terça-feira, 29 de janeiro de 2019

N. - Resenha da Adaptação em quadrinhos do conto de Stephen King


Quando a adaptação do conto "N" de Stephen King foi lançada na internet alguns anos trás ela foi recebida com muita curiosidade pelos fãs do horror.

A ideia original era criar uma série de episódios curtos baseado na história, com roteiro de Marc Guggenheim e ilustrada por Alex Maleev. O estranho é que o lançamento da série, dividida em 25 segmentos de um minuto e meio de duração, saiu antes mesmo da publicação do conto que a inspirou, na antologia "Just After Sunset". Como praticamente tudo que leva o nome de Stephen King, ela chamou a atenção dos fãs e obteve reconhecimento da crítica. 

E não era para menos, "N" é uma história impressionante de loucura e paranoia escrita por um King muito inspirado. É um daqueles contos perversos em que você se coloca na pele do narrador e vai lentamente escorregando em um pesadelo cada vez mais aterrador a medida que revelações bombásticas se seguem.

A adaptação foi tão elogiada e aplaudida que a Marvel Comics decidiu produzir uma mini-série em quadrinhos com base na série e na história original. O resultado é o encadernado "Stephen King - N." que a Editora Darkside está lançando aqui no Brasil em uma edição super caprichada.


"N" é um trabalho acima da média assinado por Stephen King, do tipo que vai fazer você ficar pensando a respeito dele por um bom tempo. Eu li N de uma sentada só, saboreando as páginas, o texto e a arte magnífica de Alex Maleev. E vou te dizer, que história sensacional!

A trama se desenvolve através do estudo de um psiquiatra chamado John Bonsaint que é especialista em tratar de pacientes com transtornos obsessivos compulsivos (toc) e que sofrem de insônia crônica. O médico tem um paciente identificado apenas como N que parece sofrer de todos os sintomas associados a esses transtornos, com um agravante: ele acredita que alguém, ou alguma coisa, está tentando matá-lo.

Ele conta ao psiquiatra sobre o dia em que sua sanidade desmoronou de vez, mas não sem alertá-lo que ouvir sua narrativa pode ser perigoso. Nas palavras de N, apenas ouvir o que ele tem a dizer pode conduzi-lo ao mesmo destino - a loucura. É claro, o médico acha que tudo isso não passa de exagero do paciente e que é parte dos seus devaneios. Mas daí em diante passamos a conhecer a profundidade dos temores de N e a ameaça de algo que pode trazer graves repercussões para toda a nossa realidade.


Uma das questões centrais na trama é como ela trata a insanidade de N. Não fica claro se o sujeito é simplesmente louco ou se há alguma verdade em suas palavras. Ele revela ao médico como foi vencido pela curiosidade e acabou explorando um lugar considerado assombrado chamado "Campo de Ackerman" onde uma terrível tragédia teve lugar no início do século passado. Tragédia essa que parece reverberar nas estranhas pedras negras dispostas pelo terreno. Essas pedras são a conexão entre o nosso mundo e um outro lugar terrível e aterrorizante. Quando N fotografa os estranhos monumentos ele tem a impressão de capturar sete monólitos, mas quando revela as fotos percebe que são oito. Um deles é invisível a olho nu e sua existência começa a afetar N através de pesadelos e horríveis alucinações.

Vou parar por aqui para não estragar a leitura!        

N é frequentemente comparado ao Horror Cósmico de H.P. Lovecraft e ao Mythos de Cthulhu, muitos de seus elementos parecem intimamente se relacionar ao gênero. Sem dúvida, é uma fábula de obsessão e compulsão costurada de maneira perversa e excitante, tendo como pano de fundo "coisas que não deveriam existir em um universo de ordem e sanidade". Uma das grandes inspirações para N, segundo o próprio King, é o clássico "O Grande Deus Pã" de Arthur Machen, não por acaso, um dos autores favoritos de Lovecraft. De fato, há muita coisa na narrativa de N que remete a Machen, o senso de isolamento, a impotência diante de uma força irresistível e o medo do desconhecido.

Também é preciso falar do trabalho magistral de Guggenheim e Maleev que conseguiram adaptar essa história para o formato de quadrinhos, concedendo a ela uma dinâmica incrível. Por vezes, adaptar um conto para HQ é uma tarefa inglória, já que frequentemente algo parece escapar, mas aqui o resultado é muito bom. A história não apenas consegue traduzir em texto e imagens toda a agonia e paranoia da trama, como até supera o original.


Para aqueles que não leram o conto N, é bom saber que boa pare da história é contada através de recortes de jornais, prontuários médicos e relatórios que vão sendo recolhidos elo Dr. Bonsaint durante sua investigação. A versão dos quadrinhos mantém esse material intacto apresentando páginas de texto em meio aos quadrinhos que são absolutamente fiéis ao original. Os leitores, portanto, estarão lendo exatamente o mesmo texto escrito por King o que garante a fidelidade total à trama original.

No que diz respeito à arte, é até difícil começar a elogiar o talento do búlgaro Alex Maleev, pois há o risco de você não saber quando parar. O cara é fenomenal! Quem conhece quadrinhos e já apreciou o trabalho do sujeito nas histórias do Homem Aranha e Demolidor, sabe do que estou falando. Quem não conhece, basta dar uma olhada nas imagens que ilustram essa resenha para ter uma ideia do que ele é capaz de criar. O sujeito tem um estilo elegante e macabro que casa perfeitamente com a proposta dessa história. Cada painel com os personagens parece ganhar vida e respirar. A capa é por si só uma obra de arte que a Darkside teve o cuidado de preservar limpa, sem colocar nela letras que pudessem poluir a imagem e desviar a atenção. Aliás, a edição nacional acompanha um poster dessa arte que implora para ser enquadrado e pendurado na parede.


A edição da Darkside é parte da coleção Graphic Novel da editora voltada para os quadrinhos, como sempre muito caprichada e que não fica devendo nada à versão americana. O livro possui capa dura, vem numa luva de papel brilhante reforçado que o protege. O projeto gráfico é lindo com páginas grossas e acabamento de alto luxo, com introdução de Marc Guggenheim, um caderno de esboços do artista e galeria de capas.

Não se assuste se depois de ler essa história você retornar a ela várias vezes para folhear e encontrar detalhes ocultos. Ela é uma perfeita transposição de uma história assinada por um grande autor, adaptada de maneira magistral para outra mídia.

N é uma viagem pela mente de um homem muito doente e assustado e de seu médico tentando encontrar explicações racionais para algo que simplesmente não deveria existir. Entre um e outro, o horror transborda...   

Absolutamente obrigatório para os fãs! 


Um comentário:

  1. Vi e Baixei a animação no Youtube. E só posso dizer que é sensacional! E é uma grata surpresa saber dessa edição da Darkside.pretendo garantir a minha...

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