terça-feira, 30 de agosto de 2022

Ctônianos - Anatomia dos Escavadores das Profundezas



CTÔNIANO (adj): 1. Diz-se daqueles Deuses que residem nas profundezas da Terra
2. Aqueles que cultuam os Deuses das Profundezas
3. Deuses Ancestrais que habitam cavernas e túneis.

*     *     *

No vasto Universo do Mythos de Cthulhu, nem todas as criaturas vieram ou surgiram entre as estrelas ou dimensões adjacentes. Há espécies tão estranhas quanto enigmáticas que embora tenham um vínculo direto com essa mitologia particular, são nativas de nosso planeta. A macabra raça antropófaga dos Carniçais que habitam as necrópoles humanas sempre em busca de carne, os horrores submarinos, Abissais, que vivem nas trincheiras oceânicas e mesmo a ancestral Grande Raça de Yith com seus corpos coniformes, são todos exemplos de seres oriundos de nosso planeta.

Raramente vistos na superfície, a raça dos escavadores, conhecidos como Ctônicos são uma espécie que habita os subterrâneos, cavando túneis tão profundos que quase alcançam o centro do planeta. Tais seres evitam a crosta terrestre e os estratos superiores de modo que conseguiram preservar sua existência na província das lendas. Vistos por algumas poucas testemunhas oculares, os Ctônicos tendem a conservar sua existência como um segredo compartilhado com uns poucos escolhidos.

Mesmo os tomos ancestrais que oferecem conhecimento esotérico e que fornecem um vislumbre fugaz do Mythos são escassos em informações sobre essa raça quimérica. O Necronomicon, como não poderia deixar de ser, talvez seja a fonte mais fidedigna no que concerne a informações sobre os Ctônicos. Contudo, mesmo o célebre árabe louco Abdul Al-Hazred é econômico nas descrições desses horrores subterrâneos. Ele define apenas em linhas gerais os detalhes, sem garantir a certeza de suas palavras, ainda que corresponda à teoria de que tais seres tem origem terrestre. Al-Hazred afirma ter tomado conhecimento da existência dessas entidades após uma visita às ruínas da Cidade sem Nome onde consultou antigos documentos que mencionavam a existência deles. Vagando pelo Norte da África, o autor do Al-Azif ouviu de eremitas, as histórias à respeito desses horrores que escavam o solo e se alimentam da carne dos homens. Posteriormente ele menciona que tremores de terra impactantes que abalaram a Pérsia e a Anatólia foram causados pela ação dessas entidades e que elas são responsáveis por titânica destruição quando a cólera as domina. Sua menção final sobre os Ctônicos envolve o Deus colossal, Shudde M'ell, o maior e mais poderoso dentre eles.


Além do Al-Azif, outro tomo que menciona os Ctônicos é o "Fragmentos de G'harne", obra escrito a partir de estilhas de pedra encontradas pela Expedição Windrop no norte da África. Os petróglifos contendo símbolos geometrizados tinham origem neolítica, e supostamente foram resultado do trabalho de tribos pré-humanas que habitaram o interior da África subsaariana. Criteriosamente traduzido pelo renomado explorador e único sobrevivente da Expedição, Sir Amery-Wendy Smith, o texto se dedicava a traçar a origem e detalhes únicos sobre a raça dos escavadores. Algumas fontes apontam que o livro guarda enorme semelhança com o Manuscritos Pnakóticos e que seria uma versão bastarda dessa obra bem mais completa e ampla. O Fragmentos chegou a ser publicado em 1919 numa tiragem de 100 exemplares numa tradução incompleta disponibilizada para círculos acadêmicos. Contudo, sabe-se que Smith produziu diferentes versões que circulam há anos entre estudiosos e no acervo de universidades. As estilhas originais segundo rumores se encontravam no Museu Britânico até a década de 1930 quando foram removidas de exposição e guardadas em caixas para futura avaliação do material. O atual paradeiro delas é desconhecido.

A razão pela qual tão poucos autores se dedicam aos Ctônicos pode estar relacionada com o fato de que aqueles que se debruçaram sobre o tema raramente conseguem finalizar sua obra, sendo vítimas de estranhos acidentes. O próprio Sir Amery-Wendy Smith morreu após o estranho desabamento de sua residência na Inglaterra. Outro estudioso envolvido em pesquisas sobre o tema, o Professor Ryan Millbue também faleceu após um inusitado desabamento que o vitimou. Outros tantos acadêmicos encontraram seu fim em desabamentos e a abertura de escoadores que literalmente os tragaram para o subsolo, gerando especulação sobre a real natureza desse "acidentes".

Dentre as Raças do Mythos que conhecem os Ctônicos, a Raça Ancestral (Elder Things) era a que detinha maiores registros sobre sua existência. É claro, os Yithianos também possuíam em suas vastas bibliotecas documentos mencionando os Ctônicos e sua interação com a humanidade. 

G'Harne, uma cidadela localizada entre o oeste do Sudão e a bacia do Congo está intimamente relacionada aos Ctônicos. As ruínas de pedra avermelhada, causticada pelo sol e pelos ventos resistiu inabalável à passagem dos milênios e as torres são testemunhas de tempos imemoriais. Não se sabe exatamente que povo ergueu a cidade e sequer se os seus habitantes eram humanos ou outra espécie. Suspeita-se que G'Harne seja um lugar sagrado de enorme importância para os Ctônicos. Isso explica porque um número considerável deles habitam as fundações da cidadela ou ao menos migram para essa região de tempos em tempos. É possível que algo no lugar atraia os Ctônicos - talvez seja um local de procriação ou quem sabe de peregrinação religiosa. Tais teorias, entretanto continuam sendo mera especulação.


Outra possibilidade é que G'Harne esteja exatamente sobre a prisão mística que encerra o Deus Antigo Shudde M'ell e que seus súditos se reúnam ao seu redor para venerá-lo. A enorme quantidade de Símbolos Ancestrais espalhados pela localidade, nas ruas e na fachada de construções reforça essa possibilidade. Não se sabe entretanto quem teria sido o responsável por esse sistema primitivo de aprisionamento. De uma coisa não resta dúvida, G'harne é um lugar extremamente perigoso e explorar seus arredores é quase certeza de morte.

Os Ctônicos se movem através do solo, escavando túneis na areia compactada, em aluviões, sedimentos e mesmo através de rocha sólida. Para se deslocar, estes seres parecem derreter o caminho diante deles, abrindo um caminho pelo qual podem viajar livremente. O processo é extremamente eficiente e lhes permite avançar com rapidez mesmo através de terrenos rochosos. Como forma de se impelir eles deslizam pela substância derretida impulsionando seus corpos vermiformes por intermédio de poderosa musculatura que esticam e encolhem. A trilha de um Ctônico deixa um rastro de pedras semiderretidas e uma gosma oleosa superaquecida excretada por seus corpos. Os túneis abertos se assemelham a estruturas cavernosas formadas naturalmente, exceto por essa gosma que tende a sublimar depois de algumas horas. Uma vez que esses seres não carecem de água ou ar, desabamentos não são um grande problema. Adultos da espécie são capazes de suportar altíssimas temperaturas, podendo sobreviver até 4000 graus célsius sem qualquer desconforto. Essa notável resiliência permite que eles habitem áreas profundas da Terra, colocando-os entre os únicos adaptados a sobrevivência no centro do planeta.

É provável que algo na composição alienígena de seus corpos torne os Ctônicos suscetíveis ao contato com a água. A gosma betuminosa que os recobre oferece alguma proteção, bem como o calor irradiado por seus corpos, contudo, se eles forem expostos a uma quantidade suficiente de água, sofrem um desconforto acentuado. A imersão total de seus corpos os mata em poucos minutos. Enquanto se movem, essas criaturas são capazes de detectar com exatidão a presença de umidade o que lhes permite desviar de qualquer lençol freático e contornar as massas de água que poderiam destruí-los.

Próximo da superfície é provável encontrar apenas indivíduos adultos da espécie, sendo que jovens e velhos permanecem nos recessos mais profundos, onde encontram segurança. De fato, os ninhos dos Ctônicos se encontram propositalmente em pontos tão quentes e insalubres que não seria possível acessá-los sem medidas de proteção. Entretanto ninhos antigos podem ser encontrados em extratos superiores, onde o contato com outros seres, em especial humanos, é possível. Empresas mineradoras e de prospecção petrolífera já entraram em contato com tais ninhos, obtendo indícios da existência das criaturas.


De modo geral, Ctônicos evitam o contato com outras formas de vida e se ressentem das ocasiões em que isso é inevitável. Membros de uma raça independente, eles não veem outros seres como iguais e menos ainda como potenciais aliados. Isso não impossibilita que alguns sejam reverenciados por povos primitivos, tratados como divindades ou espíritos terrestres, que merecem sacrifícios e atenção. Nesses casos, os Ctônicos tendem a aceitar a sujeição de humanos e os possíveis benefícios que isso possa lhes proporcionar. Via de regra, Ctônicos tendem a evitar qualquer contato de humanos quando tem de proteger os jovens de sua espécie. Estes são consideravelmente mais frágeis e podem ser facilmente destruídos, o mesmo sendo verdade para seus ovos. 

O ciclo de vida dos Ctônicos é bastante longo. As fêmeas põem entre 3 e 4 ovos e estes são depositados em ninhos profundos cobertos com uma gosma rica em silício que se solidifica. Uma vez que a fêmea só coloca ovos uma única vez, elas se mostram extremamente protetoras de sua prole, eliminando violentamente ameaças que se aproximam do ninho ou perseguindo os responsáveis por tocar ou roubar seus ovos. Estes ovos se assemelham a estruturas minerais perfeitamente esféricas com uma coloração castanha avermelhada. Um ovo (que tem 30 cm de diâmetro e 5 de espessura na casca) demora algo entre 35 e 50 anos para ser chocado. Nesse período a fêmea da espécie pode escolher hibernar em uma câmara próxima ao local onde pôs os ovos, aguardando pacientemente que eles eclodam. Uma vez rompida a casca, as larvas formadas passam a viver presas nas costas da mãe até formarem uma couraça exterior que as protegerá das agruras de seu habitat - o que pode levar entre 8 e 15 anos. No período em que carrega suas crias, as fêmeas são extremamente agressivas e perigosas, mesmo com outros Ctônicos. Cada ciclo da vida é dividido em etapas de crescimento chamadas "instar". Há quatro instar, sendo que cada indivíduo que inicia sua vida como larva pode viver por mais de um milênio. Um Ctônico tem uma expectativa de vida na casa dos 800 anos, podendo entretanto, viver ainda mais.

Ctônicos são extremamente inteligentes, capazes de compreender e interagir com outros seres, embora raramente o façam. Eles não são animais irracionais, mas entes imensamente sofisticados. Embora sua existência nos seja incompreensível, são seres sociais, dados a uma existência marcada por rituais e profunda interação nos moldes de uma tribo. Nutrição e reprodução são suas maiores preocupações, mas a proteção, limpeza e expansão dos ninhos também são responsabilidades partilhadas de cada membro da tribo.  Para facilitar essa interação, eles desenvolveram uma elegante forma de comunicação baseada em telepatia. Um Ctônico consegue detectar padrões mentais de diferentes espécies, sendo capazes de diferenciar indivíduos e determinar sua posição a quilômetros de distância. Se necessário eles podem estabelecer uma comunicação mental, projetando seus pensamentos na mente de outros seres, como se estivessem falando. O uso dessa telepatia, ainda que desconfortável para seres humanos, não é especialmente danosa, embora o uso prolongado possa ocasionar vertigens, dores de cabeça e confusão mental. Em sociedades primitivas que veneram os Ctônicos, essa interação é reservada aos sacerdotes ou bruxos que possuem o "dom" de se comunicar com as entidades.


Dentre os povos que veneram os Ctônicos, podemos destacar tribos nativas nos áridos desertos da América do Norte. Algumas dessas tribos, em especial as que vivem no Deserto do Mojave de fato chegavam a venerar os Ctônicos como deuses, estabelecendo com eles uma relação de sujeição. Uma vez que outras tribos vizinhas viam esses seres como "monstros" a relação foi duramente combatida até os povos serem extintos. Além desses enclaves os Ctônicos foram adorados sobretudo por tribos habitando grandes desertos inóspitos como o de Victoria (na Austrália central), no Kalahari (África) e no Salar de Uyuni (Bolívia). Esses povos, no entanto, foram perdendo esses costumes a abandonando as práticas de devoção, ainda que hajam resquícios nas suas tradições orais. 

Atualmente um dos únicos enclaves de cultistas dedicados aos Ctônicos pode ser encontrado no Deserto de Gobi, na Mongólia. Nestes lugares, tribos nômades que habitam as planícies mantém vivas as velhas tradições dedicadas aos Escavadores. Em geral, os rituais dedicados a eles envolvem adoração em espaços amplos do deserto, seus terrenos de caça, onde sacrifícios são oferecidos. Nas tradições mongóis antigas, prisioneiros escolhidos eram soltos nus em trechos isolados do deserto para que os deuses (Ctônicos) pudessem caçá-los e decidir se iriam se alimentar deles ou não. Tradições similares podem ser traçadas nas tribos do Mojave e entre aborígenes australianos em que rituais de passagem envolviam a travessia do território divino.

Curiosamente, G'Harne que foi por muitos séculos o principal local de adoração aos Ctônicos no planeta deixou de ter cultos dedicados a eles. Hoje as ruínas permanecem abandonadas, tratadas pelos povos locais como um tabu sobre o qual ninguém fala. Apesar disso, muitos nativos conhecem as lendas e temem serem atacados por "aqueles que vem de baixo".

(Continua) 

sábado, 27 de agosto de 2022

Agulha de Cleópatra - Um monumento Egípcio no coração de Londres


Se você passear ao longo do Victoria Embankment de Londres entre as estações de metrô Victoria Embankment e Temple Street, você verá algo que à primeira vista parece estranho. Mais do que estranho, é algo totalmente fora de lugar. 

Na margem do Rio Tâmisa, que corta a cidade, existe um grande obelisco de pedra ladeado por duas esfinges que se projetam para o céu. A obra é claramente egípcia e entre os prédios e arquitetura local parece deslocado não apenas quanto ao lugar onde repousa, mas também à época que ocupa. O monumento tem uma longa e curiosa história que envolve mistérios da Terra do Nilo e uma perigosa jornada que custou a vida de várias pessoas. Não por acaso, ele é tido como um dos lugares mais assombrados de Londres e um verdadeiro imã para atividade sobrenatural de toda sorte.

Apelidado de Agulha de Cleópatra, a obra é um marco distinto na Capital da Grã-Bretanha e um ponto turístico popular que atrai milhares de visitantes anualmente. Entretanto, poucos são aqueles que dedicam algum tempo para entender sua história e as estranhas lendas que a cercam.

Embora o obelisco de Londres seja associado a Cleópatra, na realidade sua única conexão com a famosa Rainha Egípcia é que ela ordenou que ele fosse levado para Alexandria, sua cidade real, em 12 aC, e instalado em Cesareum – um templo construído em homenagem a seu amado Marco Antônio. O obelisco foi de fato esculpido mais de 1000 anos antes de Cleópatra chegar ao poder. Erigido em um nobre tipo de granito vermelho extraído das pedreiras de Aswan, trata-se de uma obra grandiosa, como quase tudo erguido no Tempo dos Faraós. Ele foi dedicado ao Faraó Tutmés III, colocado originalmente na cidade de Heliópolis por volta de 1450 aC. Duzentos anos depois, inscrições nas linhas laterais do eixo foram talhadas com homenagens a Ramsés, o Grande, comemorando suas vitórias militares.


Mas o tempo passou e com ele esvaneceu ao menos em parte as glórias do Antigo Egito. A Terra do Nilo mudou de dono e conquistadores chegariam e partiriam ao longo dos séculos vindouros. As grandes obras de outrora, contudo, resistiriam. 

Em 1819, o governador otomano e governante do Egito e do Sudão, Muhammad Ali, deu o obelisco como presente à Grã-Bretanha. Os ingleses haviam acabado de derrotar as forças de Napoleão e expulsar os franceses que haviam conquistado Suez. O monumento foi visto como um presente apropriado para comemorar as vitórias na Batalha do Nilo (1798) e na Batalha de Alexandria (1801). A obra testemunhou esta última batalha e viu a esquadra britânica derrotar a última frota francesa em um sangrento confronto.

Embora o obelisco fosse um presente generoso, com ele vinha um desafio: como levá-lo para a Inglaterra? Infelizmente, o custo de transporte do obelisco de 224 toneladas se mostraria muito alto e os planos de trazê-lo para a Grã-Bretanha foram abandonados depois de feitas as estimativas. Ele permaneceria em Cesarium, embora os otomanos se ressentissem do fato de que os britânicos sequer tentaram movê-lo. 

O assunto foi novamente revisitado sem sucesso em 1822 e 1832 e novos planos para o transporte foram traçados, sem nunca serem levados à cabo.


Apenas em 1867, o tenente-general Sir James Alexander leu um artigo para a Royal Society of Edinburgh descrevendo suas ideias para trazer o obelisco para a Grã-Bretanha. Ele acreditava que aquela façanha seria uma demonstração da engenhosidade e capacidade dos britânicos, afinal, nunca antes na história algo tão pesado havia sido movido a uma distância tão grande. Em 1875, Alexander visitou o Egito para avaliar o que precisava ser feito. Em sua viagem, ele se encontrou com o engenheiro civil e entusiasta da egiptologia, Sr. John Dixon, que já estava pesquisando o obelisco. No final de 1876, Dixon e Alexander consultaram Sir William James Erasmus Wilson, um distinto anatomista, que concordou em contribuir com £ 10.000 para o empreendimento. Dixon assumiu total responsabilidade por quaisquer outras despesas incorridas, bem como logística de transporte. Com um plano firme e a permissão do então Governante Ismael Pasha, Dixon começou a desenhar plantas para um navio forte o suficiente para transportar o peso do obelisco.

O navio, batizado de Cleópatra era engenhoso e inovador em seu design. Ele se assemelhava a um cilindro de ferro em forma de charuto (com cerca de 28 metros de comprimento por 4,8 metros de largura) que envolvia o monólito de granito como se fosse um sarcófago em torno dele. As folhas de metal foram rebitadas uma a uma até formar uma caixa forte o bastante para suportar o peso maciço. Na embarcação foi construída uma ponte para abrigar a tripulação durante a viagem pelo Mediterrâneo. Uma vez que o grande invólucro ficou pronto, ele foi rebocado para o dique seco do Almirantado Egípcio e convertido em navio. Aqui foram adicionados os trilhos de lastro internos, popa e leme que permitiriam a ele flutuabilidade, embora muitos imaginassem que ele afundaria quando o obelisco fosse embarcado.

Uma tripulação de oito marinheiros malteses liderados pelo capitão Carter foi contratado para dirigir o Cleópatra enquanto o Olga, um navio a vapor, foi escalado para atuar como um rebocador sob o comando do capitão Booth. Os homens eram experientes lobos do mar, mas nenhum deles havia passado por tamanho teste. Em 21 de setembro de 1877, o Cleópatra e o Olga deixaram o Egito com destino a Alexandria onde o obelisco foi cuidadosamente desalojado e preparado para o embarque. Seis guindastes o colocaram no compartimento de carga especialmente criado para essa função. Como diriam na época "ele encaixou como uma luva" e fez com que a multidão presente aplaudisse o feito.


Inicialmente, a viagem foi tranquila, mas em 14 de outubro, quando os navios entraram no Golfo da Biscaia, foram recebidos por um tempo ruim. Uma violenta tempestade açoitou o mar fazendo com que o Cleópatra jogasse perigosamente de um lado para o outro. Apesar de amarrado, o obelisco corria o risco de se soltar e destruir o simulacro de metal em que estava encaixado. Às 21h20, o Cleópatra sinalizou ao Olga avisando que estava com problemas e um pequeno barco tripulado por seis voluntários foi enviado para ajudá-los. Tragicamente, a tripulação do Cleópatra não conseguiu prender as cordas atiradas a eles e o bote se afastou, engolido pela água agitada. Todos os homens foram lançados ao mar e morreram afogados.

Não tendo notícias da situação no Cleópatra, o capitão Booth teve a impressão de que o pior da tempestade havia passado. Mas após algumas horas ele recebeu um segundo alerta de socorro pedindo resgate imediato. O navio transporte estava prestes a afundar. O Olga conseguiu encostar ao lado do porta-contêineres, recolheu a tripulação e cortou a corda de reboque que poderia levá-lo junto em caso de naufrágio. Uma vez cortada a corda, o Cleopatra adernou e foi levado pelo mar bravio sumindo em meio às ondas. Tudo levava a crer que ele estava perdido.

Incrivelmente, alguns dias depois, o navio porta-contêineres foi avistado ainda flutuando, provando que a fé de Dixon em seu projeto estava correta, "sua flutuabilidade e qualidades de navegação demonstraram ser de alta qualidade, passando por um dos testes mais severos ao qual um navio pode ser exposto". O Cleópatra foi apanhado pelo navio a vapor inglês Fitzmaunce e rebocado para o porto de Ferrol. Após uma negociação complicada (o capitão do Fitzmaunce havia colocado uma garantia de salvamento no contêiner), o navio a vapor Anglia foi enviado para substituir o Olga e rebocar o monólito para a Grã-Bretanha. 

Em 21 de janeiro de 1878, o obelisco chegou a Gravesend. Mas mesmo a essa altura o local para instalação obelisco não havia sido ainda decidido. Muitos locais foram sugeridos, mas no final a decisão foi tomada pelos dois homens que pagaram pela viagem, Sir Wilson e John Dixon. Em setembro de 1878, o obelisco foi finalmente instalado para aplausos da multidão e o monólito de 21 metros se tornou a Agulha de Cleópatra.


O monumento desde o princípio estabeleceu uma estranha reputação. Uma reputação que provavelmente se originou com a história trágica de sua jornada e com a noção de que objetos trazidos do Egito podiam trazer consigo maldições ancestrais.

Mesmo na inauguração do monumento coisas estranhas aconteceram. Um cavalo que puxava um bonde se soltou e fugiu em disparada atropelando várias pessoas. Uma jovem de 16 anos foi derrubada e esmagada pelo animal que teve de ser abatido à tiros. Alguns dias depois, um funcionário da limpeza teve um ataque cardíaco fulminante que segundo alguns ocorreu logo depois dele ter criticado o monumento dizendo que "era uma coisa muito feia". Também havia rumores sobre pessoas que passavam pelo lugar e sentiam uma estranha aura permeando o ar, quase como se pudessem sentir algo negativo. 

Por alguma razão desconhecida, o local da Agulha de Cleópatra tornou-se popular entre suicidas. O primeiro suicídio teria acontecido no mesmo ano em que o obelisco foi depositado no solo, e envolveu um jovem professor que se atirou nas águas escuras do Tâmisa com pedras nos bolsos. Ele usou a plataforma do obelisco como trampolim. Outros suicídios se seguiram ao ponto que um guarda passou a transitar pela via com o intuito de coibir novas tentativas.

Em duas ocasiões distintas, policiais que estavam vigiando o local relataram ter sido abordados por uma mulher aflita pedindo que fossem até as margens do rio Tâmisa para evitar que alguém pulasse na água. Quando os policiais chegam à área, que ficava próxima da Agulha, viram a mesma mulher, que acabara de detê-los, saltar no rio para a morte.

Médiuns e espiritualistas dizem que o Obelisco carregava uma forte carga negativa, em parte agravada pelas mortes ocorridas em seu translado. Em respeito aos mortos, colocou-se uma placa homenageando os marinheiros que perderam suas vidas na operação da Baía de Biscaia. Mas pouco adiantou! Risos sobrenaturais foram ouvidos vindos da Agulha à noite, bem como choro e gargalhadas histéricas. Também se ouve alguém falando em um idioma estranho, supostamente egípcio antigo. 

Há ainda o fantasma de um homem nu que foi testemunhado em várias ocasiões, correndo de trás do obelisco e se jogando no rio sem fazer barulho. O primeiro avistamento desta aparição ocorreu algumas semanas após a instalação do obelisco e levou muitas pessoas a acreditar que era de fato o fantasma de um dos marinheiros que morreu no Golfo da Biscaia.

Tal como acontece com muitos artefatos egípcios, alguns acreditam que o obelisco havia sido amaldiçoado e que a alma de Ramsés II teria sido aprisionada dentro do granito. Estranhando o ambiente em que estava e desejando retornar ao Egito ele causava aqueles incidentes sobrenaturais.

Isso deu margem a outra história muito estranha relacionada ao obelisco que se assemelha a uma história de terror. Em 1880, uma senhorita chamada Davies, de 27 anos estava vagando ao longo do Embankment quando se sentiu puxada contra sua vontade para o local da Agulha. Ao se aproximar do obelisco, ela ouviu risos sobrenaturais e, perdendo o controle das pernas, se jogou na água. Felizmente para ela, foi salva por um vagabundo. Miss Davies foi levada ao hospital para se recuperar. Embora fisicamente curada, ela experimentou pesadelos aterrorizantes em que uma mulher alta com um rosto branco e olhos amendoados pretos vestindo vestes vermelhas aparecia diante dela. Quando a mulher abria a boca revelava dentes pontiagudos que usava para morder sua face. A senhorita Davies se tornou uma celebridade do dia para noite ao relatar aos jornais que tudo aquilo era causado pelo obelisco e "por uma estranha maldição egípcia qu haviam lançado sobre ela". Para alguns, a descrição da mulher evocava a imagem de uma sacerdotisa egípcia ou membro da alta nobreza.

Outra história bizarra diz respeito ao famoso ocultista Aleister Crowley. Diz-se que o mago sempre se sentiu atraído pelo obelisco e seu simbolismo místico. Em certa noite ele realizou uma cerimônia de magia negra na base do obelisco para libertar o espírito preso de Ramsés. A cerimônia supostamente envolvia sangue animal a um esqueleto humano. O ritual foi um fracasso e diz-se que o espírito de Ramsés zombou do infortúnio de Crowley lançando sobre ele uma maldição. Uma das muitas que a Grande Besta parecia colecionar.

Muitos acreditam que a maldição do obelisco continuou ao longo das décadas. Foi essa aura de pessimismo que fez com que o lugar fosse pesadamente bombardeado em um ataque aéreo durante a Primeira Guerra Mundial. À meia-noite de terça-feira, 14 de setembro de 1917, o obelisco foi atingido na base do pedestal por uma bomba. Depois que a guerra terminou, foi decidido não reparar os danos que se tornaram parte de sua história. Durante os dias da Blitz alemã que despejou bombas sobre Londres, o Obelisco foi poupado e não sofreu qualquer avaria. de fato, alguns londrinos diziam que o lugar era magicamente protegido e corriam para se proteger próximo dele acreditando que ali nada poderia feri-los.


Uma curiosidade é que quando o obelisco foi erguido, uma cápsula do tempo foi inserida em seu pedestal. Esta cápsula feita de aço contém alguns objetos, incluindo 12 fotografias das mulheres mais bonitas da época, uma caixa de grampos de cabelo, uma caixa de charutos, cachimbos, um conjunto de moedas, uma mamadeira, brinquedos, uma navalha, amostras de cabos usados ​​na colocação do obelisco, um retrato da rainha Vitória, uma história descrevendo o transporte do obelisco e um mapa de Londres. Havia a lenda de que uma ampola contendo o sangue de pessoas ilustres também teria sido incluída nessa caixa, mas essa informação sempre foi negada.

A história do obeliso não estaria completa sem uma menção às esfinges que parecem proteger a peça. Essas estátuas foram esculpidas pelo arquiteto inglês George John Vulliamy que alguns afirmam teria cometido suicídio no local. Há muito se diz que as esfinges foram acidentalmente colocadas ao contrário, pois logicamente, deveriam estar voltadas para fora, simbolizando proteção para o obelisco. Ao invés disso, foram voltadas para dentro, como se estivessem observando o obelisco e vigiando seja lá o que ele oculta em seu interior. Talvez o papel delas não fosse impedir que o mal chegasse ao obelisco, mas impedir que alguma coisa dele saísse!

A história da Agulha de Cleópatra é fascinante e triste, enquanto o próprio obelisco é muito bonito e atraente.

Maldições egípcias tornaram-se algo muito difundido após a abertura da tumba de Tutancâmon e ainda hoje são algo muito presente na cultura popular. Apesar da maioria das pessoas demonstrar ceticismo à respeito de haver alguma maldição egípcia pesando sobre o obelisco, há uma série de superstições relacionadas ao monumento. Uma delas afirma que ao passar perto dele depois da meia-noite é de bom tom baixar a cabeça em respeito. Outro costume envolve que as pessoas evitem assoviar ou cantarolar quando estão perto do obelisco. Pelo sim pelo não, muitos londrinos tendem a respeitar essas duas regras simples.

A Agulha de Cleópatra tem algum tipo de poder ou atração mágica? Há algo de inerentemente maldito ali? Eu o visitei e não senti nenhuma atração especial vinda dele, pelo contrário fiquei muito feliz de estar diante de um pedaço da história. Contudo, se você for corajoso o suficiente, existe uma lenda de que, se você quiser que uma pergunta em particular seja respondida, basta mirar na pirâmide no topo do obelisco e dizer: "Eu invoco os espíritos das profundezas para revelar o que desejo saber". 

Talvez você receba uma resposta do Obelisco, mas talvez ele revele algo que você não está pronto para ouvir.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

O Assassino do Terremoto: Os crimes de Herbert Mullin (parte 2)

A conclusão do artigo à respeito do Assassino do Terremoto.

O mês era Novembro de 1972 e no dia 2, um homem de aspecto estranho entrou na Igreja católica de St. Mary em Los Gatos, Califórnia. O sujeito vestia roupa preta, gorro e botas escuras. Tinha um olhar nervoso que o levava a olhar por cima do ombro, como se estivesse apreensivo com alguma coisa. Ele se aproximou da cabine do confessionário que ficava numa lateral da Igreja e sentou em uma cabine. Lá dentro, atrás da cortina estava o Padre Henry Tomei de 64 anos. Francês e ex-membro da Resistência durante a Segunda Guerra, o Padre era muito bem quisto pela comunidade local, sendo o organizador do coral local.

Quando o padre percebeu que havia alguém na cabine assumiu que se tratava de um fiel querendo se confessar. O homem não disse nada, apenas ficou respirando fundo do outro lado. Quando ele perguntou pela terceira vez se a pessoa queria se confessar, uma mão atravessou a cortina violentamente e o agarrou. O padre tentou se livrar, mas logo em seguida a mão esquerda avançou trazendo uma faca. A lâmina fez um corte no ombro e o padre tentou escapar, mas em seguida o homem de preto entrou no pequeno espaço do confessionário e o imobilizou com o joelho. O padre tentou um último movimento desesperado, mas os socos o mantiveram ali. Uma nova punhada o acertou no coração e ele deixou de lutar.

Os fiéis que estavam na igreja ouviram os gritos abafados e viram o homem de preto sair rapidamente com a cabeça baixa. Quando se aproximaram da cabine o padre ainda estava agonizando e sangue corria por baixo da cortina. Padre Tomei morreu alguns minutos antes da ambulância chegar.

Mais tarde,  Herbert Mullin, o assassino diria que enquanto o padre falava, tudo que ele ouvia, eram as vozes em sua mente garantir que o sacerdote aceitava se sacrificar em nome da missão sagrada de Mullin: Evitar novos terremotos na Califórnia. Ele estava em dúvida, conhecia o Padre de nome e o admirava, mas as vozes deviam saber o que estavam dizendo. O Padre, portanto, precisava morrer.

As testemunhas fizeram um bom trabalho ao descrever a aparência de Mullin, mas a polícia trabalhava na hipótese de que o assassino era um ladrão, já que dias antes a igreja havia sido arrombada por alguém vestido de preto. Eles assumiram que o criminoso havia voltado para se vingar.

Mullin ficou abalado depois desse crime; sentia que poderia ter ido longe demais e que as vozes poderiam ser algum tipo de confusão. Ele se escondeu por alguns dias em um motel de beira de estrada e certo dia foi até uma junta de alistamento dos Fuzileiros Navais. Ele se ofereceu para servir e queria ser voluntário para lutar no Vietnã. Sua ideia era ser mandadopara o front e lá matar o maior número possível de soldados, como um sacrifício para salvar o Sul da Califórnia. O Vietnã, na mente de Mullin iria causar uma grande tragédia que estava cada vez mais próxima. Embora tenha passado nos testes físicos, os testes psiquiátricos demonstraram que Mullin era incapaz de servir. Além disso, ele havia tido uma série de infrações menores e sua folha era marcada por incidentes que o desqualificavam. A rejeição fez com que Herbert ficasse ainda mais abalado. Suas alucinações retornaram com força depois de uma notada em que ele bebeu até o estupor.

Em janeiro de 1973, ele decidiu que pararia de usar drogas e que elas eram as causas de seus problemas. Ele assumiu que o motivo para sua vida ter saído dos trilhos era ter experimentado drogas ainda no colégio. Decidido a se vingar, ele rastreou a pessoa que lhe ofereceu maconha anos antes, um ex-colega chamado Jim Gianera de 25 anos. 

Em 2 de janeiro de 1973, Herbert foi até a casa de Gianera, uma cabana perto de Mystery Spot. Ele não sabia, entretanto, que a casa havia sido vendida para uma mulher chamada Kath Francis, amiga de Gianera. Ela explicou a situação e acreditando na desculpa de que Mullin era um amigo de Jim, passou a ele o endereço de onde ele poderia ser achado. 

Herbert dirigiu até a casa de Gianera e tocou a campainha esperando ansioso ao lado. Quando uma voz perguntou quem era, Herbert disse apenas que se tratava de "um amigo". Jim Gianera abriu uma fresta na porta para espiar e nesse momento Herbert deu um chute na porta jogando-o para trás. Ele então entrou envergando uma pistola 22. Ele matou Jim Giardela que provavelmente sequer teve tempo de entender o que estava acontecendo antes de ser baleado três vezes. A esposa de Giardela, Joan de 21 anos correu para acudir, mas recebeu um tiro no pescoço e em seguida um na cabeça em estilo de execução. Ela ainda foi esfaqueada três vezes. 


Sabendo que não podia deixar uma testemunha, o assassino dirigiu de volta até a casa de Kath Francis. Tocou a campainha e disse que havia perdido o endereço que ela havia dado horas antes. Kath desconfiou e o mandou embora. Herbert então entrou pela janela, a perseguiu por dentro da casa e a feriu com um tiro. Em seguida a arrastou até a cozinha, abriu uma gaveta e encontrou ali uma faca. Ela já estava morta quando ele a apunhalou repetidas vezes. 

Para completar a tragédia, antes de sair, Herbert decidiu revistar a casa e procurar alguma coisa de valor para forjar um roubo. Ao subir as escadas descobriu que Kath Francis não estava sozinha em casa; em um quarto seus dois filhos de 9 e 4 anos estavam dormindo profundamente. Herbert ficou em choque, não sabia o que fazer e suspeitava que as crianças poderiam estar fingindo dormir. Foram as vozes que decidiram por ele, afirmando que crianças sacrificadas eram uma recompensa ainda maior para conter o terremoto. E afinal; o terremoto não mataria crianças também?

Ele desceu as escadas, foi até o automóvel apanhou munição, carregou a pistola 22 e descarregou os projéteis à queima roupa. Em seguida, garantiu que estavam mortos com 3 facadas na garganta de cada um. 

Os detetives de polícia imediatamente fizeram a conexão entre os crimes de Kath e sua família com as mortes no endereço de Jim Giardela. Cinco pessoas haviam sido mortas em uma noite e tudo indicava que o assassino era o mesmo. A comprovação de que se tratava da mesma pistola calibre 22 e a mesma faca nas duas cenas de crime colocaram a polícia em alerta máximo.

Após esse banho de sangue, Herbert Mullin trocou de hotel e se escondeu em uma pensão se escondendo lá por uma semana. O dono da pensão disse ter ouvido repetidas vezes o inquilino no quarto falar sozinho e bater com a cabeça na parede. Em certa ocasião chegou a bater na porta para reclamar do barulho. Quando abriu a porta, o homem estava suado e desgrenhado. O quarto exalava um fedor forte de suor e urina e estava quente lá dentro. Mullin não disse nada, apenas acenou com a cabeça quando o senhorio pediu para ele baixar a voz pois outras pessoas estavam reclamando. Em retrospecto, lembrou-se que naquela semana houve um leve abalo sísmico na região de Los Angeles que chegou a ser noticiado na televisão. É possível que o assassino tenha ouvido a notícia?  Quem sabe?


Em 10 de Fevereiro as buscas pelo assassino continuavam e Herbert resolveu deixar a cidade para não correr riscos de ser capturado. Ele dirigiu para o Parque estadual Henry Cowell Redwoods onde já havia ido outras vezes fazer trilha. Ele gostava do contato com a natureza e quando criança dizia querer ser guarda florestal. Durante a trilha, Mullin avistou uma barraca e quatro jovens acampando ilegalmente. O parque não aceitava campistas naquela área e Herbert resolveu se aproximar. Fingindo ser um Guarda Florestal ele ordenou que os rapazes fossem embora, alegando que eles estavam poluindo a floresta. Os rapazes - David Oliker (18), Robert Spector (18), Brian Scot Card (19) e 
Mark Dreibelbis (15), desconfiaram que o homem mau encarado e de fala confusa0 não era quem dizia ser e pediram para ver suas credenciais de guarda. Mulin não disse nada, apenas levantou e foi embora com os rapazes rindo e o chamando de mentiroso.

Algumas horas mais tarde ele retornou. Trazia consigo a pistola 22 e abriu a barraca onde os rapazes dormiam atirando sem dizer nada. Dois foram feridos de raspão e os demais se renderam implorando para serem poupados. Ele os amarrou e colocou de joelhos. Em seguida atirou na cabeça de cada um à queima roupa. Ele roubou 20 dólares e um rifle leve.

Os corpos foram achados e quando a balística bateu com os crimes de janeiro a polícia não teve como guardar a informação de que o sul da Califórnia tinha um novo Assassino em Série. O matador escolhia qualquer alvo e fazia vítimas aleatoriamente descarregando sua pistola 22 sempre na cabeça. O Pânico se espalhou pela região e a população pedia a captura imediata do responsável por aquele horror.

Não foi preciso esperar muito para a próxima ação do maníaco. Mullin estava passando de carro por um riacho quando avistou Fred Perez, um senhor de 72 anos pescando na margem. Por razões desconhecidas (que nem Mullin soube explicar posteriormente), o assassino fez a volta e parou o carro no acostamento da estrada. Ele apanhou o rifle que havia roubado dos rapazes no acampamento e ficou mirando por longos minutos até desferir um tiro mortal que atingiu Perez no coração. Ele morreu imediatamente.

O crime foi cometido à luz do dia, diante de várias testemunhas que viram a ação. Uma pessoa memorizou a placa do carro que se afastou em seguida e enviou para a polícia rodoviária. O carro que Herbert Mullin dirigia foi abordado cerca de 15 quilômetros adiante e os policiais ordenaram que ele se entregasse. Ele apenas acenou com a cabeça e disse que não iria reagir. No carro os patrulheiros encontraram o rifle usado poucos instantes antes e a pistola 22 que foi usada nos massacres de janeiro e fevereiro.


Enquanto era interrogado na Delegacia pelos Detetives, um terremoto de magnitude 5,8 atingiu o sul da Califórnia causando danos estimados em 1 milhão de dólares. Ninguém no entanto se feriu gravemente e Mullin, orgulhoso ofereceu uma explicação que chocou os investigadores: ele havia sacrificado vítimas que evitaram uma tragédia em larga escala.  

Herbert Mullin admitiu sua culpa nos crimes e relatou seus motivos para os assassinatos, recebendo imediatamente a alcunha de "Assassino do Terremoto". A mídia fez um enorme alvoroço em cima de suas revelações e ele parecia realmente orgulhoso de tudo que promoveu e por ter "conseguido salvar a Califórnia de algo muito pior". Para evitar que algum imitador aparecesse desejando continuar o trabalho do assassino, a polícia decidiu não divulgar todos os detalhes de suas entrevistas, sobretudo os trechos em que ele dizia que, se ninguém assumisse seu trabalho, um Terremoto eventualmente aconteceria.

Durante o julgamento, o advogado de Mullin alegou insanidade, mas a promotoria conseguiu provar que vários dos crimes haviam sido premeditados e que ele chegou a fazer vítimas para ocultar suas ações, algo que alguém são faria. Á princípio a polícia da Califórnia chegou a imputar a ele outros crimes cometidos na área, sem saber que o serial-killer Edmund Kemper também estava agindo na região. A defesa chamou um especialista em transtornos psiquiátricos que atestou que Herbert Mullion sofria de transtorno esquizoide e que deveria ser tratado como insano. Ao ser interrogado, ele disse que sua missão era salvar a Califórnia e que lamentava ter matado tantas pessoas, mas que não se arrependia de tê-lo feito e que continuaria fazendo caso fosse libertado. O testemunho foi convincente para ele ser declarado legalmente insano.

Ele foi enviado para o Mule Creek State Prision onde ironicamente foi vizinho de cela de Edmund Kemper de quem se tornou colega. Os dois supostamente conversavam e trocaram informações sobre os crimes que cometeram. Uma vez sob supervisão psiquiátrica, o Assassino do Terremoto recebeu medicação e conseguiu ficar estável. Ele fez dez tentativas de pedido para liberdade condicional desde 1980, mas todas as vezes o direito lhe foi negado pela Junta Prisional.


O caso de Herbert Mullin é considerado um clássico exemplo de Assassino Missionário indivíduos que acreditam cumprir algum tipo de missão ou cruzada. Suas ações são resultantes de uma linha de pensamento superior que não se confunde com insanidade. Muitas vezes, eles acreditam que seus crimes são uma forma de conscientizar a sociedade e de chamar a atenção para algo que a destrói de dentro para fora. Por isso, de certa maneira eles pretendem ser capturados para em seguida ganhar acesso aos meios de comunicação e expor seu "trabalho" como mártires. 

"O Assassino do Terremoto" ganhou grande destaque e foi estudado por psiquiatras forenses e especialistas em Ciência Comportamental.  Hoje aos 74 anos ele parece um senhor inofensivo, mas suas avaliações demonstram que se ele parasse de tomar os remédios, ainda poderia ser uma ameaça para a sociedade. Por conta disso, é pouco provável que ele um dia seja colocado em liberdade.

E provavelmente todos estaremos mais seguros dessa forma.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

O Assassino do Terremoto: Os Crimes de Herbert Mullins


O dia 18 de abril é uma data inesquecível para os habitantes da Califórnia pois marca o dia em que o chão tremeu em toda Costa Dourada, causando danos principalmente em San Francisco. O Grande Terremoto de San Francisco, como passou a ser chamado, ocorreu em 18 de abril de 1906, devastando a cidade e deixando um rastro de destruição sem precedentes na história. Aniquilação, caos e mortes foram registradas em toda cidade que ficou em ruínas após o tremor de magnitude 7,9.

O Terremoto de San Francisco foi uma das grandes tragédias americanas com milhares de mortos.

O medo diante de um novo incidente de grandes proporções, capaz de devastar uma cidade em poucos segundos, se tornou uma preocupação recorrente entre os habitantes de San Francisco. Mais que isso, o terror se tornou parte do inconsciente coletivo de todos que residiam no Sul da Califórnia. Nos anos 1910 e 1920, apesar do acelerado crescimento da costa oeste, muitos dos moradores originais partiram justificando seu êxodo sob a seguinte alegação: "medo dos tremores". Muitos dos que sobreviveram ao terremoto desenvolveram fobias: crises de pânico e ansiedade diante do mais leve tremor. Era algo preocupante, já que a Califórnia repousa próxima da Falha de San Andreas que causa frequentes abalos sísmicos. A região registra ao menos 10 mil tremores anuais, ainda que a maioria deles sejam quase imperceptíveis, com algumas centenas acima dos 3 pontos na Escala Richeter e algumas dezenas acima de 5.  

Para os pessimistas não se tratava de uma questão de "se", mas de "quando". Quando um novo e igualmente potente terremoto iria se abater sobre a Califórnia?

Herbert William Mullin nasceu em Salinas, na Califórnia em 1947, filho da primeira geração de californianos nascidos sob o temor dos tremores. É interessante que ele tenha vindo ao mundo no dia 18 de abril, aniversário do terremoto, e o leitor logo irá entender porque. A vida de Herbert Mullin seria moldada por essa tragédia de uma forma estranha e imprevisível.


O pai de Herbert era um veterano condecorado da Segunda Guerra Mundial, um sujeito que exigia disciplina e respeito em sua casa - embora não fosse especialmente abusivo. Haviam regras e estas deviam ser cumpridas. O menino teve uma infância comum, apesar de já esboçar, ainda muito novo um medo patológico diante da mais leve agitação do solo. Herbert se escondia de baixo da cama, urinava e chorava nessas ocasiões. Ele havia feito uma estranha conexão entre a data de seu aniversário e a do Grande Terremoto e sentia que desempenharia uma função importante.

Apesar desses delírios, o rapaz cresceu em um ambiente social, contando com muitos amigos na época da escola. Jogou futebol americano, saiu-se bem nos estudos e foi nomeado pelos colegas "um dos que tinham maior chance de ter sucesso na vida". Nada apontava para o horrível futuro que estava reservado para Herbert Mullin.

Após a formatura, as coisas começaram a mudar. Um de seus melhores amigos sofreu um acidente fatal de automóvel e Herbert não conseguiu aceitar o incidente. Tomado por uma forte depressão, ele se isolou de tudo e de todos, construiu um tipo de altar dedicado ao falecido amigo em seu quarto e lá passava os dias. Seu sofrimento era tamanho que algumas pessoas mais próximas cogitaram que os dois tinham algum tipo de relação secreta. Eram os anos 60, e insinuações à respeito de homosexualidade podiam ser bastante cruéis. Apesar de Herbert ter uma namorada, ele próprio começou a expressar temores de que pudesse ser gay e odiava a si mesmo por conta disso.

Em 1965, Herbert fugiu de casa e seguiu para San Francisco onde acabou se juntando a uma comunidade de hippies que lhe apresentaram o uso de drogas e amor livre. Por algum tempo ele viveu nessa comunidade, mas acabou sendo expulso pelos demais membros por apresentar um comportamento estranho. Herbert costumava ser agressivo, possessivo e paranoico sobre praticamente tudo. Em certa ocasião, quando houve um pequeno terremoto, ele se tornou incontrolável e agrediu com socos e pontapés um dos seus colegas. Quando o tremor cessou ele desmaiou e acordou na delegacia de polícia descobrindo que quase havia matado o sujeito. Diagnosticado com esquizofrenia ele deveria ter sido recolhido para tratamento, mas ao invés disso, escapou e se mudou para Los Angeles.


Depois disso, Mullin tentou se tornar padre e ingressar nas forças armadas, mas não foi aceito por nenhuma das instituições. Uma simples entrevista demonstrava que ele sofria de transtornos acentuados. Sem perspectivas, ele voltou a usar anfetaminas e LSD, que aceleraram seu quadro agudo de esquizofrenia paranoide. Mullin foi despejado do apartamento que alugava por bater a cabeça contra a parede e gritar com pessoas que não estavam lá. 

Com tudo isso, em meados de 1969, não foi nenhuma surpresa que aos 21 anos ele tenha sido enviado para um asilo mental para tratamento. A família conseguiu uma vaga num instituto, mas ele acabou sendo recusado após sucessivos episódios de violência. As opções de Herbert foram reduzindo e ele acabou indo parar em um Manicômio Judiciário, o único lugar onde foi aceito mediante seu tumultuado histórico de agressões. Mas mesmo lá, ele não conseguiu ficar muito tempo. Herbert fugiu em 1970, e desapareceu, tornando-se um morador de rua.

Ele ressurgiu apenas em 1972, com 25 anos de idade, quando buscou ajuda de parentes que viviam em Felton, California. Ele dizia ter abandonado as drogas, mas é possível que ainda estivesse fazendo uso de substâncias entorpecentes com o objetivo de bloquear as vozes que ouvia em sua mente e que estavam cada vez mais altas. As vozes supostamente avisavam Herbert de que um terremoto estaria prestes a acontecer e que este seria mais destrutivo do que qualquer outro na história. Ele alegava ter pesadelos em que via a Costa Oeste inteira desabar no mar, com cidades sendo devastadas e incontáveis pessoas morrendo.

Herbert havia desenvolvido um terror absoluto desses delírios, ao sofrer tais episódios ficava dias paralisado, tamanho era seu medo. Ele também desenvolveu uma sensibilidade notável para detectar o menor tremor no solo. Quando tal coisa acontecia ele era tomado de um frenesi que o levava a agredir quem estivesse por perto. 


Expulso da casa dos parentes, ele voltou às ruas e começou a conjecturar uma teoria absurda sobre as causas para os terremotos. Em sua mente fragmentada, Herbert passou a acreditar que os terremotos eram um tipo de castigo divino por tudo que acontecia na Guerra do Vietnã. Os americanos teriam causado muitas mortes e tragédias no conflito do sudeste asiático e por uma questão de compensação, eles deveriam sofrer um número equivalente de mortes num futuro terremoto. Herbert escrevia suas teorias confusas em cadernos e mantinha um cuidadoso esquema em que registrava os menores tremores de maneira meticulosa. Também passou a correlacionar acontecimentos casuais, como o voo de pássaros ou um determinado padrão de movimento do trânsito com sinais de que a grande destruição estaria cada vez mais próxima.

Aterrorizado com os pesadelos, ele passou a acreditar que havia apenas uma maneira de postergar o Terremoto. Em sua insanidade, ele traçou um plano que visava realizar sacrifícios humanos que evitariam a destruição vindoura.

O primeiro assassinato ocorreu em 13 de outubro de 1972. Mullen havia roubado um carro e  estava vagando pelas ruas em busca de uma vítima em potencial. Ele avistou um morador de rua chamado Lawrence White quem já conhecia. Ele parou o carro e ofereceu carona ao sujeito, atraindo-o com uma garrafa de bourbon. Ele então dirigiu até um lugar isolado. Em determinado momento, deixou o carro dizendo que iria pegar outra garrafa no porta malas. Voltou com um taco de baseball e o usou para agredir violentamente o morador de rua. White tentou escapar, rastejou para fora do carro, mas foi perseguido por cerca de 10 metros, recebendo golpes violentos no corpo e na cabeça. Quando perdeu os sentidos, Herbert continuou batendo até que o pobre coitado estivesse morto. Os golpes foram tão fortes que o cadáver ficou irreconhecível. Em seguida, Herbert entrou no carro e foi embora. O corpo só foi encontrado no dia seguinte e mesmo os policiais mais veteranos se impressionaram com a forma como ele havia sido massacrado. 

Mais tarde, Herbert contaria que as vozes o mandaram escolher Lawrence White pois ele era a reencarnação do personagem bíblico Jonas. Enquanto conversava com sua vítima no carro, Herbert teria ouvido as vozes dizerem: "Não se preocupe, você está fazendo um trabalho importante. Mate-o, pois ele nasceu para ser sacrificado. Só assim muitos outros serão salvos".


Herbert voltou para o quartinho que vinha alugando numa pousada sórdida, tomou um banho para limpar o sangue e ficou em um estupor delirante por três dias. Sentia como se a sua missão sagrada estivesse sendo cumprida e se reconfortava pedindo comida chinesa e bebendo vinho barato. Quando ligava a televisão ou rádio, ouvia mensagens que o encorajavam a seguir matando e que isso era importante para salvar a Califórnia dos terremotos.

A vítima seguinte foi a estudante universitária Mary Guilfoyle de 24 anos de idade. Em 24 de outubro de 1972, ela estava à caminho de uma entrevista de emprego e como estava atrasada decidiu pedir carona. Mullin parou o carro e a deixou entrar. Ele dirigiu por apenas 200 metros, quando sacou uma faca e apunhalou a carona no peito. A lâmina entrou fundo e perfurou o pulmão da vítima. A surpresa do golpe a jogou para trás e ela tentou gritar por socorro mas sua boca estava cheia de sangue. O maníaco pedindo desculpas a cada investida a apunhalou mais 8 vezes, dirigiu até um beco e desferiu mais 10 golpes. Em seguida, deu início a um horrível ritual de dissecação, sempre por sugestão das vozes que diziam a ele o que deveria fazer. Ele a jogou no banco traseiro do carro, arrancou vários órgãos, inclusive o coração de Mary e dirigiu por estradas marginais atirando pela janela o que havia extirpado. Por fim, estacionou o carro numa estrada deserta e lá abandonou os restos sangrentos de sua obra.

A polícia é claro encontrou os restos humanos largados nas estradas e após uma busca na região descobriu o cadáver. Concluíram que estavam diante de um louco perigoso, mas não fizeram conexão entre a morte de Mary Guilfoyle e Lawrence White. Após o crime, Mullin trocou de pensão, se hospedou em um motel de beira de estrada e lá ficou até ouvir um novo chamado das vozes.

Elas não demorariam a contatá-lo e logo haveria mais sangue.

Cont...

sábado, 20 de agosto de 2022

O Gabinete de Curiosidades de Guilhermo del Toro - Vem aí série de antologia de Horror (e sim, tem Lovecraft)

Guilhermo del Toro é fã de Terror. Todo mundo sabe disso!

Guilhermo del Toro é fã de H.P. Lovecraft. Todo mundo também sabe disso!

Não é surpreendente portanto, que a próxima série sob a batuta do talentoso diretor e produtor mexicano esteja inserida no gênero e traga duas histórias dedicadas ao Cavalheiro de Provindece.

A Netflix anunciou que GUILLERMO DEL TORO'S CABINET CURIOSITIES vai estrear com um evento de quatro dias de episódios duplos a partir de terça-feira, 25 de outubro, com dois episódios lançados todos os dias até sexta-feira, 28 de outubro. 

Tudo para comemorar o Halloween!

A série, que conta com um belo orçamento, vem cercada de grande expectativa e reúne um time de diretores consagrados no cinema de terror recente. 

“Com o CABINET OF CURIOSITIES, nos propusemos a mostrar as realidades existentes fora do nosso mundo normal: as anomalias e curiosidades”, diz del Toro, que também apresenta o show. “Nós escolhemos a dedo e selecionamos um grupo de histórias e contadores de histórias para entregar esses contos, sejam eles vindos do espaço sideral, conhecimento sobrenatural ou simplesmente dentro de nossas mentes. Bem a tempo do Halloween, cada um desses oito contos é uma espiada fantástica dentro do armário de delícias existente sob a realidade em que vivemos.”

Mas o que podemos esperar desse Gabinete de Curiosidades assustadoras?

Os episódios que compõem a antologia são:

SONHOS NA CASA DA BRUXA: Com Rupert Grint (de Harry Potter), Ismael Cruz Cordova (Anéis do Poder), DJ Qualls (Breaking Bad), Nia Vardalos (Casamento Grego) e Tenika Davis estrelam um episódio escrito por Mika Watkins (BLACK MIRROR), baseado no conto de H.P. Lovecraft, e dirigido por Catherine Hardwicke (TREZE). 

Sinopse: Uma das histórias clássicas mais sombrios de H.P. Lovecraft narra a história de um jovem estudante de matemática que descobre estranhos ângulos na casa em que vai morar e a relação destes com uma temida bruxa da época colonial. 


RATOS DE CEMITÉRIO: David Hewlett (Pin, Rise of the Planet of Apes) protagoniza um episódio escrito e dirigido por Vincenzo Natali (SPLICE, CUBE) com base na história original de Henry Kuttner.

Sinopse: Em Salem, o zelador de um cemitério deve lidar com uma colônia de ratos anormalmente grandes que estão atacando os túmulos. Descendo ao ninho dos roedores ele se vê envolvido numa luta desesperada para exterminar a praga, ou ser exterminado por eles. 


LOTE 36: Tim Blake Nelson (Watchmen), Elpidia Carrillo (O Predador), Demetrius Grosse (Heroes) e Sebastian Roché (Supernatural) estrelam um episódio escrito por Regina Corrado, baseado em uma história original de Guillermo del Toro e dirigido por Guillermo Navarro.

Sinopse: Um misterioso lote arrematado num leilão oferece uma oportunidade única para o terror.


O MODELO DE PICKMAN: Ben Barnes (Westworld, O Justiceiro) e Crispin Glover (De Volta para o Futuro)  protagonizam um episódio escrito por Lee Patterson, baseado em um conto de H.P. Lovecraft, e dirigido por Keith Thomas (A VIGIL)

Sinopse: O artista Richard Pickman é um pintor conhecido pela sua habilidade e pelas obras polêmicas, mas qual seria a origem de suas telas macabras? Em seu estúdio, na calada da noite, Pickman recebe estranhos visitantes dispostos a posar para suas telas macabras.


A AUTÓPSIA: F. Murray Abraham (Amadeus), Glynn Turman (Super 8) e Luke Roberts (Mile High) estrelam um episódio escrito por David S. Goyer (THE DARK KNIGHT, SANDMAN), baseado em um conto de Michael Shea, e dirigido por David Prior (THE EMPTY MAN)

Sinopse: Um médico idoso que trabalha no escritório do legista está na pior. Ele tem câncer e, para aumentar sua miséria, está em uma triste missão para realizar autópsias em dez mineiros mortos após a explosão na mina. Teria sido um acidente ou resultado de uma sabotagem? O que o médico encontra ao fazer as autópsias é de outro mundo. Literalmente.


O MURMÚRIO: Essie Davis (The Babadook) e Andrew Lincoln (The Walking Dead) estrelam o episódio escrito e dirigido por Jennifer Kent (THE BABADOOK), baseado em história original de Guillermo del Toro.

Sinopse:  Uma história de medo, terror e fantasmas que desejam se comunicar com os vivos e relatar suas experiências além túmulo.


O FORASTEIRO: Kate Micucci (Raising Hope) e Martin Starr (Spider Man) estrelam um episódio escrito por Haley Z. Boston (HORROR SABOR DE CEREJA), baseado em um conto da autora de quadrinhos Emily Carroll, e dirigido por Ana Lily Amirpour NOITE)

Sinopse: Horror Cósmico, pavor sobrenatural e mortos vivos reanimados. 


A INSPEÇÃO: Peter Weller (Robocop) e Sofia Boutella (Kingsman) estrelam um episódio dirigido por Panos Cosmatos (Mandy), que também roteirizou com Aaron Stewart-Ahn

Sinopse: Horror Corporal, bizarrice e muito gore em uma história dirigido pelo visionário diretor de Mandy. Espera-se muito desse episódio em particular cuja história está sendo mantida trancada à sete chaves.

Trailer:


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O Dia que Lisboa Acabou - O Devastador Terremoto de 1755


"Toda a face do céu estava perfeitamente serena e clara; 
não havia o menor sinal de alerta daquele evento que se aproximava. 
Foi uma tragédia que fez desta cidade, outrora florescente, 
opulenta e populosa, cena do maior horror e desolação já registrado."

Reverendo Charles Davy, 
testemunha do terremoto - 1755

*     *     *

Parecia um dia como qualquer outro, mas aquela manhã de primeiro de novembro de 1755 ficaria marcada como o dia em que uma cidade e sua população conheceriam o Inferno.

Era uma data festiva, o feriado católico do Dia de Todos os Santos e a população extremamente religiosa de Lisboa, resplandecente capital do Reino de Portugal, estava reunida nas Igrejas da cidade. As pessoas haviam acordado cedo, naquele dia de sol, dispostas a desfrutar das festividades cristãs.

De repente, sem que ninguém esperasse, um rugido se fez sentir como se mil carroças puxadas por cinco mil cavalos estivessem correndo em disparada ao mesmo tempo pelas ruas de pedra. O som era tão alto e estranho que as pessoas correram para fora das igrejas para saber do que se tratava. Logo em seguida o chão começou a tremer com um força absurda e as construções ruíram como castelos de cartas soprados por um vento forte. Aquele era o início de uma longa sucessão de tremores sísmicos que testariam Lisboa ao longo de dias e que entrariam para história como um dos abalos mais destrutivos de todos os tempos.    

O devastador Terremoto de Lisboa de 1755, também conhecido como o "Grande Tremor de Lisboa" e o "Desastre Português", atingiu o coração de Portugal num sábado, por volta das 9h40. Os sismólogos estimam hoje que o terremoto de Lisboa teve uma magnitude na faixa de 8,5-9,0 na escala Richter cujo grau máximo é 9. O epicentro submarino foi o Oceano Atlântico a cerca de 200 km do Cabo de São Vicente, uma área sujeita ao deslocamento de placas tectônicas.

Em verdade, ocorreram três choques de terremoto distintos no período relativamente curto de dez minutos. O primeiro choque foi mais leve, seguido por um segundo choque muito mais poderoso que derrubou edifícios e devastou o mapa da cidade. Segundo relatos, os tremores e os movimentos do solo duraram algo em torno de três minutos e meio, um tempo extremamente longo. Fissuras gigantescas de até quatro metros e meio de largura rasgaram o centro de Lisboa e fizeram os prédios desabarem em instantes. Árvores foram arrancadas do solo com raízes e tudo, muros desmoronaram, torres de igreja ruíram e praticamente tudo que dependia de edificação veio ao solo ruidosamente. A população sem entender o que estava acontecendo deve ter experimentado um horror indizível.


Um terceiro choque menos poderoso foi sentido três minutos depois. Os efeitos do terremoto foram de grande alcance e a agitação foi sentida no norte da África, onde o terremoto causou grande perda de vidas em cidades da Argélia e Marrocos - mais de 640 quilômetros ao sul de Lisboa. A cidade de Argel foi completamente destruída. Tânger sofreu grande perda de vidas e danos extensivos. O terremoto foi particularmente destrutivo em Marrocos, onde cerca de 10.000 pessoas perderam a vida. Registros de arquivo documentam que as cidades costeiras de Rabat, Larache, Asilah e Agadir (chamada Santa Cruz enquanto sob domínio português) sofreram muitos danos. Mesmo as cidades de Fez, Meknes e Marrakesh no interior foram danificadas de forma semelhante. Mesquitas, sinagogas, igrejas e muitos outros edifícios desmoronaram em Meknes.

Na Europa, o terremoto de Lisboa causou danos consideráveis ​​na Espanha - particularmente em Madri e Sevilha, ainda que sem tanta dramaticidade. O tremor também foi sentido na França, Suíça e norte da Itália.

No entanto, os piores danos ocorreram no sudoeste de Portugal. Lisboa e seus habitantes foram particularmente atingidos pelo tremor de terra. Em 1755, Lisboa era uma grande cidade, lendária pela sua riqueza, prosperidade e sofisticação arquitetônica, era um dos centros mais bonitos da Europa com uma população estimada em 275.000 habitantes.

Quando o terremoto atingiu a capital, a maioria da população de Lisboa se distribuía nas seis magníficas catedrais, incluindo a grande Basílica de São Vicente de Fora. Em poucos minutos, esta grande e próspera cidade-portuária, berço de academias e universidades, foi reduzida a escombros fumegantes. 


A destruição causada pelo terremoto foi indescritível. As grandes catedrais de Lisboa, Basílica de Santa Maria, São Vicente de Fora, São Paulo, Santa Catarina, a Misericórdia - todas lotadas de fiéis - desmoronaram, matando milhares. Todo o Porto de Lisboa e o Cais de Pedra, construído em mármore ao longo do Tejo, desapareceram afundando no rio, sepultando com ele centenas de pessoas que se refugiaram ali.

Logo após o terremoto, vários incêndios eclodiram, principalmente iniciados por fornos de cozinha e velas acesas no dia santo. Alguns destes foram rapidamente extintos, especialmente nas áreas densamente povoadas. Mas muitos habitantes fugiram de suas casas e deixaram as lareiras acesas. Ruas estreitas cheias de detritos caídos impediram o acesso aos locais dos incêndios e estes começaram a se alastrar.

Em poucos minutos o fogo se espalhou e transformou Lisboa em um inferno furioso que ardia sem trégua. Incapaz de correr, centenas de pacientes do Hospital Real morreram queimados em suas camas. Nas masmorras a situação foi semelhante com prisioneiros morrendo em meio a desabamentos e fogo. As praças públicas se encheram de pessoas e seus pertences resgatados, mas à medida que o fogo se aproximava, essas praças também tiveram de ser abandonadas. O incêndio atingiu proporções catastróficas com chamas altas lambendo as ruínas e intoxicando os feridos. A quantidade de pessoas morta em decorrência da fumaça é notável. Para se ter uma ideia, dois terços da cidade foram consumidos pelas chamas e estas duraram nada menos que cinco dias até serem totalmente extintas.

Compreensivelmente, após o terremoto, muitos moradores da cidade fugiram para a orla, acreditando que nas praias estariam mais bem protegidos dos incêndios e dos destroços dos tremores secundários. Alguns deles procuravam segurança no mar, embarcando em navios atracados no rio Tejo e indo para o mar aberto. Isso se provou um erro fatal!


Cerca de 40 minutos após o terremoto, uma enorme onda de Tsunami envolveu o porto e o centro da cidade, subindo o Tejo, "tão rápido que várias pessoas andando a cavalo não conseguiram escapar nem à galope; foram carregadas e afogadas". A área entre Junqueira e Alcântara na parte oeste da cidade foi a mais danificada pela onda que lavou a área levando uma torrente de destroços pelas ruas adentro. Quem estava na rua nesse momento ou foi carregado pela água ou foi ferido pelos restos empurrados pela força do mar terra adentro. A onda levou água 150 metros além da costa.

Antes que a grande muralha de água (que media mais de 20 metros) atingisse o porto, as águas haviam recuado revelando cargas perdidas e naufrágios esquecidos. As pessoas desconheciam o perigo e permaneceram ao redor da costa para observar o fundo do mar exposto e buscar algo de valor. Essa era uma armadilha letal que se formava. Mal sabiam que o tsunami se formava com o retrocesso da maré e a formação de um a onda de grandes proporções. A primeira onda do tsunami foi seguida por mais duas que atingiram a costa, cada uma arrastando pessoas e detritos para o mar e deixando grandes trechos expostos do fundo do rio. Barcos superlotados com refugiados viraram e afundaram matando seus ocupantes. As demais ondas que vieram atrás, apesar de menores, tendo 6 metros em média, também causaram um efeito devastador.

Lisboa não foi a única cidade portuguesa afetada pela catástrofe. As três ondas do tsunami atingiram várias cidades ao longo da costa oeste de Portugal, em alguns locais chegando a trinta metros de altura. Na vila de Cascais, a cerca de 30 km a oeste de Lisboa, as ondas naufragaram vários barcos. Em zonas costeiras como Peniche, situada a cerca de 80 km a norte de Lisboa, muitas pessoas foram mortas pelo tsunami. Em Setúbal, 30 km ao sul de Lisboa, a água atingiu o primeiro andar dos edifícios. Em todo o sul do país, em particular no Algarve, a destruição foi desenfreada.

O tsunami destruiu algumas fortalezas costeiras, faróis e portos, nos níveis mais baixos, arrasou várias casas. Quase todas as vilas e povoados costeiros do Algarve foram fortemente danificados, exceto Faro, que estava protegido por bancos de areia. Em Lagos, as ondas atingiram o topo das muralhas da cidade. Para as regiões costeiras, os efeitos destrutivos do tsunami foram mais desastrosos do que os do terremoto.


No sudoeste da Espanha, o tsunami causou danos a Cádiz e Huelva, e as ondas penetraram no rio Guadalquivir, chegando a Sevilha. Na costa da Ilha da Madeira as ondas tinham uma altura de 15 metros. Em Gibraltar, o mar subiu subitamente cerca de dois metros. As ondas do tsunami causaram grandes danos e baixas à costa ocidental de Marrocos, desde Tânger, onde as ondas atingiram as fortificações muradas da cidade, até Agadir, onde a água passou sobre a muralha, matando muitos. Em Ceuta o tsunami foi forte, mas no Mar Mediterrâneo ele diminuiu rapidamente.

O tsunami levou pouco mais de quatro horas para viajar mais de 1.600 quilômetros até a Cornualha, no Reino Unido. Galway, na costa oeste da Irlanda, também foi atingida, resultando na destruição parcial da seção "Arco Espanhol" da muralha da cidade. O tsunami atravessou o Oceano Atlântico, atingindo as Pequenas Antilhas à tarde. Relatórios de Antígua, Martinica e Barbados observam que o mar subiu em toda costa.

O terremoto de Lisboa de 1755 foi um dos terremotos mais destrutivos e mortais da história, matando cerca de um terço de toda a população da capital portuguesa. Dezenas de milhares de portugueses que sobreviveram ao terremoto foram mortos pelo tsunami desencadeado pelo terremoto. O tsunami foi causador da maioria das 75.000 mortes em Portugal e outras tantas em pontos também atingidos.

Os europeus do século XVIII ficaram aterrorizados pelo que aconteceu em Lisboa e se perguntavam se aquilo poderia se repetir em outros lugares. Pela primeira vez na história nações enviaram suprimentos para aliviar a tragédia dos desabrigados e mitigar seu sofrimento. Os grandes cientistas e teólogos da época buscaram entender o desastre dentro dos sistemas de crenças religiosas e racionais que vigorava. Como o terremoto ocorreu no Dia de Todos os Santos e destruiu a maioria das principais igrejas da cidade, os padres reacionários atribuíram a destruição aos supostos pecados de Lisboa. Os inquisidores literalmente percorriam as ruas à procura de hereges para enforcar e isso, aos olhos de alguns, era a causa da tragédia. Outros já pensavam que a desgraça havia ocorrido pela falta de zelo do povo e seus pecados.


Filósofos do Iluminismo, notadamente Voltaire, escreveram sobre o evento. Voltaire usou o terremoto em "Candide" e em seu "Poeme sur le desastre de Lisbonne" ("Poema sobre o desastre de Lisboa"). Em "Candide" (1759), ele relata como: "Depois do terremoto, que destruiu três quartos da cidade de Lisboa, os sábios daquele país não podiam pensar em meio mais eficaz para preservar o reino da ruína total do que entreter o povo com um auto-de-fé (português para "ato de fé", rito da Inquisição Católica em que a sentença foi executada, geralmente queimando na fogueira), tendo sido decidido pela Universidade de Coimbra , que a queima de algumas pessoas vivas por um fogo lento, e com grande cerimônia, seria um preventivo infalível de terremotos."

O conceito filosófico de "O Sublime", como descrito pelo filósofo Immanuel Kant nas Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime, inspirou-se em parte nas tentativas de compreender a enormidade do terremoto e tsunami que se abateu sobre Lisboa.

Oitenta e cinco por cento dos edifícios de Lisboa foram demolidos, incluindo palácios e bibliotecas famosos, bem como a maioria dos exemplos da distinta arquitetura manuelina do século XVI de Portugal. Vários edifícios que sofreram poucos danos no terremoto foram destruídos pelo incêndio subsequente. A nova Casa de Opera, aberta apenas seis meses antes (chamada de Opera Fênix), foi incendiada. Os magníficos museus de Lisboa e as suas bibliotecas - que abrigam documentos e papéis de valor inestimável e tratam do grande passado de Portugal - acabaram queimando até o chão.

Arquivos e outros documentos preciosos foram completamente destruídos. Obras de arte, tapeçarias, livros, manuscritos, incluindo os valiosos registros da Companhia da Índia se perderam para sempre. Também foi queimada a Morada do Rei, o Palácio Real da Ribera, que ficava às margens do Rio Tejo. No interior, a biblioteca real de 70.000 volumes, bem como centenas de obras de arte, foram perdidas. Os arquivos reais desapareceram juntamente com registos históricos detalhados das explorações de Vasco da Gama e outros navegadores antigos. Mais de duzentas pinturas de valor inestimável, incluindo pinturas de Tito, Rubens e Correggio, viraram cinzas no palácio do Marquês de Lourcal.


O terremoto destruiu um importante centro cultural da Europa, desferindo um duro golpe para a nação pioneira na exploração ultramarina. Seus efeitos físicos generalizados despertaram uma onda de interesse científico e pesquisa sobre terremotos. O sismo de Lisboa, seria o primeiro a ser estudado cientificamente pelos seus efeitos numa grande área,. Ele pode ser considerado o impulso que levou ao nascimento da sismologia moderna e da engenharia sísmica. Apenas o terremoto de 1906 em São Francisco se compara em impacto econômico e psíquico ao que aconteceu em Portugal.

O evento de 1755 é muito importante também porque mostra, sem sombra de dúvida, que um terremoto que ocorre no leste do Oceano Atlântico pode criar um tsunami que cruza o Atlântico e se desloca para as costas do leste da América do Norte. Este tsunami também passou pelas ilhas do Caribe, com ondas 6,5 metros sendo relatadas.

Um relato do terremoto de Lisboa e das suas consequências foi feito pelo Reverendo Charles Davy, sobrevivente do desastre. Sua narrativa é uma leitura pavorosa até os dias de hoje:

"Não há palavras para expressar o Horror", escreveu, "Tal situação não é fácil de imaginar para quem não a sentiu, nem de descrever para quem a sentiu. Foi o dia em que Lisboa acabou!"

Mas a Capital de Portugal não acabou...


Os sobreviventes precisaram enfrentar as consequências da tragédia e para isso contaram com o ímpeto de seu Primeiro Ministro, o Marquês de Pombal que se mostrou um líder voluntarioso. Quando perguntado sobre qual seria a sua primeira medida após o incidente ele respondeu: "Enterrar os mortos e curar os vivos". Pombal enfrentou o descontentamento da Igreja ao ordenar que cadáveres fossem colocados em barcos avariados e queimados em alto mar como forma de prevenir o surgimento de doenças causadas pelo acúmulo de corpos.

Tamanho era o estrago que muitos defendiam que Lisboa deveria ser abandonada e a capital movida para o Porto. Contudo, Pombal foi enfático ao dizer que reconstruir a cidade era a única forma de sanar as cicatrizes abertas. As obras de reconstrução da cidade foram aprovadas em tempo recorde e logo ela inteira se converteu em um canteiro de obras que revitalizou muitas das regiões devastadas. As ruas medievais foram substituídas por alamedas, a planta baixa sofreu mudanças que modernizaram muito a cidade. Também foram realizadas obras para prevenir tragédias similares com a adoção de prédios mais resistentes e a adoção de brigadas de incêndio.

Não é exagero dizer que Pombal foi o principal responsável por salvar Lisboa e reconstruí-la praticamente do nada. Uma estátua em sua homenagem foi erguida voltada na direção de sua obra prima.

As memórias dessa tragédia monumental assombraram os habitantes de Lisboa por gerações, muito tempo depois daquele fatídico dia, contudo a reconstrução da cidade foi uma demonstração de capacidade de reagir diante de revezes sofridos.