequeno.

Em 1987, Stuveysant, um povoado nos arredores de Oxfordshire, também viveu dias curiosos quando várias pessoas alegaram ter avistado representantes do Povo Pequeno nos bosques adjacentes. Tudo começou com duas mulheres da região, Mary Slater e Clarisse Debham que voltavam para casa após um dia de trabalho. As duas cortaram caminho por uma trilha deserta e lá foram interpeladas por o que elas descreveram como "criaturas estranhas, pequenas e peludas" que as perseguiram pelas matas.


Assim como Penkridge, Stuveysant possui há séculos um curioso folclore que inclui lendas sobre o Povo Pequeno. O bosque próximo sempre foi considerado um lugar propenso a aparições de criaturas estranhas e de pequenos humanoides supostamente habitando as matas. Após o encontro, as duas mulheres compartilharam com amigos e conhecidos o incidente e este recebeu grande destaque dos meios de comunicação.

Nas semanas seguintes várias outras pessoas afirmaram ter experimentado um encontro direto com os estranhos seres de pelagem castanha e aparência grotesca. Fazendeiros e pastores de ovelhas também relataram que as criaturas foram responsáveis por atacar plantações e matar animais, deixando um rastro de danos consideráveis. 

De tempos em tempos, alguém na região afirma ver algo estranho na floresta e a descrição sempre é condizente com membros do Povo Pequeno.

Mas os encontros com essas criaturas não está restrito à Grã-Bretanha.

No ano de 1994, várias pessoas em Fort MacMurray, na Provincia de Alberta, Canadá, afirmaram ter experimentado encontros com pequenas criaturas que habitavam os limites da Reserva Florestal local. Os incidentes ocorreram em pleno verão, quando o Parque Nacional de Elk Grove recebe um grande número de visitantes e campistas. Naquela temporada nada menos que duas dúzias de informes chegaram ao Posto da Guarda Florestal descrevendo estranhos seres, vistos na floresta por testemunhas convictas de que haviam cruzado com algo inusitado.

"As pessoas falavam de homenzinhos pequenos, do tamanho de crianças andando pelas matas e surgindo do nada. Algumas dessas pessoas estavam realmente assustadas e não conseguiam descrever em detalhes as criaturas, pois elas eram vistas na maioria das vezes fugindo ou parcialmente encobertas pela vegetação", relata Robert Fergunson, na época um dos Guardas responsáveis pelo Parque Elk Grove.


Um dos casos mais famosos ocorrido naquela temporada e que recebeu enorme destaque da imprensa foi o de dois jovens que haviam ido acampar na mata e acabaram desaparecendo. Uma grande operação de busca foi conduzida para encontrá-los, o que mobilizou ao menos uma centena de homens e duas vezes isso em voluntários. Após dois dias de buscas, os rapazes foram achados no coração do Parque - exaustos e famintos. Receberam cuidados médico e contaram uma história chocante sobre pequenos homenzinhos selvagens cobertos de pelos, que os perseguiram de maneira implacável.

O mais sensacional é que alguns membros dos grupos de buscas afirmaram ter encontrado pegadas e rastros de estranhos animais justamente nos lugares em que os rapazes se depararam com as criaturas. Algumas dessas pegadas eram condizentes a pés descalços do tamanho de crianças. Alguns afirmaram inclusive terem visto seres desconhecidos se escondendo na vegetação e escapando do contato quando detectados. 

As lendas de tribos nativas sobre a Reserva mencionam inúmeros mitos sobre os Pequoit, o equivalente ao Povo Pequeno canadense que conforme os mitos habitavam cavernas e grutas daquela região. eles eram responsáveis por incontáveis desaparecimentos de crianças. De fato, os nativos contavam que Elk Grove sempre foi um lugar temido pela presença de espíritos, fantasmas e entidades silvestres de toda sorte - da qual os Pequoit fazem parte.

Vários relatos provenientes do Hemisfério Norte mencionam a existência de criaturas pequenas, semelhantes a homens, mas que não são exatamente humanos. O folclore galês é rico em criaturas desse tipo, em especial os Bwbach, descritos como homenzinhos com aproximadamente um metro de altura, que são selvagens e que habitam o interior das montanhas. 

Wirt Sikes foi cônsul do País de Gales, nos Estados Unidos e um notável especialista no folclore de sua nação, autor de um aclamado livro editado em 1880, intitulado "British Goblins". Em suas páginas, Sikes escreveu sobre o pequeno e peludo Bwbach: 

"São criaturas de baixa estatura e atarracados, não muito maiores que uma criança de 6 ou 7 anos. A pele tem uma coloração castanha alaranjada como ferrugem e os cabelos crespos crescem por todo corpo. São absolutamente selvagens e irritadiços quando alguém adentra inadvertidamente seus territórios. Embora primitivos, os Bwbach são conhecidos pelos atos elaborados de vingança e revide. Eles podem atrair pessoas até clareiras no meio da mata e lá preparar emboscadas, mas raramente se afastam da segurança de suas tocas. Eles podem construir facas de pedra, machadinhas grosseiras e lanças afiadas para repelir os invasores, mas não são capazes de fazer mais do que ferramentas rudimentares. Seus gritos são medonhos e tendem a afugentar aqueles que ouvem, mas se esses avisos falharem, eles também empreendem perseguições e recorrem a táticas de choque".


O texto de Sikes parece se encaixar perfeitamente em inúmeros casos de pessoas que afirmam ter avistado o Povo Pequeno em seus redutos florestais.     

Outro interessado nas lendas sobre o Povo Pequeno é o escritor e etnógrafo W.E. Thorner que conta suas experiências na Ilha de Sirguden na Noruega, quando lá serviu durante a Segunda Guerra Mundial. Um incidente em questão serviu para fazer de Thorner um estudioso do Mito e do Folclore à respeito do lendário Povo Pequeno nórdico.

"Em certa ocasião me deparei com um grupo de homens pequenos e selvagens dançando no topo de uma pedra - um lugar que era conhecido pelos moradores locais como Penhasco dos Pequeninos. Isso aconteceu no auge de uma tumultuada tempestade e foi testemunhado por mais três homens, todos eles soldados cuja função era guardar aquela localidade". Nas palavras cativantes do próprio Thorner: "Essas criaturas eram pequenas em estatura, tinham o corpo peludo e feições grotescas com nariz e queixo compridos, corpos magros e dedos longos tanto dos pés quanto das mãos. Executavam essa dança ritual, típica de uma tribo de homens primitivos. lançavam-se no ar em pulos e rodopios e evoluíam soltando gritos e brados. É difícil descrever em poucas palavras meus sentimentos naquele momento, mas creio que perplexidade é um termo adequado. Toda a sequência poderia ter durado de três a cinco minutos, até que eles perceberam nossa presença e deixaram o penhasco.

Depois desse incidente, Thorner se converteu em um dos mais sérios e respeitados pesquisadores sobre os mitos nórdicos, em especial sobre as criaturas que integram o chamado "Povo Pequeno". Ao longo de seus 80 anos, ele catalogou uma centena de incidentes, entrevistando pessoas que afirmavam ter visto criaturas desconhecidas que poderiam facilmente ser encaixadas no folclore nórdico. Thorner tinha em seu poder uma das mais curiosas e interessantes coleções de itens que supostamente pertenciam ao Povo Pequeno, com objetos como facas e pedras, até estatuetas decorativas e joias coletadas por ele nos lugares mais distantes da civilização. 

"É impressionante o quão pouco ainda sabemos sobre o Povo Pequeno, mas no decorrer de todas as minhas pesquisas não resta dúvida de que eles realmente existem e que habitam o nosso mundo preferindo, no entanto, se manter escondidos".


Thorner faleceu em 2006, mas sua extensa obra é considerada referência no que diz respeito a lendas e ao folclore dos países nórdicos.

Diante do grande número de histórias coletadas e narrativas fornecidas por alegadas testemunhas, parece razoável assumir que há algo, no mínimo estranho, que não compreendemos inteiramente habitando florestas e recantos distantes da civilização. E à medida que o progresso nos impele cada vez mais em terrenos pouco explorados, seria de nos surpreender encontrar coisas desconhecidas? Será que um dia confirmaremos a existência de tais seres habitando os últimos recônditos selvagens no coração de florestas e bosques?

Quem pode saber ao certo o que ainda descobriremos ao adentrar tais lugares.

segunda-feira, 29 de maio de 2023

"Dos causos que a boa gente de Arkham conta" - Quatro narrativas de uma cidade assombrada


Que tal conhecer quatro pequenas lendas da Nova Inglaterra?

São histórias compartilhadas e contadas pelos velhos e pelas viúvas, pequenas pérolas de conhecimento popular da região do Vale de Miskatonic, onde aquela boa gente supersticiosa compartilha sua sabedoria mais sussurrada do que narrada.

Puxe uma cadeira e ouça os Causos que a boa gente de Arkham conta. 

Por Luciano Giehl

A Dama Rubra

"Uma história popular em Arkham envolve a Mulher Rubra da Trilha Aylesbury. A antiga via, por muito tempo foi chamada de Picada Garrison, e se estendia mata adentro, entre freixos e abetos de tronco nodoso e galhos esqueléticos crescendo tortos. Quando a Trilha Aylesbury foi aberta no outro extremo, o prolongamento foi completado para facilitar a vida das pessoas. Mas tão logo a estrada foi inaugurada, os habitantes locais começaram a falar de estranhos incidentes naquele eito isolado. Mencionavam globos luminosos flutuando na escuridão perene, murmúrios incorpóreos e sensações incômodas que iam de apreensão até um pavor inexplicável. Alguns descreviam um peso no peito e uma súbita falta de ar que lhes acometia. 

O mais estranho, no entanto, foram os relatos sobre uma mulher que vagava por ali, mefítica, quase como uma aparição em meio a densa vegetação. Era dona de beleza exótica, pálida e de feições delicadas, com olhos azuis aquosos e um cabelos rubro acobreado caindo sobre os ombros de alabastro. Para escândalo de algumas senhoras, diziam que vagava nua em pelo. Visões de damas desamparadas não são exatamente novidade, sobretudo em recônditos que cortam prados afastados como aquele. Mas o que chamava a atenção é que a mulher não parecia desamparada, muito pelo contrário. 

De postura diligente, ela se punha a observar atentamente aos transeuntes que quedavam por aquelas bandas deixando uma sensação incomoda de tensa incerteza sobre suas motivações prementes. Não era apenas o inusitado de encontrar tal dama naquelas circunstâncias, mas algo mais que parecia estar ligado ao seu olhar transfixado. A mulher era má, ou assim sentiam os que eram fulminados pela sua incomoda atenção. Sua expressão transbordava com ódio fervente por tudo e por todos. 

A apelidaram de a Mulher Rubra da Trilha Aylesbury e o nome caiu como uma luva. 

No início, poucos davam atenção aos rumores, posto que tais visagens na Nova Inglaterra eram abundantes. A coisa mudou de figura quando algumas pessoas que sabidamente transitaram pelos ermos falharam em chegar a seu destino, e mais ainda, quando corpos brancos e com expressões petrificadas de pavor começaram a pulular na margem do caminho. Não se sabe quantos e se todos foram afetados pela mesma força nefasta. Inegável contudo, é que algo na Trilha deixava um rastro de vítimas. E em pouco tempo, menos e menos pessoas passaram a se arriscar por aquele trecho sabendo que a Mulher Rubra poderia estar à espreita deles."


Sulcos profundos

"Todo morador de Arkham sabe que as florestas próximas são fonte de toda sorte de história insólitas e rumores estranhos. As pessoas no entanto franziam o cenho quando se mencionava o Bosque do Menino Perdido. Para alguns era apenas um lugar isolado no coração do Vale de Miskatonic que não tinha nada demais, além das árvores encarquilhadas, das raízes que brotavam do chão feito tentáculos e da vegetação selvagem de espinheiro e hera venenosa crescendo em profusão. Mas é claro, mesmo os mais céticos evitavam cruzar por aquelas sendas depois de certa hora ou em datas específicas, quando certas estrelas luziam faiscando no firmamento. 

Isso porque ao adentrar o Bosque do Menino Perdido, um apelido que pegou em face de um trágico acontecimento real ocorrido lá pelos idos de 1900, era inegável sentir toda opressão daquele ambiente carregado. Era um tipo de energia que impregnava o solo negro, que nutria a vegetação e que se fazia sentir mesmo nos poucos animais que por ali vagavam. Era uma sensação estranha, de que o sagrado ciclo da natureza, ali, naquele pequeno ponto manchado de verde no mapa, encontrava-se em atribulação. 

Que o termo "natural" de alguma forma não se aplicava lá. E isso se fazia sentir em todo canto do Bosque do Menino Perdido, nas clareiras cobertas de folhas secas, nas copas de árvores majestosas cujos galhos se agitavam com ou sem vento, ou ainda, no som de passadas trovejantes que ecoavam pelas matas virgens nas noites sem lua e que deixavam sulcos profundos impressos na lama outonal."



O Teimoso Ebenezer Crutch

Quando o velho Ebenezer Crutch, lá de Ross Corners decidiu recolher aquela pedra esquisita que caiu do céu lá pelos idos de '28, não imaginou o problema que estava comprando. A coisa era estranha, não apenas por ter despencado do céu numa bola de fogo bem no centro de sua chácara. O impacto dela fez a terra tremer, abriu rachaduras no solo e tirou o sono de todo mundo na fazenda.
 
Mas foi em meados de Junho, seis semanas depois da queda, que o caso ganhou contornos mais esquisitos por conta dos animais ficarem arredios e a própria natureza dos arredores reagir como se estivesse vexada pela presença de algo anormal. Ou que "não pertencia ao local" como salientou Ma Crutch certa manhã, olhando da janela da cozinha.
 
Tanto foi que Ebenezer, decidido a dar fim naquela situação, foi até a clareira onde a coisa havia deixado uma cratera. Ele cavou o chão, amarrou a rocha com a corda mais grossa que encontrou, e arrancou a maldita do buraco, puxando com toda força de sua caminhonete Ford. Devia ter levado a coisa para bem longe... despejado na pedreira ou entregue à gente educada da Universidade Miskatonic que talvez soubesse o que fazer com ela. Mas Ebenezer decidiu levar a pedra de arrasto para um galpão da sua fazenda, achando que talvez uma coisa vinda de sabe lá Deus onde, tivesse algum valor que compensasse a trabalheira que deu movê-la de um canto para outro. Ele era teimoso, um típico morador da Nova Inglaterra que quando mete algo na cabeça, não há quem tire. Ele achava que a pedra deveria de ter alguma serventia.

Pragmático como era, acreditava piamente que uma coisa vinda dos "rincões siderais" precisava ter algum propósito além de simplesmente vagar pelas eras através do éter cósmico e vir cair num fim de mundo que nem Ross Corners. De pedra essa mundo estava cheio, não precisava de mais uma, espacial ou não... Nao senhor, tinha que ser algo diferente!
 
Foi em fim de Setembro que Ebenezer descobriu, da pior forma que estava certo. Não era "só uma pedra", era algo (na ausência de palavra melhor) muito diferente.



Whippoorwills

Um som que se houve recorrentemente nas matas que circundam Arkham é o piar dos Whirpoowill. Esses pequenos pássaros de pelagem castanha acinzentada se reúnem nas copas das castanheiras e freixos onde fazem ninhos. Mas diferente do canto dos pardais e dos estorninhos, o som produzido pelos Whirpowills não se traduziam em encanto para seus ouvintes. Roufenho, vigoroso e seco, o ruído soa como um estalido que alguns remetem ao som da tampa de um caixão fechando ou o soluço terminal de um moribundo. Essa característica lúgubre deu ao pequeno Whippoowill uma fama que perdura desde os tempos coloniais como uma ave de mau agouro. 

"Na casa de quem as pequenas aves se empoleiram a cantar, em breve, alguém morrerá."

Mais do que ser uma ave de negros auspícios, o Whippoowill atrai olhares de desgosto da boa gente dos arredores por um curioso costume. O pássaro ao caçar, tem predileção por insetos que habilmente ele captura em seu bico agudo. Ao invés de devorar ou levar as presas até seu ninho, o Whippoowill descobriu uma maneira de dispor do alimento. Uma vez capturando um inseto, digamos um besouro galhado ou uma mariposa cigana, ele o carrega até um dos abundantes espinheiros que crescem selvagens nos bosques. Habilmente o pássaro pressiona a presa contra um espinho até ela ser trespassada e ficar ali presa em espasmos de agonia. O Whippoowill só depois a devora. Por esse estranho ritual, raro na natureza, o Whippowill passou a ser chamado de "Pássaro Empalador".

Graças a esses fatores, não é de se estranhar que o pássaro seja evitado pela gente supersticiosa do Vale de Miskatonic. Mesmo os filhos de fazendeiros, muitos deles pequenos valentões que andam pelas trilhas com bodoques enfiados no bolso traseiro, evitam disparar pedras contra os Whippoowill, tendo ouvido de suas avós, nos alpendres de casa, a recomendação de jamais ferir uma dessas aves ingratas. 

Diz uma história, muito popular entre as crianças que o pequeno Timmy Wallon, de 10 anos, ignorava a recomendação, quase que consenso entranhado na mente das demais crianças de deixar os Whippoowill em paz. Atrevido como era, o jovem não via diferença de ter na alça de mira de sua temida atiradeira um tordo marrom, um papa-mel ou qualquer outra ave da Nova Inglaterra, mesmo os temidos Whippoowill. Não senhor! Quando Walton calçava a pedra na funda e disparava convicto de que acertaria, não se importava em absoluto com o que caía vítima de seus petardos. Tal comportamento deixava os demais garotos consternados.

Certo dia, Wallon que brincara com os demais meninos numa cinzenta tarde de outono, falhou ao retornar para casa. O povo organizou um grupo de busca que se meteu nas matas atrás do rapaz, chamando seu nome. Não o acharam e então mandaram vir uns perdigueiros que um fazendeiro criava em Muldoon. Os animais eram farejadores treinados e não demorou até eles pegarem o cheiro do garoto. Embrenharam na mata quase que arrastando pela guia seu condutor. Levaram o grupo de busca até uma área fechada, de densa vegetação, escura e espinhosa. E lá, em meio a erva daninha e das urzes altas, sobre um tronco podre de carvalho tombado sabe lá Deus a quanto tempo, acharam disposto o corpo sem vida do menino Wallon. Ele estava caído sobre uma haste pontiaguda que lhe trespassava as costas, vindo a brotar no lado esquerdo de seu peito, como um apêndice medonho, embebido em sangue escuro. Tinha um semblante assombrado nos olhos vítreos e a boca meio escancarada em um pedido perpétuo de perdão. 

E dizem, no exato momento que o cadáver foi achado, um recital de apupos crocitou com o inefável canto de mau agouro dos Whippoowill.    

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Segredos de Tartessos - A Cultura que pode ter gerado o Mito de Atlântida


Platão entrou para a história como um dos maiores filósofos e pensadores de todos os tempos, mas poucas pessoas sabem que ele também foi um dos primeiros a escrever sobre a mítica Civilização de Atlântida. Seus textos inspiraram arqueólogos e buscadores de mitos antigos a buscar pistas que pudessem comprovar a existência do célebre Continente Perdido.

Embora a verdadeira terra de Atlântida jamais tenha sido encontrada, alguns lugares ao redor do planeta ajudam a fomentar a crença de que ela de fato existiu. E muitos acreditam que as provas ainda podem ser encontradas, bastando buscar nos lugares corretos. Muitos estudiosos da Atlântida apontam certos monumentos e locais antigos como os últimos resquícios de uma cultura a muito desaparecida.

A descoberta recente de peças de estatuário, encontradas na Espanha, surge como um desses achados impressionantes. Eles oferecem um novo ponto de vista a respeito de uma das primeiras civilizações ocidentais na Idade do Bronze. Os fragmentos pertencem a cinco bustos e um mosaico da obscura cultura conhecida como Tartesso

Até pouco tempo atrás, essa Civilização era tida como um simples mito. Os Tartessianos teriam vivido no sudoeste da Península Ibérica entre os século IX e V a.C e construíram uma sociedade incrivelmente rica e avançada. Para alguns eles teriam sido a inspiração para os escritos de Platão relativos a Atlântida.

"As escavações no sítio de Casas del Turuñuelo (em Guareña, Espanha) trazem à luz os restos de cinco bustos do século V aC e de um impressionante mosaico pertencentes a uma cultura sobre a qual ainda sabemos muito pouco - a Civilização Tartessiana."

Obras de arte da Civilização Tartéssia

O comunicado oficial do Instituto de Arqueologia de Mérida e do Conselho Superior de Investigações Científicas anunciou a descoberta realizada no sítio arqueológico. O terreno ainda está sendo escavado, mas artefatos tem sido encontrados nas fundações do que um dia foi uma espécie de palácio ou mansão. 

A pouco mais de cem metros dali os pesquisadores encontraram também uma área possivelmente destinada a adoração de divindades antigas. Há sinais inequívocos de que cavalos e outros animais foram oferecidos como sacrifício em rituais. Neste local, os arqueólogos acharam um mosaico com rostos de duas figuras femininas cujos adornos usados por elas remetem a arte tartessiana. Brincos semelhantes aos vistos no mural foram encontrados em Cáceres como parte de um enxoval funerário e os arqueólogos acreditam que sejam representações de divindades femininas. Há suposições de que seriam deusas representando a fecundidade e a morte.

Mas quem exatamente foram os Tartéssios? 

A histórica e misticismo desse povo é mencionada em registros gregos datando do primeiro milênio aC. Segundo historiadores helênicos a cultura de Tartessos teria florescido com uma mistura de povos paleo-hispânicos e fenícios que eventualmente se fixaram no sul da atual Espanha. Lá eles criaram sua escrita, idioma e adotaram costumes próprios. Sua capital, Tartessos, era uma cidade portuária situada onde hoje fica a Andaluzia. Os registros dizem ainda que a capital era muito rica em estanho, ouro, cobre e outros minerais, além de ser um centro de comércio que negociava com as nações do Norte da África e que tinha uma frota considerável de navios mercantes. O estanho era um mineral muito valioso no mundo antigo por causa de seu uso na fabricação de bronze, portanto os residentes de Tartessos eram sem dúvida prósperos. 

Por muito tempo a Civilização de Tartessos foi considerada lendária, já que não haviam provas suficientes para comprovar sua existência factual. Isso mudou em 1928, quando o historiador alemão Adolf Schulten realizou descobertas arqueológicas que provaram a existência dela. Os artefatos descobertos por Schulten foram encontrados em escavações realizadas no sul da Península Ibérica. Estes itens ajudaram a reconhecer essa cultura como uma das primeiras e mais avançadas civilizações da Europa Ocidental. Uma de suas maiores realizações envolvia um complexo sistema de escrita, conhecido como Escrita Tartessiana. Os símbolos que compunham esse alfabeto foram encontrados gravados em cerâmica, adornando objetos de metal e esculturas de pedra. Esses caracteres ajudaram a identificar os tartéssios como seguidores de uma religião politeísta. Seus deuses eram associados ao sol, à lua e às estrelas, bem como a animais como cavalos e touros.

O porão de uma ruína Tartéssia

Mas em algum momento essa civilização desapareceu misteriosamente da face da Terra, fazendo com que muitos se perguntassem se eles realmente haviam existido.

O que pode ter acontecido e qual a ligação desse povo ancestral com o Mito de Atlântida?

Uma das descrições que se tem sobre Tartessos data do século segundo depois de Cristo, ela diz:

"Tartessos era o nome de um rio ibérico que desaguava no mar por duas bocas na costa do sul da região. Entre esta desembocadura ficava uma grande cidade portuária que tinha o mesmo nome. O rio foi no passado um dos maiores da Península Ibérica, cruzando do oeste para o sul". 

A citação vem de Pausânias, um geógrafo do século II dC, que se inspirou nos escritos de um filósofo anterior – Aristóteles – que foi um dos primeiros a descrever um rio subindo os Pirineus e fluindo para o mar no Estreito de Gibraltar. No entanto, se você olhar para o mapa hoje, verá que não existe esse rio atravessando a Península Ibérica. 

Será que Tartessos reside nas profundezas?

Alguns escritores suspeitam que em algum momento, possivelmente no século quinto antes de Cristo ocorreu um cataclismo nessa região. Um terremoto ou um tsunami pode ter alterado o curso do rio causando uma inundação que devastou completamente a cidade de Tartessos. Inundações eram algo muito temido no mundo antigo; a invasão repentina de águas tinha um enorme potencial destrutivo, ainda mais considerando a arquitetura e a fragilidade das construções. 

O súbito desaparecimento de uma Civilização próspera, vitima de uma inundação que destruiu a capital pode ter inspirado o Mito de Atlântida. Todos os historiadores que mencionam o trágico destino de Atlântida são enfáticos quanto ao que causou seu ocaso: a água. Uma inundação sem precedentes teria varrido a cidade, cobrindo construções e arrasando tudo em seu caminho. No processo milhares de pessoas teriam se afogado. Quando tudo terminou, não restava quase nada e os sobreviventes tiveram de se dispersar pelo mundo - carregando consigo parte de sua cultura e conhecimento.  

O destino similar dessa cidade poderia ter inspirado o mito de Atlântida? Ou indo ainda mais longe, poderia Tartessos na verdade, ser a mítica Atlântida?

Esther Rodríguez, co-diretora do Projeto Tarteaso que coordena os trabalhos de escavações em Guareña, disse ao jornal El Pais acreditar que as estátuas e o mosaico achados recentemente podem levar a novas e empolgantes descobertas. "Quem sabe, será capaz até de reescrever a história como conhecemos." 

Ao estudar o mosaico, Rodríguez sugeriu que as imagens narram uma saga envolvendo um jovem guerreiro e as deusas que o protegiam, representadas por duas mulheres. Na história, o guerreiro enfrenta muitas ameaças, na forma de monstros marinhos e criaturas das profundezas, para salvar sua cidade da completa destruição. Apesar da história relatar uma saga na qual o herói consegue salvar sua pátria natal, uma ameaça continua pairando no ar. Uma espécie de profecia atesta que a cidade encontraria seu fim com a força de águas.


"Resta saber se a história revelada pelo mosaico ocorreu antes ou depois da devastação de Tartesso" especula Rodríguez.

"De uma forma ou de outra, estamos diante de grandes descobertas que podem colocar Tartesso na vanguarda de uma transformação operada na Europa durante a Idade do Bronze. Com a cultura avançada dessa civilização sendo compartilhada com outros povos europeus.

Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa, mas as descobertas parecem realmente significativas e capazes de alterar o paradigma sobre o desenvolvimento cultural da Europa.  

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Sinistro e Maligno - As Aparições assustadoras do Hospital Santo Inácio


Certos lugares do mundo parecem atrair todo tipo de história estranha e assustadora. Você sabe ao que estou me referindo... aqueles lugares que parecem ter uma aura pesada, que causam arrepios e que você prefere não visitar depois de anoitecer. Seja lá por qual razão, alguns lugares parecem ter algo estranho. E isso cria a reputação de serem assombrados, ou mesmo malditos. Algumas vezes, as pessoas ajudam a espalhar essa fama que sobrevive à passagem do tempo, durando mais do que eles próprios, eclipsando a realidade e escrevendo os nomes de tais endereços no panteão das localidade dominadas pelo sobrenatural.

Um lugares destes fica no estado norte americano de Washington, e é, para rodos os efeitos um dos lugares mais assombrados do país, infestado com forças sinistras e malignas muito além de nossa compreensão.

Como acontece em muitos casos, a história do Hospital Santo Inácio tem um início marcado por uma ideia benevolente e cheia de boas intenções. Tudo indicava que os responsáveis por sua criação visavam o melhor para as pessoas, acima de seus interesses particulares.

Tudo começou no ano de 1892, quando o Reverendo Emil Jachern, um padre católico, decidiu que as pessoas carentes em estado de necessidade mereciam um lugar onde pudessem ser atendidas e tratadas. Dizem as histórias que ele se preocupava com a saúde dos pobres e miseráveis, conseguindo que médicos renomados as atendessem gratuitamente e que prestassem tratamento a quem precisasse. Padre Jachern também organizava eventos filantrópicos para arrecadação de fundos junto da alta sociedade de Washington.    


No entanto ele queria fazer mais pelos necessitados de sua paróquia na área de Colfax, uma das vizinhanças mais carentes do estado. Para ajudá-lo nessa tarefa, ele recrutou o apoio de uma congregação religiosa formada por irmãs católicas, as Irmãs da Providência. Com o auxílio delas, deu início a construção de um hospital para atender a então região rural. As obras do Hospital Santo Inácio foram concluídas em 1894 e no mesmo ano ele foi inaugurado. Era na época o único hospital de referência em todo o município. Ao longo dos anos foram feitas ampliações, com a adição da Escola de Enfermagem Santo Inácio aberta em 1911 e um ambulatório para tratamento emergencial em 1917. A instituição permaneceu aberta em funcionamento até a década de 1960, quando enfrentou dificuldades de custeio, pois ordens religiosas dependiam de doações ou patrocinadores particulares para financiar seus projetos. 

O Hospital fechou suas portas em 1964 e serviu por um tempo como um lar para adultos com deficiência de desenvolvimento, até ser finalmente fechado e abandonado em 2003. Por algum tempo, o Departamento de Arqueologia e Preservação Histórica do Estado de Washington considerou Santo Inácio como o edifício histórico mais ameaçado no estado, até que a Sociedade Histórica do Condado de Whitman aprovou um projeto de preservação para o prédio em 2015. Hoje ele é tido como uma espécie de patrimônio histórico, mas é mais famoso por outro motivo... as pessoas afirmam que o prédio é insanamente assombrado.

Não é difícil entender o que incentiva o surgimento de histórias de fantasmas e assombrações cercando esse lugar. Além de sua aparência imponente e da arquitetura gótica, a história do Hospital Santo Inácio também se presta a histórias de coisas que acontecem nas altas horas da madrugada, quando a noite cai e sombras dominam a paisagem. De acordo com rumores, um número assombroso de pessoas morreu aqui, tanto durante a construção quanto durante os anos de funcionamento. Da mesma maneira, muitos pacientes teriam enlouquecido aqui, sofrido e morrido nas dependências. O investigador paranormal Jason Hawes conta sobre algumas das mortes associadas a este lugar:

"Muita coisa aconteceu atrás destes muros e paredes. Muitas coisas ruins... eu entendo que o St. Inácio foi criado sob uma boa perspectiva, de ajudar e apoiar essa comunidade. Mas em algum momento as coisas se desvirtuaram saindo do caminho idealizado. Há histórias de maus tratos, de carestia, de pessoas sofrendo tortura e até de assassinatos. Se dez por cento dessas histórias forem verdadeiras, basta para colocar essa instituição no rol das mais terríveis, dentre as que receberam pacientes. Um verdadeiro inferno!". 


Os rumores sobre maus tratos de fato sempre acompanharam a história de Santo Inácio. Havia o boato de que as Irmãs da Providência, que formaram a base das enfermeiras no hospital exerciam uma influência sob a instituição e tratavam os pacientes com descaso beirando o criminoso. De fato, houve ações administrativas contra enfermeiras acusadas de negligência e comportamento abusivo. Maus tratos eram uma rotina. Também teria havido ao menos um "anjo de misericórdia", que são enfermeiros que ministravam drogas ou mesmo veneno para abreviar o sofrimento de pacientes - sendo que nem todos estavam à beira da morte.     

Circulavam rumores incômodos ao longo de toda sua história. Uma das acusações mais graves era que alguns médicos usavam o hospital para a realização de experimentos antiéticos e até imorais. Em uma época em que a medicina avançava rapidamente, surgiu a noção de que alguns profissionais prestavam que serviço gratuito no Santo Inácio estavam interessados em conduzir testes bizarros nos pacientes de cirurgias incomuns ao uso de drogas experimentais. Embora tais rumores jamais tenham sido comprovados alguns pesquisadores salientam a quantidade impressionante de procedimentos cirúrgicos realizados no hospital e o nome de grandes companhias farmacêuticas como principais patrocinadores do Santo Inácio. Isso levanta uma dúvida sobre até que ponto o apoio financeiro dessas companhias não envolvia uma contrapartida. No início do século XX, muitas drogas estavam sendo colocadas no mercado e testes precisavam ser realizados. A suspeita é que cobaias humanas tenham sido submetidas a substâncias potencialmente perigosas?

Finalmente, havia relatos sobre o período em que o Hospital abrigou indivíduos mentalmente instáveis mencionando o tratamento desumano dispensado aos pacientes. Um dos lugares mais temidos seria a ala médica 3, conduzida como um centro de tortura pelos enfermeiros e médicos sádicos dispostos a "disciplinar" os pacientes rebeldes com doses maciças de eletrochoque e procedimentos em desuso que incluíam trepanação e lobotomia.

Todas essas histórias contribuíram para criar a aura de pavor que até os dias atuais permeia o Santo Inácio.     


Na opinião de renomados parapsicólogos e autocelebrados "Caçadores de Fantasmas" o lugar é tão carregado de energia negativa que é possível sentir o desconforto no ar. Essa mesma energia alimenta uma vasta gama de fenômenos paranormais que vão dos tradicionais poltergeists até nexos de atividade telecinética latente.  

Um fantasma recorrente é conhecido como a "Sombra Escura", descrita como uma enorme massa amorfa de sombras que flutua no ar e persegue as pessoas pelos corredores hoje vazios do hospital. Aparentemente essa bolha nebulosa rescende a sentimentos de raiva, ódio e frustração. As pessoas que afirmam ter encontrado esse horrível espectro nas ruínas do Santo Inácio dizem que a experiência é traumática. Os psíquicos confrontados pela Sombra a descrevem como algo composto de puro mal. Sua malevolência é tão opressiva que sensitivos são afetados por ela mesmo à distância. Há lendas sobre a sombra perseguindo visitantes, os envolvendo e fazendo com que eles experimentem um pavor indescritível - frio extremo, medo e um desânimo esmagador são apenas alguns dos efeitos relatados. 

Outro espírito vingativo que vaga pelos corredores labirínticos do prédio é o de um trabalhador da construção civil que dizem as lendas foi esmagado até a morte por dois vagões antes mesmo do hospital ser concluído. Esse fantasma é muito conhecido e assombra o Santo Inácio desde os primórdios.  Aparentemente ele não gosta de visitantes e se ocupa de cutucar e empurrar as pessoas provocando acidentes por vezes fatais. Como resultado direto da ação do "operário" mais de uma pessoa teria rolado uma escadaria no segundo pavimento. Descrito como um homem robusto vestido com roupas de época, o "operário" assusta suas vítimas envergando horríveis ferimentos em seu corpo dilacerado. 

Além desses espíritos, há uma miríade de fenômenos estranhos relatados, com pessoas que visitam o hospital supostamente ouvindo vozes, sendo tocadas, empurradas e espancadas, vendo objetos se mover por conta própria, sendo lançados nas paredes, tendo luzes apagadas repentinamente e portas sendo misteriosamente trancadas. 


Um dos lugares mais assombrados é o pequeno cemitério nos fundos do prédio, um lugar tristonho e sinistro que reúne cerca de vinte lápides cobertas de musgo. Especialistas chamam atenção para o fato das placas identificarem apenas sepulturas posteriores a 1947. Há rumores de que havia um cemitério anterior e que os corpos foram simplesmente abandonados sem identificação ou movidos para lugar ignorado. E esse desrespeito teria fomentado a ira dos mortos. Aqueles que entram no cemitério afirmam sentir uma presença esmagadora de melancolia que deixa cicatrizes emocionais duradoras. Há ainda globos de luz que parecem voar pelo ar e sumir no solo escuro do cemitério. 

A própria gestora que administrava o Hospital, Valoree Gregory, teve suas experiências nas dependências do Santo Inácio:

"Desde que comecei a trabalhar no Hospital, vi, ouvi e senti coisas que não consigo explicar. Certa vez recebi um empurrão tão forte que me jogou contra um armário. Eu me virei e vi uma mulher estranha vestida de enfermeira descendo o corredor. Até hoje não sei dizer o que foi aquilo. Certa vez um grupo veio visitar o hospital e tivemos uma situação inusitada. Ouvimos sons estranhos, como se pessoas estivessem subindo e descendo as escadas correndo em nossa direção. Foi muito alto. A coisa mais alta que já ouvi lá. Quando escurece certos sons são ouvidos: murmúrios, sussurros, palavras abafadas. E mesmo quando tudo está quieto fica uma sensação palpável, como se alguém estivesse observando constantemente." 

A misteriosa aparição vista por Valoree poderia ser um fantasma chamado "Nurse Mary" uma enfermeira conhecida pela sua agressividade e descaso com os pacientes. Ironicamente ela teria acabado seus dias no próprio Hospital Santo Inácio, sendo tratada da mesma maneira que um dia tratou dos pacientes. A infame Enfermeira Mary era famosa por empurrar, agredir e machucar os internos. Sua marca registrada era uma risada estridente que muitos ainda afirmam ecoar pelo ambulatório vazio.


Durante anos, a Câmara de Comércio de Colfax capitalizou as histórias de assombrações, oferecendo visitas guiadas ao hospital. Milhares de curiosos fizeram essa visita e graças a elas, reformas necessárias puderam ser realizadas. Infelizmente, os passeios fantasmas foram interrompidos em 2019, quando novos proprietários compraram o prédio.

Antes de concluir a compra do terreno e do prédio histórico, os novos proprietários afirmaram ter realizado uma extensiva pesquisa para confirmar as muitas histórias sobre o lugar na época que abrigava o Hospital. A conclusão foi que a maioria dos rumores sobre mortes e coisas pavorosas ocorridas nas instalações eram enormemente exageradas. É claro, algumas pessoas sofreram e morreram no local, mas o número não seria acima da média do que normalmente acontece em um hospital. Devemos lembrar que pessoas falecem em hospitais é algo mais ou menos esperado. Quanto às lendas sobre experimentos médicos, não há qualquer menção, ainda que os maus tratos tenham gerado controvérsia e manchado a imagem do Santo Inácio.

No fim das contas, é difícil comprovar as alegações feitas sobre o passado fantasmagórico desse lugar. Mas é claro, isso não impede que lendas sobre assombrações incorpóreas, ruídos e coisas voando continuem populares quando o nome do Hospital Santo Inácio é mencionado. Seria o lugar um tipo de nexo que permite a forças insidiosas passar através do véu? Ou ele é tão somente um lugar de aspecto sinistro propício ao surgimento de lendas urbanas?

Não há outra forma de saber, senão indo lá e vendo com os próprios olhos. Como diz o ditado "ver é crer", mas quem tem coragem de fazer isso?