A INVESTIGAÇÃO
"Eu tinha doze anos a época, mas lembro perfeitamente da repercussão pública sobre esse incidente à despeito das tentativas das autoridades de manter parentes e investigadores em silêncio", disse Yury Kuntsevich, chefe da Fundação Dyatlov, que tenta solucionar o mistério.
Ao longo dos anos, muitas pessoas tentaram compreender o que aconteceu naquela noite fatídica de primeiro de fevereiro de 1959, nas encostas do Kholat-Syakhyl. Alguns, como Igor Sobolyov, ficaram fascinados pela tragédia dos jovens esquiadores. “Essas montanhas se tornaram célebres pela tragédia, atraíndo curiosos de todos os cantos. É como se as pessoas que morreram lá em cima tivessem deixado um legado, eles travaram uma espécie de batalha contra o Desconhecido".
Mas qual exatamente é a natureza desse "Desconhecido"? Contra o que eles travaram uma batalha? O que fez os estudantes fugirem em desespero, abandonando suas tendas, deixando para trás equipamentos e suprimentos? Como parte do grupo terminou morto e enterrado em um buraco de quatro metros de profundidade? Há muitas teorias.
Uma das primeiras teses exploradas pelos investigadores é que os estudantes teriam sido vítimas de habitantes locais da região, os Mansi. A tribo é conhecida por proteger seu território contra invasores, sobretudo locais considerados sagrados.
Há um precedente histórico que apóia essa teoria: na década de 1930, o shaman da tribo ordenou a morte de uma equipe de geólogos que escalaram uma montanha proibida. Mas nesse caso, embora a montanha seja citada no folclore Mansi, ela não é considerada sagrada ou um tabu tribal. Uma coincidência desagradável é que Otorten, o destino final da expedição significa "não vá até lá" no idioma Mansi, enquanto Kholat-Syakhyl significa "Montanha dos Mortos", não parece portanto o tipo do lugar onde membros da tribo vagariam à espera de alguém.
Além disso, o vilarejo Mansi mais próximo se localiza a aproximadamente 80 Km do local onde os corpos foram encontrados. Os Mansi raramente se afastam tanto de seus povoados, sobretudo durante o inverno quando o clima rigoroso dificulta a caça e pesca.
Em face das poucas evidências, a teoria de um ataque por parte dos Mansi foi rejeitada. Outros sugeriram que o grupo simplesmente topou com um bando de ladrões que estavam de passagem pela região, ou foi confundido com prisioneiros em fuga de um dos campos de trabalhos forçados existentes nas montanhas.
Ladrões habitando as montanhas não seria algo totalmente impossível, mas é algo bastante improvável em virtude do clima. Além disso a região é deserta, tornando-a pouco atraente para ladrões que teriam de esperar pela improvável passagem de vítimas. Os campos de prisioneiros por sua vez não reportaram a fuga de nenhum condenado nos meses anteriores a tragédia na passagem.
As três hipóteses baseadas em envolvimento humano esbarram em um mesmo fator: a ausência de pegadas nas proximidades da tenda e ao redor dos corpos encontrados. Além disso, o Dr Boris Vozrozh, legista que examinou os corpos, concluiu que os ferimentos não pareciam ter sido causados por ação humana. "Os ferimentos parecem decorrentes de batidas fortes, semelhante ao dano resultante de uma batida de carro", explicou.
Mas se seres humanos não foram os responsáveis pelas mortes, então o que poderia ser?
Os misteriosos ferimentos, de acordo com o criptozoologista russo Mikhail Trakhtengertz, sugerem que uma criatura suficientemente forte poderia ter abraçado os estudantes causando a fratura de costelas verificada em dois dos corpos recuperados.
Avistamentos de criaturas selvagens, os chamados monstros da neve, são relativamente comuns na Rússia - afinal de contas o país possui vastas regiões cobertas de neve que oferecem esconderijos perfeitos para uma criatura dessa natureza encontrar proteção. Os típicos monstros da neve, presentes no rico folclore russo são descritos como humanóides gigantescos com mais de 3 metros de altura e o corpo coberto de pelos brancos que lhes concede camuflagem na neve. Essas craturas segundo o mito são carnívoras e atacam invasores de seus territórios.
Trakhtengertz apresentou como indício de sua teoria, um trecho do diário escrito por um dos estudantes no dia anterior à sua morte. Ele escreveu: “Agora sabemos que o abominável homem das neves realmente existe, ele pode ser encontrado ao Norte dos Urais, próximo a Montanha Otorten.” Mas dado o tom bem humorado das anotações o comentário parece ser apenas uma brincadeira, ao invés de uma genuína anotação a respeito de algo que foi visto.
No campo das sugestões envolvendo o folclore russo, também foi cogitado que os estudantes poderiam ter inadvertidamente cruzado o caminho de gnomes. Essas criaturas que segundo as lendas, vivem em cavernas e passagens profundas no interior de montanhas, são descritas como selvagens e perigosas.
OS ARQUIVOS DO CASO
Apenas em meados de 1990s os arquivos do caso foram abertos ao público, até então eles permaneciam secretos. O conteúdo desses arquivos ao invés de revelar os acontecimentos, tornavam o incidente nas montanhas ainda mas misteriosos.
Segundo os documentos, a perícia médica encontrou altos níveis de radiação nos corpos e roupas de quatro dos esquiadores, como se eles tivessem manipulado materiais radioativos pouco antes de morrerem. O investigador chefe da polícia, Lev Ivanov, descreveu que um Contator Geiger foi usado na área do acampamento na encosta da montanha, apresentando uma alta concentração de radiação.
Ivanov também revelou que recebeu ordens expressas de seu superior regional para cancelar futuras investigações e se afastar do caso classificando tudo o que havia descoberto como confidencial. A investigação foi então assumida por indivíduos ligados às forças armadas. O policial recebeu ordens para entrevistar testemunhas que teriam visto "bolas de luzes voadoras" sobrevoando a área entre fevereiro e março de 1959. Os superiores de Lev se mostravam bastante interessados em qualquer informe sobre essas luzes estranhas. "Eu suspeitava na época e hoje estou quase certo que essas esferas brilhantes estão diretamente ligadas a morte daquelas pessoas". disse Ivanov em uma entrevista a um jornal regional em 1991.
Os arquivos continham o relato de outro grupo que se encontrava nas proximidades na noite fatídica; uma expedição de estudantes de geologia acampados a cerca de 50 km ao sul. O líder desse grupo disse ter observado estranhas luzes alaranjadas, como "bolas de fogo", flutuando no céu noturno na direção de Kholat-Syakhl. Um de seus colegas descreveu "um objeto circular brilhante" sobrevoando as montanhas na direção sul-sudoeste. O objeto era equivalente em tamanho à lua nova, seu centro tinha uma coloração alaranjada e uma espécie de halo de luz azulada que o envolvia. Esse halo às vezes piscava como se fosse um relâmpago à distância. O objeto circulou a área por mais de dez minutos e então ascendeu em alta velocidade desaparecendo no horizonte.
Ivanov especulou que os esquiadores devem ter saído da tenda para ver a forte luz que iluminou a noite. Uma vez lá fora, algo deve tê-los assustado para que corressem em desespero para longe do acampamento na direção da floresta. O policial suspeita que uma explosão pode ter causado a morte de quatro dos estudantes que apresentavam ferimentos sérios.
"Eu não posso afirmar que essas bolas de luz eram algum tipo de veículo alienígena como muitos especulam, mas estou certo que eles tem relação com as mortes". Yuri Yudin, único sobrevivente do grupo original também acredita que uma explosão causou a morte de seus amigos. Ele esteve com o grupo de resgate e viu o estado dos corpos à medida que eram removidos da área.
O grau de sigilo que envolve o incidente sugere que o grupo pode ter entrado em contato com algo de máxima segurança. A hipótese de que os militares estariam testando algum tipo de arma secreta é reforçada pela radiação e todo o esquema para acobertar a investigação. Yury Kuntsevich concorda, apontando para outra importante pista contida nos relatórios médicos, um inexplicável bronzeamento na pele das vítimas.
"Estive presente ao funeral de cinco vítimas e lembro que a face deles apresentava um tipo de bronzeado profundo" explicou. Alguns parentes dos estudantes se recordam que os corpos apresentavam uma coloração alaranjada e "cabelos grisalhos".
Os documentos liberados não continham nenhuma menção sobre a autópsia ou condições dos órgãos internos das vítimas. "Nós sabemos que nesses casos autópsias completas são realizadas, mas não foram localizados os laudos dos médicos chamados para essa tarefa". Kuntsevich afirma que os médicos pertenciam ao exército e que foram trazidos especialmente para conduzir o exame. O nome deles sequer é mencionado nos documentos apresentados. Os laudos médicos eram incrivelmente simples, sem informações vitais o que sugere um acobertamento das conclusões.
Dois anos após o incidente, a União Soviética enviou um satélite artificial para o espaço - o Sputnik, lançado da Base de Baikonur no Cazaquistão; pouco depois, Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a viajar pelo espaço. Seria possível que o sucesso repentino do programa espacial russo estivesse ligado a esse mistério? Até meados de 1955, o serviço secreto norte-americano não acreditava que os soviéticos fossem capazes de avanços significativos nã corrida espacial. A partir de 1959, as coisas mudaram drasticamente, o programa avançou incrivelmente.
Yury Kuntsevich revelou que uma expedição em 2007 descobriu uma espécie de "cemitério" de peças de metal e sucata nas montanhas próximas ao incidente. "Não há como esse material ter chegado ao local a não ser voando" disse “é possível que estes restos pertenciam a algum aparelho testado pelos militares, talvez até mesmo ao veículo que causou a tragédia de 1959”.
A teoria de Yudin é que os esquiadores escolheram justamente um local onde testes militares eram conduzidos. Eles teriam se assustado com o que viram e fugido para a floresta sem entender o que estavam presenciando, no processo alguns teriam morrido. Para acobertar os experimentos secretos, as autoridades teriam eliminado os sobreviventes.
Isso leva à questão central: o que os soviéticos estariam testando nas montanhas? Não é segredo que o governo soviético realizava testes com armas e tecnologia no decorrer de todo período da Guerra Fria. A área é ideal para esse tipo de teste, pois oferece condições de isolamento que permitem a realização de testes sem testemunhas civis, a presença dos esquiadores seria então uma trágica coincidência. Yudin relaciona a decisão de eliminar as testemunhas com a mentalidade da época: "civis poderiam revelar o que viram e isso seria um problema para as autoridades. Do ponto de vista prático, eles simplesmente não podiam deixar as montanhas". Além disso, se houve contaminação por radiação, os estudantes já estavam condenados. Eliminá-los antes que eles apresentassem os efeitos nocivos era uma maneira de preservar o segredo.
Mas embora essa explicação pareça se encaixar no caso, ainda fica a dúvida a respeito da ausência de pegadas na área. Se os militares estiveram presentes, eles teriam deixado pegadas na área inteira.
Moisei Akselrod, um amigo de Dyatlov, é uma das pessoas que defende uma teoria menos fantástica à respeito do que aconteceu nas montanhas. Ele acredita que uma avalanche tenha atingido o acampamento no meio da noite. Alguns dos esquiadores se feriram gravemente no deslizamento e os outros tiveram de fugir às pressas para a floresta deixando tudo para trás. Retornando depois para o acampamento eles retiraram os feridos e tentaram mantê-los aquecidos, mas estes acabaram sucumbindo. Posteriormente, o frio extremo do inverno acabou matando a todos. Os corpos teriam sido enterrados por homens da tribo Mansi de passagem pela região que dada a repercussão do caso preferiram não se apresentar.
Evgeniy Buyand e Valentin Nekrasov, experientes esquiadores, também defendem a versão de que o caso foi resultado de um acidente. Afirmam que os ferimentos das vítimas são condizentes com o impacto de um grande deslizamento de neve que cobriu parte do acampamento e forçou os outros a fugir. O crânio quebrado de Thibaux-Brignolle foi resultante do impacto, enquanto Dubinina mordeu e arrancou a própria língua.
Os céticos dessa teoria apontam para o fato dos esquiadores terem percorrido uma distância de mais de um quilômetro à pé em uma temperatura de –30º C. Eles teriam então retornado para encontrar seus companheiros feridos e os carregado para o local afastado onde foram encontrados. Se eles estavam em condições de resgatar seus companheiros, porque não foram capazes de descer a encosta em busca de ajuda? Porque teriam simplesmente ficado na montanha aguardando a morte? Além disso, porque não resgataram suas provisões na barraca?
O LEGADO
Desde que detalhes foram divulgados a respeito da tragédia a partir de 1990, pesquisadores continuam a buscar respostas. O jornalista Anatoly Guschin, foi uma das primeiras pessoas a estudar os arquivos originais, e sustenta que nem todos os documentos do caso foram apresentados ao público. Em 1999, ele publicou um livro entitulado "O Preço dos Segredos de Estado" a respeito de sua teoria a respeito de armas secretas e uma conspiração militar para cobrir o caso. Lev Ivanov também acredita em uma conspiração, já que foi coagido a enterrar o caso, mas ele morreuacreditando que os esquiadores foram mortos em uma espécie de contato alienígena.
Em 2000, uma rede local de televisão filmou um documentário à respeito da tragédia nas montanhas. Desde então o caso ganhou ainda mais repercussão. A Fundação Dyatlov continua buscando uma solução para o caso e tenta junto à justiça russa uma reabertura do caso.
Em 2010, seis indivíduos que fizeram parte da equipe de resgate e 31 experts em sobrevivência na neve se reuniram em Yekaterinburg para uma conferência organizada pela Universidade Técnica dos Urais (a antiga Politécnica), a Fundação Dyatlov e várias entidades não-governamentas. Eles concluíram que os militares estavam realizando testes na região e que foram estas experiências que causaram a morte dos esquiadores. O Ministério da Defesa da Rússia não se manifestou à respeito.
O que realmente aconteceu em no dia 1-2 de fevereiro de 1959, provavelmente jamais será conhecido mas Dyatlov e seus amigos dificilmente serão esquecidos. O local onde ocorreu o incidente recebeu oficialmente o nome de "Passagem Dyatlov".
Assisti ontem a um documentário no Discovery sobre esse caso. Nesse documentário, eles "sugerem" que os esquiadores foram vitimas dos Yets, os tais monstros das neves, inclusive, um casal de pesquisadores resolveram passar a noite lá e ouviram os sons dessas criaturas. Enfim, cada um acredita no que quer, mas que é um caso intrigante isso é!
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