




O que realmente acontecia em uma batalha medieval no mundo real?
Não uma batalha de filme, mas um verdadeira: sem lutas épicas de heróis e vilões, sem câmera lenta, sem ataques coordenados. Apenas a verdade no final das contas. Aqui, nesse artigo vamos falar de como era uma batalha e de como os conflitos medievais se resolviam.
O SOM PARA AVANÇAR
Para começar, se você fosse um soldado, você provavelmente sequer ouviria sinal para iniciar o ataque. O código de ataque mais usado no período era emitido por uma corneta de chifre soprada por um soldado especialmente designado para essa função. Este ficava em uma posição segura, de preferência no alto para que o som de seu instrumento se propagasse. O ruído, no entanto podia ser abafado pela gritaria, confusão e nervosismo da tropa. Essa falta de organização frequentemente resultava em inícios falsos das batalhas, com determinado grupo avançando antes do momento correto, enquanto alguns saiam atrasados.
Relatos medievais demonstram que essa iniciativa desorganizada pode ter influenciado mais de um resultado em batalhas importantes. O que ocorria muitas vezes é que sinais sonoros podiam ser mal interpretados fazendo com que o avanço de tropas acabasse sendo realizado sem que todos estivessem prontos para a investida. Imagine uma coluna esperando pacientemente pelo sinal, quando uma coluna mais atrás recebe o sinal errado de avançar. O resultado era um desastre.
Por mais que os comandantes e oficiais de campo tentassem explicar os sinais adequados de ataque, muitas vezes eles acabavam sendo interpretados de forma errada pelos envolvidos, prejudicando enormemente o desfecho. De fato, muitos exércitos proibiam que soldados portassem chifres de sopro durante batalhas punindo severamente qualquer um que soprasse o instrumento atrapalhando os sinais de comando. Posteriormente algumas tropas adotaram códigos específicos, com toques diferenciados para indicar avanço, retirada, limpar o campo etc. Alguns exércitos chegaram a utilizar bandeiras e até explosivos ou fogos de artifício colorido como forma de sinalização, mas a verdade é que em meio ao caos da batalha poucos soldados se preocupavam com ordens.
Quando um chifre de batalha soava, os soldados tinham que correr e precisavam ser rápidos nessa investida pois qualquer vacilo poderia resultar em esbarrões, encontrões e quedas. E uma queda enquanto o restante da tropa avançava era algo extremamente perigoso, podendo terminar em pisoteamento. A verdade é que os soldados eram impulsionados a correr em frente e não parar até chegar a posição do inimigo quando ocorria o choque.
A ORDEM DA INICIATIVA
Campos de batalha medievais não eram um playground. Muito pelo contrário! As batalhas geralmente aconteciam em terreno irregular, com depressões e aclives inesperados, lamaçal escorregadio e piscinas de água estagnada, barro e excremento. Havia ainda vegetação rasteira, pedras soltas e raízes que podiam constituir um obstáculo para a investida. Perder o equilíbrio era um risco frequente, sobretudo pelo fato dos soldados carregarem um peso considerável.
As investidas em carga que vemos em filmes eram bem menos heroicas e muito mais confusas. Os combatentes avançavam em massa correndo de forma desabalada para evitar serem derrubados pelos seus próprios companheiros que vinham atrás. Tambem havia o medo de flechas que vinham voando. Quando alguém caía alvejado levava dois ou três ao chão que podiam ser facilmente pisoteados sobretudo no escuro. Exames de soldados mortos mostram que muitos ficavam afundados de bruços na lama, literalmente esmagados por botas que os pisaram até a morte. Alguns se afogavam em poças de lama com apenas 10 centímetros de profundidade.
Conhecimento da geografia do campo de batalha podia ser uma vantagem considerável. Há relatos de um exército no século XII que avançou por um campo coberto de hera venenosa e que em meio ao ataque perdeu a formação pois os homens simplesmente ficaram pelo caminho tomados por uma coceira insuportável. Também se fala sobre as dificuldades de se lutar contra a luz do sol ou sob chuva torrencial. Todos esses elementos influíam na iniciativa da batalha e podiam prejudicar o ataque antes mesmo dos combatentes se encontrarem.
Era comum haver uma mistura de excitação e medo que era galvanizada para impulsionar os soldados a avançar o mais rápido possível. Antes da investida ser ordenada, os homens podiam esperar por horas em linha, sob a chuva, sol inclemente, com fome, sede ou desconforto. Ficavam lado a lado com estranhos fedendo a medo, bebida e suor. Não havia como abandonar a posição para se aliviar, por isso as necessidades eram feitas ali mesmo, nas próprias armaduras. Com sorte alguém podia passar e jogar serragem ou palha na imundice. A tensão précombate chegava ao auge. Quando a ordem enfim era dada, resultava numa espécie de catarse. Poder se mover e fazer aquilo pelo que se esperou por horas era um alívio. O momento da vida ou da morte havia chegado.
Vários cronistas comentam como os ataques eram barulhentos. Os soldados gritavam sem parar. Ao avançar era comum que as tropas urrassem, xingassem e fossem para o combate berrando como loucos. Muitos podem ver isso como uma forma de intimidar o inimigo, mas a verdade é que os gritos eram uma maneira de extravasar o próprio terror. Dificilmente uma investiga era silenciosa e o que era gritado soava incompreensível em meio a cacofonia.
O PRIMEIRO CHOQUE
O choque em uma batalha ocorria quando um grupo avançava contra a posição inimiga e elas se tocavam. Era um estrondo ensurdecedor.
Ao contrário do que acontece em filmes, era raro os dois lados investirem ao mesmo tempo para se encontrar no meio do campo de batalha. Isso acontecia porque a posição defensiva era mais cobiçada por constituir uma vantagem considerável sobre os que faziam a investida. Isso também explica porque muitas vezes as forças permaneciam por horas perfiladas aguardando a movimentação do oponente como lutadores se encarando.
A estratégia mais usual para os defensores era montar uma linha reta com escudos posicionados para barrar a investida. A famosa coluna de escudos. Os defensores precisavam suportar essa primeira investida e segurar a linha para evitar que ela fosse rompida. Para os atacantes, o melhor cenário era empurrar ou derrubar os defensores e para isso, eles literalmente se atiravam contra os escudos usando o peso e o impulso da corrida como vantagem.
O som do choque era algo notável! Como um trovão. Escudos eram peças sólidas de metal ou madeira maciça, feitas para suportar o castigo de golpes sucessivos. Eles vibravam e tremiam com cada golpe absorvido. Os homens tinham que segurá-los com toda determinação, pois o choque podia ser devastador capaz de quebrar ossos ou causar torções no pulso dos defensores.
Uma linha de defesa com escudos contava geralmente com uma segunda linha de soldados com armas longas, especialmente lanceiros para repelir o ataque e espetar os inimigos antes mesmo deles se chocarem com a parede. Quando ocorria o choque a linha tentava resistir pelo maior tempo possível - por vezes as tropas treinavam dar passos coordenados para trás afim de diminuir o ímpeto dos atacante, mas nem sempre isso funcionava. Eventualmente a linha desmoronava ou era desmanchada para que a defesa tivesse chance de contra-atacar.
LUTA FRANCA
Após o choque inicial a batalha descambava para um enfrentamento confuso cujo objetivo único era ficar de pé e golpear quem estivesse próximo - com sorte um inimigo e não um aliado.
Os mortos se acumulavam no local do primeiro choque, em meio a sangue e vômito se empilhavam tornando-se um obstáculo a ser transposto. Os combatentes então podiam se encarar pela primeira vez a poucos metros uns dos outros, face a face. Reconheciam nos seus inimigos a mesma face confusa transbordando choque e terror.
Apesar das batalhas romantizadas do cinema e literatura, é fato que a maioria dos envolvidos a essa altura do confronto só pensavam na própria sobrevivência. Um sentimento de autopreservação era acionado e eles entravam em um modo de matar para não morrer. Mas isso era apenas o início da violência.
Uma batalha medieval de verdade não era organizada, a melhor comparação pode ser uma violenta disputa de rugby na qual os dois times estão vestindo metal e portando armas brancas. Os lutadores não se enfrentavam um a um, a coisa era um verdadeiro caos de braços, armas e escudos subindo e descendo. Se um lutador enxergasse uma oportunidade ele investia naquela brecha tencionando acertar o oponente sem se importar se ele estivesse ciente ou não do ataque. Isso significa que a luta envolvia atacar o flanco, a lateral ou as costas do oponente que deixasse o caminho aberto. Um lutador podia receber ataques vindos de qualquer direção. Muitos sequer viam o que os havia atingido e morriam sem entender de onde veio o golpe fatal.
Estar em maioria era uma estratégia desejada. Se você tivesse aliados - contando que eles o reconhecessem como tal, poderiam proteger seus flancos e evitar que uma lâmina fosse enfiada na sua nuca ou que um porrete fraturasse o seu crânio. Cinco contra um era portanto uma estratégia válida. Cavaleiros ou lutadores com código de honra acabavam por abandonar a noção de luta justa. Em meio ao combate franco não havia tempo de pensar e qualquer um que se importasse minimamente em conter seus ataques, podia estar morto antes de se arrepender disso. Uma batalha medieval envolvia bater e se acertasse, bater de novo e de novo até que o oponente não estivesse se movendo.
Técnicas de esgrima ou a maneira correta de usar as ferramentas de guerra eram prontamente abandonadas em nome de um resultado prático - feio, mas letal. Não havia espaço para mover as armas. As batalhas com ataques coordenados, giros e rodopios são um absurdo. Os ataques com espadas, por exemplo, envolviam uma tentativa desesperada de espetar a ponta da arma numa área desprotegida e empurrá-la até romper a pele e causar um ferimento. Não havia espaço para a lâmina girar e cortar. De acordo com o exame de esqueletos recuperados em campos de batalha, a maioria dos ferimentos vinha de ataques feitos de baixo para cima, por isso, armas pequenas como adagas e estiletes eram muito mais úteis.
As áreas mais visadas para ataques, quando possível, eram a cabeça e o pescoço. Havia o consenso de que um ataque bem sucedido nessas áreas poderia colocar o oponente fora de combate e por isso o ideal era acertar naquela faixa. As armas podiam ser empregadas de maneira incomum conforme a necessidade. O pomo de metal das espadas na extremidade da empunhadura podia se tornar um martelo improvisado muito mais útil do que uma lâmina. Esse movimento era bastante comum e atendia pelo nome de Hack Stroke.
Ataques também podiam ser direcionados a áreas não cobertas pelas armaduras, elmos ou capacetes. Os olhos eram um alvo frequente, com armas sendo usadas para vazá-los e com sorte causar cegueira e pânico.
A Luta Franca era o momento em que os homens enfrentavam o que havia de pior e descobriam ser capazes de fazer qualquer coisa para eliminar o inimigo. Até alguns minutos antes da batalha muitos combatentes não tinham certeza de como iriam desempenhar a caótica dança de morte que constitui uma batalha medieval. Não sabiam ao certo se teriam como fazer o que lhes era proposto. Aqueles que sobreviviam, descobriam ser capazes de coisas medonhas: Enfiar dez centímetros de aço no estômago de outro homem, rachar seu crânio com um golpe de machado ou decepar sua cabeça com uma lâmina cega. A loucura do campo de combate expunha terrores inconscientes e faziam homens regredirem um degrau na escala evolutiva tornando-os feras.
PROTEÇÃO NA BATALHA
Numa batalha medieval corpo a corpo é justo assumir que todos envolvidos tentavam encontrar algum tipo de proteção. Alguma peça de vestimenta, capacete ou proteção capaz de desviar uma lâmina ou proteger minimamente seu corpo contra um machado implacável. Do mais modesto combatente ao mais rico nobre, todos recorriam a alguma proteção que fosse condizente com seu status ou com a sua riqueza.
A Era Medieval se notabilizou pela imagem dos cavaleiros em armaduras impecáveis montadas com resistentes placas de metal. Mas estes eram uma minoria. Armaduras de metal polido ou de escamas eram caras e difíceis de construir. Mestres armeiros se esmeravam na produção metalúrgica dessas peças oferecidas em feiras ou encomendadas por nobres ao preço de um resgate. Apenas os mais ricos podiam se dar ao luxo de contar com elas.
As armaduras mais comuns e acessíveis eram coletes que podiam ter rebites de ferro afixados, anéis ou pequenas placas. Elas eram usadas sobre casacos grossos de couro batido também guarnecidos de pedaços menores de metal que com sorte, serviam para desviar uma flecha ou lâmina. Vestiam ainda luvas e botas grossas de couro batido, caneleiras, perneiras e cotoveleiras reaproveitadas. Não podia faltar um capacete ou elmo que evitava as temidas fraturas cranianas. Os mais pobres tinham apenas as couraças de couro que eram costuradas com fragmentos de ferro, madeira ou osso para dar um pouco mais de proteção. No pescoço se usava um colar grosso de ferro - o gorjal, para evitar a degola. Na cabeça tinham um capacete simples parecido com um prato de bronze que protegia o escalpo e o nariz.
O problema é que armaduras e elmos podiam ser ao mesmo tempo um trunfo e uma notável desvantagem quando a batalha se iniciava.
Os elmos e capacetes eram peças quase indispensáveis todos concordavam com isso, mas ao mesmo tempo eram desconfortáveis, pesados e quentes. Um capacete de metal pesava algo em torno de 4 quilos, mas um elmo fechado de cavaleiro podia chegar a ter até 15 quilos. Em apenas meia hora de exposição ao sol, a temperatura interna de um elmo fechado podia chegar a insuportáveis 38 graus. Suor escorria, os cabelos coçavam e a barba ficava empapada de suor e saliva, quando não vômito e sangue.
Os combates medievais eram travados em vestimentas que eram basicamente saunas portáteis. Um lutador podia ficar fora de combate não por ferimentos, mas por desidratação severa. O corpo inteiro ficava coberto de suor frio que se misturava a sangue, urina e demais resíduos. O fedor era nauseante. Qualquer corte interno podia infeccionar rapidamente com a umidade e sujeira típica de um campo de batalha.
Se por algum motivo você perdesse o equilíbrio ao usar uma armadura, levantar era algo complicado. Dependendo do peso, a armadura podia funcionar como uma âncora limitando movimentos e esgotando o combatente até as raias da exaustão. A simples tarefa de se colocar de pé podia ser quase impossível.
Os golpes inimigos podiam descrever trajetórias inesperadas e vir de direções absurdas o que diminuía a eficácia das armaduras. Por mais bem construídas que fossem, elas invariavelmente possuíam alguma brecha e quando a lâmina entrasse por ela era o fim. Também havia o problema de uma armadura amassar ou quebrar, ferindo a pele e deixando pontas afiadas que causavam dolorosas perfurações internas.
Um elmo também impedia a visão completa do campo de batalha. Quem usava esse tipo de proteção tinha a sua linha de visão limitada a dois pequenos buracos através dos quais ele só via o que estava diretamente à sua frente. A visão periférica, requisito essencial para perceber ataques furtivos e investidas nos flancos se perdia por completo.
De um modo geral, as armaduras ofereciam alguma proteção, mas esta, nem de longe era tão eficaz quanto acreditamos através do exposto em filmes e literatura. Uma armadura de correntes podia suportar um ataque ou dois de espada, mas não iria resistir a um machado. Um elmo por mais reforçado que fosse não seria páreo para um martelo ou mesmo a uma lança que trespassasse pela viseira. Uma armadura era uma forma de desviar os ataques e conceder algum grau de proteção, mas este era mínimo.
Ainda assim, é perfeitamente compreensível entender porque elas continuaram a ser usadas. Na ausência de qualquer outra coisa, elas eram psicologicamente uma forma de lidar com os aterrorizantes ferimentos que mesmo as mais simples armas eram capazes de provocar. Não que as armas fossem todas perfeitas, mas quando se fala em batalhas medievais, é muito mais fácil ferir do que prevenir um ferimento. E por falar em...
ARMAS MEDIEVAIS
Os problemas estruturais não se limitavam às armaduras usadas pelos combatentes. As armas também podiam deixar muito a desejar.
As peças maravilhosas que se vê reluzindo nas vitrines de exposição em museus resistiram à passagem do tempo porque realmente eram bem manufaturadas por armeiros medievais, contudo elas eram a exceção. A maior parte das armas eram ferramentas grosseiras construídas com uma única função, causar dano na anatomia humana. Uma arma perfeita era aquela que poderia arrebentar um osso com o impacto, lacerar um tendão com um gume afiado ou se enterrar nas entranhas provocando hemorragia interna. Uma peça capaz de produzir esse tipo de ferimento não precisa ser bem construída ou ser bem manipulada - muitas vezes bastava que a pessoa tivesse sorte no ataque.
Pode parecer estranho, mas as armas atendiam a uma função básica, por isso, muitos exércitos não se preocupavam muito com a qualidade delas e pagavam pela construção de artefatos simples e descartáveis. Ademais, sempre era possível resgatar alguma arma depois de um combate para substituir aquelas que haviam sido danificadas. De fato, apenas nobres cavaleiros, soldados profissionais e mercenários veteranos possuíam armas de boa qualidade, todas as outras acabavam se consumindo depois de uma ou duas batalhas. Ferrugem, metal de baixa qualidade e uso indevido acabavam por destruir as armas.
Falemos de machados. Eles eram basicamente a mesma ferramenta usada universalmente para cortar madeira nas florestas. Para a atividade marcial os machados eram mais afiados para poder cortar através de escudos, armaduras e, é claro, ossos. Eles tinham uma grande vantagem: não precisavam de treinamento formal. Bastava erguer e baixar com força deixando a física fazer o resto. O efeito geralmente era devastador e um alvo atingido por um machado raramente se recobrava da experiência. Mas havia um problema! A lâmina de um machado podia acertar um alvo fosse um escudo ou as costelas de um inimigo e ficar preso ali. O exame de muitos campos de batalha mostrou que os portadores de machados por vezes, morriam tentando desalojá-los do lugar onde ficaram presos. E com a arma presa em meio ao caos, ele próprio se tornava um alvo em potencial.
Lanças eram de longe as armas mais comuns nas batalhas medievais, primeiro por serem muito baratas e fáceis de construir, em segundo lugar, por exigir mínimo treinamento. Em batalhas medievais cerca de 70% das tropas podiam ser armadas com uma ou mais delas. As lanças medievas eram um bastão de madeira com uma ponta aguda de ferro presa na extremidade com prego, mas podiam ser ainda mais rudimentares. Uma haste de madeira afiada ja dava conta do recado. Mesmo reinos pequenos com recursos limitados podiam produzir milhares de lanças para suprir seus exércitos. O grande benefício das lanças era obviamente o alcance delas. Poder empalar alguém a quase dois metros de distância era uma vantagem considerável, sobretudo quando o oponente tinha uma arma curta ou avançava numa carga atabalhoada. O problema das lanças é que elas se tornavam inúteis em lutas corpo a corpo, podendo causar acidentes e até ferir aliados em formação lado a lado. Por esse motivo os lanceiros costumavam soltar as lanças tão logo as linhas se chocavam, apanhando facas, adagas e porretes presos aos cintos para continuar lutando.
Maças e martelos surgiram como uma necessidade quando a ponta das lanças começaram a desviar ou quebrar nas armaduras. As lâminas também se tornaram pouco úteis contra soldados protegidos por armadura pesada. A solução foi parar de cortar e começar a arrebentar. Uma maça é essencialmente uma bola pesada de ferro fundida a ponta de um porrete. Desenhada para quebrar ossos sem a necessidade de abrir as armaduras, os ferimentos internos podiam ser medonhos. As maças criaram a crença de que seriam armas ideais para religiosos e guerreiros puros por não verterem sangue diretamente - seus ferimentos internos podiam ser devastadores. Os martelos de guerra eram ainda mais identificados com o princípio básico de abrir buracos na armadura até atingir algo macio dentro delas.
A despeito do que se vê em filmes medievais, as espadas talvez fossem as armas menos comuns em campos de batalha. Para começar, elas eram realmente muito caras, podendo custar tanto quanto uma casa. Forjar uma espada carecia de um ferreiro com habilidades de artesão, anos de prática e conhecimento de metalurgia. Apenas nobres e soldados profissionais tipicamente podiam pagar por uma arma desse tipo. Além disso, espadas de qualidade duvidosa, como eram praticamente todas as fornecidas aos soldados quebravam facilmente. Análise de espadas recuperadas em campos de batalha demonstram que a maioria foi reparada múltiplas vezes ou que chegaram a quebrar em meio às batalhas. Poucas coisas podiam ser piores do que ter uma espada quebrada nas mãos, justo quando mais se precisa de uma arma. Apesar dos avanços da qualidade da metalurgia ter permitido a produção de espadas na baixa idade média, elas nunca foram tão comuns como Hollywood nos fez acreditar.
Finalmente, temos as armas improvisadas, essas sim o fundo do poço nas batalhas do período. É preciso lembrar que muitos dos lutadores medievais eram camponeses alistados para lutar ou que viam nas guerras uma oportunidade de ganhar algum dinheiro. Vigorava o costume de ir para a luta levando a sua própria arma e na ausência de algo melhor, os camponeses usavam as ferramentas que tinham em suas casas e que usavam no dia a dia. Nessa vasta categoria de implementos agrícolas temos porretes, garfos de arado, malhos e até pás com a lâmina afiada. Análise de campos de batalha atestam que mais de 20% das armas usadas nos combates podiam ser ferramentas de fazenda adaptadas ao uso militar. A despeito de serem armas rudimentares, elas podiam ter eficácia inquestionável. Um cavaleiro em armadura, o pináculo da tecnologia de guerra medieval, podia ser morto por um golpe de picareta no peito.
As armas medievais jamais foram construídas para parecer bonitas ou adequadas aos combatentes que as manipulavam. Elas eram objetos que visavam exclusivamente ferir, lacerar e matar os oponentes. Se fossem baratas e fáceis de produzir, tanto melhor pois a demanda por elas era constante já que a Idade Média foi marcada por guerras frequentes.
Continua na parte 2