quinta-feira, 17 de julho de 2025

O Lado Obscuro da Corrida Espacial - Ordens Secretas, Rituais Bizarros e Sacrifícios Mortais


Seria seguro supor que o fator que levou a humanidade ao espaço foi puramente o método científico combinado com a engenhosidade humana. No entanto, de acordo com alguns pesquisadores, esse pode não ser exatamente o caso. Diversas pessoas – pesquisadores acadêmico, com argumentos convincentes – têm defendido que as origens do conhecimento tecnológico que levou a humanidade às estrelas reside em rituais ancestrais e comunicações ritualísticas estabelecidas com inteligências não humanas.

Basicamente esse conceito leva a teoria dos "Deuses Astronautas" a um novo patamar.

A Dra. Diana Walsh Pasulka, professora de estudos religiosos na Universidade da Carolina do Norte em Wilmington, fez algumas afirmações notáveis sobre conexões entre encontros com inteligências não humanas e relatos bíblicos em dois livros de seus livros: American Cosmic: UFOs, Religion, Technology (Cosmicismo americano: OVNIs, Religião e Tecnologia) e Encounters: Experiences with Non-Human Intelligences (Experiências com Inteligências não-humanas). Ela não a única a se inclinar sobre o tema, o veterano pesquisador e investigador paranormal Steve Mera também declarou recentemente que muitos alegados "relatos de aparições religiosas e o contato com seres divinos" seriam, na verdade, relatos perfeitamente detalhados do que entendemos como "interação entre humanos e alienígenas"

Em última análise, Mera declarou que certos documentos — muitos dos quais alega se encontrarem nos Arquivos do Vaticano — são narrativas de contato alienígena adaptadas para uma visão teológica. Assim, alguns supostos encontros com anjos e seres sobrenaturais descritos na Bíblia, como por exemplo as histórias da "A Roda de Ezequiel" e "A Escada de Jacó", seriam na realidade o avistamento de veículos aéreos incompreensíveis e de seres alienígenas que dominavam tecnologia avançada.

Pasulka vai mais distante em suas conclusões.

As misteriosas conexões da Bíblia com alienígenas
 
Essas mesmas inteligências não humanas teriam participado e influído diretamente em vários momentos da Corrida Espacial. Segundo ela os programas espaciais, em ambos os lados da Guerra Fria (americanos e soviéticos), teriam "uma história incrivelmente estranha" que incluiria rituais de ocultismo. 

Para sustentar suas teorias Pasulka salienta que muitos dos "idealizadores dos cálculos que nos levaram ao espaço – os cientistas de foguetes – participavam ativamente de rituais bem estranhos!" Esses rituais visavam "abrir portais estelares" e "portas para outros reinos da existência". Além disso, enquanto esses rituais eram realizados por engenheiros nos Estados Unidos, cerimônias muito similares eram conduzidas pelos cientistas espaciais soviéticos acreditando que estavam se comunicando com seres de esferas superiores.

A estrutura de crenças, em ambos os lados, como Pasulka observou, era a mesma, e essas comunicações provenientes de rituais visavam "obter informações" que, por sua vez, levavam à criação de "tecnologias reais". Era uma especie de trica de ideias, entre cientistas interessados no progresso de seus projetos e supostos seres avançados que elogiam fornecer a expertise necessária para esses avanços.

As tecnologias eram obtidas por intermédio da comunicação com os alienigenas. Tais conhecimentos se provaram uma necessidade imprescindível para o avanço da humanidade. Sem ela, nao conseguiríamos chegar ao espaço.

A infame Divisão Novogorod ativa na União Soviética se dedicavam ao estudo de motores de propulsão, mas segundo rumores, vários de seus membros compunham um círculo místico que só pode ser definido como uma cabala. Esta se dedicavam a estudar o mundo oculto e realizar experimentos com psiquismo e expansão mental. Nao é exagero dizer que os dois trabalhos estavam intimamente relacionados .

Dentre os que realizaram rituais estranhos logo após a Segunda Guerra Mundial estava Jack Parsons, um indivíduo que viria a fundar o Laboratório de Propulsão a Jato um ramo intimamente ligado a viagens espaciais. Parsons é um nome controverso pelas suas crenças estranhas, mas ele é também um dos fundadores da NASA. Antes de analisarmos a vida de Jack Parsons – que, aliás, acabou sendo forçado a deixar o JPL devido às suas conexões com o ocultismo – vale a pena dedicarmos nossa atenção a outro místico famoso, ninguém menos que Aleister Crowley.

O Sr. Crowley observa o Passado

Crowley é, sem dúvida, uma das pessoas mais interessantes da história e alguém que frequentemente encontramos ligado a alguns dos acontecimentos mais importantes do século XX. Talvez seja por isso que alguns pesquisadores até sugeriram que ele tinha ligações com os serviços de inteligência britânicos, no final da década de 1890, ligação que seguiu durante o período das Grandes Guerras, até o fim de sua vida - ele faleceu em 1947.

Independentemente de ter ou não se envolvido com a Inteligência, Crowley certamente viajou bastante após mundo afora, com uma de suas viagens mais famosas ocorrendo em 1904, quando foi ao Egito, onde, segundo consta, realizou rituais diante da Grande Pirâmide de Gizé. Foi durante esses rituais e cerimônias que Crowley afirmou ter se comunicado com os antigos deuses egípcios e com uma "entidade incorpórea" chamada Aiwass. Essa entidade foi responsavel por ditar o que se tornaria O Livro da Lei, um texto fundamental para as crenças ocultas.

Nos anos seguintes, Crowley continuou a viajar extensivamente. Uma jornada particularmente interessante o levou até a montanha Kanchenjunga, no Himalaia, Nepal. Crowley teria sido atraído para esse local com o intuito de se comunicar com outras entidades não humanas. Por volta dessa época, e até 1906, ele passou um tempo considerável na China, durante o qual teria usado uma grande quantidade de ópio. Para alguns, um dos objetivos de Crowley era testar o uso de substâncias que permitissem expandir sua mente para planos superiores, permitindo assim a comunicação com entidades de planos elevados.

Seja qual for a verdade, as atividades de Crowley durante a primeira metade do século XX foram particularmente intrigantes. Entre 1909 e 1911, o Místico passou um período na Argélia, tempo no qual continuou a testar rituais de contato com seres superiores. Um dos seus propósitos era estabelecer contato com os alegados "Grandes Mestres" que supostamente forneciam conhecimento desconhecido.

Foi nessa época que ele afirmou ter iniciado na Ordo Templi Orientis (a O.T.O, sua Ordem de Natureza mística), vários membros de alto escalão do que viria a ser o Terceiro Reich. Estes indivíduos com profundo interesse no ocultismo foram fundadores da infame Sociedade Vril, uma Sociedade secreta dedicada a comunicação com inteligências não humanas. Os membros da Sociedade Vril, que mais tarde deu lugar a Amnenerbe Nazista, acreditavam que tecnologias avançadas poderiam ser obtidas com entidades alienígenas que lhes ensinariam os segredos do Universo. Para eles a troca de informações com mentes alienígenas lhes abriria o caminho para a conquista mundial.

A Ahnenerbe foi um dos ramos nazistas dedicados ao sobrenatural

Anos mais tarde, entre 1917 e 1918, quando Crowley estava em Nova York, ele alegadamente realizou um de seus rituais mais importantes. Este tentaria abrir um canal de comunicação com seres que ele identificava como Lam. O mais interessante sobre essas entidades é a descrição que Crowley fazia delas – criaturas de constituição magra, cabeça e olhos excessivamente grandes e pele pálida, essencialmente uma descrição do que a maioria dos ufólogos chama hoje em dia de alienígenas cinzentos (Grey). Devemos lembrar que isso foi três décadas antes do suposto acidente de Roswell, e pelo menos quatro décadas antes que alienígenas cinzas se estabelecessem no inconsciente coletivo.

Se essas entidades eram ou não alienígenas cinzas permanece em aberto; no entanto, nos anos e décadas que se seguiram, desenvolveu-se um "Culto de Lam", essencialmente composto por pessoas que foram seguidores de Crowley. Eles acreditavam que os Lam podiam fornecer sabedoria e progresso científico.

Um desses seguidores era Jack Parsons, que mencionamos anteriormente – o mesmo Jack Parsons que, de acordo com a pesquisa de Diana Pasulka, participava de rituais ocultistas no deserto da Califórnia. Suas experiências visavam abrir um canal de comunicação similar ao que Crowley mencionava. Seu objetivo final: obter tecnologia com os Lam.

Vale a pena retornar à O.T.O. e sua estreita ligação com a Sociedade Vril e os membros ilustres do Terceiro Reich, incluindo engenheiros de foguetes e cientistas. Há boatos de que estes cientistas estavam ligados a muitos rituais de ocultismo antes e mesmo depois de se tornarem impostantes recursos humanos no desenvolvimento de tecnologias para a máquina de guerra nazista. 

Muitos desses seriam cooptados no final da Segunda Guerra Mundial por forças soviéticas e norte-americanas. O lado americano dessa missão foi chamado Operação Clipe de Papel (Paperclip), que conseguiu trazer centenas de engenheiros e cientistas nazistas para os Estados Unidos com o intuito de continuar seu trabalho em solo americano. Muitos desses engenheiros acabaram trabalhando nos programas espaciais, com Wernher von Braun sendo um dos nomes mais notáveis. Nem é preciso dizer que von Braun foi um dos fundadores da NASA e que seus foguetes permitiam ao homem chegar à Lua. O que precisa ser dito é que ele tinha enorme interesse em ocultismo e nas "comunicações com esferas exteriores".

Werner Von Brau na época que tinha outros patrões

Podemos nos perguntar se há uma conexão entre esses cientistas do Terceiro Reich – muitos dos quais, lembre-se, eram membros de sociedades ocultistas secretas – e as supostas práticas rituais na época da corrida espacial de ambos os lados da Guerra Fria.

Com tudo isso em mente, este seria um bom momento para voltar nossa atenção para a notável relação da Maçonaria com o programa espacial Apollo e, especificamente, com a missão Apollo 11 (que levou o homem à Lua). Entre 1961 e 1968, James Webb, foi o administrador da NASA que mais teve influência na Missão Apollo. Ele era um maçom conhecido e um indivíduo ligado ao misticismo. Outro Diretor do programa Apollo, Kenneth Kleinknect, também era um maçom, assim como vários dos astronautas, antes e depois da missão de pouso da Apollo 11. Gordon Cooper, Virgil Grissom, Donn Eisele, John Glenn, todos eram maçons devotos.

Talvez o mais interessante de tudo, seja a segunda pessoa a pisar na Lua, Buzz Aldrin, que era um maçom de 33º grau do Rito Escocês. Acredita-se que Aldrin até levou um lenço de seda com símbolos maçônicos na missão Apollo 11. Posteriormente ele doaria o lenço para a Casa Maçônica da Jurisdição Sul, em Washington, D.C.

No entanto, foi o próprio pouso da Apollo 11 na Lua que despertou a maior curiosidade quanto a certos aspectos místicos.

Começamos pelo local do pouso – o Mar da Tranquilidade –, uma área suspeita, pelo menos para alguns. A razão oficial para a escolha deste local pela NASA foi que ele oferecia um local de pouso ideal devido ao seu terreno relativamente plano. No entanto, segundo alguns, este local em particular foi escolhido para que Aldrin pudesse realizar um ritual antigo na superfície lunar. Talvez o que dê mais peso a essas alegações seja o fato de que a pessoa responsável pela seleção deste local, bem como pelos horários exatos da missão, seja Farouk El-Baz, um especialista em rituais egípcios antigos.

Na Lua, um Ritual que saúda os Deuses de Orion

De acordo com algumas pesquisas, o local foi escolhido porque exatamente 33 minutos após o pouso, o Cinturão de Órion estaria perfeitamente alinhado com o horizonte lunar, momento em que Aldrin realizaria um ritual simples, essencialmente um agradecimento e louvor ao Deus egípcio, Osíris. É claro que o número 33 é de particular importância para a Maçonaria. Só para demonstrar essas aparentes conspirações em torno de tais assuntos, vários anos após as missões de pouso na Lua, quando o primeiro ônibus espacial retornou à Terra, pousou na Pista de Pouso 33. Além disso, a única plataforma de lançamento em White Sands, no Novo México, é chamada de Plataforma 33.

E qual seria o propósito dessa cerimônia egípcia antiga conduzida em solo lunar? De acordo com as lendas do antigo Egito, realizar tais cerimônias e fazer tais oferendas diretamente sob o Cinturão de Órion abriria comunicações com Osíris. Estariam alguns indivíduos ligados às missões espaciais Apollo em busca de contato com um deus do Egito Antigo? Quem seriam eles, de onde vinham e onde residiriam essas divindades ancestrais? Por mais bizarras e quase ultrajantes que essas alegações possam ser, todas se encaixam perfeitamente – em última análise, aqueles que buscam levar a humanidade ao espaço, aparentemente estiveram em contato com entidades não humanas e usaram rituais e até sacrifícios para chegar onde desejavam.

Voltemos a Jack Parsons e os rituais que ele, juntamente com outros, incluindo L. Ron Hubbard, conduziram no Deserto de Mojave, na Califórnia, nas primeiras semanas de 1946. Em uma entrevista recente, o já mencionado Steve Mera falou sobre esse assunto. Segundo Mera, Parsons desejava aumentar seu conhecimento aeronáutico e para tanto planejou um ritual através do qual poderia falar com os seres elevados. O Ritual de contato demandou dedicação total de todos os envolvidos, e algo mais...  Sacrifício de sangue!

Segundo Mera, um dos métodos de se contatar os Seres Superiores que habitavam as estrelas distantes, envolvia algum tipo de sacrifício. Os portais místicos escancarados por magia ritual só podiam ser mantidos assim por intermédio de algum sacrifício que o justificasse. Mera afirma que Parsons e seus companheiros estavam decididos a fazer qualquer coisa para estabelecer a comunicação com os seres superiores inclusive praticar sacrifícios. Animais seriam um sacrifício à altura, cabras, ovelhas, pombos... mas certos círculos de magia ritualística, iam mais longe mencionando a necessidade de sacrifícios humanos. Essa ideia parece inconcebível, mas muitos dos que conheceram Parsons sabiam de sua determinação e comprometimento com o mundo sobrenatural. Ademais, o afastamento dele da NASA ocorreu depois de alguns colegas alegarem que seu envolvimento com "coisas estranhas" ter ido longe demais.

O brilhante e estranho Jack Parsons

Parsons morreu em um acidente no deserto do Mojave, ocasião em que sofreu queimaduras horríveisno corpo enquanto testava um protótipo para um veículo de propulsão. Muitos de seus amigos achavam que ele estava desequilibrado em seus dias finais, perseguindo uma tecnologia de maneira obsessiva.

Para a maioria, até mesmo para os mais radicais teóricos da conspiração, a ideia de cientistas tentando estabelecer contato com inteligências não humanas ancestrais, parece um absurdo especulativo. Porém parece haver pelo menos algumas verdades em tais alegações.

Um caso que merece nossa atenção seria um dos incidentes mais bizarros registrados no mundo dos OVNIs – conhecido como o Caso das Máscaras de Chumbo. O relato foi detalhado pelo conceituado ufólogo Jacques Vallee em seu livro Confrontations, embora várias outras publicações também tenham abordado o incidente. 

O relato começa com a descoberta de dois cadáveres em uma clareira na mata em 20 de agosto de 1966, na cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Um adolescente havia visto dois homens na mesma clareira dias antes em 17 de agosto. Ele alegou tê-los observado à distância por vários minutos  antes de seguir seu caminho. Posteriormente encontrou os dois homens deitados na clareira imóveis. Foi somente quando os viu daquela maneira que decidiu relatar a outros moradores, que, por sua vez, comunicaram o ocorrido à polícia.

Quando as autoridades se aventuraram até o local encontrou os mortos. Ambos estavam vestidos com ternos e gravatas novos, com uma capa de chuva novinha em folha por cima. Talvez o mais estranho de tudo fosse o fato de cada um deles usar uma estranha máscara de chumbo, de fabricação rudimentar, sobre os olhos. Os homens foram finalmente identificados como José Viana, de 43 anos, e Manuel Pereira da Cruz, de 32, dois eletricistas da vila vizinha de Atafona. As investigações iniciais sugeriram que ambos eram muito queridos em sua comunidade, sem inimigos conhecidos e sem motivo para as autoridades suspeitarem de seu envolvimento em qualquer tipo de atividade ilícita. Além disso, não havia sinais de qualquer tipo de luta no local onde os corpos foram encontrados. 

O que foi realizado naquela clareira em Niterói?

Para a polícia, parecia que os dois homens simplesmente haviam se deitado lado a lado e falecido pacificamente. Quando as autópsias iniciais foram realizadas, determinou-se que ambos haviam morrido de ataque cardíaco fulminante – com segundos de diferença. Como podemos imaginar, as chances de isso acontecer são astronômicas. De fato, a polícia acreditava que algo, fosse o que fosse, devia ter causado os ataques cardíacos repentinos nos dois homens ao mesmo tempo.

Enquanto a polícia conduzia suas investigações, começou a receber relatos do avistamento de objetos estranhos, emitindo uma luz laranja, pairando sobre a mesma clareira onde os corpos foram descobertos. Também houve relatos de um estranho feixe de luz emanando do objeto para a clareira. Um desses relatos, o da Senhora Gracinda Coutinho da Sousa, chegou a ser publicado pela imprensa local. O objeto brilhante e laranja foi visto por dezenas de testemunhas, pairando sobre a floresta onde tudo aconteceu. Gracinda afirmou que o objeto estava "emitindo raios em todas as direções" enquanto pairava sobre a cabeça deles.

Por mais estranhos que fossem esses relatos, o caso sofreria uma reviravolta quando os investigadores souberam de outro incidente bizarro algumas semanas antes. Na noite de 13 de junho, uma "explosão violenta" abalou Atafona após vários dias de relatos persistentes de OVNIs. Apesar dos relatos iniciais de jornais brasileiros, estes abandonaram repentinamente a história. Uma espécie de acobertamento foi colocado sobre o caso. Os investigadores descobriram, no entanto, que alguns moradores relataram ter visto uma "bola de fogo" cruzando o céu pouco antes da explosão, enquanto pescadores atestaram ter visto um "objeto voador misterioso" cair no mar. Rumores também circulavam localmente sobre algum tipo de experimento bizarro envolvendo os eletricistas locais como responsáveis pela estranha explosão. 

Talvez o mais estranho seja o fato de Viana e Cruz estarem presentes nesse evento bizarro alguns dias antes de morrerem. Teria essa sido uma experiência preliminar do que viria a acontecer em Niterói dias depois? O que visavam atingir os dois homens com as Máscaras de Chumbo? 

Por muitas décadas ufólogos cogitavam que os dois homens poderiam estar envolvidos em uma tentativa de contatar discos voadores, mas a Dra. Pasulka crê que o objetivo deles era outro: contatar seres superiores através de um Portal e se reunir com eles. 
 
O Misterioso caso das Máscaras de Chumbo

Seja lá o que eles tencionavam realizar naquela clareira, o resultado parece ter saído do controle deles acarretando na morte acidental dos dois. É inegável que o caráter ritualístico do que eles cogitavam atingir deixa margem para muitas especulações. Seria um experimento científico? Uma busca por contato alienígena? Ou algo ainda mais misterioso? E qual o propósito das máscaras de chumbo que precisavam ser usadas sobre os olhos quando o momento chegasse?

O que torna esse caso inquietante ainda mais interessante é a aura de mistério que cerca o incidente. Há boatos de que radiação teria sido liberada no local e que a vegetação por anos apresentou uma deterioração localizada no ponto exato em que os corpos foram encontrados. Também havia o boato de que os cadáveres brilhavam no escuro, resultado de uma alegada descarga de radiação que os banhou pouco antes deles morrerem. Finalmente falou-se de militares brasileiros escoltando especialistas estrangeiros para visitar ao local onde tudo aconteceu. Amostras de terra teria sido obtidas para análise. 

E há o avistamento do OVNI testemunhado por vários moradores locais antes mesmo da descoberta dos cadáveres. Teriam eles, de alguma forma, invocado a nave usando métodos ritualísticos semelhantes aos de Jack Parsons? Teriam usado métodos experimentais nos moldes daqueles empregados por sociedades secretas? E mais importante o que visavam conseguir com o experimento? Não há como saber... mas o fato de as mortes permanecerem sem solução até hoje atesta sua enorme estranheza.

Seja qual for a verdade, investigadores de OVNIs descobririam um caso quase idêntico, cerca de quatro anos antes. Neste um técnico de televisão foi encontrado na mesma posição, também com uma máscara de chumbo sobre os olhos. Dizer que essa descoberta é apenas uma coincidência beira o ridículo. Além disso, relatos da época sugeriam a existência de algum tipo de Sociedade Secreta, formada por engenheiros eletricistas que realizavam experimentos com "ondas de pensamento de alta frequência" usando LSD para "aumentar o estado de alerta mental" e "alterar a frequência cerebral". 

Quando foi levado para interrogatório, o morador local Elci Gomes, amigo próximo de Viana e Cruz, alegou que ambos faziam parte de um grupo misterioso, cujos membros eram "especialistas e entusiasta de mistérios antigos". Embora Gomes tenha afirmado desconhecer o objetivo dos amigos, revelou que eles se dedicavam a descobrir uma forma de comunicação com seres do outro lado. Segundo Gomes, foram Viana e Cruz os responsáveis pela queda do objeto que explodiu em junho de 1966, apenas algumas semanas antes das mortes repentinas e trágicas. Ele supôs que os dois amigos estavam assustados com o que havia acontecido e com sua participação no incidente. Talvez tentassem corrigir algum erro.

Aqueles que responde ao chamado

Se essas duas mortes estão de alguma forma conectadas às práticas rituais utilizadas por cientistas e engenheiros, não há como dizer. Certamente parece que os tentáculos de tais alegações se estendem a muitas áreas diferentes. Se, como argumentamos anteriormente, a Corrida Espacial encontra eco em práticas ocultistas idealizadas por Crowley e testadas no Terceiro Reich, poderíamos nos perguntar quando essa comunicação entre a humanidade e inteligências não humanas teve início. Teria havido uma comunicação longa e contínua, talvez transmitida por sociedades secretas ao longo dos séculos? E se for assim, essas comunicações remontam ao início da Maçonaria ou antes?

Claro, se tudo isso for verdade, mesmo que apenas em parte, então poderíamos nos perguntar se essa comunicação ocorre atualmente e, em caso afirmativo, quem está envolvido nela nos dias atuais.

O mistério prossegue...

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Cinema Tentacular: "Faça Ela Voltar" um filme angustiante sobre perda e tragédia


Em 2022, Danny e Michael Philippou se tornaram nomes conhecidos entre os fãs do Terror com o sucesso inesperado de Fale Comigo, um filme assombroso sobre luto que acabou se tornando a produção de maior bilheteria da produtora A24 até então. Em Fale Comigo, o longa-metragem de estreia dos irmãos, a dupla ofereceu uma combinação impressionante de imagens bizarras ​​e momentos chocantes, tudo enquanto contava uma história sobre tragédia e luto. Foi assustador com certeza, mas o que realmente tocou o espectador foi a maneira como o filme lidou com o trauma de perder alguém tão próximo que não haveria limites para tentar tê-lo de volta, nem que por alguns instantes.

Em seu aguardado segundo filme, "Faça Ela Voltar" (Bring Her Back, 1925), os irmãos Philippou abordam novamente o trauma da perda. No entanto, enquanto Fale Comigo se concentrava nesse sentimento em um mundo de festas adolescentes e brincadeiras divertidas, Faça Ela Voltar é muito mais sério e perturbador. Em vez de adolescentes em busca de emoções fortes, a dor da perda se torna o cerne do segundo filme, deixando a dor se infiltrar em cada cena. Do início perturbador, com imagens caseiras granuladas, até a conclusão de tirar o fôlego, o filme tem o efeito de um soco na boca do estômago. 

Embora ambos os filmes explorem a natureza da perda, Faça Ela Voltar adota uma abordagem muito mais crua, que se deleita com a escuridão de maneira ainda mais assombrosa do que Fale Comigo. Juntos, esses dois filmes criam uma mistura fascinante de tristeza e terror que consegue ser enervante e trágica na medida certa.

Mas do que trata Faça Ela Voltar?

Podem ficar tranquilos, nada do que vou escrever aqui contém SPOILERS e não vai estragar sua (bem, digamos), diversão. 


(Aqui é interessante abrir um parênteses e falar sobre as situações perturbadoras que esse filme vai oferecer ao público. Não se trata de um filme palatável e imagino que muita gente vai ficar legitimamente incomodada com ele. Não me entendam mal, esse é em excelente filme, mas também é uma experiência indigesta e agonizante, para dizer o mínimo, portanto, estejam avisados).

Na trama, o adolescente Andy (Billy Barratt) e sua meio-irmã Piper (Sora Wong) voltam da escola um dia e descobrem que seu pai morreu no chuveiro. Em três meses, Andy terá idade suficiente para se tornar tutor legal de Piper, mas até lá, os dois serão enviados para morar com uma mãe adotiva, Laura (Sally Hawkins), e seu filho, Oliver (Johan Wren Phillips) que os recebem. Laura age de forma excêntrica, também está de luto pela morte acidental da filha, mas se apega a Piper imediatamente. As duas meninas tem em comum a deficiência visual e ela parece ver em Piper o reflexo de sua falecida filha.

Andy sente que há alguma coisa estranha com sua nova guardiã, para dizer o mínimo. Laura tem pensamentos estranhos sobre a morte e frequentemente se refugia em seu quarto onde assiste a vídeos perturbadores de um ritual aterrorizante. O pequeno Oliver também é muito estranho, ele anda por aí ou fica trancado em seu quarto por horas a fio, sem falar e aparentemente sem comer. Enquanto Piper se adapta ao novo arranjo, Andy percebe que algo estranho está acontecendo, ou será que o trauma da perda do pai o está fazendo ver coisas que não existem?

Aos poucos a aura de estranheza vai se intensificando a medida que segredos aterradores vem à tona.


Danny e Michael Philippou mostram que o talento apresentado no primeiro filme não é obra do acaso. A atmosfera lúgubre ajuda a criar um ar incômodo, mantendo certos detalhes ocultos do público para maximizar o terror de cada descoberta. Em "Faça Ela Voltar", o expectador é compelido a juntar as peças do quebra-cabeça para entender o que exatamente Laura está planejando. As pistas são oferecidas através de imagens borradas das fitas VHS, onde algo monstruoso e difícil de entender acontece. Fica claro que é algum tipo de cerimônia, mas o verdadeiro teor horrendo só irá se revelar no desfecho, e acredite, não será nada bonito.

O tema central do filme, a PERDA é mesclada com um terror, profundo, físico e por fim, corporal. Desde Hereditário eu não tinha uma reação tão visceral a um filme de terror. 

Laura, Andy e Piper são personagens muito bem construídos. Os três estão intimamente unidos pela tragédia e isso impacta em suas vidas cotidianas todo dia, toda hora, a cada segundo. O peso da perda de Laura é uma luta constante, fica claro que ela nunca a deixou ir. Já Andy se esforça ao máximo para preservar Piper e fazê-la superar, a um elevado custo emocional. O drama do trio protagonista vai se desenvolvendo em cenas que alternam estranheza e crueldade num ritmo vertiginoso. 

Faça Ela Voltar é realmente arrepiante, repleto de momentos surpreendentes que ficarão na sua memória coçando por baixo da pele. A dupla de diretores consegue manter o espectador na beira da poltrona com trechos inesperados e sombrios. Assustadora também é a maneira como eles manipulam o público com o mínimo de informação para que não possam fazer suposições razoáveis sobre o que está acontecendo. 

Não é exagero dizer que esse filme contém algumas das cenas mais surpreendentes que você verá em um filme de horror neste ano, contudo não é no susto e no choque que reside seu maior mérito. É a sensação tangível de desconforto, que faz nossa mente vagar para lugares escuros, que torna o filme uma experiência angustiante.


Sally Hawkins está fantástica como a mãe adotiva, Laura, que parece estar presa numa cápsula temporal: isso se reflete nas roupas que ela veste, nos vídeos que assiste em seus momentos de privacidade e por sua incapacidade geral de superar a morte da filha. Hawkins interpreta Laura com um nível compreensível de tristeza, uma mulher que faria de tudo para reaver a pessoa que mais ama. Sua vida foi arruinada e ela está desesperada para voltar a ser feliz. Isso não a impede de ser um monstro. É o tipo de atuação que só uma indicada duas vezes ao Oscar poderia retratar, e ela equilibra com perfeição tudo o que a personagem precisa ser.

Traga Ela de Volta também apresenta uma das melhores atuações de ator infantil dos últimos anos, com Jonah Wren Phillips como Oliver. Em um papel predominantemente silencioso, Phillips faz de seu personagem uma presença assombrosa, pairando como uma sombra excruciante sempre que está presente. Sem dizer nada, ele torna as coisas especialmente desconfortáveis com seu olhar vazio.

Em meio a tudo isso, Billy Barratt e Sora Wong, são o coração dessa fábula distorcida, conduzindo através de sua tortuosa jornada os acontecimentos mais infames. O roteiro nos faz torcer para que eles sobrevivam e que possam começar uma nova vida juntos e longe de seu passado. Os dois formam uma dupla adorável pela qual torcemos. Os papéis de Barratt e Wong são muito mais contidos, mas eles são a essência que faz o filme funcionar.

Filmes de terror sobre tragédia familiar e perda parecem estar em alta, mas inegavelmente coube a Danny e Michael Philippou dirigir os dois melhores exemplares sobre o tema. Assista a esse filme e prepare-se para ver algo que vai ficar com você por uns bons dias.

Trailer:


Poster:




domingo, 6 de julho de 2025

A Sombra sobre o Monastério - Mesa Tentacular de Cthulhu Idade das Trevas no DoffL 2025

 

Salvem investigadores e cultistas do Mythos.

Semana passada São Paulo recebeu a decima edição do Diversão Off-Line, chamado de o Maior Diversão Off-Line de todos os tempos. O evento que já se tornou referência juntou editores e empresas de RPG e seu público fiel. O evento, como sempre foi ótimo, congregando tudo ligado ao nosso Hobby, contando ainda com espaço para boardgames, miniaturas, impressão 3d, pintura e muitas outras atrações interessantes.

Na ocasião a Editora New Order disponibilizou um espaço (já tradicional) para mestres apresentarem os sistemas da editora, fazer demonstração dos jogos e trazer para nosso meio curiosos que estão aprendendo a rolar os dados.

Como é costumeiro aproveitei para narrar uma aventura de Chamado de Cthulhu, que sempre foi meu sistema favorito e que não canso de levar a eventos, sempre que possível.

Para essa edição quis tentar algo diferente, justamente com o objetivo de levar ao evento alguma coisa fora do habitual no universo dos Mythos. O escolhido foi Cthulhu Idade das Trevas em uma aventura autoral com o título "A Sombra sobre o Monastério", uma história clássica de horror, busca pelos mistérios do passado e inevitável tragédia.

O resultado? Muita sanidade perdida, loucura conquistada e um banho de sangue considerável.

Os Recursos da Aventura:


A trama central de "A Sombra sobre o Mosteiro" acompanha um grupo de viajantes à caminho de um monastério localizado em uma região isolada no coração da Europa Medieval. 


Os personagens da aventura eram um grupo bastante heterogêneo de habitantes da Era Medieval rumando para o Monastério de São Bartolomeu de Eberbach, nos confins do Sacro Império Roman Germânico, por diferentes motivos. 


O Irmão Albrecht, monge domiciano esperava se reunir com seus irmãos e conhecer a famosa biblioteca do monastério e sua vasta coleção. Acompanhado de seu jovem pupilo, o noviço Jorg de Meuric, que receberia instrução na vida clerical. 

Escoltando os dois por um terreno pantanoso traiçoeiro estavam o irmão mais novo do Barão de Taschen, o nobre e aventureiro Christoph e o estoico guerreiro veterano Torstein, que jurou protege-lo. Fechando o grupo, o salteador Gunther, salvo da forca para fazer o papel de guia e levá-los até o monastério.


Mas é claro, as coisas não seriam tão simples para esse grupo de viajantes seguindo pelas estradas escuras da Era das Trevas. A visita ao Mosteiro resulta na descoberta de uma tragédia que condenou os habitantes a um destino tenebroso nas mãos do que parece ser uma força sobrenatural.


A investigação da biblioteca, do scriptorium e dos aposentos particulares dos monges (com seus ocupantes mortos em quartos trancados por dentro) levanta questionamentos sobre o que se passou naquele lugar santo.

A descoberta mais importante, páginas de um livro proibido, levam o grupo a desvendar o horror que assolou São Bartholomeu.


A origem desse mal se encontra nas charnecas malditas no entorno do monastério, em um complexo de cavernas ancestrais que preserva em seu interior sinais da adoração de Deuses antigos quando o mundo era jovem. Câmaras que escondem coisas tenebrosas que ainda se arrastam nas profundezas insondáveis. Entidades aterradoras que respondem quando são chamadas. E que matam de forma implacável.

Fotos da Mesa:





Algumas fotos da nossa mesa de Cthulhu Era das Trevas, com o pessoal interpretando os investigadores medievais e tentando sair vivos dessa jornada pelo pavor.

Após explorar as câmaras profundas e catacumbas estígias, o grupo se depara com um horror inenarrável que e ergue de um fosso escuro para extrair a vingança dos deuses ancestrais e obter sacrifícios para seu altar ímpio.


E no fim, o resultado da aventura com os sobrevivente de pé e os investigadores tombados na parte da frente abaixados. O pobre Irmão Albrecht acabou sendo arrastado para as profundezas, enquanto Torsteim lutou até o ultimo fôlego contra uma besta que ele, apesar de sua experiência, descobriu tarde demais que não poderia derrotar. 

Ao menos os demais conseguiram escapar para contar a história...

Bem, é isso! Nos vemos ano que vem para mas um cenário de Chamado de Cthulhu. 

domingo, 29 de junho de 2025

Guerra Medieval - Como era uma Batalha Medieval real (parte 2)

Dando continuidade ao artigo sobre as Guerras Medievais.

FERIMENTOS HORRÍVEIS E SANGRENTOS

Com tudo que já se falou a respeito de armas e suas limitações, chega a hora de falar sobre os ferimentos que essas armas produziam e do efeito duradouro que elas deixavam nas pessoas.

As armas conforme dito, não eram feitas para parecerem bonitas, elas eram produzidas com o intuito único de cortar através do corpo. Armaduras ajudavam, mas bem menos do que se pensa. Uma cota de malha poderia desviar a lâmina de uma espada ou adaga, mas era pouco útil contra um machado. Mesmo as armaduras mais notáveis, forjadas com inegável genialidade para maximizar a proteção, não eram à prova de danos. Um ataque devastador de maça ou martelo poderia amassar uma armadura de placas como uma lata.

Registros feitos por cirurgiões de campo de batalha medievais sinalizam que mais de 40% dos danos sofridos por soldados vestindo armaduras incluíam ossos fraturados, à despeito da couraça de metal que os envolviam. Uma armadura também podia se despedaçar mediante um duro castigo, deixando passar e produzindo feridas na carne de quem as vestia. 

Armas medievais não produziam cortes limpos, elas muita vezes laceravam, despedaçavam e rasgavam ao invés de simplesmente cortar. Os ferimentos eram particularmente difíceis de serem costurados e tratados, tanto mais com a pouca habilidade dos médicos de campo. 

Muitas mortes eram resultantes da perda de sangue e do choque decorrente dela. Diferente do que vemos em filmes, o corpo humano perde uma quantidade absurda de sangue de maneira rápida se a ferida não for estancada. Um homem adulto possui algo entre 4,5 e 5,5 litros de sangue no corpo, mas perder cerca de 1 litro já pode levar ao choque e inconsciência. Um ferimento maior, digamos causado pela perfuração de uma lança ou a lâmina de um machado, pode fazer o sangue se esvair rapidamente levando à morte. O maior agravante é que muitos homens tomados por um surto de adrenalina podiam sequer sentir um golpe severo, até que a visão escurecesse e eles percebessem que estavam cobertos de sangue. Durante toda confusão e agitação de uma batalha, o coração bate mais rápido fazendo com que o sangue termine escoando mais rápido pela ferida aberta.

Mas o sangue não era a única preocupação de um combatente ferido. Os danos internos podiam ser ainda mais dramáticos do que os cortes visíveis. Um golpe de maça que nem rompia a pele podia causar hemorragia interna, partir costelas ou ferir algum órgão. Não havia nada a fazer, nada a costurar ou limpar, apenas uma dor lancinante e invisível irradiando de dentro para fora. 

Durante as batalhas, soldados aprendiam onde golpear para produzir o maior dano possível, e eles não perdiam uma oportunidade de desferir tais golpes. A cabeça, o pescoço e a nuca eram áreas muito visadas e se você se pergunta se decepamento era algo possível, saiba que era mais frequente do que se imagina. Dado o grande número de ataques voltados para essas áreas sensíveis, não era incomum que cabeças rolassem dos ombros. Um golpe na cabeça também podia atordoar e confundir a vítima, deixando-a incapaz de reagir e propensa a sofrer outros ataques. Danos de concussão eram bem mais frequentes do que se pensa.

Contudo, os danos massivos não eram os únicos a ocorrer numa batalha - uma miríade de outros ferimentos podiam ocorrer (e de fato, ocorriam). Dentes frequentemente eram quebrados e voavam da boca dos soldados quando seus elmos eram golpeados. Perder dentes dessa forma era tão comum que no final da batalha, alguns soldados buscavam por dentes que pudessem substituir os que eles próprios haviam perdido. Olhos também eram muito visados em ataques e homens com globos oculares perfurados não eram uma rara ocorrência. Ademais, havia o risco de fragmentos de armas se partirem e farpas se alojarem fundo na carne dos combatentes.

Pequenos ferimentos, que hoje em dia são tratados com iodo e pontos, muitas vezes eram fechados com agulhas, grampos ou suturados com linha grosseira. Pior ainda, os ferimentos raramente eram limpos e acabavam abrindo a porta para os mais temidos dos inimigos invisíveis: as infecções.

Não é preciso dizer como o mundo medieval era pouco afeito à limpeza. De fato, a importância de limpar ferimentos só foi compreendida muitos séculos mais tarde. Arquivos de monastérios atestam que a cada soldado morto no campo de batalha, outros três morriam de infecções posteriores ao ferimento sofrido. Mesmo homens que pareciam bem, acabavam ficando doentes e morrendo dias ou semanas depois. Isso nos leva a falar de...

TRATAMENTO E SOCORRO

No Mundo Medieval, o mais próximo de um hospital de campanha eram as tendas de atendimento aos feridos. Essas tendas eram distribuídas a alguns quilômetros do campo de batalha, de modo que os feridos precisavam ser carregados até elas ou então se arrastar para ter alguma chance de socorro.

Não é exagero dizer que atender um companheiro ferido em meio a batalha era tarefa praticamente impossível. Quando inimigos estavam à vista e armas eram brandidas ao redor, ninguém, absolutamente NINGUÉM, se descuidava de sua própria proteção para cuidar de alguém que tivesse sido atingido e que poderia já estar morto. A maioria dos feridos precisava se afastar da batalha e se afastar da linha de frente para ter a chance de receber a atenção de um companheiro.

A medida mais comum dos soldados para socorrer um colega ferido era amarrar cintos, tiras de couro ou panos sobre os ferimentos aparentes. Isso visava estancar o sangramento e conceder uma chance para chegar até alguém que pudesse fazer o atendimento. Note que não estamos nos referindo especificamente a médicos. No Mundo Medieval, médicos eram raros e se dedicavam a tratar dos ferimentos de nobres que pagavam por suas habilidades. Um soldado ferido que não tivesse título ou prestígio, ou pelo menos amigos, dependia da boa vontade de algum estranho que se importasse minimamente com ele. E isso, na maioria das vezes, era algo raro. 

Ainda assim, soldados veteranos aprendiam o básico sobre anatomia e podiam desempenhar algo semelhante a primeiros socorros para auxiliar um ferido. Alguns, em especial aqueles que haviam sobrevivido, eles próprios, a ferimentos tinham uma vaga ideia do que fazer, mas raramente tinham o necessário para atuar como um enfermeiro, quem dirá um médico e menos ainda um cirurgião. Flechas eram arrancadas inteiras sem muito cuidado, pontas de lança podiam ser extraídas de feridas sangrentas com os dedos e ossos podiam ser colocados no lugar sem grandes cuidados. Uma medida muito popular era cauterizar feridas com a ponta da adaga aquecida no fogo, algo doloroso e nem sempre efetivo. É preciso mencionar que a boa vontade de um samaritano podia piorar a situação do ferido, isso quando não acelerava a morte.

A situação nas tendas de feridos não era muito melhor. Os feridos eram colocados nessas tendas para que, com sorte, recebessem ajuda de algum monge que entendesse minimamente o que estava fazendo. Nem todos tinham esse conhecimento, mas alguns faziam o possível para aliviar as aflições dos feridos. Instrumentos médicos medievais eram rudimentares (para dizer o mínimo) e não passavam por qualquer procedimento de limpeza ou esterilização. Sangue e sujeira eram limpas no avental ou raspadas com pedaços de pano, se você tivesse sorte.

A taxa de sucesso em tratamento médico nessa época era de cerca de 30%. com os procedimentos mais comuns sendo uma combinação de cauterização, costura e amputação. Esta última era realizada muitas vezes preventivamente uma vez que a infecção mortal era quase uma certeza na maioria dos casos. Dessa forma, quando um ferido chegava a uma tenda médica com o braço ou perna feridos, o tratamento podia ser arrancar o membro o mais rápido possível, para assim evitar a temida gangrena.

Tendas Médicas eram ambientes insalubres onde homens sem treinamento formal ou com pouco conhecimento da anatomia, tentavam remendar ferimentos devastadores que mesmo a medicina atual teria dificuldade em sanar. Imagine o desespero de homens com membros sendo serrados, o terror de soldados se afogando no próprio sangue e homens sendo preparados para cirurgias rudimentares. A carne lacerada era remendada de maneira desesperada. Uma ferida podia ser coberta com emplastos de barro, argila ou fezes de pombo, as feridas eram costuradas com linha de crina de cavalo ou lancetadas com agulhas em brasas. Nem é preciso dizer que não existiam anestésicos eficientes e que a dor era quase palpável nesse ambiente caótico. Com sorte um ferido desmaiava e não testemunhava o horror do tratamento a que era submetido.  

NEM TODO DANO É FÍSICO

Após sobreviver ao horror e violência de um combate medieval, os combatentes podiam descobrir que nem todos os danos eram físicos. Muitos deles até podiam sair da experiência relativamente incólumes, mas com a mente fraturada para sempre.

Mesmo durante o calor da batalha, um soldado podia ter um episódio traumático. Muitos podiam ficar catatônicos, entorpecidos ou tomados de um terror tão grande que os impedia de agir. Nesse contexto, muitos apenas tentavam fugir, largando armas e escudos. Aqueles que ficavam descreviam incidentes perturbadores: como se as suas mentes começassem a pregar peças. 

O Campo de Batalha Medieval não testava apenas a força e resiliência física, ele era uma prova para a resistência emocional e mental dos envolvidos. Coisas estranhas podiam acontecer durante uma batalha, coisas para as quais nenhum treinamento podia prepará-los. Não era covardia ou uma falha em sua bravura, estava mais para uma confusão profunda que nublava a mente do combatente. A psicologia atual entende esse fator e tenta lidar com ele para diminuir os terrores do campo de batalha, mas se hoje não é algo fácil, imagine na época medieval.

"Onde estou"?, " O que está acontecendo"? e "Quem são essas pessoas"? eram perguntas que dominavam a mente dos soldados sofrendo de trauma emocional severo. Nessas condições eles não eram capazes sequer de se mover, de se defender ou responder a ordens. O senso de direção também era afetado e eles não conseguiam entender para onde deveriam ir. Isso fazia com que homens se perdessem e chegassem ao ponto de atacar as próprias posições. A perda do senso de direção era um efeito tão comum nas batalhas medievais que unidades inteiras podiam acabar lutando entre si. Isso explica porque muitas batalhas terminavam com os envolvidos batendo em retirada antes mesmo de se encontrarem. 

Muitos soldados afetados pelo trauma não conseguiam diferenciam aliados e inimigos, todos eram como vultos se movendo ameaçadoramente. Embora os exércitos se identificassem através de cores ou símbolos, as condições dos campos de batalha logo os cobriam de poeira, lama e sangue dificultando o reconhecimento. Em meio ao pânico golpes erráticos eram desferidos contra amigos e companheiros. Na célebre Batalha de Towtown na Inglaterra, algo em torno de 10% das vítimas foram mortas pelos próprios aliados.

Um dos traumas mais frequentes registrados em batalhas é causado pela visão de sangue. Um soldado podia se ver coberto de sangue da cabeça aos pés instantes depois de começar uma batalha (seu próprio sangue, o de aliados, de amigos ou de inimigos). A mente por vezes não consegue suportar esse tipo de incidente e se fecha para não registrar tal coisa. Em outros casos o indivíduo precisa descobrir se o sangue é seu e se está ferido, o que o expõe a ataques. Muitos combatentes descrevem a sensação surreal de estar coberto de sangue e não sentir qualquer ferimento. 

Nem todo soldado é talhado para o combate. A mente por vezes não é capaz de registrar todas as variáveis presentes em uma luta dessa magnitude e acaba recorrendo a memória muscular e instinto. O soldado recorre ao treinamento e rotina de luta para sobreviver - seus corpos lutam, enquanto suas mentes se desligam.  A visão se estreita para um túnel, os sons se tornam abafados, os sentidos embotados por percepções confusas. A forma dos inimigos se torna indistinta e difícil de reconhecer, eles são apenas sombras ou obstáculos. A "mente de batalha" é uma condição descrita pelos combatentes que envolve o distanciamento do que está acontecendo - eles sentem como se vissem tudo de fora, como se fossem outras pessoas lutando e não eles. 

Os soldados que sobrevivem à uma batalha muitas vezes não conseguem lembrar exatamente o que aconteceu. Há lapsos em sua memória e eles não sabem dizer quantos foram mortos ou quantos morreram por sua ação direta ou indireta. O tempo se alonga ou se comprime, eles não são capazes de dizer a quanto tempo estão lutando. Estudos atuais indicam que o cérebro humano não é capaz de suportar o stress contínuo de um combate face a face por muito tempo. Os estímulos visuais e a carga emocional contida nessas lutas é grande demais e acaba sobrecarregando o combatente. Medo, raiva e confusão são as emoções primais que sobrevivem em meio a carnificina e elas se sobrepõem a estratégia e tática. 

Diante de tudo que eles testemunham, a reação natural para muitos é fugir. Estudos afirmam que muitos soldados medievais simplesmente desistiam do combate depois de alguns minutos e tentavam escapar. Por mais que a história glorifique os combatentes audazes e os heróis que lutam até o fim, tal coisa era extremamente rara no mundo real. Ao atingir seu limite, muitos simplesmente tentavam correr, sobretudo os soldados rasos, camponeses e indivíduos alistados para combater em guerras que não eram suas. Em batalhas em larga escala, cerca de 40% dos envolvidos fugiam depois de alguns minutos de enfrentamento. 

O FIM DA BATALHA

Pode parecer surpreendente, mas muitas batalhas terminavam antes do esperado porque os soldados abandonavam o campo às pressas. Muitas retiradas eram motivadas pela ação de um ou mais grupos que fugiam em meio ao caos, fazendo com que outros tantos se juntassem a essa corrida desabalada.

A história registra até mesmo casos em que uma batalha que estava controlada e parecia vencida por um lado, acaba virando para o outro após uma retirada inesperada. Isso acontecia por conta de um comportamento de grupo no qual os indivíduos tendem a imitar o que a maioria ao seu redor estão fazendo. O efeito era tão danoso que estrategistas medievais mantinham homens na retaguarda incumbidos de eliminar desertores e fugitivos. Qualquer um que começasse a fugir podia ser derrubado por esses homens cuja função era evitar a reação em cadeia.

Outro fato curioso é que batalhas medievais começavam e terminavam de forma extremamente rápida. Os soldados, após o primeiro contato e a escaramuça resultante se mantinham em uma espécie de dança de contato por alguns minutos e então se separavam naturalmente deixando mortos e feridos no lugar que antes ocupavam. Batalhas longas e desgastantes eram a exceção na maioria dos casos.

Ao avistar o resultado de um avanço era comum aos atacantes enviar uma segunda vanguarda para sustentar a investida. Outra possibilidade é que os defensores perseguissem quem tivesse feito a ataque, eles próprios se convertendo nos atacantes. A batalha seguia dessa maneira em ondas indo e vindo pelo campo fustigado, coberto de corpos - mortos e feridos - sangue, destroços e lama. Soldados descreviam a experiência do combate como nadar num mar revolto no qual eram atirados de um lado para o outro, com o risco frequente de afogamento.

Quando uma batalha se encerrava, o som aos poucos ia diminuindo, sendo substituído pelo gemido dos feridos e gritos de dor lancinante. Os sobreviventes retornavam para suas posições ou debandavam após o resultado do confronto encerrando os enfrentamentos. Acordos diplomáticos assinados ainda na era medieval permitiam que monges e membros de ordens religiosas fossem os primeiros a entrar no campo de batalha afim de socorrer os feridos e verificar quem ainda poderia ser ajudado. 

Em seguida, o lado vencedor tinha o direito de revistar o lugar, enviando alguns voluntários para buscar por sobreviventes e espólios. Os companheiros feridos podiam ser recolhidos, mas os inimigos encontrados eram submetidos a Misericórdia, que provavelmente não é o que você está pensando. Em uma época em que não haviam leis e regras sobre o que fazer com prisioneiros de guerra, o tratamento dado aos inimigos feridos podia variar enormemente. A Misericórdia era um método aperfeiçoado pelos exércitos medievais de eliminar os inimigos feridos de maneira rápida e aparentemente indolor. Para isso, uma lâmina semelhante a um espeto era enfiada sob a axila esquerda até perfurar o coração do ferido, matando-o imediatamente. No que tange à Idade Média, esse tratamento era considerado humano já que abreviava o sofrimento de feridos que dificilmente receberiam auxílio. 

Mas nem todos os exércitos adotavam a "misericórdia" e muitas vezes os prisioneiros estavam fadados a sofrer todo tipo de indignidade nas mãos de seus vingativos feitores. Há relatos de enforcamentos em massa, decapitação e até crucificação. Por vezes os prisioneiros podiam ser libertados, mas não antes de sofrer com alguma vingança. As tropas francesas costumavam arrancar os dedos dos arqueiros ingleses capturados usando para tanto alicates em brasa, enquanto os Venezianos se notabilizaram por vazar os olhos de seus prisioneiros para que eles jamais pudessem lutar novamente. Por essa razão, os feridos que ainda conseguiam se mover tentavam à todo custo se esconder ou pelo menos parecer mortos. Há relatos de um soldado do século XIII que se escondeu no estômago de um cavalo morto por três dias para escapar dos vencedores.

Uma notável exceção a essas regras quanto a prisioneiros dizia respeito a nobres. Poucas coisas podiam ser mais lucrativas a um exército do que capturar um nobre inimigo de alta estirpe. Isso acontecia porque na Era Medieval vigorava um sistema de resgate no qual o filho de um Barão, Conde ou mesmo um Herdeiro poderia ser devolvido mediante uma compensação. E estes resgates eram realmente vultuosos, tendo dado origem ao termo "Resgate Real". O resgate de um nobre podia gerar dinheiro o bastante para pagar os custos de uma campanha e reequipar uma tropa. Não por acaso, nobres que iam para a batalha carregavam cartas que os identificavam como indivíduos importantes que valiam mais vivos do que mortos.

Quando finalmente os campos silenciavam por completo, era a vez dos corvos e moscas dividirem os restos mortais com outro tipo de carniceiro: Saqueadores. Na Idade Média vasculhar campos de batalha era uma ocupação razoavelmente rentável que atraía homens, mulheres e crianças. Os saqueadores se concentravam em recolher armas, armaduras e qualquer pedaço de equipamento que ainda pudesse ser aproveitado. Além desses troféus óbvios, havia um mercado ávido por outras mercadorias que iam de botas, até uniformes, passando por dentes e até ossos. A economia medieval girava em torno da guerra e nenhum aspecto dela podia ser menosprezado. Verdadeiros bazares itinerantes surgiam no rescaldo de um combate com guerreiros e soldados comprando armas para se reequipar para os próximos embates. Barraquinhas de venda ou carrinhos de madeira expunham as peças que podiam ser adquiridas por algumas moedas.

Os cadáveres e restos dos combates em geral eram enterrados em valas comuns. As mesmas ordens monásticas que recuperavam feridos recebiam doações de ambos os lados para providenciar os ritos fúnebres e o sepultamento dos cadáveres. A preocupação com o destino dos cadáveres era pouco importante, de modo que covas comuns eram a escolha predileta para limpar os campos. Arqueólogos modernos encontram frequentemente valas comuns próximas de onde ocorreram batalhas importantes, estes comumente contém os restos mortais de homens que lutaram em lados opostos.

E PARA QUEM SAIU VIVO

O fim de uma Batalha Campal era um momento de retornar para os seus. Muitos soldados com pequenos ferimentos podiam se dar ao luxo de planejar seu futuro; contemplar a possibilidade de um próximo combate ou com sorte aposentadoria.

Nos filmes vemos celebração e camaradagem, gritos de vitória e hurras, mas raramente esse era o caso. 

Terminada a luta, muitos precisavam de horas ou mesmo dias para assimilar tudo pelo que passaram. Os homens geralmente necessitam de tempo para superar traumas e violência irracional e isso era verdade mesmo para os soldados medievais mais endurecidos. O esgotamento nervoso e físico era brutal. Era muito comum que os sobreviventes bebessem, e bebessem MUITO como uma forma de aplacar o horror ao qual foram expostos. A bebida forte nublava os sentidos e diminuía a sensação de alerta que tomava conta dos soldados no pós-guerra. Dormir não era algo fácil nos dias seguintes por isso o consumo de álcool ocorria até o estupor chegar. Um cronista medieval escreveu que após uma batalha os homens beberam por três dias seguidos, como se quisessem afogar em copos de cerveja o horror que testemunharam.

Não estar morto era motivo de felicidade. Eles haviam participado da mais letal Dança das Cadeiras e quando a música parou conseguiram um lugar entre os vivos. Alguns pensavam nos que não tiveram tanta sorte e era comum que se fizesse uma coleta para ajudar as famílias dos que haviam perecido. Também havia espaço para agradecer a Deus pela dádiva, a oportunidade de estar vivo. Após as batalhas missas eram oferecidas e mesmo soldados não muito afeitos a religião se viam na obrigação de agradecer a uma força superior que talvez os protegeu.

Nos campos agora desertos e quietos, capacetes e elmos eram colocados na ponta de lanças partidas marcando onde os mortos foram empilhados. Logo a natureza iria retomar para si o lugar, cobrir tudo com vegetação e o local onde tantos lutaram e morreram seria esquecido. 

E assim ocorriam guerras medievais e assim foi por muitos séculos nos atribulados séculos da Era das Trevas. A modernidade e progresso logo trariam outras formas de lutar, outras maneiras de matar e morrer. As lutas se tornariam menos face a face e a possibilidade de derrotar os inimigos de longe, dominariam a arte da guerra nos tempos vindouros.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Mão de Ferro - A vida do brutal comandante Gotz Von Berlichengen



Gotz Von Berlichengen, mais conhecido pelo apelido de "Gotz da Mão de Ferro", foi um Cavaleiro Teutônico cuja vida real soa como uma versão hiper violenta e bizarra do personagem Ash da franquia Evil Dead, mais especificamente Army of Darkness. Não apenas pela atitude, mas pelas palavras que marcaram época. Por exemplo, em 1520, Gotz e uma pequena guarnição estavam em uma cidadela sitiada por um exército inimigo muito superior. Quando o comandante inimigo ofereceu a ele rendição, Mão de Ferro teria se tornado a primeira pessoa na história a responder dizendo "eu me rendo quando você vier aqui e beijar meu traseiro". Até onde sei sabe, a historia registra que ele foi o primeiro a usar essa expressão popular até os dias atuais - "Kiss my Ass".

Na sua Alemanha natal, ele é tratado como um Robin Hood e considerado uma espécie de anti-herói até os dias atuais. Gotz teve uma carreira militar que durou 47 anos em uma época em que a maioria das pessoas raramente viviam até os 47 anos. Ele foi um Cavaleiro Germânico Teutônico no século XVI, travando batalhas e servindo em Guerras Civis em toda Europa Central. Inimigo ferrenho do Sacro Império Romano, participou de incontáveis lutas, escaramuças e confrontos. Fazendo juz ao seu apelido de "Mão de Ferro" ele esteve em várias batalhas usando uma prótese no lugar da mão esquerda arrancada numa batalha.

Seu nome, em alemão, aparentemente também era uma espécie de apelido, já que Gotz se assemelha muito a "Gutz" que significa "coragem". Verdade ou não, ele era um tipo de casca grossa que marcou época pela sua determinação, violência e habilidade marcial.



Nascido no ano de 1480 em Wurttemberg, Gotz se alistou no exercito aos quinze anos, embora ele parecesse mais velho e forte segundo todas as narrativas. Sendo de uma familia notável, Von Berlichengen fazia parte de uma longa linhagem de Cavaleiros Imperiais. Seu primeiro combate foi na Guerra dos Suevos na qual ele teve participacao notável. Aos quinze anos teria matado pelo menos oito homens em combate direto, usando machado e maça, suas armas favoritas que ele usava para esmagar o crânio dos inimigos.

Ele aprendeu com os demais guerreiros veteranos as práticas da epoca que envolviam cercar castelos, incendiar cidades e enforcar camponeses e soldados inimigos. Gotz aos 16 anos ja tinha seu próprio cavalo de guerra, um presente de um companheiro de armas que disse brincando: "se você conseguir montar essa besta, ela é sua, mas você pode muito bem morrer tentando". 

Gotz não apenas domou o enorme cavalo negro, como o tornou sua montaria favorita. Alguns diziam que tamanha era a fama dele ao cavalgar esse animal que a grama nao crescia por onde ele passava (algo que se falava também de Átila, o Huno).

Aos vinte anos, Gotz deuxou os Cavaleiros Imperiais e se tornou um comandante mercenário, um dos mais jovens de seu tempo. Seus homens o adoravam, mesmo os mais experientes, pois Gotz tinha fama de permitir saques quando suas tropas desempenhavam bem. Ele alugou sua espada para diferentes contratantes, oferecendo seus préstimos a quem pagasse mais. Ele imediatamente encontrou trabalho com o Duque da 
Bavaria, que enviou Gotz para a Batalha de Landshut em 1504. 

Em menor número, Gotz recorreu a uma estratégia que envolvia fazer ataques ousados usando sua cavalaria, contornando as linhas inimigas e pegando os oponentes de surpresa. Sua tática de guerrilha deu tão certo que ela se tornou famosa sendo estudada e imitada por generais na segunda guerra mundial usando tanques ao invés de cavalaria.



Foi nesse conflito que ele perdeu a sua mão, ferida por um estilhaço de bala de canhão. O ferimento infeccionou e ele acabou perdendo parte do braço que precisou ser amputado. 

Para muitos guerreiros, ter a mão explodida por uma bala de canhão seria o fim da carreira, mas Gotz Von Berlichen, nao era como os outros guerreiros. Fiel a sua casca grossa ele teria dito: "Eu tenho outra mão para empunhar uma espada".

O que poderia ser o fim da historia, se tornou apenas o início de sua lenda.



Em 1506, Von Berlichengen recebeu uma alta condecoração por sua brilhante resistência, na ocasião em que ele proferiu a famosa frase envolvendo "beijos e traseiros".

Como reconhecimento ele ganhou como presente uma mão prostética construida por mestres armeiros e engenheiros. A peça, verdadeira obra prima da metalurgia medieval, foi presa ao seu braço mutilado, por uma série de amarras, tornando-se um substituto perfeito. Usando um sistema de alavancas e molas, Gotz podia manipular os dedos de ferro individualmente, permitindo assim fazer quase tudo, de manipular uma espada a cavalgar, atividades essenciais a um guerreiro. A prótese era tão bem feita que ele era capaz de ações delicadas como segurar uma pena para escrever ou um garfos para comer. Melhor que isso, a mão era pesada o bastante para ser usada como arma, podendo golpear com toda força de um punho de ferro.

Com sua nova mão e coragem renovada, Gotz Von Berlichengen continuou a liderar sua tropa, expandindo sua Companhia de Mercenários em um verdadeiro exército com sete mil homens. Em 1512 ele se meteu em problemas por compartilhar com seus homens as riquezas pilhadas de um nobre alemão. A transgressão fez com que ele perdesse seu status como comandante por alguns anos. 

Não muito tempo depois ele acabou enfrentando novas acusações, dessa vez por raptar o Conde de Waldeck e cobrar resgate de sua influente família. A pratica de cobrar resgate era muito comum na época, mas Gotz havia feito prisioneiro um aliado e se recusava a libertá-lo. Irritado com o jogo da nobreza feudal, ele se envolveu numa Revolta de Camponeses ocorrida em 1525. Gotz esteve à frente da luta, enfrentando seus antigos contratantes. Ele se tornou uma espécie de herói para os plebeus, ja que era extremamente generoso com os espólios das batalhas, permitindo que até o mais humilde servo de gleba recebesse uma porcentagem dos ganhos nas pilhagem. 

Mas apesar de sua liderança, a Revolta camponesa acabou sendo esmagada, terminando em vários massacres nas mãos do Exército Imperial. Uma vez que o Imperador conhecia e respeitava Gotz, ele lhe deu chance de se explicar. De alguma forma ele conseguiu convencer o Imperador de que "os nobres e aristocratas o forçaram a pegar em armas" e ele se safou de uma execução quase certa.



Gotz Von Berlichengen, então um veterano com mais de 30 anos, voltou para suas terras disposto a desfrutar de sua riqueza. Ele se ocupou em ter vários filhos legítimos e ilegítimos que adorava instruir na arte de lutar e cavalgar. Também desfrutava dos passatempos de um típico senhor feudal. Há uma historia "divertida" dessa época que envolve uma caçada que terminou com o comandante aposentado matando um javali com um golpe de sua manopla de ferro. Mas apesar de toda diversão, a vida pacífica de fazer herdeiros e participar de caçadas não era tão excitante quando o perigo de uma campanha militar.

Dessa forma, em 1542 aos 62 anos, o guerreiro decidiu sair da aposentadoria e viajar até a Hungria para auxiliar seus vizinhos europeus a lidar com a a Invasão dos Turcos. Ele foi parte da campanha que expulsou o Exército Otomano da Hungria e que permitiu a consolidação do Reino. Na Hungria ele também se tornou uma espécie de herói nacional apesar de seu historico de massacres e gosto exagerado por execuções de prisioneiros. Alguns documentos atestam que Gotz ordenava frequentemente que as masmorras fossem limpas de prisioneiros promovendo execuções em massa. Quando um de seus imediatos disse que nao havia como alimentar os prisioneiros, ele simplesmente deu de ombros e disse: "Mortos não comem e não precisam ser vigiados".

Depois desse sucesso na frente oriental, o Exército de Gotz debandou, mas ele conseguiu manter uma tropa que novamente abraçou a causa mercenária. Ele foi contratado para liderar uma ofensiva contra os franceses na qual se saiu vitorioso em várias batalhas. 

Com uma carreira de quase 50 anos combatendo bávaros, suevos, turcos, nobres germânicos e franceses, Gotz Von Berlichengen finalmente estava pronto para se aposentar de uma vez por todas.

Ele escreveu sua autobiografia, que foi um surpreendente sucesso e se tornou uma espécie de conselheiro militar de seus filhos e netos. Eventualmente ele acabou morrendo em 1560, aos 80 anos, gozando de relativa saúde ate seus últimos dias - uma façanha notável para alguém que serviu como soldado em diversas guerras e que carregava vários ferimentos.

O dramaturgo Goethe escreveu uma peça sobre ele em 1773 que continua popular nos dias atuais, e até mesmo Mozart fez referência a famosa frase "Beije meu traseiro" em 1780. Na Segunda Guerra, um submarino foi batizado com seu nome, enquanto a 17ª unidade de Tanques recebeu o título de Unidade Gotz Von Berlichengen.

Mais recentemente, o Guerreiro se tornou referência na Cultura pop. O anime japonês Berserk é baseado em sua tumultuada vida. Um dos vilões favoritos da ambientação Dragonlance, Lord Soth, o infame Cavaleiro da Rosa Negra tambem foi inspirado em Gotz. Finalmente ele foi a base para o personagem Jaime Lanister de Game of Thrones que também tinha uma prótese no lugar da ação perdida em combate. 

Sua Mão de Ferro e armadura favorita estão em exposição no Museu de Guerra do Castelo Jagsthausen.