Uma das ocorrências mais estranhas no campo do paranormal diz respeito ao fenômeno categorizado como "Lapso de Tempo".
Estes são fenômenos em que indivíduos ou mesmo grandes grupos de pessoas parecem passar através de algum tipo de véu entre o tempo e espaço, tendo um vislumbre do passado distante, apenas para serem catapultados de volta ao tempo presente, confusos e sem entender o que aconteceu. Tais casos tendem a ser raros, mas quando ocorrem também tendem a ser bizarros.
Um lapso de tempo bastante estudado e detalhado alegadamente ocorreu com um grupo de jovens na Inglaterra, uma ocorrência que os levou a retornar à um vilarejo do interior e que deixou um mistério sem solução.
Era o outono de 1957, quando três cadetes da Marinha Real Britânica decidiram visitar a então tranquila região de Suffolk. Nesse dia, os cadetes William Laing, Michael Crowley e Ray Baker, tinham como objetivo simples, seguir uma estrada pela bucólica área, observar alguns locais assinalados no mapa de que dispunham e retornar antes do anoitecer. Considerando que era um dia claro e ensolarado, eles tinham pela frente uma caminhada agradável pela paisagem pitoresca e a princípio, isso foi exatamente o que eles encontraram. Mas as coisas estavam prestes a dar uma guinada na direção do incomum e do inexplicável.
Ao longo do caminho, os homens, passaram por um pequeno povoado chamado Kersey, um vilarejo tranquilo com pouco mais de cem habitantes vivendo em prédios medievais e ruas estreitas. A medida que se aproximavam do local, tudo parecia perfeitamente normal. O sino da igreja badalava, aves cantavam e fumaça saia das chaminés. Já que Kinsey estava no mapa, eles se aproximaram pensando em parar num pub e quem sabe beber uma cerveja. Entretanto, à medida que observavam o povoado ele parecia estranho. Em primeiro lugar, havia um silêncio tumular. Era como se o lugar estivesse deserto, abandonado.
Os sinos e pássaros haviam silenciado repentinamente, como se um manto de quietude tivesse baixado sobre o local. Tudo parecia estático: folhas cobriam as ruas, os galhos recurvos das árvores permaneciam parados, não havia vento, nem movimento. Não havia vivalma nas ruas escuras e algo sinistro parecia se precipitar sobre o vilarejo como uma sombra.
O lugar parecia tão esquisito que um dos cadetes diria mais tarde:
"Era um povoado fantasma, por assim dizer. Era desconcertante ver aquilo, sentir aquela aura de isolamento. Eu podia jurar que havíamos voltado no tempo. A sensação que eu experimentava era de tristeza profunda e depressão esmagadora. Mas havia outra coisa, um sentimento de tristeza. As sombras eram longas e escuras, formando poços de escuridão fria que me perturbavam".
Pior ainda, os cadetes relatavam sentir uma presença sobre o povoado: algo que não conseguiam ver, mas cuja existência eram capazes de perceber claramente.
Mas isso não seria tudo. Ao explorar o interior do povoado eles não encontraram carros, nenhuma linha de força, postes de telefone, bicicletas, nem mesmo ruas pavimentadas. Ao invés disso tudo tinha um ar antigo, austero e rudimentar. Os prédios em estilo medieval podiam ser vistos e o que predominava era a alvenaria rústica de séculos atrás.
Acrescentando um componente surreal, até mesmo a estação parecia ter mudado. Não era mais a primavera que eles percebiam, mas um cinzento crepúsculo invernal que os recebia. Um frio repentino os envolvia, com um nevoeiro denso erguendo-se do nada.
O grupo decidiu se aproximar de um dos prédios desertos para olhar o que havia em seu interior e se surpreendeu ao encontrar o que parecia um tipo de açougue. Um dos rapazes, o cadete Crowley, descreveu o lugar nos seguintes termos:
"Não havia mesas e nem cadeiras, apenas um balcão de madeira atravessado. Sobre a bancada estavam duas ou três carcaças de bois esquartejados em grandes pedaços. Alguns deles estavam esverdeados e apodrecidos. As pequenas janelas estavam abertas, mas não haviam insetos apesar do cheiro nauseante que emanava do aposento cujo piso estava coalhado de sangue viscoso. Eu lembro que quando espiamos através da janela, sentimos uma forte náusea. A sensação era de descrença de que alguém poderia largar um lugar naquela estado, a não ser que precisasse fugir o quanto antes".
Os cadetes observaram outros prédios que pareciam ser pequenas casas. No interior espartano acharam alguns móveis rústicos e detritos descartados no chão de terra batida. Os habitantes, fossem quem fossem, haviam abandonado o lugar carregando suas parcas possessões. A impressão era de que deviam ter fugido repentinamente, escapando de uma grave ameaça. As lareiras ainda estavam com cinzas aquecidas o que indicava que a população tinha partido não fazia tanto tempo.
Eles foram até a Igreja que era claramente o marco principal do povoado. Mas o que os surpreendeu foi que o Campanário visto de longe havia desaparecido. A igreja ainda estava lá, mas muito mais simples e acanhada do que visto anteriormente. Era como se ela se resumisse a um prédio simples, sem muitos adornos e com um crucifixo de madeira sobre um altar irregular de pedra grés. Da torre que haviam avistado de longe e do sino que escutaram claramente retinir à distância, não havia sinal.
A essa altura, os três homens estavam muito assustados e inseguros de prosseguir em sua exploração. Aquela sensação esmagadadora de ameaça persistia e, de fato, apenas havia aumentado. A cada lugar que exploravam o sentimento inquietante aumentava até se tornar insuportável. Eles decidiram sair dali o quanto antes.
O grupo cruzou o povoado caminhando rapidamente, sem olhar para os lados ou parar para admirar os detalhes. Tão logo deixaram o vilarejo, eles foram percebendo que à distância as características originais foram retornando. As casas modernas, os postes de força e a torre da igreja ressurgiram tão logo eles se afastaram. Havia novamente o som reconfortante dos sinos, dos pássaros e do vento da primavera.
Os cadetes retornaram para a academia com uma história incomum sobre Kersey. Nem todos acreditaram nos estranhos detalhes da narrativa, mas logo se percebeu que ele era congruente. Os cadetes lembravam exatamente dos mesmos detalhes.
Demorou muitos anos até que o caso chamasse a atenção do pesquisador paranormal Andrew MacKenzie, da Sociedade de Pesquisa Psíquica da Inglaterra. O estudioso havia ouvido rumores sobre o incidente no começo dos anos 1980. Intrigado ele conseguiu localizar os envolvidos e os convenceu a visitar Kersey para ouvir em primeira mão seu relato do ocorrido.
Uma das principais coisas que impressionaram MacKenzie é que o relato deles era historicamente acurado. O local em que eles viram as carcaças de fato foi um açougue até meados do século XVIII. A Igreja também parecia guardar similaridade com a forma medieval original, antes do acréscimo da torre no início século XX.
Outras observações da planta da cidade também encaixavam com documentação histórica, a qual os cadetes jamais tiveram acesso. MacKenzie chegou a conclusão de que os jovens cadetes experimentaram um fenômeno conhecido como lapso de tempo no qual pessoas viajam inadvertidamente através de um portão temporal. O fenômeno ocorre a despeito da vontade do viajante, ele simplesmente se desloca de uma época para outra geralmente sem saber o que está acontecendo.
Há teorias que tentam explicar os lapsos de tempo. Certos lugares parecem ter maior probabilidade de manifestar esse fenômeno, em especial locais com histórico de guerras, tragédias ou genocídio. Tais lugares supostamente são coalhados de emoções fortes e energia residual de acontecimentos traumáticos que desencadeiam os lapsos de tempo. Eles criam as condições para o fenômeno.
Segundo a história local, o povoado de Kersey foi destruído no século XV durante guerras civis inglesas. A população em pelo menos uma ocasião foi totalmente destruída por soldados. Outra possível tragédia que pode ter desencadeado o Lapso de Tempo remete ao período em que o povoado foi devastado pela Peste Negra na primeira metade dos anos 1400.
Após iniciar suas pesquisas, MacKenzie ficou surpreso ao descobrir outros casos em que pessoas experimentavam Lapsos de Tempo nos arredores de Kersey. Os resultados da pesquisa de MacKenzie foram incluídas em um livro intitulado "Exploradores de Épocas Passadas", publicado em 1997.
É claro, muitas pessoas se mantém céticas diante dos casos de Lapso de Tempo. Os críticos apontam algumas discrepâncias históricas e afirmam que não há uma prova contundente sobre o fenômeno. No fim das contas, não há como ter certeza se os cadetes passaram pelo incidente paranormal ou não. Teriam eles sido transportados através do tempo para outra época? E se sim, como isso teria acontecido? Ou haveria alguma explicação razoável para o que transcorreu com eles naquela idílica paisagem do interior britânico.
Excelente matéria!
ResponderExcluirPassando aqui para elogiar esse blog que acompanho há tantos anos no meu trabalho. Continue esse trabalho, que é excelente :)
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