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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Nosferatu - Resenha do grande filme de terror do ano

Vou começar essa resenha com uma constatação. Quando se trata de filmes de terror, eu não me assusto facilmente. Não estou me gabando sobre minha suposta bravura; mas é fato que ao longo dos anos e de inúmeros filmes assistidos, sinto que ganhei certo grau de resistência. Eu cresci cercado por filmes de terror, e sou tão devoto ao gênero que me sinto imune ao seu poder bruto. Eu amo terror — é um dos meus gêneros favoritos — mas raramente fico assustado quando assisto a um filme de terror. Então, quando um filme realmente me causa arrepios, eu considero isso algo digno de nota. 

Entra em cena "Nosferatu" do diretor Robert Eggers, um filme que me arrepiou e fez meu coração bater mais rápido. Eu senti que isso poderia acontecer e tomei a decisão acertada de assistir esse filme no cinema: no escuro, com som potente e mergulhando na trama, absorvendo cada detalhe. Esse não é um simples filme de terror, é um acontecimento.   

O diretor fez algo especial aqui: produziu um filme fantasmagórico, gótico e macabro como há muito não era realizado. A obra é ainda mais impressionante devido ao fato de que Eggers não está exatamente pisando em terreno novo aqui — ele está refazendo o clássico filme mudo de F. W. Murnau, que foi, é claro, fortemente (e ilegalmente) influenciado pelo maior clássico de vampiros de todos os tempos, "Drácula". A abordagem de Eggers se mantém bastante próxima aos eventos do filme de Murnau e do romance de Bram Stoker, e ainda assim, o cineasta cria algo que nunca parece uma repetição ou uma regurgitação dos elementos. O resultado é impressionante, com cenas belíssimas e doentias, imagens perturbadoras e uma aura sufocante de medo.

Eggers, que dirigiu "A Bruxa", "O Farol" e "O Homem do Norte", é um cineasta aparentemente obcecado pelo passado. Todos seus filmes, incluindo "Nosferatu", estão firmemente enraizados em eras passadas, em uma busca pela visão de uma determinada época da forma mais fiel possível. Soma-se a isso um talento especial para criar uma sensação de autenticidade. Não sou historiador, então não posso comentar sobre o quão "precisos" os filmes de Eggers são, mas tudo ali parece incrivelmente correto, pesquisado, transbordando autenticidade. 

O diretor é habilidoso em contar histórias que têm um senso tangível de realidade. "Nosferatu", como todos os filmes anteriores de Eggers, não parece uma recriação — realmente parece que estamos de alguma forma observando o passado. É o equivalente a abrir uma janela para outra época. A trama se passa em 1838, com figurinos, cenários e ambiente nada menos do que deslumbrantes gerando um mundo frio e estéril. Aliás, o filme é impecável em cada quesito técnico.

Mas e quanto à história? 

Bem, se você viu o "Nosferatu" original, ou o remake de Werner Herzog de 1979, ou ainda, qualquer adaptação de "Drácula", estará familiarizado com a trama: um vampiro antigo e estrangeiro tem como alvo um grupo de personagens jovens, trazendo morte e destruição para todos que cruzam seu caminho. Mas Eggers encontra maneiras eficientes de contar essa história e usar a familiaridade como arma; esperamos que a história se desenrole de uma certa maneira, e ficamos surpresos quando as coisas seguem um caminho um tanto diferente. São pequenas mudanças, mas todas elas muito bem executadas. A trama segue sob uma atmosfera genuinamente sombria, com inúmeras cenas que se desenrolam sob a lógica de um sonho febril ou de um pesadelo surreal.

Quando "Nosferatu" começa, o ambicioso advogado Thomas Hutter (Nicholas Hoult) recebe a proposta de seu chefe, o obscuro Sr. Knock para viajar a trabalho e receber uma promoção. Ele deixa sua casa em Wiesburg na Alemanha com o objetivo de chegar até uma terra remota nos recessos da Transilvânia. Lá deverá fechar um acordo imobiliário com o misterioso Conde Orlok (Bill Skarsgård). A viagem é uma jornada através de um Leste Europeu imerso em superstição, costumes bizarros e folclore estranho. Quanto mais se afasta da familiaridade de sua casa idílica, mais Hutter sente estar avançando num ambiente perigoso e nefasto. A cena em que ele encontra um grupo de ciganos é carregada de estranheza e desconfiança esmagadoras.  

Mas o pior ainda está por vir! Ao chegar ao Castelo decrépito do Conde, nas Montanhas dos Cárpatos, o  advogado se vê diante de um pavor indescritível. Orlok não é um mero homem — ele é um vampiro antigo com sede de sangue... e mais. Seus planos são aterrorizantes e envolvem não apenas a perdição de Hutter, mas de tudo que ele ama e preza. Não é apenas sua vida que está em perigo, mas tudo que está ao seu redor. 

Skarsgård tinha um desafio e tanto quando aceitou esse papel. Orlok é um dos monstros mais icônicos do cinema, interpretado de forma memorável por Max Schreck, Klaus Kinski e outros ao longo dos anos. É o tipo do papel que consagra ou desgraça uma carreira. Em vez de recriar o personagem seguindo a fórmula de seus antecessores, o filme ousou reinventar o protagonista. 

A clássica aparência do monstro, com feições de roedor, que Schreck e Murnau empregaram tão efetivamente foi profundamente alterada para esse filme. Não vou estragar a surpresa, já que o marketing fez de tudo para mantê-lo em segredo, mas efetivamente a maquiagem transforma Skarsgård em algo sobrenatural e apropriadamente desumano. Empregando um sotaque profundo, imponente e gutural, Skarsgård desaparece completamente no papel e se transforma no personagem. Seu Orlok parece antigo; podemos praticamente sentir o cheiro dos séculos de podridão, mofo e corrupção sepulcral cobrindo sua carne macilenta.

Mais do que alterar a imagem icônica, o roteiro vai mais além ao estabelecer indícios de que o Conde sempre foi algo perverso, mesmo quando estava vivo. Praticante de artes negras e ciências proibidas, o personagem é o próprio mal encarnado, uma entidade que invoca uma aura de inenarrável força sobrenatural. Essa noção de tornar Orlock um ocultista calejado é um aceno às origens traçadas por Albin Grau que na obra original despejou sob o Conde uma série de elementos arcanos. Diferente do Drácula de Bran Stoker, o vampiro de Nosferatu é um feiticeiro de maldade irrefreável. Não há nada nobre nele. Nada de romântico. Ele não deseja a redenção, pois mesmo que ela estivesse ao seu alcance, não é esse seu objetivo. Orlock existe apenas para espalhar a morte, a doença e a destruição.  

A câmera e a fotografia mantêm Orlok imerso nas sombras — nunca temos uma visão clara dele, o que torna o personagem ainda mais misterioso. Ele é como um vulto que surge no canto dos olhos, uma sombra que desliza e que se mescla com a escuridão premente.

Orlok tem mais em mente do que simplesmente adquirir uma nova propriedade. Ele é atraído pela noiva de Hutter, a problemática e melancólica Ellen, interpretada de forma hipnotizante por Lily-Rose Depp. A protagonista feminina desempenha um papel muito mais importante nessa trama do que nas versões anteriores. Ela não é uma mocinha desamparada que aguarda ser salva pelos demais personagens, ao invés disso, ela tem maior compreensão do que está acontecendo a sua volta. Ela também tem um vislumbre do que precisa ser feito para derrotar a criatura monstruosa e qual o preço que deverá ser pago.  

A atuação de Depp é notável alternando fragilidade e força arrebatadora. Nas cenas em que o Vampiro tenta possuir seu corpo (e alma) ela se entrega a uma interpretação visceral que traduz o tormento pelo qual está passando, lutando não só contra Orlok, mas com seus próprios demônios internos. Depp se joga no papel literalmente, abraçando um componente físico perturbador. Quando ela é arrebatada pelo Conde, seu corpo reage violentamente, tentando expulsá-lo em espasmos frenéticos. A cena resultante é nada menos do que apavorante. 

Ellen e Orlok têm um tipo de vínculo que influencia todos os aspectos do filme. Um prólogo de abertura (novamente tétrico) mostra que Ellen aparentemente convocou essa criatura da noite por meio de suas próprias paixões inflamadas; um misto de luxúria e depressão simplesmente irresistível para o monstro. Ele literalmente a alcança através dos golfos do tempo e espaço para cumprir uma espécie de contrato firmado nos sonhos febris da jovem.

A jornada do navio que carrega o Conde e seu caixão através de mares escuros é memorável. As cenas de horror dos tripulantes expostos a um monstro morto-vivo que os caça são medonhas. Quando Orlok finalmente chega à Alemanha, traz consigo hordas de ratos e a peste. Ele é a morte personificada; um cadáver ambulante que se alimenta dos vivos. Aliás, Eggers faz o vampiro se alimentar de uma maneira diferente da tradicional mordida na jugular. 

Logo, todos ao redor de Ellen são colhidos no tormento e no horror, incluindo sua querida amiga Anna (Emma Corrin) e seu confuso marido, Friedrich (Aaron Taylor-Johnson) os dois ótimos. Todo filme de vampiro que se preze precisa de caçadores, o que traz o Dr. Sievers (Ralph Innerson, com seu vozeirão) à trama. Percebendo que o problema está muito além de seus talentos médicos, ele procura seu antigo professor, o alquimista Albin Eberhart Von Franz, interpretado com a pitada certa de insanidade pelo grande Willem Dafoe. Ele tem as melhores falas do filme, incluindo um trecho em que proclama: "Eu vi coisas que fariam Isaac Newton rastejar de volta para o ventre de sua mãe!"

Assim como o Conde, inclinado para o estudo do oculto, Von Franz, o equivalente a Van Helsing, é um estudioso das artes místicas, detentor de um conhecimento que quase destruiu sua carreira e o condenou a loucura e esquecimento. É ele quem irá buscar uma solução para a situação dramática dos protagonistas e também da cidade, arremessada para um caos de morte e doença desde a chegada do monstro.  

O roteiro trabalha muito bem a função de cada um desses personagens, simples mortais, que se chocam com o mal indizível representado pelo Nosferatu. Ninguém sairá desse confronto intocado e cada um deles sofrerá com o embate até o confronto final. 

Auxiliado por uma fotografia deslumbrante à luz de velas e por uma trilha sonora arrebatadora e trágica, Nosferatu causa uma espécie de overdose sensorial. O som é incrível tornando quase uma necessidade assistir em uma sala com som de alta qualidade - para ter a sensação de ouvir a voz do Conde como se ele estivesse sussurrando em seu ouvido. A trama oferece alguns sustos concebidos com a eficiência de efeitos práticos - pouco ou nada, foi criado digitalmente. O verdadeiro pavor, entretanto surge em meio ao caos em que tudo está imerso. Como a própria morte, Orlok parece inevitável e quando ele está na tela sua presença se mostra implacável. 

Eu já vi muitas adaptações de "Drácula", filmes e livros, conheço a história de cabo a rabo, mas "Nosferatu" conseguiu me pegar de surpresa e me desarmou totalmente. Ele é tão marcante que mesmo quando o filme acaba, mesmo quando acendem as luzes, as imagens ficam gravadas na sua mente. Não é exagero nenhum considerar "Nosferatu" não apenas um ótimo filme de terror, talvez o melhor da década, mas também, desde já, um dos melhores filmes do ano.

Trailer:

Poster:

 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Perseguindo Sombras - Os 100 anos e o legado imortal de Nosferatu


Para muitos fãs de horror, o filme Nosferatu de Robert Eggers é o filme mais esperado do ano, talvez, até mesmo da década até aqui. Ele teve uma história conturbada com muitos trancos e barrancos ao longo do caminho antes de finalmente chegar às telas após quase uma década em produção. 

Sem dúvida, há muito em jogo e esse é um legado difícil de seguir dada a importância das obras que o antecederam, mas se o burburinho pré-lançamento servir como indicativo, o filme deve exceder as expectativas monumentais ao seu redor.

A história de Nosferatu remonta a mais de cem anos e é um dos maiores e mais consistentes legados de terror no cinema. Ostensivamente ele reconta a trama clássica de Drácula, mas com fundamentos muito mais sinistros do que a maioria das histórias "oficiais" do vampiro mais famoso de todos os tempos. Nosferatu em todas as suas formas se inclina para as ideias de peste, desespero e ocultismo com imagens que estão entre as mais perturbadoras de todo gênero Terror. 

Vamos falar um pouco de cada uma dessas encarnações do terrível Conde Orlock nas telas:

Nosferatu: Uma Sinfonia de Horror (1922)

Embora o filme original tenha sido atribuído ao brilhante diretor alemão F.W. Murnau, a verdadeira força motriz por trás de Nosferatu: Eine Symphonie des Gauens foi seu produtor/diretor de arte Albin Grau. A grande historiadora do cinema expressionista alemão Lotte H. Eisner descreveu Grau como um "espiritualista ardente", mas hoje podemos muito bem chamá-lo de ocultista devoto. Ele viu imediatamente o potencial cinematográfico de Drácula de Bram Stoker, mas não tinha, nem ele e nem sua pequena produtora, a Prana-Film recursos suficientes para adquirir os direitos sobre o romance. Sendo assim, ele, junto com o roteirista Henrik Galeen, elaborou um roteiro que eles acreditaram poderia escapar despercebido do olhar atento da viúva de Stoker, Florance. 

O roteiro alterou os nomes e os locais do romance, mantendo sua estrutura básica. Jonathan Harker se tornou Hutter, Mina se tornou Ellen, Van Helsing se tornou Professor Bulwer, Renfield se tornou Knock e Drácula se tornou Conde Orlok. A ação principal foi traduzida da Inglaterra para a cidade de Wisborg, Alemanha. Na verdade, todo o romance complicado é simplificado para três cenários principais: o Castelo na Transilvânia onde Orlok vivia, o navio que o leva até Wisborg e a pequena cidade alemã em si. São três ambientes distintos que reúnem o início, meio e fim da trama.

O que dá a Nosferatu seu caráter singular são os muitos desvios do material de origem. Embora as raízes da história original ainda sejam identificáveis, ela ganha um caráter diverso pelas referências visuais únicas. Isso é percebido mais claramente no visual macabro do Conde Orlok, uma aparência única e diferente do idealizado por Bran Stoker em seu romance. É bem provável que a forma tétrica do conde tenha sido projetada por Grau, como implícito em seus desenhos de pré-produção. Seu vampiro não tem nada de charmoso, belo ou atraente - pelo cntrário, ele é monstruoso até a última fibra de seu ser. Grau muito acertadamente escolheu destacar as características físicas do ator Max Schreck usando maquiagem e próteses, dando destaque a sua cabeça calva e concedendo a ele dentes afiados localizados centralmente em sua boca. O resultado final é assustador, o vampiro ganhou uma aparência única de morcego ou rato que ressaltou os temas de peste do filme. 

Assim como no remake de Egger, o Nosferatu de Murnau estava a apenas quatro anos do auge de uma pandemia global que ceifou milhões em todo o mundo. As pessoas ainda se recuperavam de suas perdas e  filme ganhava dimensão ao acessar esse drama recente. Justa ou injustamente, o rato serviu como símbolo da peste por séculos, graças ao seu papel na disseminação da peste bubônica por toda a Europa medieval. Em retrospectiva, a praga de ratos também pode ser interpretada como uma indicação do clima político e social da Alemanha sob a República de Weimar, que governou a nação do fim da Primeira Guerra Mundial até 1933, como sendo solo fértil para ideias pestilentas se consolidarem. Isso, é claro, se concretizou na ascensão de Hitler e do partido nazista, apenas onze anos após o lançamento de Nosferatu.

Hoje, o filme é corretamente considerado uma obra-prima e F.W. Murnau, em grande parte por causa de Nosferatu, foi declarado por Lotte Eisner como "o maior diretor de cinema que os alemães já conheceram". A direção de Murnau, juntamente com a brilhante cinematografia de Fritz Arno Wagner, infundiu Nosferatu com algumas das imagens mais inesquecíveis de toda a história do cinema. O surgimento de Orlok de seu caixão a bordo do navio, sua sombra subindo a escada para o quarto de Ellen (Greta Schröder) antes de se estender pela porta da câmara, Orlok agarrado às molduras das janelas de sua casa abandonada. Tudo isso foi tão inovador e surpreendente que marcou um novo e vibrante estilo de filmagem. Não é de se admirar que o filme tenha capturado a imaginação de cinéfilos e cineastas por mais de um século, e é um atestado de sua importância que ele continue tão relevante.  

De certa forma, é quase um milagre que ele continue existindo. Depois que Florence Stoker soube do filme, ela imediatamente processou Grau e Prana-Film. O juiz do caso ordenou que todas as cópias do filme fossem destruídas. Há inclusive a lenda de que um procurador da viúva acabou se ferindo gravemente ao atear fogo em um rolo de filme para garantir sua destruição. Muitas cópias acabaram sendo destruídas, mas grupos clandestinos protegeram cópias que acabaram sendo contrabandeadas para fora do país. Alguns cineastas e proprietários de salas de cinema perceberam a genialidade da obra e tomaram para si a missão de preservá-la. Por muitos anos, ter uma cópia de Nosferatu podeia ser algo perigoso, já que a lei ordenara pesadas multas para quem tivesse a fita em seu poder, ou pior, a exibisse.

Nas décadas de 1930 e 1940, cópias surgiram e desapareceram. No decorrer da Segunda Guerra, algumas apareceram em Londres e foram destruídas, sobretudo por conta do sentimento anti-alemão causado pelo conflito. Contudo alguns bravos cineastas tomaram para si o dever de proteger algumas cópias e graças a eles Nosferatu pôde ser salvo. Surpreendentemente cópias originais aparecem até hoje, em coleções particulares, acervos de filmes ou até em velhos porões de cinemas desativados. Por vezes esses tesouros ocultos da sétima arte trazem cenas adicionais, imagens ou mesmo trechos em melhores condições que acabam sendo incorporados ao filme. Isso concedeu a obra um caráter de morte e renascimento bastante condizente com o tema abordado. 

Nosferatu: O Vampiro da Noite (1979)

No final dos anos 1970, o diretor Werner Herzog produziu e dirigiu dois filmes consecutivos que eram tentativas de se conectar com o melhor da herança cinematográfica alemã. O primeiro deles foi Nosferatu, o segundo, Woyzeck que começaria a ser filmado apenas cinco dias após Nosferatu ser concluído. Herzog descreveu a experiência como uma forma de se conectar com seus avôs cinematográficos. Ele frequentemente descreveu sua geração de cineastas alemães, que inclui principalmente Rainer Werner Fassbinder, Wim Wenders e ele mesmo, como uma geração sem pais porque eles tinham comprado a cultura nazista ou fugido do país por causa dela. "Como a primeira geração real do pós-guerra, éramos órfãos sem pais com quem aprender"; Herzog contou aos seus biógrafos: "Não tínhamos professores ou mentores ativos, pessoas cujos passos seguir. Isso significava que eram os avôs — Lang, Murnau, Pabst e outros — que se tornaram nossos pontos de referência."

Herzog foi atraído por Nosferatu por várias razões, não menos importante entre elas, seu sentimento de que o filme de Murnau era "o melhor filme alemão de todos os tempos". Ele buscou conexão com seus antepassados ​​criando sua própria versão dele, que ele nunca pensou como um remake. "Ele segue seu próprio caminho com seu próprio espírito e se mantém em seus próprios pés como uma nova versão", disse mais tarde à respeito do filme.

E, de fato, o filme é genuinamente único em comparação ao seu antecessor. Embora ainda incorpore alguns de seus aspectos marcantes, ele consegue certo grau de independência. Quando Herzog decidiu fazer sua versão de Nosferatu, Drácula já havia caído em domínio público há muito tempo. Ele dispensou as armadilhas do filme original que tinha a intenção de velar, ainda que superficialmente, as origens de Nosferatu no romance de Bram Stoker e escolheu chamá-lo de Conde Drácula em vez de Orlok, Hutter mais uma vez se tornou Jonathan Harker (Bruno Ganz), agora casado com Lucy (Isabella Adjani), e Roland Topor interpretou Renfield (e um dos Renfields mais bizarros e hilários da história) em vez de Knock. Os locais, no entanto, mantiveram a semelhança com o filme de Murnau, assim como o visual do vampiro, a ênfase na praga simbolizada por hordas de ratos e a centralidade de Lucy como aquela que detém o poder de destruir o mal que invadiu sua cidade natal.

Os elementos singulares que tornam esse filme algo mais do que mera repetição do original são muitos, mas os mais notáveis ​​têm a ver com o vampiro, a protagonista e a maneira como os locais são capturados no filme. O filme marcou a segunda de cinco colaborações de Herzog com o lendariamente volátil e imprevisível protagonista Klaus Kinski. Herzog o descreveu essa como a sua experiência de trabalho mais agradável. "Durante quase toda a filmagem, Klaus estava feliz e à vontade consigo mesmo e com o mundo, embora ele fizesse birra talvez a cada dois dias." 

Esta foi uma melhoria marcante em relação ao relacionamento deles em Aguirre: a Cólera de Deus (1972), que acabou sendo um mero prenúncio do furacão que estava reservado para eles em Fitzcarraldo (1982). Em Nosferatu, Herzog e Kinski buscaram "humanizar" o vampiro, dando a ele "uma angústia existencial real" que o sugador de sangue sem alma de Schreck não tinha. “Eu queria dotá-lo de sofrimento humano, com um verdadeiro anseio por amor e, mais importante, a única capacidade essencial dos seres humanos: a mortalidade”, disse Herzog, “Ele estava profundamente amargurado com a solidão e incapacidade de se juntar ao resto da humanidade.”

De muitas maneiras, o Nosferatu de Herzog deu origem aos vampiros com crises existenciais e questionamentos sobre o que eles haviam se tornado e como enxergavam um mundo que não era mais o deles. Essa linha dramática foi posteriormente explorada por inúmeros autores e diretores e serviu para oxigenar o mito dos vampiros concedendo a eles nuances que iam muito além do monstro morto-vivo.

A Lucy, de Adjani, também tem mais o que fazer do que a Ellen, de Schröder, e tem muita diligência no filme. Numa das cenas mais marcantes ela se encontra no meio da praça da cidade enquanto dezenas de caixões passam por ela nos ombros de homens que os carregam para fora da cidade. Perto dali, homens e mulheres atordoados dançam ao redor de fogueiras alimentadas pelos móveis de casas que ardem. As pessoas não precisam mais de nenhuma dessas meras posses, pois os ocupantes estão todos mortos e os ratos invadem as ruas. É uma imagem surpreendente que evoca o tema da peste, a praga disseminada e a mortalidade humana. 

Outra sequência marcante acontece no início do filme, quando Harker viaja para o Castelo Drácula a pé por paisagens impressionantes e por lugares ermos que ninguém parece ter visto em muito tempo. A sensação de isolamento é sufocante. Este é um dos maiores dons de Herzog como cineasta — ir a lugares que ninguém mais iria para nos mostrar paisagens que nunca foram vistas e posicionar sua câmera de modo que essas paisagens pareçam sobrenaturais. O filme é uma obra de beleza poética infundida com uma sensação constante e implacável de pavor.

A Sombra do Vampiro (2001)

Por mais que eu ame as versões "oficiais" de Nosferatu, e embora esta esteja fora desse reino, Sombra do Vampiro é um dos meus filmes prediletos de vampiros. A premissa do filme é bastante simples: E se o misterioso ator Max Schreck fosse realmente um vampiro? 

A trama oferece uma visão do processo da produção cinematográfica, do método usado para a produção e da natureza da própria arte em si, tudo reunido em rápidos noventa e cinco minutos. É tudo muito "rápido" e "direto ao ponto", mas não soa corrido ou apressado de forma nenhuma. Na verdade, o filme captura muito da estranheza do filme de Murnau, ao mesmo tempo em que é um drama envolvente e um filme muito, muito divertido. 

Produzido pelo astro Nicolas Cage, um entusiasta e fã assumido de vampiros, e dirigido por E. Elias Merhige, que chamou a atenção do produtor com seu filme sombrio e surreal Begotten (1989), Sombra é um casamento perfeito de cineastas e uma obra específica. Assim como Albin Grau, Merhige é fascinado pelo ocultismo e tinha um relacionamento próximo com Werner Herzog na época em que ele fez o filme. Diz a lenda que ele teria oferecido a Herzog o papel de Murnau, mas que este não aceitou apesar da insistência. Dá para imaginar como ele teria atuado, literalmente calçando os sapatos de seu ídolo, mas por outro lado não teríamos uma das grandes atuações de John Malkovich que assumiu o personagem.

Sombra do Vampiro apresenta um dos elencos mais brilhantes já reunidos para um filme desse tipo, incluindo John Malkovich como Murnau, Udo Kier como Grau, Cary Elwes como Wagner, Catherine McCormack como Greta Schröder e Eddie Izzard como Gustav von Wangenhein, que interpretou Hutter em Nosferatu. Todos têm atuações excelentes, mas Willem Dafoe como Max Schreck é nada menos que sensacional. Ele recebeu uma merecida indicação ao Oscar pela sua construção do Conde. 

O cerne do filme se concentra nos esforços que um artista (no caso o diretor) está disposto a fazer para ter sua visão concretizada, não importando os custos para si ou para qualquer outra pessoa. Os cineastas são retratados como cientistas loucos vestindo jalecos e óculos de proteção, uma necessidade na época devido aos resíduos criados pela iluminação. Murnau é regularmente chamado de "Herr Doktor" e esse tipo de Dr. Frankenstein declara repetidamente que fazer filmes é um ato de guerra. "Nossa batalha, nossa luta é criar arte. Nossa arma é o filme", ​​ele diz enquanto a equipe embarca em um trem para seu primeiro local de filmagem. Ao longo do filme a câmera é comparada a uma metralhadora. 

No final, essa versão fictícia da produção de Murnau se torna tão avassaladora que o mundo se torna o artifício e o que é filmado, a única coisa real. Sombra do Vampiro é um filme genial sobre loucura e criatividade.

É também o mais difícil de todos esses filmes de se encontrar. Apesar do elenco de estrelas, d eter sido produzido por um ícone de Hollywood e ser propriedade da Lionsgate e Universal, o filme não está disponível para streaming e permanece preso em um DVD fora de catálogo. Agora, com todo burburinho em torno de Nosferatu, nenhum filme é mais merecedor de um streaming de alta definição e lançamento físico do que esse. Para quem não assistiu, fica a dica, se conseguir colocar as mãos nele, assista.

Sombras e Influência

Vários outros filmes se apropriaram do nome de Nosferatu e o usaram para vários propósitos. 

Klaus Kinski assumiu a responsabilidade de retornar ao seu personagem vampírico, com resultados muito diferentes do filme de Herzog, em "Nosferatu em Veneza", de 1988, dirigido por Augusto Caminito e sobre o qual, quanto menos se falar, melhor. 

Mimesis: Nosferatu (2018) vê um professor do ensino médio, Professor Kinski (Joseph Scott Anthony), montando uma produção teatral de Drácula fortemente influenciada pelo filme de Murnau e estrelando um aluno obcecado por vampiros chamado Michael Morbius (Connor Alexander) no papel principal. O filme contém uma série de easter eggs relacionados a vampiros, incluindo vários nomes inspirados em Fright Night, Salem’s Lot e até mesmo Twilight. Ele também apresenta várias aparições breves de Lance Henriksen como um mentor enigmático criando um culto de vampiros no molde do Conde Orlok de Max Shreck. 

Também lançado nesse mesmo ano, após um longo período de gestação, temos "Nosferatu: Uma Sinfonia de Horror" estrelando Doug Jones no papel do vampiro. O filme, financiado por uma campanha do Kickstarter, é mais ou menos um remake cena por cena do filme de Murnau com atores modernos inseridos em recriações geradas por computador dos locais e cenários usados ​​no original. Curioso sem dúvida, embora talvez desnecessário.

Talvez ainda mais prevalentes tenham sido os muitos filmes que prestam homenagem ou refletem a influência de Nosferatu para criar vários efeitos — do assustador ao cômico. Em 1979, o mesmo ano do filme de Herzog, a produção televisiva de Tobe Hooper, "Salem's Lot" baseado na obra de Stephen King apresentou Kurt Barlow, uma criatura claramente modelada a partir do Orlok de Max Schreck. Curiosamente o personagem tem muito pouca semelhança com o personagem descrito no livro de King. 

Outras homenagens incluem Ben Fransham como Petyr no filme de mesmo nome lançado em 2014 e uma vez mais Doug Jones como o Barão Afanas na versão televisiva de "O Que Fazemos nas Sombras" (2019). No ano passado, Javier Botet interpretou o vampiro cinza, careca e com orelhas de morcego com grande efeito em "A Última Viagem do Deméter", pelo qual o personagem é creditado como Drácula/Nosferatu. 

O alcance de Nosferatu pode ser encontrado ao longo da história do cinema em personagens tão diversos quanto as formas animalescas dos vampiros em A Hora do Espanto (1985) e The Lost Boys (1987) a várias encarnações do Conde de Gary Oldman em Drácula de Bram Stoker (1992) a Marlow de Danny Huston em 30 Dias de Noite.

Parece provável que a nova versão do filme de Eggers fique ombro a ombro com o longo e imponente legado de Nosferatu. Parece que os fãs de terror estão famintos por uma releitura da versão clássica do mito do vampiro que seja genuinamente perturbadora, até mesmo, ouso dizer, assustadora. Provavelmente, e digo por mim mesmo, talvez seja o momento do vampiro clássico reclamar o status de MONSTRO uma vez mais, e se libertar da figura de criatura amargurada que o acompanha nas últimas décadas. O vampiro surgiu como um horror incompreensível, uma força nefasta de morte e esquecimento, que existe (não vive) para tornara  vida dos mortais um tormento. É para isso que ele foi criado, é para isso que precisa voltar.

Com as inúmeras variações do personagem ao longo dos anos, é revigorante retornar ao básico do porquê essas criaturas invadem nossos sonhos e nossos medos em primeiro lugar. De porque são tão fascinantes e por que o asco que deviam causar se converte em fascínio?

Há uma qualidade primitiva em Nosferatu que é encontrada além das virtudes de Drácula, ele é a fera inumana que não tem romance ou remorso, simplesmente ataca nossos medos mais profundos, sombrios e potentes em busca de sangue.

E é esse o vampiro de que sentimos saudade!

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O Mastim Alado - A Criatura maldita do conto "The Hound" de H.P. Lovecraft

Dentre as várias criaturas dos Mythos de Cthulhu existe uma relação de horrores intimamente  relacionados a objetos amaldiçoados. O mais conhecido talvez seja o lendário Assombro na Escuridão, um dos avatares do Caos Rastejante, Nyarlathotep em forma de um ser quiróptero que habita o igualmente legendário Trapezoedro Brilhante

Mas há muitos outros horrores que residem objetos aparentemente inofensivos e que justamente por conta disso são ainda mais perigosos. 

Um tipo de objeto que se insere nesta categoria são os macabros Amuletos do Mastim Alado. Estes talismãs são usados por membros do decrépito Culto dos Devoradores de Cadáveres de Leng, uma sociedade secreta criada pelo degenerado povo Tcho-Tcho. Ao longo dos séculos, outros povos se juntaram a suas fileiras assumindo posições proeminentes na seita a medida que ela avançava para as terras ocidentais. 

Os membros mais proeminentes da seita recebiam como presente por seus serviços prestados um amuleto de jade com a figura do horror chamado por eles de Mastim Alado. Haja vista, a maneira de se referir a esse horror é alegórica, visto que ele embora lembre um enorme cão dotado de asas, não pode ser jamais compreendido como algo nem remotamente encontrado em nosso planeta.

O Mastim Alado é antes de tudo um protetor do Culto, chamado para cumprir tarefas e missões ditadas pelo detentor do amuleto. Ele é um habitante de planos distantes, gerado na intercessão de realidades e livre para percorrer diferentes dimensões com a desenvoltura que transitamos em nossa realidade tridimensional.

Há conjecturas sobre o berço desses seres bestiais, alguns ligam sua origem aos infames e muito temidos Mastins de Tindalos. De fato, há tomos esotéricos que supõem que os Mastins Alados possam ser uma espécie derivada do mesmo cantão dimensional que gerou essas bestas. O excessivamente raro Monstres and their Kynde faz essa ligação, postulando que magias para contatar os Mastins de Tindalos (feitiços incrivelmente raros e perigosos) por vezes acabam atraindo Mastins Alados em seu lugar.

O Manuscritos Pnakotico, outro livro esotérico, desfaz essa contradição ressaltando que se tratam de entidades distintas. Enquanto os Mastins de Tindalos estão sujeitos às marés do tempo existindo nos ângulos temporais, os Mastins Alados rompem o tecido dimensional sem carecer de ângulos pré-determinados ou conformidades de hiper geometria favorável. Os segundos tampouco são atraídos por incursões no tempo-espaço, algo que parece de grande importância para os Mastins de Tindalos.

Finalmente existe a diferença da aparência geral. 

As feras de Tindalos são maiores, possuem o corpo coberto de uma conhecida substância azulada e tem uma longa língua serpenteante. Os Mastins por sua vez possuem grandes asas coriáceas em seu dorso delgado. Em comum o fato de haver uma identificação com o biótipo da família canídea de corpo esguio e musculoso. Dali eles terem sido chamados de cães e até mesmo galgos em certas interpretações. 

Conforme dito esses seres não podem ser compreendidos formalmente como cães, embora sejam quadrúpedes com patas poderosas e uma cabeça em formato vulpino. Eles não possuem qualquer sinal de pelos em seus corpos lisos e fibrosos que se assemelham a ligamentos de um músculo descarnado. A coloração deles é acobreada, com traços castanhos avermelhados variando para um marrom profundo, sendo as asas mais claras. As asas são reminiscentes às de um morcego, surgindo no dorso da criatura atingindo uma envergadura de 2 metros. Elas são fortes o bastante para impelir a fera pelo ar e permitem que ele se desloque a uma velocidade considerável.

Essas criaturas medem aproximadamente 180 centímetros de comprimento, com 85 centímetros de altura, embora possam haver indivíduos maiores. A cabeça é maciça e forte, com um focinho proeminente e orelhas pontiagudas eretas. A criatura possui sentidos de faro e audição aguçados. Seus olhos são pequenos de uma coloração amarelada sem íris e que costumam brilhar intensamente. Ele enxerga perfeitamente na escuridão. 

A mandíbula é extremamente forte, dotada de presas afiadas e poderosas, projetadas para rasgar e lacerar. A mordida de um Mastim Alado é equivalente a do Kangal, o canídeo com a mordedura mais potente no mundo. Ele pode arrancar pedaços inteiros da carne de uma presa e partir ossos com facilidade. 

O Mastim ataca majoritariamente mordendo mas ele também é capaz de atacar com suas enormes garras que são afiadas e resistentes. A criatura investe saltando e usando seu peso considerável para derrubar e prender a presa, usando em seguida a mordida que visa invariavelmente a garganta. Alternativamente o Mastim pode investir voando afim de surpreender e derrubar a presa. Uma vez prendendo a vítima com sua potente mandíbula, o Mastim tende a dilacerar seu corpo com movimentos bruscos de sua cabeça.

Uma das características mais infames do Mastim Alado é o seu uivo que transcende os planos e é detectado apenas pela presa que ele busca. Quando empreende uma caçada, a criatura anuncia sua chegada com longos e lamentosos uivos que no início parecem distantes. Este som vai se tornando cada vez mais ameaçador e próximo com o passar do tempo. Essa medida visa minar a sanidade da presa fazendo com que ela sinta que seu fim está cada vez mais próximo. Há um efeito psicológico desconcertante que incide sobre os nervos da presa fazendo com que ela não consiga dormir ou relaxar sabendo que a criatura está cada vez mais próxima. Depois de ser comandado a buscar um alvo, o Mastim não se desvia de sua tarefa e irá empreendê-la de maneira implacável. Não há nenhuma maneira de postergar ou cancelar a caçada. 

A chegada do Mastim Alado ocorre quando ele literalmente rasga o véu dimensional penetrando em nossa realidade para fazer sua coleta. Testemunhas que presenciaram tal coisa afirmam que a criatura surge no ar em meio a uma cacofonia aterrorizante de alarido e uivos. A presa pode ser morta imediatamente pelo Mastim ou carregada por ele até sua dimensão de origem. Lá seu destino é incerto, mas considerando que ninguém levado através da fenda dimensional retornou, é justo supor o que acontece.

MASTIM ALADO para Chamado de Cthulhu

FOR 100   CON 120   TAM 95   

INT 70      POD 130   DEX 90   

HP: 22

Bônus de Dano (BD): +1D6

ATAQUES: Mordida 60%, dano 1d10*

Garras 45%, dano 1d6 + BD

* O Dano ignora todas as armaduras, mesmo as mágicas

Ao Morder uma vítima o Mastim Alado a mantém capturada em suas presas e causa 1d6 pontos de dano por rodada posterior sem precisar realizar testes adicionais. Uma vitima capturada nas mandíbulas da fera pode testar sua FOR contra a FOR da criatura para se livrar.

ARMADURA: Nenhuma, porém nenhuma arma física pode ferir o Mastim Alado. Feitiços e armas mágicas são capazes de ferir a criatura normalmente. Ao ser reduzido a 0 HP, o Mastim desaparece em uma nuvem de fumaça, ele se reintegra em 1d6 noites e ressurge para continuar a caçada.

 MAGIAS: O Mastim conhece 1d10 magias à escolha do Guardião.

HABILIDADES: Esquiva 90%, Saltar 90%, Farejar 90%, Rastrear 100%

CUSTO DE SANIDADE: 1/1D10 pontos de sanidade por ver um Mastim Alado. Ouvir o uivo da criatura tem um custo de 0/1d2 pontos por noite.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

O Habitante das Cloacas - Uma entidade de terror urbano

 

baseado no original por Luis Bustillos Sosa

Nas lobregas e esquecidas entranhas da Cidade do México, onde as trevas devoram vorazmente as fontes de luz e o ar se torna um veneno para os pulmões, existe um labirinto escuro de túneis e condutos infindáveis: as Cloacas.

Neste submundo putrefato, onde as águas residuais fluem e refluem como um rio desbocado e os ruídos discordantes da civilização desaparecem na negritude eterna, vagam horrores indizíveis. As cloacas são terreno perigoso, infestado de pragas e doenças infeciosas. Os refugos da civilização escorrem por esses canos e desaguam nas galerias repletas com o excremento e sujeira, rescaldo e secreções imundas.

Num ambiente tão insalubre, inacessível para qualquer ser que não se alimenta de podridão e faz dela seu covil, vive uma criatura nascida das mutações mais perversas e da decadência urbana.

Poucos ousam mencionar o seu nome, mas os que o fazem, entre sussurros nervosos, o chamam simplesmente de o "Habitante".

Alguns sugerem que ele pode ser uma terrível mutação catalisada pelas substâncias aviltantes presentes na água poluída. Existe a noção de que ele possa um dia ter sido um ser humano, transformado pelo meio após anos de confinamento nos esgotos. Gradualmente teria sido consumido e deformado, até se tornar uma paródia grotesca do seu antigo eu. Outros, mais temerosos, murmuram que se trata de uma entidade demoníaca, atraída pelos segredos ocultos e pelas misérias insondáveis da grande metrópole. Finalmente há os que apontam para uma forma que nasceu espontaneamente em meio ao lodo cru e que se desenvolveu, tendo nesse meio uma espécie de caldo primordial.

Mas ninguém sabe ao certo que forças nefastas teriam sido combinadas para dar vida a esse horror. Sua origem permanece imersa em incertezas, sendo impossível aferir como se deu gênese tão profana.


Não obstante, o Habitante vaga pelos alagadiços, nutrindo-se com as formas de vida rasteiras e extraindo desse meio aquilo que necessita. Ele atrai ratos e os devora, bem como baratas, mocas e larvas. Quando o calor dos túneis chega a uma temperatura insuportável nos meses de verão, ele rasteja laboriosamente até perto da superfície na esperança de recolher alguma presa maior. Desaparecimentos de animais domésticos e pequenas crianças não são algo raro próximo das grades de coleta de chuva. E mais de um vagabundo já foi capturado pela coisa. De fato, alguns anos atrás, a descoberta de ossos, tanto de animais quanto de humanos numa galeria, reascendeu as histórias sobre o Habitante.

Há lendas que são contadas sobre ele desde os anos 60, quando as pessoas mencionavam os ruídos guturais de algo grande se arrastando pelos túneis. Falavam também do fedor pútrido, algo pior que mil fossas abertas num dia de calor, um odor ocre que emergia por bueiros e canos irrompendo das profundezas. Nas décadas seguintes a história se popularizou, como uma espécie de lenda urbana da qual as pessoas riam, mas apenas quando estavam na segurança de suas casas, bem distante das cloacas. 

Entre técnicos e pessoal de manutenção, as lendas sobre a coisa nas Cloacas eram bastante populares. A maioria deles jamais ousariam descer sozinhos ou explorar algum túnel sem levar consigo uma gaiola com um gato. A ideia é que se a coisa fosse ouvida ou o fedor detectado, o felino fosse deixado para garantir a fuga apressada de volta à superfície. Há muitos relatos de trabalhadores citando tais situações, e narrativas dramáticas sobre colegas que não tiveram a mesma sorte. "As cloacas são cheias de ossos" - diz um ditado conhecido entre esses funcionários da companhia mexicana de água e esgoto.

Mas com o que se parece o Habitante das Cloacas?

Esta abominação é descrita como uma massa revoltante de carne pálida, pele pustulenta e escorregadia, similar a borracha que se contorce e arrasta. Uma bolha aviltante de sujeira gordurosa que deixa um rastro após sua passagem, como uma gigantesca lesma. O Habitante não tem membros e sim pseudopodes mal formados que se esticam, agarram e puxam a massa informe, impelindo-o pelos túneis. Ele vive em câmaras submersas ou cheias de lixo e não parece se importar com o ambiente que o cerca encontrando nichos onde passa dias imóvel.


A coisa se move lentamente, mas aperfeiçoou táticas para atrair vítimas em potencial deixando objetos brilhantes, por vezes de valor, próximo de onde está escondida. Quando alguma presa se aproxima, ela avança para capturá-la ou cai sobre ela. A criatura também faz uso de uma toxina química produzida por seus órgãos internos. Essa substância se concentra em uma espécie de bolha inchada e escura na superfície de sua massa. Quando assim deseja, ela se infla e estoura, liberando uma nuvem causticante de cheiro nauseante que age sobre as sinapses cerebrais paralisando a vítima que a respira. O habitante simplesmente então avança sobre a vítima que não consegue se defender.

Não há como saber quais os sentidos que a guiam ou se ela é dotada de real consciência. Seus olhos são como dois poços profundos que engolem a escassa luz ao seu redor e suas fossas respiratórias fungam constantemente fazendo um som de roufenho. É sua enorme boca rasgada que chama mais a atenção. Ela é dotada de dentes compridos e afilados como cerdas nas costas de um porco espinho. Uma vítima colhida pelo monstro é empurrada por essa bocarra que se distende, escorregando para dentro da goela graças a uma saliva que corre em profusão. No processo, ela é rasgada e fatiada. Grande o bastante para consumir um homem adulto, o Habitante pode engolir sua presa e lentamente a matar em seu interior.

É costumeiro que após a vítima parar de se debater, ele regurgite os restos uma e outra vez afim de absorver todo material. A criatura não consegue processar ossos, couro sintético ou cabelos e esse material é vomitado.

O Habitante é uma entidade solitária, passa a maior parte de seu tempo imóvel sendo difícil de distingui-la de uma simples pilha de refugo. Após se alimentar ela passa semanas deglutindo, período em que se mantém inativa. Contudo, seu apetite voraz, mais cedo ou mais tarde, irá levá-la a caçar novamente.

Os degredados e maltrapilhos compartilham seu saber em torno de fogueiras moribundas, trocando histórias de terror sobre essa coisa atroz e seu reino subterrâneo. Para alguns, o Habitante é um castigo nascido dos pecados da urbanização desenfreada. Outros acham que ele é um guardião sinistro que protege segredos velados de um mundo nauseante.

Em torno desse horror se formou uma espécie de culto doentio que venera o Habitante como uma espécie de divindade que deve ser aplacada e apaziguada. Esse bando de degenerados manifestam em seus corpos todo tipo de doença e carregam essas pústulas com distinção, considerando-as como símbolos de sua devoção irrestrita. São fanáticos e completamente insanos. Eles marcam os túneis que formam seus domínios com grafites elaborados em tinta.


A criatura aprendeu a confiar no séquito e a aceitar interagir com ele, ainda que, se especialmente faminta, devore um ou dois desses cultistas dementes. Os rituais improvisados são realizados nas galerias profundas, feitos na presença da criatura que asperge sua gordura vitriólica como uma espécie de sacramento batismal aos recém iniciados. Ele causa alucinações e revela portentos místicos. Os iniciados recolhem os restos regurgitados pela criatura, que são reunidos com grande devoção e empilhados em altares profanos. Sacrifícios, auto mutilação e outros comportamentos desprezíveis são levados à cargo na presença do Habitante na esperança de distraí-lo ou agradá-lo. Não há como saber se tal coisa o satisfaz de alguma maneira.

O Habitante das Cloacas é um enigma para aqueles que se aventuram a contemplar as profundezas proibidas da capital mexicana, mas é provável que seres semelhantes existam em outras metrópoles modernas ao redor do mundo.

Suas motivações são inextricáveis, mas uma verdade permanece inabalável: essa perversa entidade é a perdição daqueles que cruzam seu caminho.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Um Monstro Marinho do mundo real - O terrível Mosassauro Thalassotitan


Entusiastas de histórias de monstros marinhos nem sempre são levados à serio. Nem todas pessoas aceitam as teorias, por vezes inusitadas, sobre a existência factual dessas criaturas. De fato, muitos acham que tais seres habitam apenas o Reino do Imaginário.

Entretanto, recentes descobertas feitas por paleontólogos no Marrocos apontam para a existência de uma criatura monstruosa bem similar aos monstros das lendas. As ossadas sugerem se tratar de uma criatura que viveu nos rios que floresceram há centenas de milhões de anos atrás no que hoje é o norte da África. Muitos fósseis de plesiossauro - um réptil marinho de pescoço longo, já haviam sido encontrados nesse mesmo sítio. No passado remoto a paisagem hoje desértica era formada por uma bacia pantanosa, quente e com vegetação exuberante.

Curiosamente os ossos datam de um período posterior à grande extinção dos dinossauros ocorrida 66 milhões de anos atrás. Os plesiossauros parecem ter encontrado um refúgio lá apesar das mudanças climáticas devastadoras para as demais espécies.

Entretanto, antes dos plesiosauros também serem extintos, eles encontraram um adversário para sua sobrevivência tão grande quanto o clima. Este era um réptil marinho maior, mais feroz e mais implacável do que qualquer plesiosauro. Estas feras caçavam e comiam qualquer coisa que estivesse ao seu alcance. Nada nos oceanos pré-históricos estava à salvo desses enormes predadores. 

Um novo estudo feito por pesquisadores no Marrocos descobriu aquele que pode ser a maior e mais terrível espécie de Mosassauro - um verdadeiro monstro que pode ser o predador definitivo... ameaçando até mesmo outros Mosassauros. 


Batizado Thalassotitan, essa criatura era o equivalente a um pesadelo no mundo real, capaz de andar, correr, nadar e matar com enorme facilidade. Acredite, era algo que você positivamente não iria querer encontrar.

"O Thalassotitan era um animal terrível. Imagine um Dragão de Komodo misturado com um Tubarão Branco, com a ferocidade de um Tiranossauro e o vigor de uma baleia assassina. Todos esses elementos faziam dele o incontestável Rei dos pântanos e águas pré-históricas".

Nick Longrich, um paleontólogo e biólogo evolutivo da Universidade de Bath liderou o grupo de pesquisa que encontrou os fósseis do Thalassotitan atrox – o maior mosasauro que já nadou nos mares da Terra. Como ele explicou em uma publicação recente no Journal of Cretaceous Research, o Marrocos foi um ambiente rico em seres marinhos a cerca de 55 milhões de anos, oferecendo um habitat seguro para todo tipo de monstruosidade.

Os Mosassauros, como sabemos, estavam no topo da cadeia alimentar. Embora fossem classificados como lagartos marinhos, não há nenhuma criatura atualmente na natureza que seja semelhante a ele. É surpreendente que o parente mais próximo deles não sejam os crocodilos modernos, mas iguanas e anacondas. 

O solo rico em fosfato do Marrocos ajudou a preservar os fósseis de muitas espécies de Mosasauros com mandíbulas titânicas repletas de dentes capazes de rasgar e dilacerar peixes e lulas, além de esmagar animais com escamas. Os Mosasauros comiam de tudo - peixes, cefalópodes, tartarugas, pássaros, megalodons e até mesmo outros mosassauros. Eles eram bestas sempre famintas que caçavam solitariamente. O Thalassotitan era uma máquina de matar que não parava diante de nada, o predador definitivo. 


"O Thalassotitan, tinha um crânio enorme medindo 1.80 metros e seu corpo podia crescer até atingir 16 metros de comprimento, maior que qualquer crocodilo moderno. Ainda que muitos mosassauros tivessem uma mandíbula longa e dentes finos para agarrar peixes, o Thalassotitan tinha um focinho mais curto e dentes cônicos como das baleias orca. Isso permitia a ele uma força de mordedura ainda maior capaz de dilacerar os ossos de suas presas com uma única bocada".

Os dentes desses monstros eram adaptáveis, eles rachavam e cresciam novamente mais fortes que antes, capazes de atravessar a couraça de répteis marinhos, inclusive outros mosassauros. Nada que caía na bocarra do Thalassotitan sobrevivia à sua voracidade. A mordida era tão potente que superava a do atual crocodilo de água salgada em aproximadamente 18 vezes. Fragmentos de fósseis encontrados perto de ossadas de Thalassotitan incluem os restos de peixes predadores, cascos de tartaruga Marinha partidos e até a cabeça de um plesiosauro - arrancada com uma única mordida e semi-digerida antes de ser regurgitada.

Os fósseis de presas também incluíam as mandíbulas e dentes de outras espécies de Mosassauro o que demonstra o espírito competitivo da espécie. Marcas deixadas em ossos revelam que os Thalassotitan lutavam frequentemente entre si, disputando comida ou parceiras para a procriação.

"Nos 25 milhões de anos antes do meteoro se chocar com a Terra, os Mosassauros estavam se tornando mais e mais diversos. Adaptados e especializados em dominar o meio em que viviam. Sem falar que seu tamanho continuava aumentando. Se não tivessem sido extintos, quem sabe até que tamanho poderiam chegar".

Embora a descoberta desse predador alfa do Período Cretácio constitua uma descoberta fascinante, a verdadeira revelação vinda dessa câmara de tesouros de fósseis é a constatação de que esses animais não estavam em declínio como acreditavam alguns estudiosos. Longrich discorda de que os Mosassauros estavam em decadência mesmo depois das mudanças climáticas deflagradas pelo choque do meteoro na Península de Yucatan que decretou o fim de seu reinado. 


"Os fósseis de Mosassauros mostram que o ambiente não estava se deteriorando, pelo contrário, estava em expansão".

Até onde sabemos, a região que hoje compreende o Marrocos possuía vida marinha em abundância. Os mosassauros que lá viviam, inclusive o Thalassotitan tinham muita comida, muito espaço e perspectivas de sobrevivência. O que aconteceu é que as outras espécies não conseguiram se adaptar tão bem quanto eles e começaram a desaparecer.

Longrich supõe que os Mosassauros em um determinado momento de seu reinado ficaram sem presas que pudessem satisfazer seu apetite voraz. "Eles literalmente comeram todos animais que estavam à sua volta e tiveram que lutar uns contra os outros por comida. Era comer ou ser comido!"

No fim, o que colocou fim ao domínio desses monstros marinhos foi a sua própria incapacidade de conter seu apetite voraz. Eles esgotaram o seu ambiente paradisíaco e quando não encontraram mais nada capaz de lhes satisfazer disputaram uma arena na qual restaria apenas um deles. E este inevitavelmente também acabaria perecendo sem comida.

É divertido pensar em criaturas como o Thalassotitan vivendo nos dias atuais ou despertando para reivindicar os sete mares, mas para o bem ou para o mal tais monstros marinhos estão extintos há muito tempo. Ainda assim, nos faz pensar o que aconteceria se tal criatura nadasse em nossos mares.  

sexta-feira, 1 de março de 2024

Incidentes Bizarros - Encontros inexplicáveis de Policiais com criaturas desconhecidas


O trabalho de policial é, em grande parte, uma profissão nobre e imprescindível para a existência da sociedade. Eles estão lá para servir e proteger, para lidar com os perigos que se escondem nas sombras e nos manter a salvo do mundo muitas vezes violento em que vivemos. Mas e quando policiais precisam nos proteger não apenas do nosso mundo, mas também daquilo além do véu de nossa realidade? 

Policiais às vezes têm contato com o inexplicável e o paranormal, com entidades além do escopo de sua compreensão e para o qual não receberam treinamento. Agentes da Lei certamente veem coisas estranhas em suas patrulhas, mas nada tão estranho quanto alguns desses relatos. Essas narrativas vem de policiais que aparentemente tiveram encontros com coisas que não conseguem (e não podem) explicar. 

Neste artigo veremos alguns testemunhos de grande estranheza que supostamente foram feitos por indivíduos dentro da comunidade policial, e que nos mostram que esta profissão pode ser muito mais estranha e assustadora do que se pode imaginar.

Muitos encontros policiais com seres estranhos parecem envolver entidades que talvez não sejam deste mundo. Dos arquivos do pesquisador paranormal Albert Rosales do Supernatural Research Investigation (SRI) surge uma série de relatórios desse tipo. Rosales colecionou essas narrativas, a maioria transmitida a ele de forma anônima através de agentes policiais na ativa ou aposentados que o procuravam desejando partilhar incidentes incomuns do serviço.

O primeiro relato foi gravado originalmente pelo renomado investigador paranormal John A Keel e nos leva de volta ao ano de 1966, na cidade de Gaffney, Carolina do Sul. Por volta das 4 da manhã, os policiais C. Hutchins e A. Huskey estavam dirigindo por uma seção rural escura de Gaffney conhecida como West Buford Extension quando avistaram um homem andando no meio da estrada que por pouco eles não atropelaram.  

O relatório dos policiais dizia o seguinte:
 
"O sujeito estava andando no meio da estrada, naquela escuridão e foi uma sorte que não passamos sobre ele com a viatura". Huskey parou o carro no acostamento, eu desci imediatamente, disposto a dar ordem de prisão ao homem que até aquele momento eu imaginava devia ser um vagabundo, um bêbado ou as duas coisas".


Mas quando Hutchins se aproximou sentiu uma estranha energia ao redor do sujeito que o fez parar. Ele parecia um homem comum, vestia casaco, jeans e tênis, mas ele não tinha rosto! Sua face era um borrão cinzento que parecia se misturar constantemente como a superfície de um lago atingido por uma pedra. Hutchins, um veterano com 20 anos de serviços impecáveis ficou sem palavras, sentia uma aura de ameaça vindo da estranha figura e não conseguia se mover. Quando Huskey se juntou a ele também se sentiu confuso e estarrecido.

O que se seguiu foi ainda mais estranho. O misterioso ser se comunicou com os policiais através de um método não verbal, com perguntas que surgiam diretamente na mente deles. Ele fez inúmeras perguntas e ignorou quando os policiais tentavam, devolver alguma pergunta para entender o que se passava. Eles não foram capazes de lembrar de nenhuma das perguntas, mas admitiram ter respondido uma série delas, não porque quisessem, mas porque se sentiram compelidos a fazê-lo. Huskey até arriscou dizer que quando se negava a fazê-lo sentia uma forte pressão na cabeça, como se ela estivesse sendo apertada por um torno invisível.

Embora não tenham sido capazes de recordar o contexto da "conversa" que tiveram, toda interação ocorreu num plano surreal, quase onírico... Hutchins afirmou recordar que seu interlocutor se expressava num inglês perfeito, "não tinha sotaque distinto" e "que agia como se soubesse exatamente o que estava fazendo". Seu discurso foi muito preciso e direto. Os policiais divergiam de quanto tempo durou a conversa, Hutchins afirmou que foi algo breve, talvez apenas cinco minutos. Huskey disse que foi um contato bem mais longo, talvez de meia hora. Eles não se recordaram como aquilo terminou. Os dois simplesmente "piscaram" e o sujeito não estava mais lá. 

A dupla foi encontrada desmaiada naquele trecho de estrada, os dois haviam perdido a consciência, mas não estavam feridos. Um exame dos patrulheiros revelou que eles estavam em choque e que haviam sofrido um estranho caso de sangramento no nariz e ouvido. Fora isso, não sofrearam qualquer dano físico, mas foram afetados psicologicamente pela estranha experiência no meio da estrada.  

A história logo ganhou repercussão em jornais e na mídia. Muitos acreditavam que os dois policiais teriam tido um encontro com uma figura de origem desconhecida, talvez um ser alienígena, um anjo, um demônio ou uma entidade interdimensional que se manifestou em nossa realidade. Seja lá qual fosse a natureza do estranho ser, a breve interação foi o suficiente para custar a carreira de Hutchins que deixou a força no ano seguinte. Ele cometeu suicídio em 1969, após um grave quadro de depressão profunda. Huskey continuou na força policial por mais quatro anos, mas eventualmente também desistiu do trabalho se tornando um evangelista e defendendo que seu inusitado encontro envolveu uma entidade diabólica.


No ano seguinte, há um caso ocorrido em Ashland, Nebraska, envolvendo um sargento da polícia estadual chamado Herbert Schirmer de 22 anos. Ele estava fazendo uma patrulha de rotina em uma noite fria de dezembro, sem imaginar que estava prestes a encontrar algo muito bizarro. Schirmer se deparou com o que a princípio pensou ser um veículo estacionado bem no meio da estrada, mas ao se aproximar viu que era algo semelhante a uma porta iluminada pairando no ar. Ele parou o automóvel e se aproximou cautelosamente verificando que a porta parecia não ocupar um espaço físico, mas simplesmente estar ali com uma luz forte irradiando de seu interior. Então ela estranhamente desapareceu como se jamais tivesse existido. Parecia ser apenas uma história esquisita, mas sem grandes repercussões.  

Contudo, a partir de então o jovem policial começou a experimentar estranhos sonhos que o faziam acordar coberto de suor e aos gritos. Sem compreender a natureza do que estava acontecendo, ele concordou em se deixar hipnotizar para encontrar a raiz dos seus medos. Ao se submeter a uma sessão de hipnose, a história ficaria muito mais estranha. 

Sob transe hipnótico o policial começou a recordar de uma história bem diferente. Em vez de simplesmente sumir, o portal se iluminou com uma luz cegante no exato momento em que seu rádio, lanternas e o motor do carro falharam. Um grupo de estranhos seres humanóides, ainda que "não totalmente humanos" atravessou o portal e se aproximou do patrulheiro; eles o impediram de fugir ou sacar o revólver usando algum tipo de "bloqueio mental". Schirmer se sentiu paralisado e desmaiou. Os seres tinham baixa estatura, com no máximo um metro e meio, pele branca-acinzentada e não usavam roupas ou apetrechos. Pareciam assexuados, sem cabelos e com grandes olhos negros que contrastava com a boca pequena, pouco mais do que um rasgo horizontal.

Schirmer lembrou então de ter sido carregado através do portal em um estado de semiconsciência, vindo a acordar em uma espécie de sala branca imaculada, deitado sobre uma mesa de alumínio, incapaz de se mover ou mesmo gritar. As criaturas realizaram vários testes e procedimentos invasivos, obtendo amostras de sangue que era bombeado para estranhos frascos. O policial desmaiou repetidas vezes, sentindo agonia, dor e um medo indescritível. Sob influência hipnótica ele recordou que um dos seres no final do experimento tocou sua testa e fez com que ele sentisse uma dor aguda na cabeça que o fez esquecer a experiência por completo. 

O relato de Schirmer chamou a atenção, sobretudo porque certos aspectos de sua lembrança puderam ser corroborados por exames realizados posteriormente. Médicos atestaram que haviam sinais inequívocos de que o policial havia sido submetido a procedimentos similares a cirurgias sem que no entanto houvesse cortes e cicatrizes na sua pele. Atestaram ainda que pequenas partes de alguns órgãos; pulmão, fígado e rins haviam sido discretamente cortados para remoção de material. Também se descobriu que Schirmer havia recebido uma dosagem de raios X equivalente a 15 radiografias. Mais estranho ainda, exames médicos encontraram em seu corpo estranhos objetos de plástico e cristal que pareciam ter sido inseridos sem que houvesse sinais de como eles foram parar lá. Um total de 32 pequenos objetos - os menores do tamanho de grãos de arroz e os maiores do tamanho de uma unha foram removidos de seu corpo, sendo que o propósito deles, jamais foi explicado.

O caso de Herbert Schirmer é considerado um dos mais estranhos e inexplicáveis, envolvendo experimentos científicos supostamente realizados por seres extraterrestres em humanos. 


Outro caso bastante estranho envolvendo o contato de policiais com algo inexplicável ocorreu no ano de 2001 em El Pedroso, Califórnia. Na ocasião, dois policiais locais, R. Martin e C. Acuña, que faziam uma patrulha por uma região florestal se depararam com uma visão absurda. 

Ao fazer uma curva na estrada, eles se viram frente a frente com uma grande forma escura que flutuava no ar a cerca de 2 metros, sem fazer barulho ou se mover. Ela media pelo menos quatro metros de comprimento e parecia, segundo a descrição dos policiais, uma grande arraia. A criatura estava estática, mas quando os policiais pararam o carro de patrulha e usaram a lanterna para ver melhor, ela reagiu imediatamente.

A coisa avançou contra eles, flutuando no ar rapidamente se chocando contra o vidro do painel dianteiro produzindo um baque seco que fez o carro inteiro chacoalhar. Em seguida, ela escorreu sobre o veículo deixando marcas no teto, na lateral e quebrando a sirene no topo da viatura. Martin conta que eles aceleraram o automóvel para escapar da criatura que os perseguiu pela estrada em alta velocidade por quase um quilômetro. Ela chegou a alcançar o veículo pelo menos duas vezes, tentando tirá-los da pista. Acuña conseguiu manter o sangue frio e dirigir, escapando de seu misterioso perseguidor que frustrado soltou um urro alto e voou para dentro da floresta onde desapareceu.  


O mais estranho é que a bizarra criatura voadora foi vista em pelo menos outras cinco ocasiões por pessoas que garantiram se tratar de um tipo de monstro desconhecido. Há estranhas histórias na região de El Pedroso sobre animais desaparecendo e carcaças esmagadas e drenadas de sangue surgindo nos campos. Aqueles que acreditam na história afirmam que a estranha criatura seria algum tipo de ser alienígena, uma entidade extradimensional ou quem sabe um animal desconhecido que de alguma forma se manifestou naquela área.  

Em 1997, um repórter de jornal chamado Sonny Scwratz escreveu uma incrível reportagem sobre a experiência de um ex-policial chamado Frank Ingargiola, ocorrida três anos antes. Na época, o patrulheiro estava trabalhando no Departamento Rodoviário de Nova Jersey, quando testemunhou algo que mudou sua vida dali para frente.

Ingargiola estava se deslocando para um local onde havia ocorrido um acidente quando atravessou um trecho de nevoeiro denso. O nevoeiro surgiu do nada e imediatamente envolveu a viatura tornando extremamente difícil seguir adiante por falta de visibilidade. O oficial tentou contato com a chefatura, mas seu rádio apenas ecoava estática. Temendo por um acidente ele parou a viatura e resolveu aguardar por alguns instantes até o estranho fenômeno cessar. Entretanto, a situação apenas se agravou, fazendo com que a visibilidade que já era ruim chegasse a um ponto em que ele não era capaz de discernir absolutamente nada.

Poucos instantes depois, o policial alegou ter ouvido um ruído bizarro vindo do lado de fora, como um trotar pesado seguido de um sopro vigoroso que ele não conseguiu discernir. O carro foi então abalroado por uma forma grande e muito forte que lembrava um enorme alce. Mais duas investidas do estranho animal atingiram a lateral do veículo, arranhando a lataria, rachando vidros e deixando enormes amassados. Prevendo que se ficasse ali, havia um risco contra sua vida, o oficial ligou o carro e mesmo sem ver uma palmo da estrada à sua frente, acelerou através do nevoeiro cinzento.

Ingargiola saiu da pista repetidas vezes e quase destruiu a viatura em sua fuga desabalada. À todo momento ele ouvia o estranho sopro e o som das patas titânicas do animal que empreendia perseguição e vinha em sua direção com o objetivo inequívoco de matá-lo. O policial não foi capaz de descrever como era o animal titânico, mas contou que ele tinha olhos avermelhados que brilhavam em meio ao nevoeiro e enormes chifres. Após momentos dramáticos tentando escapar, a nuvem começou a se dissipar e o condutor foi capaz de ver a estrada novamente, momento em que a fera parece ter abandonado sua caçada.


Embora a história relatada pelo oficial fosse fantástica, ele tinha o automóvel e as estranhas marcas deixadas neste para corroborar o que havia acontecido. Especialistas chamados para analisar os danos não foram capazes de explicar o que poderia ter causado aquele tipo de avaria condizente com o ataque de um animal selvagem de grande porte. Ingargiola sustentou que o caso havia acontecido exatamente como ele relatou, mas sua narrativa não pode ser comprovada.

Na matéria pesquisada por Sonny Swartz, duas testemunhas afirmaram ter sido envolvidos pela mesma névoa densa que cobriu uma parte da estrada naquela mesma noite. Embora nenhuma das testemunhas tenha visto a criatura bizarra descrita pelo policial, ambos motoristas disseram ter ouvido estranhos sons vindo do interior da nuvem cinzenta e os ruídos de um automóvel em alta velocidade fora da pista. O caso foi apreciado por vários especialistas em criptozoologia que consideraram o incidente do oficial Ingargiola como um dos mais notáveis exemplos de encontro com entidade de natureza desconhecida.

Há outro relato bizarro de um policial da Pensilvânia, obtido em setembro de 1989 que se tornou notável. O policial Neil Collins vinha dirigindo por uma estrada deserta em um local arborizado que atravessa a seção sudoeste do condado de Westmoreland, quando teve um incidente bastante estranho. Ao rodar por esse lugar remoto, ele relatou ter atropelado uma criatura que saiu do acostamento e praticamente se atirou diante de seu automóvel de forma tão inesperada que ele não teve tempo de frear.

Collins freou sua viatura metros adiante, acreditando ter atingido um gamo ou outro animal selvagem de médio porte. Ele desceu do veículo carregando uma lanterna e à medida que o oficial se aproximou percebeu que a coisa diante dele não era nada que ele já tivesse visto antes ou depois daquela ocasião. Nas palavras dele "era grande como um homem adulto, tinha pelos castanhos avermelhados por todo corpo, não usava roupas e era mais fera do que homem". A coisa estava caída ao lado do acostamento, claramente ferida pelo atropelamento. Quando o policial tentou se aproximar, a criatura abriu os olhos e rosnou fazendo com que ele desse um salto para trás e apanhasse sua arma. A criatura se levantou confusa e tentou parar de pé, mas estava claramente abalada. 

Ela reagiu então como um animal acusado e soltou um rosnado feroz avançando contra o policial. O oficial disparou várias vezes e segundo ele os tiros acertaram a criatura que ainda conseguiu correr para o mato e desaparecer em meio a vegetação fechada.


Collins retornou apressado para sua viatura e pediu apoio imediato. Em poucos minutos outras quatro viaturas chegaram ao local e uma busca foi organizada para buscar o estranho animal, mas a essa altura ele já havia escapado. Os rumores sobre o caso mencionam que estranhas pegadas foram encontradas na cena e que manchas de sangue foram fotografadas pelos policiais. Nos dias que se seguiram, testemunhas relataram ter visto uma estranha figura grande e cabeluda vagando pelos arredores da reserva florestal, gritando e avançando contra aqueles que chegavam perto para tentar ver melhor do que se tratava. Alguns dias depois uma verdadeira caçada foi realizada para tentar capturar ou encontrar a criatura, apelidada de o "Pé Grande de Westmoreland".

Embora estranhos rastros e pegadas tenham sido encontradas, além de tufos de cabelo castanho avermelhado presos na vegetação, a criatura parece ter conseguido escapar. O policial Collins contou o incidente inúmeras vezes e deu entrevistas sobre sua estranha experiência jurando que tudo havia acontecido exatamente como ele descreveu.  

Outro relato muito conhecido sobre uma criatura análoga ao lendário Pé Grande foi feito por um policial que causou grande repercussão em sua época. Tudo ocorreu em agosto de 1996, na área rural de Whitehall, Nova York. Certo dia, o oficial Bryan Gosselin estava dirigindo nos arredores da cidade ao longo de um trecho solitário chamado Abair Road quando viu uma enorme criatura peluda, parecida com um homem, com olhos vermelhos, saindo da floresta cerca de 9 metros à sua frente. Gosselin o descreveria como um gigante medindo algo entre 2,10 ou 2,5 metros de altura e pesando pelo menos 200 quilos. Ele ficou tão alarmado com o que estava vendo que saiu de seu carro patrulha para apontar seu holofote e arma de fogo para a criatura. A estranha fera, capturada pelo foco do holofote, emitiu um grito sobrenatural antes de correr para a mata fechada deixando para trás pegadas gigantescas em um campo próximo. Nos dias seguintes, outros oficiais aparentemente viram a criatura. Gosselin acabaria escrevendo sobre sua experiência surreal em seu livro de 2004, "O Encontro de Abair Road".

Mas este não seria o único caso de estranheza em Whitehall, já que em fevereiro de 1982 outro policial da região chamado Dan Gordon e seu parceiro tiveram seu próprio encontro com uma criatura bizarra. Os dois estavam de plantão patrulhando ao longo da Rota 22, a 800 metros de East Bay, na base do Lago Champlain, quando uma criatura simiesca de 2,5 metros de altura atravessou a estrada correndo para subir um barranco íngreme e então desaparecer. A criatura foi descrita como sendo um pouco diferente de um Pé Grande típico, pois era esguio e tinha ombros estreitos em vez de músculos salientes. Outro detalhe é que ele andava curvado, tinha braços extremamente longos, finos e desengonçados, ainda que fosse notavelmente rápido e ágil. Gordon supostamente saiu do carro para tentar perseguir a criatura enquanto o outro policial ficou congelado no carro, mas a fera já havia desaparecido. 

Os dois manteriam sua experiência em segredo por anos, só tornando-a pública em 2003, após o que Gordon foi entrevistado extensivamente o ocorrido em programas de TV, incluindo Monsterquest e Mysterious Encounters. Gordon foi descrito como um homem incrivelmente honesto e confiável e insistiu na veracidade do que viu até sua morte em 2014.


Embora estes sejam os relatos que talvez tenham sido mais cobertos nas notícias e discutidos por criptozoologistas, na verdade existem muitos outros relatos desse tipo feitos sob juramento por policiais treinados e com excelente ficha de serviço, pessoas que aparentemente não teriam razões para inventar histórias que, na maioria das vezes acabam sendo prejudiciais às suas próprias carreiras. 

Dos arquivos da Supernatural Research Organization vem um relatório de 1975, em Jefferson Parish, Louisiana. Na primavera daquele ano, dois policiais foram chamados a uma casa na cidade de Marrero, aproximadamente às 21h, após a denúncia de um ladrão de casa aterrorizado. Os policiais chegaram ao local e interrogaram a proprietária da casa, e em seguida fizeram uma varredura perimetral da área, chegando a chamar uma unidade K-9. Assim que o cachorro chegou, aparentemente ficou enlouquecido, agitado e aparentemente com medo de alguma coisa nas cercanias. Os policiais circularam pela casa escura com armas em punho, convencidos de que havia um invasor à espreita na propriedade, mas o que viram estava além de tudo o que qualquer um deles esperava.

Ao contornarem a casa, aparentemente toparam com uma forma escura encolhida na lateral do prédio como se estivesse se escondendo, mas era enorme e, quando se moveu, puderam ver que não era humano em suas enormes proporções. A criatura foi relatada pelos policiais como tendo pelo menos 2,5 metros de altura, muito larga e dando longos passos até a rua, onde passou sob um poste de luz, e puderam ver que estava coberta de pelos castanhos escuros. Aparentemente, eles deram uma boa olhada nele, após o que ele fugiu em direção a uma área pantanosa e arborizada perto de um canal onde desapareceu. Quando entrevistado pelo investigador do SRO, a testemunha relatou:

"O incidente foi reportado oficialmente no sistema de registros da jurisdição. Lembro que não enfatizamos o “sujeito” além de descrevê-lo como “muito alto, de cor escura, sem descrição específica de qualquer roupa, etc”. Porque não estava vestido, e como já disse, naquela época eu não tinha ideia do que estava vendo. Nossos superiores sabiam de nós o que havíamos visto e acharam melhor desconsiderar a história. Lidamos com muitos incidentes inexplicáveis naquela época, assim como as agências policiais o fazem hoje em dia. O público não sabe de tudo. Não deve saber por uma questão de tranquilidade civil pois se soubesse haveria o caos".


Nos arquivos da SRO há um relato muito estranho ocorrido na cidade de Amarillo, Texas, que supostamente teve lugar no Verão de 2009. Ele começava com o telefonema de uma mulher pedindo ajuda para o Departamento de Polícia, alegando que tinha diante de si uma situação que não sabia como resolver. A pessoa pedia que policiais fossem enviados até seu endereço e salientava que "era melhor trazerem armas pesadas". Uma vez que a mulher misturava palavras em inglês e espanhol, os atendentes ficaram confusos diante de sua narrativa, mas ela parecia claramente preocupada.

Os patrulheiros C. Clark e D. Bellows estavam nas imediações e foram contatados por rádio para seguir o mais rápido possível até o lugar em questão. Era uma propriedade isolada em uma vizinhança tranquila na borda do deserto. Ao chegar, os policiais foram interpelados por várias pessoas da mesma família e alguns vizinhos que pareciam transtornados com algo que havia acontecido nos fundos da propriedade. Os policiais foram apresentados a um senhor chamado Nestor Cerapes, o chefe da família, que contou uma estranha historia: segundo ele, tudo começou quando a avó dele, que também residia na propriedade, descobriu uma toca de coiote perto de casa. Quando ela levou Cerepes até lá, no dia seguinte, encontraram os coiotes adultos mortos e os filhotes desaparecidos. Quando as carcaças dos coiotes foram examinadas, parecia que tinham sido dilaceradas por algo muito grande com garras formidáveis, e isso, compreensivelmente, deixou todos cautelosos quanto a possível presença de um predador na região.

Na noite seguinte, a avó teve uma premonição e um intenso mau pressentimento que a compelia a se afastar imediatamente do lugar. Enquanto estava discutindo com Nestor e o restante da família o que fazer, uma das crianças soltou um grito de alerta apontando para o quintal. Nestor se armou com uma pistola e foi averiguar. Deu de cara com uma criatura bizarra; humanoide mas que andava de quatro, coberta com uma pelagem castanha escura, longa cauda e olhos vermelhos injetados. A coisa avançou contra Cerapes que disparou à queima roupa. Ferida a criatura se refugiou em um galpão nos fundos da propriedade, onde estava escondida desde então.

Os policiais pareciam céticos, sobretudo depois que a avó advertiu que se tratava do lendário Chupacabra. Mesmo assim, eles concordaram em vasculhar o galpão em busca de um invasor. Os policiais nem precisaram procurar muito, assim que entraram, foram atacados por algo bizarro que foi descrito como um animal grande, que avançou contra eles tentando morder e arranhar. Os policiais, que reconheceram ter levado o maior susto de suas vidas, atiraram contra a criatura e a feriram mortalmente. Nas palavras de um deles, era "uma das coisas mais estranhas que ele já havia visto", parecia "um animal selvagem, mas ao mesmo tempo tinha as características um homem". A coisa tinha garras afiadas e presas agudas como uma fera, o corpo atarracado e musculoso tinha tufos de pelagem áspera marrom, mas outras partes eram lisas, tinha uma cauda fina como de um rato e um focinho pronunciado. Ele era rápido e fazia um ruído de rosnado sempre que avançava. Os policiais o alvejaram e ainda assim ele tentava se mover. O policial Clark recebeu arranhões no braço e no peito.

Enquanto Bellows contatava seus colegas pelo rádio relatando o que havia acontecido Clark recebia primeiros socorros. No período que ficaram longe, a avó ordenou aos demais membros da família que destruíssem o Chupacabras que ainda estava agonizando. Eles jogaram gasolina em cima da carcaça e riscaram um fósforo, o que fez a criatura se levantar e tentar uma vez mais fugir. Ela não foi muito longe uma vez que os donos da casa e vizinhos a cercaram e golpearam com paus, pedras e qualquer coisa que pudessem usar como arma.


Quando os reforços chegaram encontraram a carcaça totalmente carbonizada e os civis relatando como haviam matado o Chupacabra. O relato dos policiais se tornou motivo de debate, já que eles refutaram a versão do biólogo que analisou os restos e apontou pertencer a um lobo de grande porte. Nenhuma das pessoas que viu a criatura viva e andando concordou com a afirmação - para eles, era o Chupacabras. Clark e Bellows, que crivaram o monstro de chumbo, concordavam que era algo diferente e que eles jamais poderiam confundir aquilo com um lobo, embora não soubessem dizer o que era.

A história ganhou os jornais e a televisão enviou equipes para cobrir o incidente que ficou conhecido como "Chupacabra de Amarillo". Depois do ocorrido, várias testemunhas fizeram um retrato falado da criatura que foi tratada como um legítimo criptídeo. As análises dos restos renderam resultados conflitantes com especialistas atestando se tratar de um lobo, enquanto outros, afirmaram ser algo muito estranho e difícil de categorizar. 

Outro caso muito estranho diz respeito a um ser escondido em túneis subterrâneos úmidos, que se tornou uma espécie de lenda urbana na Carolina do Sul. Os túneis de serviço que se espalham sob a Universidade da Carolina do Sul datam de 1800, e há muito se diz serem o refúgio de algo menos que humano. Os avistamentos de algo bizarro escondido lá começaram em novembro de 1949, quando um estudante da universidade chamado Christopher Nichols caminhava em frente ao Longstreet Theatre uma noite e foi surpreendido por uma figura humanóide, nua e estranha que atravessou a rua, abriu uma tampa de bueiro e desapareceu nos túneis abaixo. Quando a notícia chegou ao jornal da escola, eles apelidaram a criatura de "Homem do Esgoto". Mas aquele não seria o último avistamento do que quer que fosse a criatura.

Em abril de 1950, um policial estava na área quando teve um encontro bastante assustador com a mesma criatura. Enquanto fazia sua patrulha na mesma vizinhança, o policial J. Halsey se deparou com uma pilha do que pareciam ser restos descartados de galinhas mortas, ainda ensanguentadas, que haviam sido atacadas e mutiladas por algum animal. Enquanto ele passava sua lanterna sobre a cena, o feixe avistou uma figura nua, com a pele cinzenta e aspecto grotesco. O mais aterrador eram os dentes afiados e a boca coberta de sangue. A criatura supostamente fez uma careta para o policial, rosnou e correu para o sistema de túneis mais abaixo, deixando para trás seu macabro esconderijo com as aves mutiladas.


O estranho habitante dos túneis ganharia a sugestiva alcunha de "Carniçal dos Túneis", e os avistamentos continuariam nas décadas de 1960 e 70, com um relatório particularmente angustiante descrevendo a coisa atacando o grupo de uma fraternidade universitária com um cano de chumbo e intenção homicida. Diante de todos os relatos, a polícia advertiu sobre a possibilidade de haver algum psicopata possivelmente perturbado rondando a área. Os túneis foram minuciosamente revistados, mas nenhum vestígio foi encontrado. Para ficarem seguros, os túneis foram em sua maioria lacrados e isolados do mundo exterior, ainda assim, haveria mais avistamentos do Carniçal. Considerando que há muito pouco para verificar, existe a possibilidade de que tudo não passe de uma lenda urbana.

Talvez o mais estranho de todos encontros de policiais com o inexplicável seja um incidente envolvendo um tipo de gosma disforme que foi abordado no livro “Strange World”, de Frank Edwards. O caso teve lugar na Filadélfia, Pensilvânia, em setembro de 1959. Além de ser notável por ter sido vivenciado por um total de quatro policiais veteranos, o caso é infame pelos detalhes. As primeiras testemunhas, os policiais Joe Keenan e John Cummings, estavam patrulhando uma noite quando, ao dobrarem uma esquina em uma rua tranquila, se depararam com a visão peculiar de algum tipo de massa globular que brilhava sob seus faróis e parecia estar se deslocando na direção a um campo próximo. Os policiais perplexos pararam o carro patrulha e foram investigar, encontrando uma grande massa do que parecia ser uma substância gelatinosa roxa com cerca de 4 metro de diâmetro e 30 centímetros de espessura, que pulsava, tremia, vibrava e oscilava sob suas lanternas. Também rescendia com um fedor medonho de esgoto e corrupção.

Estranhamente foi relatado que a coisa emitia uma espécie de brilho fosforescente quando as lanternas eram desligadas, como se fosse bioluminescente. Considerando seus movimentos deliberados, os policiais tiveram a impressão de que se tratava de algum tipo de coisa viva, embora não tivessem ideia do que poderia ser. À medida que a massa globular escorria, os dois oficiais perplexos pediram reforços, que chegaram na forma dos oficiais James Cooper e do sargento Joe Cook, que também testemunharam a visão sobrenatural.


Em algum momento, os quatro decidiram tentar agarrar a coisa, algo tanto desaconselhável considerando que não sabiam nada sobre o que estavam lidando. Mesmo assim, eles supostamente cercaram a coisa e começaram a levantá-la. Para sua surpresa, em vez de ser sólida, a coisa parecia se dissolver em suas mãos quando a tocavam, deixando para trás glóbulos de uma espécie de espuma fedorenta. Não está claro se o toque deles teve algum efeito negativo mas foi então que toda a bizarra bolha roxa começou a evaporar diante de seus olhos até que não restasse nada além de uma marca úmida no chão. Infelizmente, eles não pensaram ou não tiveram coragem de tirar uma amostra da coisa em nenhum momento, então ficamos apenas com esta história muito bizarra.

Existem vários relatos de coisas estranhas e incidentes paranormais acontecendo com policiais e essa foi apenas uma seleção de alguns deles. O que diabos seriam esses incidentes? Existe alguma verdade nesses relatos ou esses policiais são tão propensos a ficar assustados e a contar histórias fantásticas quanto qualquer pessoa? Independentemente de um ou mais destes casos terem realmente acontecido ou não, eles são certamente assustadores e, se forem verdadeiros, mostram que, além de protegerem os cidadãos de ladrões, assassinos e outros perigos mundanos, agentes da lei e da ordem podem também ter de lidar com forças desconhecidas.