Essa notícia é tão estranha que precisava ser compartilhada.
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Estariam seguidores do demônio interessados em utilizar as cinzas de Nikola Tesla para um ritual satânico?
Essa pergunta foi feita pelo Conselho da Cidade de Belgrado no qual o presidente executivo revelou que altos oficiais na Igreja Ortodoxa pediram que as cinzas de Tesla fossem removidas de um Museu e levadas para uma Igreja, onde estariam melhor protegidas dos cultistas. De onde surgiu esse boato? Ele é real ou não passa de história?
Nikola Tesla morreu na cidade de Nova York em 7 de janeiro de 1943. Seu corpo foi cremado e depositado numa urna juntamente com sua máscara funerária, mantido naquela cidade até 1957. Posteriormente o material foi enviado para Belgrado onde os restos foram colocados em uma esfera folheada a ouro, repousando sobre um pedestal de mármore no Museu devotado ao brilhante cientista.
O Museu Nikola Tesla é uma das atrações principais na Capital da Sérvia, atraindo curiosos e interessados em conhecer detalhes sobre a fascinante vida desse notável cientista. Tesla que viveu a maior parte de sua vida na América foi um dos mais impressionantes cientistas de seu tempo, envolvido em inúmeros campos de pesquisa. Ele se destacou como engenheiro mecânico e eletrotécnico. Seu trabalho teórico ajudou a formar as bases dos modernos sistemas de potência elétrica em correte alternada, incluíndo os sistemas polifásicos de distribuição de energia e o motor AC, essenciais para o ponta-pé da Segunda Revolução Industrial.
Depois da sua demonstração de transmissão sem fios (rádio) em 1894 e após ser o vencedor da "Guerra das Correntes", tornou-se largamente respeitado como um dos maiores engenheiros electrotécnicos que trabalhavam nos EUA. Muitos dos seus primeiros trabalhos foram pioneiros na moderna engenharia electrotécnica e muitas das suas descobertas foram importantes a desbravar caminho para o futuro. Durante este período, nos Estados Unidos, a fama de Tesla rivalizou com a de qualquer outro inventor ou cientista da história e cultura popular, mas devido à sua personalidade excêntrica e às suas afirmações aparentemente bizarras e inacreditáveis sobre possíveis desenvolvimentos científicos, Tesla caiu eventualmente no ostracismo e era visto como um cientista maluco
Mas a criatividade de Tesla e seu brilhantismo foram recuperados pelas novas gerações de cientistas que o consideram um gênio.
É por isso que essa notícia chamou tanta atenção.
O presidente do Conselho da Cidade de Belgrado, Nikola Nikodijevic levou o assunto aos seus colegas, afirmando que membros da mais alta-hierarquia da Igreja Ortodoxa manifestaram sua grande preocupação com uma possível conspiração envolvendo satanistas.
Segundo Nikodijevic, os alto-sacerdotes teriam afirmado que o plano nefasto desses "Seguidores de Satã" envolviam contatar espiritualmente o grande cientista e de alguma forma - usando de rituais e/ou magia negra, compelir seu espírito a revelar a existência de armas e engenhos de destruição que ele teria contemplado em vida (mas que jamais construiu na prática). Para os Patriarcas Ortodoxos, as armas de Tesla representariam uma grave ameaça ao futuro da humanidade, podendo decretar o fim da civilização se um dia elas forem de fato construídas e empregadas.
Um dos sacerdotes que pediu a transferência dos restos foi o respeitado Patriarca Irinej, que compareceu diante do Conselho e implorou que as cinzas fossem protegidas. Segundo ele, Seitas Satânicas que contam com membros influentes na sociedade de Belgrado - "e que envolvem pessoas importantes na sociedade sérvia, estariam arquitetando o plano há décadas". Só agora, no entanto, eles estariam prestes a ter sucesso em seus planos.
Na opinião do Patriarca Irinej a melhor maneira de coibir a utilização das cinzas de Tesla é deixá-las sob a proteção da Igreja Ortodoxa Sérvia. "Trata-se de um assunto de máxima importância, sobre o qual nós iremos nos arrepender amargamente caso não enfrentemos suas implicações" disse ele em discurso diante dos Conselheiros. Levando as cinzas para solo sagrado, colocando-as na Igreja de St. Sava, seria a melhor maneira de evitar que os cultistas conseguissem estabelecer contato com o espírito do cientista e obter suas invenções.
Desde 2011, políticos tentam levar as cinzas de Tesla para um monumento destinado a abrigar os restos mortais dos maiores heróis da nação.
Para salientar a urgência de seu pedido, o Patriarca apresentou uma série de fotografias que mostram o que ele afirmou se tratar de uma "Missa Negra" realizada no Museu Tesla diante do globo. As fotos foram obtidas no início do ano, na ocasião um guarda do Museu Tesla supostamente conseguiu impedir que um grupo removesse o globo de seu repouso e fugisse com ele.
A suposta missa negra fotografada no Museu de Nikola Tesla
Branimir Jovanovic, o diretor do Museu Nikola Tesla, negou que qualquer ritual satânico tenha ocorrido no interior do prédio. Ele preferiu não comentar os rumores a respeito de gatos pretos encontrados mortos, de alegadas possessões demoníacas e de vultos estranhos vistos nas imediações do Museu. A respeito de uma invasão do Museu ocorrida em 2009, Jovanovic admitiu que ladrões tentaram entrar no Museu com a intensão de remover algumas peças valiosas, mas que todos os envolvidos foram presos e que nenhum deles era um satanista.
Enquanto ninguém decide o que fazer com a urna contendo as cinzas de Tesla, o Museu tomou suas próprias providências contratando vigias extras, aumentando assim a segurança. Eles também colocaram um cordão de veludo para manter os visitantes a uma distância segura do globo.
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Por mais ridícula e absurda que seja a notícia - corroborada através de vários jornais respeitados como o The Guardian e o New York Times, a coisa toda é muito estranha e dá pano para a manga.
Além disso, lembra muito o roteiro central de "O Caso de Charles Dexter Ward" escrito por H.P. Lovecraft em 1930...
Na novela, uma das mais celebradas do autor, um feiticeiro poderoso tenta adquirir os restos mortais de vários bruxos e conhecedores de ocultismo com o intuito de trazê-los de volta dos mortos e torturá-los em busca do que eles sabiam quando vivos. Joseph Curwen, o terrível feiticeiro de Providence, ele próprio renascido dos mortos, é um dos vilões mais notórios da bibliografia de Lovecraft, um sujeito terrível movido pela loucura e sede de poder. O método utilizado por ele para trazer os mortos de volta à vida envolvia algo chamado "Decomposição dos Sais Perfeitos" no qual as cinzas e restos, devidamente recuperados via exumação, eram submetidos a um ritual que permitia sua ressurreição.
Trocando o "conhecimento oculto" dos ressurrectos por "conhecimento tecnológico" a estória é basicamente a mesma. Imagina só se as invenções de Tesla - incluíndo o lendário raio da Morte, a Arma Definitiva, fosse empregado para o mal? Imagina isso caíndo nas mãos de terroristas? Maníacos como o Estado Islâmico ou Al Qaeda fariam a festa com isso. Já pensou se essa arma vai parar com uma nação belicista disposta a usá-lo em suas guerras (Coréia do Norte?) ou ser empregado por ditadores (Al-Assad)?
Para conseguir isso, eles precisariam apenas das cinzas de Tesla, o que, considerando a segurança relaxada do Museu não parece ser um obstáculo muito grande. Para quem quer brincar de "Two Minutes to Midnight" isso francamente não é nada.
Ainda bem que existem pessoas interessadas em frustrar os planos desses caras: Patriarcas de uma Sociedade Secreta, um secto da Ortodoxia, que prometeu impedir que conhecimento perigoso caia em mãos erradas. A coisa quase se escreve sozinha...
Junte a isso a noção de que Tesla pode ter sido um agente da Grande Raça de Yith ou quem sabe uma máscara de Nyarlathotep e pronto, temos uma mini-campanha quase pronta.
É claro, o mais provável é que a Igreja Ortodoxa e o Patriarca estão simplesmente interessados em explorar a atração levando tudo para sua Igreja, mas que parece o roteiro de uma estória maluca de conspiração a lá Dan Brown, isso parece.
E já que citei "Two Minutes to Midnight" que tal assistir o tosquíssimo vídeo dessa música do Iron Maiden?
E torcer para que as cinzas fiquem em segurança...
Filmes inspirados pela obra de H.P. Lovecraft podem variar um bocado em se tratando de qualidade.
Infelizmente a verdade é que a maioria das obras inspiradas pelas criações de Lovecraft não são lá grande coisa e ocupam aquela área dedicada aos filmes trash (o que não é necessariamente ruim, mas francamente tem muitos filmes medíocres na lista).
Mas existem as exceções...
É possível citar alguns filmes que são bem interessantes e que valem a pena assistir, ter na coleção e ver várias vezes. Por sorte, a distribuidora Versátil está lançando uma edição especial chamada Lovecraft no Cinema, que estará à venda exclusivamente na Livraria da Cultura. A seleção de filmes é excelente: Re-Animator e Do Além filmes do diretor Stuart Gordon, o fantástico "À Beira da Loucura" do craque John Carpenter, que creio eu, jamais saiu em DVD aqui no Brasil e o maravilhoso documentário Fear of Unknown (quase duas horas de biografia do Cavalheiro de Providence, repleto de comentários e informações suculentas).
Não bastasse ser um pacote muito bom, a coleção ainda vem recheada de extras dignos de uma edição especial e com um preço bastante camarada.
Aqui está o press-release do lançamento.
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A Livraria Cultura e a Versátil apresentam LOVECRAFT NO CINEMA, digistack com 2 DVDs que reúne três filmes inspirados na obra de H. P. Lovecraft (1890-1937), um dos maiores mestres da literatura de horror, além de um documentário sobre o escritor e quase duas horas de vídeos extras. Edição Limitada com 4 cards. Abaixo todas as informações sobre esse super lançamento.
DISCO 1
“Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos” (“Re-Animator”, 1985, 86 min.) De Stuart Gordon. Com Jeffrey Combs, Bruce Abbott, Barbara Crampton.
Baseando-se livremente no conto “Herbert West: Reanimador”, Stuart Gordon criou uma obra-prima do horror, com muito sangue e cenas escatológicas. Inédita versão restaurada com vários extras, incluindo making of e cenas excluídas.
“Do Além” (“From Beyond”, 1986, 86 min.) De Stuart Gordon. Com Jeffrey Combs, Barbara Crampton e Ted Sorel.
A partir do conto homônimo de poucas páginas, Stuart Gordon volta ao universo lovecraftiano para mostrar até onde a tecnologia pode transformar o ser humano.
DISCO 2
“À Beira da Loucura” (“In the Mouth of Madness”, 1994, 95 min.) De John Carpenter. Com Sam Neill, Julie Carmen e Jürgen Prochnow.
O investigador John Trent é contratado para achar Sutter Cane, um escritor de histórias de terror que, após terminar seu último livro, misteriosamente desapareceu. Brilhante homenagem de Carpenter ao universo literário de Lovecraft.
“Lovecraft: Medo do Desconhecido” (Lovecraft: Fear of the Unknown, 2008, 89 min.) De Frank H. Woodward. Com Neil Gaiman, Guillermo Del Toro e John Carpenter.
Lovecraft é considerado por muitos o pai do horror moderno. Este documentário faz uma crônica sobre a vida, a obra e as ideias do autor de “O chamado de Cthulhu”.
VÍDEOS EXTRAS: Making of de “Re-Animator” (69 min.), Trailers de “Re-Animator” (7 min.), Trailer de “Do Além” (1 min.), Trailer de “À Beira da Loucura” (2 min.), Cenas excluídas de “Re-Animator” (26 min.), Depoimento de Stuart Gordon sobre “Do Além” (9 min.)
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A caixa com os filmes é realmente muito bonita, um acabamento de primeira como vocês podem ver nas fotos abaixo:
Para quem ficou curioso a respeito dos filmes, o Blog já fez a resenha de três deles. Nos links a seguir, é possível ler essas resenhas:
Antes de começar a ler esse artigo, tenha certeza de que ele contém MUITOS Spoilers, então antes de sequer ver as imagens saiba que ele pode estragar a sua dversão. Então pare enquanto pode.
Corrupção. Abuso. Fetichismo Sexual.
Um grupo de detetives desajustados e cheios de problemas. Personagens com muitos tons de cinza e atitude auto-destrutiva. Um mundo niilista ao extremo. Um cadáver deixado em posição teatral.
O sul da Califórnia, o local escolhido para ambientar a aguardada segunda temporada de True Detective parece um viveiro para homens e mulheres com as vidas estilhaçadas pelo destino. Quebrados e Derrotados. A megalópole californiana é apresentada com tons obscuros, compondo um painel de noir modernista. No tema e no tom, há claras similaridades entre a primorosa temporada anterior e essa que se inicia. Ainda assim, esse é um jogo totalmente diferente.
Da equipe original de True Detective, apenas o criador e roteirista, Nic Pizzolatto continua na série. A segunda temporada não conta com o diretor Cary Fukunaga. Não temos mais a mesma fotografia hipnótica, a sensação de decadência da Louisiana e nem mesmo a música assombrosa do Handsome Family nos créditos iniciais. Mais grave, a proposta de True Detective é alterar o elenco a cada nova temporada, ou seja, nada de Rusty Cohle (Matthew McConaughey) e Marty Hart (Woody Harrelson). O que resta então é a semente de uma ideia original, personagens igualmente desajustados e muita pressão sobre os ombros de Pizzolatto.
Falar de True Detective é difícil sem incorrer numa comparação, algo que pode ser injusto com a segunda temporada já que a primeira estabeleceu um patamar tão alto de qualidade. Mas é impossível tecer comentários sobre o episódio de ontem sem remeter a temporada anterior.
True Detective se converteu em uma espécie de vício e fonte de assunto para conversas de natureza estranha e ainda assim fascinantes. Não se falava apenas a respeito da identidade do assassino, mas da maneira como a investigação evoluía e das transformações dos personagens principais. Muitos especulavam sobre a natureza mística do roteiro, envolvendo o mistério e a caçada ao Rei Amarelo. Os fãs analisavam cada imagem e esmiuçavam cada linha de diálogo em busca de alguma pista comprometedora que apontasse para uma direção.
Mas, em última análise, o foco da série não era encontrar o assassino ou sequer desvendar o caso, e sim, acompanhar a relação conflituosa estabelecida entre os detetives protagonistas. True Detective foi aclamado por crítica e público, ganhando inúmeros fãs. Diante da proposta de recomeçar praticamente do zero, mantendo apenas título e roteirista, ficava a pergunta: Os fãs conseguirão se divorciar de tudo o que gostaram na primeira temporada e mais, irão abraçar essa segunda da mesma maneira?
O tema de True Detective continua sendo o mesmo, trata-se de uma antologia de crime, (in)justiça e almas perdidas. Essa ainda é uma narrativa sobre detetives durões, criminosos amorais e terrível violência - com alguns dos personagens principais dispostos a cruzar a linha divisória entre lei e caos, bem e mal, sempre que necessário. Não há preto ou branco, mas incontáveis tons de cinza.
"Nós recebemos o mundo que merecemos" conjectura um dos detetives. Uma frase que faz todo sentido, já que os personagens são a personificação da amargura e pessimismo. Esse é um mundo sombrio, violento, sórdido, imoral...
Se antes Rusty era o bastião de cinismo, e ele conseguia contrapor um pouco com Hart, agora temos três protagonistas que vivem no proverbial fio da navalha. Cada um deles sofrendo por seus pecados, paixões e falhas. O primeiro episódio é justamente uma apresentação dessas criaturas e de suas motivações iniciais. Se antes levaria vários episódios para conhecermos Marty e Rusty à fundo, agora, os personagens foram apresentados sem pudores e sem deixar o espectador respirar. E se engana quem pensa que isso é um indício de que eles não são profundos ou destituídos de camadas...
O episódio se inicia com Collin Farrel no papel do detetive Ray Velcoro, um bêbado violento, divorciado e agressivo. A história de Ray é contada em um rápido flashback: sua esposa foi estuprada e engravida na mesma época, ele não tem certeza sobre quem é o pai da criança - ele se negou a fazer teste de paternidade. Velcoro aceita a informação sobre a identidade do homem que violentou sua mulher, vinda de um chefão do crime. Como agradecimento, agora trabalha para esse mesmo chefão. Velcoro é um traste, um pau mandado, um corrupto da pior espécie, vestindo roupa preta e envergando um bigode digno de vilão de western. Apenas nesse episódio ele desfia um lista de faltas e má conduta: aparece bebendo durante o trabalho, dormindo em bares, recebendo dinheiro de criminosos, surrando e ameaçando um repórter, roubando documentos, aterrorizando seu próprio filho (?), batendo no pai de um moleque que praticou bully e ameaçando estuprar e matar os pais do mesmo. Tudo isso em apenas 50 minutos de programa.
Velcoro poderia ganhar o prêmio de personagem mais desajustado em 99% das séries de tv, mas hei, alto lá... isso é True Detective!
Rachel McAdams é a segunda detetive a surgir em cena. Chamada Ani Bezzerides (na verdade Antigone - nome que remete a tragédia grega de Sófocles, a filha de Jocasta e Édipo), ela é uma mulher com SÉRIOS problemas tanto na esfera pessoal quanto profissional. Na sua primeira aparição, um sujeito reclama da agressividade dela na cama e dos seus "gostos incomuns". Vinte segundos depois ela está em uma batida em um bordel, prendendo a própria irmã, Thena (ou Athena, tragédia grega, sem dúvida!), que trabalha com pornografia via internet. Quando a vemos novamente ela está em um vestiário feminino, isolada e quieta, em contra-posição óbvia ao vestiário masculino, repleto de movimento e falatório. Ela se veste e arruma suas armas (facas, canivetes e pistola) antes de sair. Para terminar, Ani aparece sendo expulsa de um cassino, já depois de ter bebido além da conta, sendo acompanhada por dois seguranças.
A fonte de seus problemas, tudo indica é o próprio pai (David Morse), um líder espiritual com cabelo e postura hippie que cita Gingsberg enquanto seus discípulos o rodeiam feito mariposas. Apesar de ser um tipo de guru de auto-ajuda, coisa comum na Califórnia da contra-cultura, o sujeito não dá a mínima quando Ani fala da situação da irmã. "O que você julga ser pornografia?" ele pergunta, diante da descrição do "trabalho" da própria filha.
Está bom assim, ou quer mais? Mais uma vez eu respondo: Isso é True Detective, e o desfile de personagens disfuncionais está apenas 2/3 completo.
O detetive que encerra a trinca de protagonistas nessa temporada é interpretado por Taylor Kitsch, que vive o patrulheiro rodoviário Paul Woodrugh. Logo ficamos sabendo que o sujeito é um veterano de guerra que encontrou na patrulha das intermináveis rodovias da Califórnia sua razão de ser (e de viver!). É claro, logo na primeira cena, ele acaba perdendo seu propósito, após abordar uma motorista dirigindo alcoolizada. Para seu azar, a mulher é uma atriz que o acusa de fabricar acusações para ganhar favores sexuais. Afastado da função, Woodrugh é mandado para casa em férias forçadas. Não parece tão ruim, sobretudo porque o patrulheiro tem uma beldade beirando a ninfomania esperando por ele, mas o sujeito, assim como os demais, tem seu quinhão de problemas pessoais.
Tudo indica que seus problemas envolvam algum trauma de guerra, já que percebemos as cicatrizes e queimaduras que ele carrega no corpo. Além é claro, da pouca disposição em falar sobre seus dias como soldado. Mais preocupante é sua clara busca por auto-destruição, o que fica claro quando ele voa na sua motocicleta pela auto-estrada em altíssima velocidade - e com as luzes de farol apagadas, como se torcendo para dar de cara com um carro ou voar da pista direto num precipício.
O ambiente surreal e fumegante da Louisiana, dá lugar à paisagem urbana da Califórnia, com prédios, fábricas cuspindo fumaça e estradas tortuosas. A cidadezinha de Vinci, que um jornal local rotula como "o distrito mais corrupto do condado de Los Angeles" é um fim de mundo industrial "construído por corrupção e múltiplos interesses". Esse lugar poeirento parece atrair todo tipo de negociata e improbidade administrativa, além de ser o fio condutor da complexa trama.
O primeiro episódio é cheio de pontas soltas, portas abertas e pistas que podem muito bem ser importantes mais à frente. Tudo indica que será o mesmo ritmo da temporada anterior, com indícios surgindo aqui e ali no background e trechos de diálogo que precisam ser dissecados.
O conceito básico é o seguinte: um ex-gangster e atual dono de cassino chamado Frank Semyon (interpretado por um surpreendente Vince Vaughn) está tentando assegurar o seu legado tornando seus negócios legítimos - ao menos, mais ou menos - através do desenvolvimento de uma ferrovia a ser construída no sul da Califórnia. Frank está flexionando todos os seus músculos nessa ação, comprando o prefeito de Vinci por onde a linha irá passar, agradando investidores estrangeiros e usando seu policial de bolso, o já citado Ray Velcoro para ameaçar jornalistas. Para o gangster transformado em mega-empreendedor, é um momento de tudo ou nada no qual sua fortuna e tudo o que ele conquistou estará em risco.
Para tocar esse projeto, Frank precisa de um administrador civil chamado Ben Caspere no qual ele confiou todas as suas fichas. Acontece que o homem parece ter sumido da face do planeta justo quando uma apresentação essencial a realização do projeto seria feita para atrair investidores.
Fumegando, Frank manda Velcoro sair à cata de Caspere. Uma busca na mansão do sujeito, que tem uma decoração estranha, cheia de peças de apelo erótico, revela que o lugar foi revirado e que o sujeito sumiu do mapa. Vemos o tal administrador duas vezes ao longo do episódio, sendo conduzido, aparentemente inconsciente de carro pelas estradas tortuosas da megalópole até seu corpo ser desovado em um lugar afastado, abandonado sentado em um banco de parque como se estivesse olhando a paisagem.
É justamente a descoberta do cadáver de Caspere que vai juntar os três detetives e formar o núcleo investigativo/procedimental do seriado. Lembrando que em True Detective - ao menos na primeira temporada, a investigação é um mero acessório para contar a estória da vida dos detetives e seus percalços. Apesar do risco inicial de apresentar os personagens através de uma ótica de estereótipo (o policial corrupto, o veterano transfigurado pela guerra, a detetive feminina durona), com certeza os personagens terão tempo para mostrar que são muito mais do que isso. De fato, os personagens - e sua apresentação, foram o foco desse primeiro episódio que se concentrou em traçar a personalidade deles de modo bastante eficiente.
A Segunda Temporada parece ter grande potencial. O diretor Justin Lin (da franquia Velozes e Furiosos) ficou responsável por dar o tom dos dois primeiros episódios, e embora ele, ao meu ver, esteja aquém do estilo elegante de Cary Fukunaga, seu trabalho estabelecendo as intricadas relações entre os personagens foi muito bom. A cena final em que os detetives se juntam aponta para uma investigação coletiva com ótimas oportunidades para trabalho em grupo, e é claro, num grupo tão heterogênico, as chances de haver conflito são imensas.
Do ponto de vista das atuações, True Detective conta com protagonistas sólidos e personagens interessantes. Rachel McAdams e Colin Farrel se destacam pelos papéis marcantes, em especial Farrel. As cenas em que ele aparece são carregadas de adrenalina e uma aura de ameaça constante. Veremos como vai ser a química entre eles ao longo dos próximos episódios, sobretudo porque a detetive Bezerides deve ser nomeada a chefe da investigação. A relação entre Velcoro e Semyon, também deve render bons momentos. O encontro dos dois num bar para ajustar os termos de um trabalho sujo realizado por Velcoro foi uma das melhores cenas do episódio. Pontuado pela música deprimente de Lera Lynn (“This Is My Least Favorite Life”, que está no teaser abaixo), a cena ficou muito bem feita e deu a entender que os dois tem algo mais do que uma relação de gangster e tira sujo. Do contrário, não compartilhariam detalhes de suas vidas pessoais tão abertamente enquanto Velcoro seca uma garrafa de Johnnie Walker Blue... o detetive chega a chorar e ser consolado por Frank.
Quanto aos aspectos sobrenaturais da trama, ainda não há como afirmar se a série vai investir naquele clima de estranheza e misticismo. Algumas imagens atiçaram a nossa curiosidade e levam a crer que possa haver algo nesse sentido. O nome do episódio - O Livro dos Mortos Ocidental, e a maneira como o crime foi cometido, dão sinal de que pode haver um componente de ocultismo na trama, mas ainda é cedo para dizer. O Livro dos Mortos é um importante texto egípcio, central na religião dos antigos deuses do Delta do Nilo. Ele narra a viagem da alma após a morte através de um rio no submundo onde esta será julgada pelos seus pecados. A vítima, Caspere, é paralelamente conduzida pelas estradas da Califórnia de um modo curioso, quase como se estivesse sendo guiada por um caminho definido - as intermináveis rodovias. Ademais, o fato de seus olhos terem sido queimados com ácido e ele ter sofrido "ferimentos na região pélvica", também sinalizam para algo mais estranho do que um simples assassinato. Seria algum ritual ou uma preparação específica para o pós-vida?
Ainda sobre o curioso título... Encontrei uma menção a um certo mestre Yogi (Praticante de Ioga) chamado A.S Narayana que viveu no início do século XX e que escreveu um livro chamado "The Western Book of the Dead" (o título exato desse episódio). É possível que a escolha remeta a esse livro que versa basicamente a respeito de Imortalidade. O livro fala a respeito de como o Yogi (ou pessoa iluminada) seria capaz de se separar de seu corpo material e deixar o espírito habitar toda obra da criação e conhecer os mistérios do universo.
Dois trechos sobre as ideais centrais do livro me chamaram a atenção por serem excessivamente obscuros e bem no clima niilista do seriado:
“We must face the reality that the man of the masses can hardly ever be educated, or be taught creativity, or the sublime art of thinking. Most people above thirty cannot think, they just function as programed.”
[Nós devemos encarar a realidade de que as massas de homens dificilmente podem ser educadas, ou ensinadas a ter criatividade, ou (compreender) a sublime arte de pensar. Muitas pessoas acima de trinta anos são incapazes de pensar, elas simplesmente funcionam conforme sua programação]
“Humanity is deep asleep. Few have awakened.”
[A Humanidade está em um sono profundo. Poucos estão despertos"]
O autor do "Livro dos Mortos Ocidental" nasceu na Áustria e morreu em "um estranho e não fortuito assassinato, que permanece até hoje sem solução". Será que Nic Pizzolato resolveu adaptar morte desse guru a realidade da Califórnia? Quem sabe...
Em se tratando de True Detective, nada é simples ou corriqueiro. Eu não estranharia se a trama enveredasse para o lado dos estranhos cultos presentes na Califórnia, para rituais sexuais bizarros (a casa de Caspere tinha todo tipo de arte erótica e os personagens parecem ter uma infinidade de problemas nessa área) ou para quem sabe a confusa Megapolisomancia - um ramo de magia que canaliza energia contida em grandes centros urbanos (lembrando que o sul da Califórnia é o maior complexo urbano do mundo). Essas três vertentes esotéricas são bem difundidas na Califórnia e já tivemos a menção a uma espécie de "religião" alternativa, chefiada pelo pai de uma das personagens centrais, acho que isso pode dar pano para a manga e se mostrar um plot central. Já o Rei Amarelo... não acho que deva figurar nessa temporada, mas com apenas um episódio, não podemos excluir nenhuma possibilidade, por mais remota que pareça.
Ainda é cedo para dizer se a Segunda Temporada de True Detective vai ser tão envolvente e viciante quanto a primeira, mas há bons indícios de que vale a pena acompanhar a série.
Entrada da série:
A abertura com a música de Handsome Family deixou saudades, mas a nova canção dos créditos de abertura, "Nevermind" com a voz rouca do intérprete Leonard Cohen, é uma boa adição à trama. Dá um clima surreal, meio perturbador... O estilo das imagens sobrepostas sobre as silhuetas dos personagens segue o mesmo estilo da entrada anterior.
Vale a pena ficar de olho nela e ver se aparece alguma pista. Por exemplo, aos 8 segundos do vídeo, quando surge a silhueta do pai de Ani, vemos um grupo de pessoas numa piscina que me chamou a atenção (não sei explicar porque). Parece um grupo de mulheres e crianças nus olhando para o horizonte à noite. É no mínimo estranha a cena e remete imediatamente ao tal Instituto Panticapaeum comandado pelo sujeito. Por sinal, o nome "Panticapaneum", é de uma antiga colônia grega no Bósforo, um importante centro político no passado.
Mais adiante, nos 27 segundos, uma antena ou estação de transmissão também parece muitíssimo suspeita, como se fosse a imagem de uma mulher com os braços erguidos carregando três placas acima da cabeça. Isso sem falar nas auto-estradas uma imagem recorrente ao longo de todo primeiro episódio e que serve como fechamento quando o nome da série surge.
Teaser e Trailer da Segunda Temporada:
MAIS DETALHES E POSSÍVEIS PISTAS:
Estas são as pistas e imagens curiosas encontradas no primeiro episódio. Se mais alguma surgir, eu vou complementando o artigo.
PISTA 1) Em determinado momento, Ani Bezzerides dá início a uma investigação de uma mulher desaparecida que havia trabalhado no Instituto Panticapaneum. Ela recebe uma fotografia para usar como referência em sua busca:
Lá pelas tantas, o detetive Velcoro se prepara para ir atrás de um repórter afim de persuadi-lo a deixar de lado uma matéria sobre a cidade de Vinci e sua corrupção. Logo que sai do carro, ele dá de cara com uma moradora de rua acendendo um cachimbo de crack.
Repara se a mulher não é a moça desaparecida que Ani está buscando:
O que isso pode significar? Quem sabe...
Ah sim, só outra coisa curiosa: perceberam que o colar usado pela mulher e o do Velcoro são bastante parecidos?
PISTA 2)A estranha máscara ao lado do banco do motorista que leva o corpo de Ben Caspere de sua casa em Mulholland Drive até o lugar onde ele achado, também fez soar o alerta de bizarrice oculta. O assassino estava usando a máscara quando matou o sujeito? Isso aponta para algum tipo de ritual ou algo assim...
Será que ela simboliza o deus egípcio Osíris?
O Livro dos Mortos, é claro, pertence ao folclore egípcio e tem ligação direta com o nome do episódio. A cabeça de pássaro parece representar algum Deus do Egito antigo. Curiosamente, a mitologia grega parece ser o principal foco dessa temporada, ainda assim misticismo egípcio não está afastado.
PISTA 3) E o que dizer dessa imagem estilizada de um esqueleto vestindo as roupas da Virgem. Me parece que se trata de uma representação da Santa Muerte. A imagem faz parte do folclore do México e aparece na casa de Ben Caspere ocupando um lugar de destaque na parede do seu escritório quando Velcoro e seu parceiro vão até lá.
Além de uma série de quadros, estatuetas e "brinquedos sexuais" de todo tipo. O que pode significar a imagem da Boa Morte em meio a essas coisas?
PISTA 4) O que exatamente representa essa cena abaixo?
Essa é a primeira cena do episódio. Ela mostra um campo com várias marcações sinalizadas por fitas vermelhas (ou cor de rosa) numeradas. Não há nenhuma menção ao significado dela ao longo do episódio...
Pode ser a marcação de uma obra, talvez o projeto de construção da ferrovia que passará por Vinci. Mas sinceramente, a imagem remete a sinalização usada pela polícia para marcar uma área onde alguma coisa (???) foi enterrada. Será que isso ainda virá a acontecer? Dificilmente será uma cena perdida ou sem um significado.
Observando com cuidado é possível ver que além de números, algumas das marcações possuem símbolos bem definidos cujo significado eu não posso imaginar. Uma placa aparece rapidamente com as palavras "CONTAMI...". Seria contaminação?
PISTA 5) Outro momento "What a hell" que pode passar desapercebido se visto sem atenção.
Na recepção organizada por Frank Semyon, ele se encontra com convidados incluindo um gangester russo que veio fazer negócios com ele e possivelmente investir no projeto da ferrovia.
Em determinado momento, logo depois dele se despedir do russo, ele percebe a presença de alguém no bar e ergue o copo em saudação:
Ao que, ele é saudado de volta por esse sujeito misterioso:
Fica a dúvida de quem é esse cara, já que ele não aparece no episódio novamente. Seria só um convidado qualquer ou ele é alguém digno de nota?
PISTA 6) Quando o patrulheiro Woodrugh é informado de que será temporariamente afastado ele cita em sua defesa seu trabalho em algo chamado Black Mountain.
Ok, o que diabos é Black Mountain e o que ele quer dizer com "Estávamos trabalhando para a América"? Eu imagino que possa ser uma referência a Black River, uma empresa de contratação de seguranças com experiência militar que ainda opera no Oriente Médio e que tem contratos com o governo americano. Há todo tipo de estórias sobre esses caras passarem dos limites em suas operações e usarem de força letal mesmo quando é desnecessário.
Pode ser que Woodrugh tenha trabalhado para essa companhia de segurança e isso tenha causado seu trauma. Fica a dúvida se é isso que significa Black Mountain e porque isso seria um atenuante para a conduta do sujeito, já que ele nesse caso não seria um soldado e sim uma espécie de mercenário.
A lenda parece ter se originado na Escócia no séculos XVI, dali ela se espalhou para outras partes da Europa continental.
Até meados dos séculos XVIII e XIX, famílias tinham o costume de colocar um pedaço de pão sobre o peito de algum de seus parentes prestes a morrer. A tradição era deixar o pão ali por pelo menos duas horas - mais, caso o indivíduo fosse conhecido por algum ato reprobatório famoso.
É então que vinha a parte mais estranha, as famílias contratavam alguém para comer o pão depois que a pessoa morria. Segundo a tradição, o ato devia ser de vontade própria e a pessoa que aceitava consumir o alimento não podia ser enganada ou induzida a fazê-lo sem saber do que se tratava a prática. O costume pressupunha que uma vez colocado sobre o peito de um moribundo, os pecados deste eram absorvidos pelo pão, e, quando uma pessoa aceitava consumi-lo tais pecados lhe eram transmitidos. Uma vez passados adiante, deixavam o pecador limpo para ascender ao paraíso, livre de máculas que poderiam levá-lo ao temido "Fogo do Inferno".
As pessoas que comiam o pão eram chamadas de Sin Eaters, os Devoradores de Pecado.
Mas de onde veio esse costume? Ele ainda é praticado em algum lugar?
Consumir alimentos em um funeral (ou pouco depois de um) é um costume comum em muitas culturas - famílias oferecem um jantar para parentes que vieram de longe para acompanhar os rituais de despedida. Esse costume é especialmente comum nos países de cultura anglo-saxã, tendo se disseminado pelos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
Mas os Devoradores do Pecado são algo inteiramente diferente, por eles terem um papel obscuro dentro de alguns segmentos do cristianismo. Alguns cultos cristãos acreditavam que devorar os pecados, absorvendo assim, de modo simbólico, o mal perpetrado por outra pessoa, era uma ação nobre, quase uma espécie de auto-sacrifício, talvez o maior de todos os sacrifícios, já que essa atitude condenava a alma imortal a um suplício eterno.
A tradição teria surgido em áreas rurais isoladas, habitadas por cristãos estabelecidos em localidades destituídas de sacerdotes que pudessem ministrar o sacramento da extrema-unção. Diante da hipótese de morrer sem a benção final de um padre, um pedaço de pão simbolizando os pecados era consumido pelos parentes - de preferência o filho mais velho. Em seguida, este devia buscar um sacerdote para remover os pecados que lhe haviam sido transmitidos.
Contudo, essa tradição com o tempo foi sofrendo mudanças e se tornando mais e mais estranha.
No interior da Escócia, algumas comunidades afastadas escolhiam um Devorador de Pecados responsável por purificar a alma de várias pessoas. Esse "profissional" podia ser um bêbado, um vagabundo ou o louco do vilarejo. Ele era evitado por todos, quase como um doente ou impuro - a comparação mais frequente era com um leproso. O Devorador não podia entrar na vila à luz do dia, não podia beber na taverna e não podia conversar com crianças. Havia a crença de que a saliva de um Devorador de Pecados era venenosa e que seu mau olhado podia matar. Eles eram forçados a viver nos limites da cidade, em cabanas afastadas, sobrevivendo de esmolas e doações concedidas mais para mantê-los longe do que por bondade.
Não obstante, quando alguma pessoa importante estava à beira da morte, o Devorador era convocado para cumprir o seu papel. Ele viajava até a cidade, escoltado à noite até a casa do moribundo. A população fechava as janelas e desfiava seus rosários enquanto ele estava nos arredores. Velas eram acesas e todos evitavam abrir a boca.
Uma vez perante o desenganado, o Devorador dava início a um curioso ritual de purificação. Alguns sectos afirmam que eles tomavam um banho de ervas ou que ingeriam alguma bebida forte como preparativo. Em seguida, exigia um pedaço de pão, uma taça de vinho, cerveja ou alguma fruta fresca. Esta era posicionada sobre o peito ou na testa da pessoa que se desejava purificar. Por vezes, este tinha de dar uma mordida no alimento ou um gole para representar que estava passando seus pecados para o alimento. Cabia então ao Devorador ingerir o restante fazendo uma oração entre um bocado e outro que descia pela sua garganta. Os pecados deviam ser ingeridos, pois jamais se desfaziam e se fossem deixados no alimento contaminariam a todos sem distinção.
Como recompensa pela realização do ritual, o Devorador ganhava algum presente; em geral uma esmola ou algo que pudesse lhe ser útil em seu exílio. Em alguns casos, o Devorador tinha de se contentar com a refeição gratuita que recebia... para alguns, quanto mais graves os pecados do morto, maior deveria ser a refeição oferecida. Por isso, verdadeiras ceias eram oferecidas aos Devoradores, quando o morto gozava de certa notoriedade em vida. Outro aspecto curioso é que após consumir a refeição, o Devorador deveria voltar para sua morada acompanhado de algum parente do morto para que ele se certificasse que o Devorador não vomitasse a refeição pecaminosa, o que fazia as desgraças retornarem.
A prática parece ter ficado confinada na Europa, e não há menções de necro-canibalismo nas descrições existentes. O necro-canibalismo ou endocanibalismo, populares na África e America do Sul, eram práticas que buscam aliviar os pecados de um morto. Contudo, nestas modalidades uma parte do cadáver é cozida e consumida pelas famílias como forma de purificação e para assimilar a perda do morto ilustre.
Os Devoradores de Pecados se tornaram populares em alguns lugares, atendendo as necessidades de pessoas que morriam de causas naturais. Foi uma prática corriqueira na Escócia, na Inglaterra, Irlanda e França, tendo sido praticada também nos Países Baixos e Alemanha.
Desde o seu surgimento, Devoradores de Pecados eram mal vistos pela Igreja Católica. Eles não possuíam uma afiliação na hierarquia da Igreja e na maioria das vezes, não tinham qualquer instrução teológica. A prática entrava em choque direto com os ensinamentos da cristandade, pois pecados podiam ser perdoados apenas mediante três estágios: o arrependimento, a confissão e a penitência, todos com a intercessão de um sacerdote. Um Conselho de Bispos no século XVII se pronunciou a respeito dos Devoradores de Pecados, declarando que a prática ou a crença nela constituía por si só, um pecado e que ela não limpava a alma.
A prática de devorar pecados parece para os dias atuais estranha e até mesmo macabra, mas é possível que ela tenha origem na tradição judaica de usar uma cabra como manifestação física dos pecados do povo judeu. Na época do Yom Kippur, uma cabra é solta em uma área afastada para representar que os pecados das pessoas foram mandados para longe.
[NOTA: Eu encontrei apenas uma referência a essa prática, mas não tenho certeza se ela realmente existe dessa maneira, se é esse o sentido ou propósito. Não quero ser desrespeitoso com leitores, por isso, se está errado me digam, e eu farei a devida correção.]
Os Devoradores de Pecados desapareceram gradualmente ao longo do século XIX, e no século XX. Apenas as comunidades mais isoladas ainda faziam uso desse costume. Contudo, imigrantes que se fixaram nas Montanhas dos Apalaches, na América do Norte, praticaram a tradição até recentemente.
Para comemorar o retorno de True Detective esse final de semana em sua segunda temporada, que tal olhar para trás e lembrar dos protagonistas da temporada anterior.
Os detetives Marty Hart e Rusty Cohle deixaram sua marca como os responsáveis por desbaratar um caso espinhoso de assassinato que envolvia figurões e pessoas muito importantes. Que tal transpor os dois para o universo dos Mythos de Cthulhu e fazer com que eles se encaixem no perfil de típicos investigadores?
Aqui vai a ficha dos dois detetives de polícia vividos com maestria por Woody Harrelson e Matthew McConaughey.
É interessante que a estória se passa originalmente em três épocas diferentes: 1994, 2002 e 2012. São três momentos diferentes da vida dos personagens, quando eles iniciam a investigação e supostamente a resolvem, quando ainda colhendo os louros de seu "sucesso" são confrontados por outros fantasmas e finalmente, quando decidem retomar a investigação e concluir de uma vez por todas o caso que consumiu quase duas décadas de suas vidas.
Nesses longos 18 anos, Hart e Cohle mudam consideravelmente. Marty começa como um pai de família com problemas que tenta exorcizar seu passado se devotando a um caso que deveria ser sua redenção. Cohle é um cínico que afunda cada vez mais na comiseração de viver em um mundo niilista do qual não há escapatória. A dupla inicia a investigação e sofre com cada reviravolta no tumultuado caso, e isso incide sobre eles ao longo da trama. No final, os dois praticamente não são mais os mesmos. O caso que nunca os abandonou operou neles mudanças drásticas...
Esse é um dos pontos mais interessantes da primeira temporada de True Detective, a maneira como uma longa investigação altera a alma e quebra o espírito dos detetive encarregados de "pegar o criminoso". A frustração diante de novos crimes, a culpa e o sentimento de impotência são razões suficientes para que a maioria das polícias realizem um rodízio de detetives como forma de preservar a sanidade dos responsáveis. No caso de Hart e Cohle, e de True Detective eles continuaram no caso do início ao fim, o que explica a degeneração de ambos.
É algo muito interessante para abordar em campanhas longas de qualquer jogo, mas que faz muito sentido em Chamado de Cthulhu.
Bem, vejamos as fichas:
MARTY HART
"Lembra do que eu disse a respeito da maldição de todos os detetives? A solução para o caso da minha vida está bem debaixo do meu nariz. E eu sempre olhando para o outro lado."
―Martin Hart
Martin "Marty" Hart aos 34 anos (1994)
Detetive de Polícia, departamento de homicídios (Estado da Louisiana) ATRIBUTOS: STR: 15 DEX: 12 INT: 14 IDEA: 70% CON: 14 APP: 14 POW: 13 LUCK: 65% SIZ: 14 EDU: 13 KNOW: 65% Bônus de Dano: +1d4 Sanidade: 65% HP: 14
HABILIDADES: Antropologia 05%, Arremessar 40%, Arte (Football) 30%, Ofício (Trabalhos Caseiros) 25%, Barganha 35%, Contabilidade 15%, Computação 25%, Crédito 35%, Chaveiro 40%, Direito 40%, Dirigir Automóvel 55%, Disfarce 40%, Escalar 52%, Esconder 39%, Escutar 35%, Esquiva 49%, Furtividade 41%, História 25%, História Natural 22%, Lábia 57%, Localizar 57%, Navegar 50%, Ocultar 54%, Ocultismo 10%, Persuadir 52%, Pesquisar Biblioteca 30%, Primeiros Socorros 35%, Psicologia 15%, Pulo 30%, Rastrear 15%, Reparo Elétrico 25%, Beber além da conta (e parecer sóbrio) 55%, Encontrar desculpas plausíveis 55%, Amar Esposa e filhas 89%, Perícia Criminal 48%, Buscar companhia feminina (em bares) 54%
Idiomas: Inglês 65%, Espanhol 15%
ATAQUES: Soco 65%, Agarrar 45%, Cabeçada 45%
Rifle 40%, Pistola 38 auto 50% (dano 1d10), Pistola .22 auto 40% (dano 1d6)
Martin "Marty" Hart , 42 anos (2002)
Detetive de Polícia, departamento de homicídios (Estado da Louisiana) ATRIBUTOS: STR: 15 DEX: 11 INT: 14 IDEA: 70% CON: 14 APP: 12 POW: 13 LUCK: 65% SIZ: 14 EDU: 14 KNOW: 70% Bônus de Dano: +1d4 Sanidade: 57% HP: 14
HABILIDADES: Antropologia 08%, Arremessar 40%, Arte (Football) 30%, Ofício (Trabalhos Caseiros) 29%, Barganha 43%, Contabilidade 15%, Computação 29%, Crédito 59%, Chaveiro 44%, Direito 48%, Dirigir Automóvel 57%, Disfarce 49%, Escalar 52%, Esconder 39%, Escutar 35%, Esquiva 51%, Furtividade 45%, História 25%, História Natural 22%, Mitos de Cthulhu 2%, Lábia 59%, Localizar 57%, Navegar 54%, Ocultar 54%, Ocultismo 15%, Persuadir 54%, Pesquisar Biblioteca 30%, Primeiros Socorros 37%, Psicologia 20%, Pulo 30%, Rastrear 20%, Reparo Elétrico 25%, Beber além da conta (e parecer sóbrio) 59%, Encontrar desculpas plausíveis 57%, Amar Esposa e filhas 79%, Perícia Criminal 57%, Buscar companhia feminina (em bares) 67%
Idiomas: Inglês 65%, Espanhol 25%
ATAQUES: Soco 69%, Agarrar 45%, Cabeçada 45%
Rifle 40%, Pistola .38 auto 50% (dano 1d10), Pistola .22 auto 47% (dano 1d6)
HABILIDADES: Antropologia 11%, Arremessar 40%, Arte (Football) 30%, Ofício (Trabalhos Caseiros) 29%, Barganha 47%, Contabilidade 18%, Computação 31%, Crédito 59%, Chaveiro 44%, Direito 49%, Dirigir Automóvel 57%, Disfarce 49%, Eletrônica 10%, Escalar 52%, Esconder 39%, Escutar 35%, Esquiva 51%, Furtividade 45%, História 25%, História Natural 22%, Mitos de Cthulhu 5%, Lábia 61%, Localizar 59%, Navegar 54%, Ocultar 55%, Ocultismo 15%, Ofício (Segurança Empresarial) 45%, Persuadir 54%, Pesquisar Biblioteca 30%, Primeiros Socorros 39%, Psicologia 23%, Pulo 30%, Rastrear 20%, Reparo Elétrico 25%, Beber além da conta (e parecer sóbrio) 59%, Encontrar desculpas plausíveis 57%, Amar Esposa e filhas 59%, Perícia Criminal 52%, Buscar companhia feminina (em bares) 68%
Idiomas: Inglês 65%, Espanhol 25%
ATAQUES: Soco 70%, Agarrar 46%, Cabeçada 45%
Rifle 40%, Pistola .38 auto 52% (dano 1d10), Pistola .22 auto 47% (dano 1d6)
RUSTY COHLE
"É como esse céu estrelado... No início, havia apenas escuridão. agora há alguns pontos de luz brilhando... Se você me perguntar, a luz está ganhando."
-Rusty Cohle
Rustin Spencer "Rusty" Cohle, 31 anos (1994)
Detetive de Polícia, departamento de Homicídios do Estado da Louisiana, especialista em análise comportamental, ex-agente infiltrado. ATRIBUTOS: STR: 12 DEX: 15 INT: 18 IDEA: 90% CON: 17 APP: 14 POW: 17 LUCK: 85% SIZ: 13 EDU: 20 KNOW: 100% Bônus de Dano: +1d4 Sanidade: 72% HP: 15
Desordens Mentais: Comportamento auto-destrutivo, Abuso de Substâncias (Anfetaminas), Desordem do Sono (Insônia)
Ex-Detetive de Polícia, especialista em análise comportamental, ex-agente infiltrado, homem vivendo com uma obsessão. ATRIBUTOS: STR: 12 DEX: 15 INT: 18 IDEA: 90% CON: 16 APP: 10 POW: 17 LUCK: 85% SIZ: 13 EDU: 22 KNOW: 100% Bônus de Dano: +1d4 Sanidade: 48% HP: 15
Desordens Mentais: Comportamento auto-destrutivo, Abuso de Substâncias (Anfetaminas), Desordem do Sono (Insônia), Transtorno de Ansiedade (Obsessão), Transtorno de Ansiedade (Paranoia)
HABILIDADES: Antropologia 31%, Arremessar 30%, Arte (Desenho a mão livre) 44%, Artes Marciais (Caratê) 37%, Astronomia 28%, Barganha 29%, Biologia 15%, Química 10%, Contabilidade 20%, Chaveiro 56%, Crédito 25%, Computador 41%, Dirigir Automóvel 40%, Dirigir Moto 46%, Lábia 47%, Escalar 51%, Esquivar 37%, Farmácia 71%, Fotografia 31%, Primeiros Socorros 39%, Esconder-se 59%, História 49%, História Natural 38%, Mitos de Cthulhu 15%, Navegar 54%, Usar Biblioteca 62%, Ocultar 58%, Ocultismo 65%, Ouvir 56%, Ofício (Jardinagem) 25%, Persuadir 49%, Psicologia 80%, Psicoanálise 55%, Furtividade 44%, Localizar 63%, Perícia Forense 73%, Análise Comportamental 87%, Traçar Perfil 81%, Prestar atenção em sinais 97%, Paranóia 94%, Tolerância a Drogas pesadas 89%, Filosofia 56%, Religião Comparada 47%, História da Louisiana 55%, Beber Cerveja Lone Star 79%