domingo, 16 de outubro de 2011

Revistando os Bolsos - Uma lista de objetos corriqueiros que podem ser muito úteis

Em muitos RPG, o equipamento carregado pelo personagem é de suma importância. Armas, artefatos, manuscritos, itens de sobrevivência... qualquer coisa que possa ser útil para garantir uma vantagem em uma situação de necessidade é descrito na ficha do jogador.

Em ambientações Lovecraftianas, o equipamento não é, via de regra, tão importante. Com exceção de armas e livros, raramente o espaço de equipamento das fichas de jogo é preenchido pelos jogadores.

Bem, que tal mudar um pouco isso?

Aqui está uma pequena lista de objetos que tranquilamente poderiam constar no equipamento de investigadores dos Mythos de Cthulhu.

São objetos comuns, muitos deles corriqueiros que podem ser encontrados em qualquer lugar: levados nos bolsos, em pequenas valises ou no porta luvas de um carro. Mas o emprego de alguns desses objetos pode ir muito além da utilidade convencional deles e ajudar durante uma investigação.

Eu deixei de fora objetos óbvios como lanternas, blocos de notas e armas de fogo que são itens que nenhum investigador de repeito deixaria de carregar.

Caixa de Fósforos

Fogo é um recurso indispensável em muitas situações. Seja para acender uma tocha, queimar documentos que não devem cair nas mãos de seus rivais ou para preparar uma reconfortante fogueira no meio de uma floresta.

Palitos de madeira com uma ponta coberta de fósforo começaram a ser comercializados no início do século XVIII, mas eram incrivelmente perigosos pois a substância química podia inflamar ao menor atrito. A mera fricção causava a faísca e a chama, os primeiros fósforos foram responsáveis por incêndios acidentais e declarados um risco. Os fósforos de segurança, aqueles que devem ser riscados sobre uma superfície especialmente tratada (na borda da caixa) para se acender, garantem um maior grau de segurança.

Muitas das criaturas do Mythos são suscetíveis a fogo ou luz, o que faz dos fósforos um item valioso de ser carregado no bolso.

Isqueiros

Da mesma maneira que a caixa de fósforos o isqueiro permite que o investigador tenha acesso rápido a uma fonte de calor e luminosidade.

Isqueiros convencionais funcionam com uma pequena quantidade de líquido combustível estocado sob pressão em seu interior. Ao ser acionado o combustível (na época era usada nafta) se transforma em vapor expelido por um pequeno duto. O mecanismo de ignição é baseado no atrito de metal sobre uma pedra (flint) que gera uma faísca e acende o vapor, criando a chama.

Esses objetos passaram a ser vendidos no início do século XX e se espalharam rapidamente com a popularização dos cigarros. O mais conhecido dos isqueiros, o Zippo foi criado em 1932, e trazia a garantia de durar "a vida inteira" e resistir ao vento.

Os primeiros isqueiros, no entanto, não passavam pelas normas de segurança atuais e eram bastante perigosos. A nafta é um líquido volátil derivado da gasolina, a mesma substância usada em lança chamas. A explosão de um isqueiro cheio, colocado diretamente no fogo tem o mesmo potencial explosivo que uma garrafa de álcool.

Isqueiros também podem ser usados para comunicação à distância à noite. Na Grande Guerra, soldados em trincheiras conseguiam passar mensagens uns para os outros usando seus isqueiros para produzir faícas que escondiam um código.

Barbantes ou Cadarços

Mesmo inocentes barbantes e cadarços podem ter seu uso. Barbantes fortes podem ser usados para imobilizar as mãos de prisioneiros ou criar armadilhas em portas para causar tropeções. Usando um barbante como linha e um clipe de papel como anzol é possível "pescar" objetos que tenham caído em um bueiro ou alcançar as chaves de uma cela no outro lado da sala.

Lente de Aumento

Sherlock Holmes (ou melhor, seu criador Arthur Conan Doyle) foi o responsável pela popularização desse objeto como ferramenta investigativa. Holmes usava sua tradicional lente convexa de armação redonda para examinar pistas pequenas, verificar a composição mineral de um punhado de terra, o padrão das pegadas deixadas por um sapato na cena do crime ou para ler pequenas mensagens cifradas. É um item interessante para constar no equipamento de qualquer investigador que tenha contato com cenas de crime.

Uma lente de aumento também pode ser usada para iniciar fogo, concentrando radiação solar em um ponto focal por alguns instantes.

Caneta Tinteira

Até meados do século XX, não existiam canetas esferográficas, as cartas eram escritas com tinta à base de corante e canetas tinteiras (fountain pens). A caneta tinteira possuía um reservatório lacrado em seu interior que estocava a tinta. Ela descia através de um canal até a ponta metálica e aguçada.

A ponta das canetas tinteiras era feita de aço e em momentos de desespero podia ser improvisada como arma de perfuração. De fato, o autor Robert Stewart, no século XIX ficou famoso por ter escapado de um raptor, usando uma caneta tinteira como arma. O escritor norte-americano Ernest Hemingway relatou em suas memórias como correspondente de guerra, que certa vez usou uma caneta tinteira para apuhalar mortalmente um guerrilheiro na jugular.

Em certos momentos a caneta pode realmente ser mais poderosa que a espada.

No quesito armas improvisadas, investigadores do sexo feminino dispõem de uma peça de vestuário que pode se converter em uma arma. Os alfinetes de chapéu, implemento usado para prender a peça de vestuário na cabeça e evitar que ele voe, são basicamente uma longa agulha de metal.

Frasco de Bebida

O frasco de bebida (Silver Flask) se popularizou durante os tempos da Lei Seca. São pequenas garafas prateadas de metal com uma tampa de rosca fixa, discretas o bastante para serem guardadas no bolso do casacos ou paletó sem apresentar um volume suspeito.

Álcool (ou bebidas destiladas) pode ser usado como líquido combustível, para esterilizar objetos ou para lavar ferimentos.

Apesar de terem sido criados para o transporte de bebida alcóolica, uma silver flask pode ser usada para estocar em um compartimento seguro qualquer líquido, inclusive gasolina, éter ou Space Mead.

Frasco de Vidro

Invólucros de vidro podem ser bastante úteis em cenários em que uma pista precisa ser preservada ou quando um espécime precisa ser isolado para futura análise. Desde um tufo de pêlo de um byakhee, passando por uma cria viva de Eihort ou até a amostra de sangue de um ghoul.

Frascos de vidro com tampas de borracha são vendidos em farmácias e podem ser achados facilmente na valise de qualquer médico. Frascos envolvidos com barbante ou cortiça se tornam resistentes a eventuais choques e rachaduras.

Relógio de Bolso

No início do século, o relógio de bolso era um item que separava as pessoas simples dos cavalheiros. Embora os relógios de pulso (popularizados após a Grande Guerra) tenham gradualmente substituído os relógios de bolso, eles continuaram a ser usados até a década de 50.

Além do uso convencional - precisar as horas, um relógio podia ser usado para calcular a velocidade de um objeto e cronometrar o tempo com precisão. Alguns modelos especiais possuíam gadgets adicionais como termômetro, bússola e barômetro. Donos de relógios também incorporavam à corrente do relógio alguns objetos práticos para o dia a dia como cortador de charuto, chaves e apitos.

Por serem caros - e constituírem objetos de desejo mundo afora, relógios podem servir como moeda de troca em situações de grande necessidade. Não raras vezes exploradores e aventureiros tiveram de negociar seus relógios com nativos ou mercadores em troca de suprimentos ou carregadores.

Mesmo em um ambiente urbano, relógios podem ser úteis dessa forma. Um dos mais populares detetives da ficção, Sam Spade, carregava consigo duas ou três falsificações baratas de relógios de qualidade. Em mais de uma situação ele conseguiu subornar funcionários ou escapar de bandidos oferecendo relógios em troca. Outro uso interessante em uma estória detetivesca pode ser visto no filme Chinatown, quando o detetive em uma tocaia, coloca um relógio barato de baixo das rodas de um carro. Quando o suspeito sai com o carro, passa em cima do relógio registrando a hora exata em que deixou o local.

Espelho de Bolso

O espelhinho é um clássico na bolsa de qualquer mulher que precisa retocar a maquiagem e se manter atraente.

Além de servir à vaidade, um espelho de bolso é útil para enviar mensagens refletindo a luz do sol. Mata Hari, a célebre espiã holandesa enviava mensagens dessa forma para seus contatos. Nas trincheiras da Grande Guerra, espelhos eram usados por sinalizadores em balões e monomotores para passar mensagens rápidas à respeito da posição dos inimigos.

Espelhos também podem ser úteis como moeda de troca em sociedades primitivas. Os primeiros exploradores do Pacífico Sul levavam espelhos para trocar com os nativos por pérolas e outros tesouros precisosos.

Apito

Um simples apito pode ser extremamente útil para investigadores que se afastam de seus companheiros ou para grupos que resolvem se separar para explorar uma área aberta com visibilidade comprometida (seja uma floresta ou um vale repleto de densa névoa). Apitos também podem ser uados para mandar mensagens e pedidos de ajuda.

Apitos eram bastante comuns no começo do século e em grandes metrópoles eram distribuídos - sobretudo para crianças e mulheres - para servir como sinal de alerta em caso de perigo. Também era comum carregar apitos para chamar um taxi ou vendedores de rua.

Após o incêndio que destruiu Boston em 1872, milhares de "apitos de incêndio" foram distribuídos para a população. O objetivo era usá-los apenas em uma emergência de incêndio e seu uso desautorizado era passível de multa.

Bloco de Cera

Esse é um item usado por detetives particulares e investigadores de polícia para fazer moldes de chaves ou gravar um símbolo em alto relevo como o número de um chassi de automóvel. O bloco de cera é uma substância flexível de cor neutra, depositada em uma caixa semelhante a um estojo de maquiagem. Qualquer objeto pressionado com força contra ele deixa uma marca perfeita que pode ser usada para reproduzi-lo.

O Bloco de Cera é bastante comum também em sítios arqueológicos, onde seu uso é essencial para preservar o molde de uma placa, de um lacre ou para fazer cópias daquela misteriosa inscrição que recobre um artefatos coletado na escavação.

A cera também pode ser usada para proteger os ouvidos contra sons altos - e eventuais cantos hipnóticos, é útil para tapar buracos de bala no radiador de um carro ou vedar o escapamento de um cano.

Sais de Cheiro

Esse é um clássico em filmes de época onde uma dama desmaia ao presenciar algo chocante. Os sais de cheiro são um composto químico cristalino feito à base de amônia que age como estimulante respiratório. Basta aproximar os sais do nariz da pessoa para que ela desperte em um sobresalto. Hoje esse item pode parecer estranho, mas até os anos 30 era comum que senhoras tivessem um frasco de sais na bolsa.

Mais interessante são as aplicações desse item. A amônia é um elemento reativo que se exposto a altas temperaturas explode produzindo uma nuvem de gás tóxico. A substância também pode ser usada para induzir vômito - algo útil se o investigador tiver ingerido veneno ou coisa pior (já joguei uma aventura em que meu personagem engoliu um pedaço de Ubbo-Sathla! Quisera ter um frasco de sais na ocasião).

Luvas

Luvas são extremamente úteis em ocasiões onde o investigador tem de manipular alguma substância insalubre ou tocar objetos sem o risco de deixar impressões digitais comprometedoras na cena de crime.

Bússola

A boa e velha bússola deveria estar na lista de equipamento de todo o investigador que embarca em uma expedição de campo.

Já perdi a conta de quantos cenários participei envolvendo uma jornada através de uma floresta escura e desolada, ou um vale coberto de nevoeiro ou ainda um trecho de deserto inóspito. Quando o guardião pede por um rolamento envolvendo habilidades ligadas a sobrevivência as coisas em geral ficam feias, pois não é o tipo de perícia que investigadores urbanos possuem.

Uma bússola simples pode ser adquirida em qualquer armazém, as melhores bússolas tinham fabricação militar. Lembre-se, estamos falando de uma época em que não existiam os modernos GPS e nem todo lugar dispunha de sinalização.

Giz

Um pequeno pedaço de giz pode ser útil tanto em uma exploração do sistema de esgotos de uma grande cidade, quanto em um complexo de túneis secretos abaixo da Grande Pirâmide de Gizé. Um pedaço de giz pode servir para criar um símbolo de proteção no chão (quem sabe um Elder Sign), deixar uma mensagem ou indicar o caminho a ser seguido.

Poeira de giz também pode ser espalhada no chão para denunciar a presença de criaturas invisíveis (contanto que elas deixem pegadas) ou para denunciar a presença de manifestações invisíveis - sobretudo se você não tiver acesso a Poeira de Ibn-Ghazi.

Cigarros

Todos sabemos que fumar faz mal à saúde. Mas a primeira metade do século XX, fumar era uma questão de estilo e bom gosto. Cigarros são um item comum no bolso de qualquer investigador da época.

Muitos investigadores usavam cigarreiras para transportar seus cigarros. A boa notícia é que elas tem fechamento hermético e à prova d'água. Um ótimo compartimento para se guardar mapas, pistas e manuscritos valiosos. Quando os restos da Expedição Scott foram encontrados no Pólo Sul, documentos foram encontrados em perfeito estado justamente porque o explorador os guardou na cigarreira.

Cigarros também são um recurso valioso para ganhar a confiança de testemunhas ou estabelecer empatia. Pode conferir em qualquer filme noir: quando um detetive quer agradar um contato ou fazer uma testemunha abrir o bico, a primeira coisa que ele faz é oferecer um cigarro.

Linha e Agulha

Com a depressão, as pessoas não mais se desfaziam de suas roupas, ao invés disso, remendavam furos e costuravam os rasgos para que pudessem continuar usando essas mesmas roupas. Agulha e linha e os chamados kits de costura (sewing kits) se tornaram um item comum, carregado tanto por homens quanto mulheres da época.

Uma agulha pode ser útil para transmitir veneno por contato. Se o investigador tiver um canudo pode até improvisar uma perigosa zarabatana.

Em caso de necessidade a linha pode ser usada para suturar ferimentos sofridos (argh!). Já em se tratando de sobrevivência, a linha pode ser usada para pescar e a agulha empregada na construção de uma bússola improvisada (desde que a pessoa tenha um pedaço de imã).

Chapéu com bolso de Feltro

O chapéu é um item de vestuário indispensável na época em que se passa a maioria dos jogos Lovecraftianos.

O que poucas pessoas sabem é que era relativamente comum na época fazer uma espécie de bolso interno de feltro no interior do chapéu. Não se trata de um grande espaço, mas é o suficiente para esconder uma folha de papel, uma identificação ou quem sabe um frasco de veneno. No final da Segunda Guerra, os líderes nazistas esconderam no feltro do chapéu as notórias pílulas de cianureto usadas para se suicidar caso fossem capturados.

Canivete Suiço

O canivete criado pelo exército suíço é um ícone da praticidade acondicionado em uma mesma ferramenta compacta.

Produzido a partir de 1890, os canivetes desse tipo passaram a ser vendidos na década de 1920 encontrando um grande mercado consumidor. Os canivetes suíços produzidos nessa época tinham além de duas lâminas de aço inoxidável (que podiam ser usadas como arma), abridor de latas, saca rolhas, cortador de arame e chave de fenda. Alguns modelos militares também dispunham de uma ferramenta usada para abrir e limpar rifles.

Cortador de Charuto

Era muito comum, cavalheiros, sobretudo da alta sociedade, fumarem charutos após as refeições. O cortador era uma espécie de pequena guilhotina usada para preparar o charuto aparando a ponta dele.

Um cortador pode ser perigoso pois a lâmina é afiada o bastante para decepar um dedo. Em vários filmes, o cortador é usado como ferramenta de intimidação ou instrumento de tortura nas mãos de vilões sádicos. Investigadores propensos a usar os métodos dos vilões podem usar esse instrumento (e perder alguns pontos de sanidade no processo!)

* * *

Bem, estes são alguns itens básicos e corriqueiros que podem ser úteis. Não desmereça aquele pedaço de barbante, ele ainda pode salvar a vida de seu personagem.

3 comentários:

  1. Quanto às canetas-tinteiro, mais alguns fatos:

    - Antes da caneta-tinteiro as canetas não tinham tinta e tinham que ser molhadas na tinta praticamente a cada palavra escrita.

    - A tinta precisava ser recarregada de tempos em tempos, para isso havia um vidro de tinta sempre disponível. As canetas tinham que ser enchidas com conta-gotas ou tinham um reservatório de borracha que era apertado como um conta-gotas e a ponta da caneta era inserida no vidro de tinta. Canetas mais sofisticadas poderiam ter outros mecanismos de enchimento.

    - Era frequente a tinta formar pequenas gotas e manchar a escrita. Para absorver o excesso de tinta era usado o mata-borrão.

    Assim, quem tinha uma caneta-tinteiro sempre tinha também papel, vidro de tinta e um mata-borrão.

    O vidro de tinta pode ter várias utilidades alternativas, como jogar tinta nos olhos de algum inimigo, por exemplo. É também um meio rápido de tornar ilegíveis textos escritos, derramando a tinta por cima.

    O mata-borrão costumava ficar com a impressão espelhada de algumas palavras escritas, assim é importante para o investigador verificar o mata-borrão de uma cena de crime. Pode ser usado também para absorver rapidamente pequenas quantidades de líquido.

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  2. Se perdido numa floresta, apenas colocar a agulha sobre uma folha em cima de uma poça d'água já é uma bússola.

    Excelente post.

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  3. Opa, Belgoni! Antes disso vc deve imantar a agulhar, esfregando ela numa pedaço de seda ou similar,nesse caso, um lenço de seda ,pois são comuns até hj em ternos e afins. Aí sim a agulha passa a ter propriedades magnéticas.

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