Mais uma cena tenebrosa de Call of Cthulhu.
Essa foi extraída de um dos meus cenários favoritos "The Pale God" aventura que eu já devo ter mestrado pelo menos uma meia dúzia de vezes. E que mestrei mês passado no encontro do Dungeon Carioca.
Como muitas aventuras, essa se inicia com um chamado urgente de um conhecido dos investigadores que afirma necessitar encontrá-los o quanto antes. O encontro é marcado em uma pequena cabana nos arredores da Universidade Miskatonic em uma noite chuvosa.
O grupo não poderia imaginar porque o chamado era tão urgente e o que Stuart Cabot-Jenkins - um notável estudante do oculto - desejava contar a eles que não poderia esperar até o amanhecer...
* * *
Dentro da cabana a luz do lampião a querosene era tênue, suficiente apenas para iluminar o pequeno aposento. Havia uma mesa redonda, algumas cadeiras e alguns poucos móveis rústicos. Sentado no canto mais escuro os recém chegados perceberam a presença de um vulto que se moveu assim que a porta se abriu.
"Finalmente vocês chegaram..." comentou uma voz débil e levemente rouca. E o homem se levantou com indisfarçável dificuldade. "Temia que não viessem à nossa pequena reunião." completou estendendo a mão para acender um segundo lampião colocado sobre uma mesinha de apoio.
Sem dúvida era Stuart Cabot-Jenkins, mas custou aos investigadores reconhecer naquela figura esguia seu companheiro de estudos. A visão era tudo menos agradável. Os anos haviam sido cruéis com Cabot-Jenkins, aquele que era um exemplo de vigor e obstinação não passava de uma sombra do que foi um dia. Os cabelos se tornaram grisalhos prematuramente, a expressão grave, a face pálida de aspecto pouco saudável marcada por profundas olheiras, lábios finos, uma barba cerrada por fazer e a postura de um ancião preso num corpo debilitado. No desastroso conjunto, apenas os olhos mantinham aquele brilho de genialidade. Vestido com uma simples camisa de flanela, uma calça social e sapatos Oxford, sua aparência geral era de desleixo. Ele se levanta colocando sobre a mesa um copo, ao lado do lampião e de uma garrafa de whisky pela metade.
"Vamos, vamos... entrem. A chuva está fria e vocês devem estar molhados. Aqueçam-se na lareira" seus modos eram um tanto afetados, incoerentes, fruto de uma tentativa de vencer sua óbvia agitação.
Ele se aproximou estendendo a mão de dedos longos para cumprimentá-los. Suas mãos estavam geladas apesar da temperatura confortável no interior da choupana. Seu hálito exalava um odor de álcool.
Quando o último dos investigadores adentrou, Cabot fechou a porta e serviu alguns copos com a bebida de boa qualidade.
"Estou satisfeito que tenham vindo... Meus velhos amigos." ele disse com a voz monótona e sussurrante, disfarçada com um sorriso sardônico. "Tenho muito que lhes falar... muito mesmo..."
Aaron foi o primeiro a vencer a surpresa e estupefação e estendendo a mão apanhou um copo oferecido pelo anfitrião.
"Como vai Stuart?" perguntou experimentando amigavelmente "O que aconteceu com aquele jovem que até pouco tempo presidia nossas reuniões nesta mesma cabana? Melhor que venha a cuidar mais de sua saúde."
Cabot-Jenkins grunhiu algo ininteligível antes de responder:
"Aquele jovem não existe mais Aaron... Minha vida mudou muito. Mas é bom que você tenha mencionado nossas antigas reuniões, pois o que tenho a dizer tem ligação com aquela época".
Os demais se aproximaram para ouvir melhor as palavras de Cabot-Jenkins que soavam abafadas pelo som da chuva lá fora. Jesica tentou quebrar o gelo se mostrando simpática ao lembrar a última reunião na cabana anos atrás, mas foi interrompida de forma grosseira:
"Ouçam-me, eu os chamei para algo sério, e não para ficar trocando estórias pueris. O que tenho a dizer é algo que vai muito além daquelas reuniões tolas".
Ele fez uma nova careta enquanto enchia um copo de bebida e entornou por inteiro, suas mãos estavam trêmulas e sua face mais pálida do que nunca.
Sua expressão era de impaciência, os olhos brilhando como uma centelha diante da luz da lareira crepitando. Lá fora clarões de relâmpago iluminavam a noite, seguidos de estrondos ruidosos. Todos ficaram em silêncio, como se sentissem que era chegado o momento de Cabot-Jenkins enfim explicar porque os chamou no meio da noite.
"Vocês lembram de nossas experiências com o sobrenatural?" ele perguntou com um sorriso falso e com um risada de escárnio. "Como nós éramos tolos. Não sabíamos de nada! Nada! Eu andei por muitos lugares desde então senhores... Estive em locais em que não podem imaginar, vi coisas absurdas e examinei tomos ancestrais repletos de blasfêmia e conhecimento proibido" ele ergue o indicador trêmulo como se quisesse salientar um ponto. "E vi o mal... o verdadeiro mal. É disso que quero falar meus caros, do mal". Ele sorriu novamente, a mesma expressão afetada beirando a insanidade.
"Em meus estudos eu estive em contato com o mais tenebroso mal... algo incrivelmente antigo, primitivo, algo incomensurávelmente inumano... há cultos devotados a entidades veneradas como Deuses. E é isso que são: Deuses! No passado eles eram grandes, hoje estão quase esquecidos... Mas essas forças continuam poderosas atuando nas sombras. Elas estão voltando... elas..." sua face se contorceu e deixou escapar um gemido baixo. Sua mão correu por sobre o criado mudo e derrubou a garrafa de whisky.
"Eu fui longe demais... Eu simplesmente não posso mais... Quisera nunca ter feito... Quisera nunca ter me envolvido..." Suas palavras soaram desarticuladas, como se ele estivesse sem controle de suas faculdades. "Vocês precisam ajudar... Precisam saber" era um apelo desesperado.
"Stuart o que está acontecendo? Você está bem?" perguntou um de seus colegas preocupado.
Como resposta ele apenas se curvou para frente sofrendo um espasmo. Todos se assustaram com o movimento repentino. Em seguida jogou a cabeça para trás de forma ainda mais abrupta, sua face transfigurada: lágrimas correndo e o medo estampado nela.
"Por Deus Elliot, faça alguma coisa ele está tendo algum tipo de ataque!" gritou o Professor Jason Cartwright se movendo rapidamente para auxiliar o colega.
Elliot o acompanhou:
"Tentem segurá-lo, ele está tendo uma convulsão e pode se machucar. Os outros fiquem fora do caminho".
Imediatamente os demais obedeceram e se afastaram assustados enquanto Jason tentava segurar os braços de Cabot para imobilizá-lo. Apesar da aparente fragilidade ele demonstrava uma força incrível e era difícil contê-lo. O doutor se aproximou buscando abrir sua boca para verificar se ele está sendo vítima de um ataque epilético. Cabot sussurrou entre os gemidos: "A casa do verme... Destruam a casa do verme."
Em seguida ergueu a cabeça e gritou em desespero: "Eles estão me rasgando vivo!"
Sangue escuro escorreu da sua boca. Em um novo espasmo, ainda mais forte, Cabot se libertou de seus colegas e lançou um grito agudo semelhante a um uivo que congelou o sangue de todos. Ele cambaleou porta afora da cabana, mas só conseguiu dar dois passos antes de desabar de joelhos em uma poça de água turva e lama. Lá finalmente silenciou, de costas para os investigadores que o seguiram apavorados.
Foi então que aconteceu: um som horrível, como se algo estivesse se rasgando, e de repente a água se tingiu de vermelho. Os investigadores direcionaram a luz das lanternas para o corpo ainda em espasmos, e se depararam com uma cena inacreditável. O tórax e a barriga de Cabot-Jenkins se abrira como se tivessem sido rasgados por uma faca de dentro para fora. E desse horrível ferimento brotaram centenas, milhares de pequenas criaturas diminutas semelhantes a aranhas de cor pálida. Elas escalavam, saltavam e corriam pelo chão. O corpo parecia murchar gradualmente como se fosse um balão esvaziado a medida que essa incontável ninhada transbordava de seu interior gotejante.
O fedor era indescritível. O cadáver teve um derradeiro espasmo e ficou estático naquela horrenda posição arquejada. As criaturas corriam para todo lado buscando abrigo, escapando da luz das lanternas a procura de refúgio no incontrolável desejo de sobreviver. Jason pisoteou dezenas em um frenesi desesperado, uma dança macabra de morte e aniquilação, mas centenas escaparam.
Os investigadores incrédulos assistiam a cena, congelados pelo horror e asco de ter presenciado o nascimento de algo abominável além das palavras.
E esse foi apenas o início...
Mais uma ótima e aterradora descrição.
ResponderExcluirMamedes
Oi, vocês não teriam o Diário do Cabot-Jenkins traduzido e digitado do cenario The Pale God? Ou algum outro material para me auxiliar a mestrar esse cenário fantástico?
ResponderExcluirEu gostaria de mestrar esse cenário também, se puderem ajudar com o material traduzido eu agradeceria muito!
ExcluirEsse final!
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