domingo, 10 de dezembro de 2017

O Envenenador de Mattoon - Os ataques de um maníaco desconhecido


De uma forma semelhante ao enigma de Jack, o estripador que assombra Londres até os dias atuais, um mistério igualmente instigante surpreendeu os residentes do estado de Illinois, nos Estados Unidos.

A pequena cidade rural de Mattoon foi o palco de acontecimentos bizarros que permanecem sem uma explicação satisfatória passados mais de 70 anos. No ano de 1944 um personagem sombrio aterrorizou a população, infectando casas com uma nuvem de vapor mortal, até desaparecer sem deixar vestígio tão rápido quanto surgiu. Essa figura nefasta ficou conhecida como "O Envenenador Louco de Mattoon", um maníaco que atacava sem aviso e que deixava um rastro de pânico e terror.

A história do Envenenador Louco de Mattoon - também conhecido como "Químico Louco", começa na pequena comunidade rural de Mattoon, Illinois no ano de 1944. Entre as datas de 31 de agosto e 13 de setembro. Segundo os relatos, um sujeito magro, vestido com roupa de borracha e máscara de gás espalhou um reinado de terror e provocou uma série de ataques com gás. Embora a polícia e o FBI tenham tentado refutar a coisa toda como um caso clássico de histeria coletiva, as evidências comprovam que nesse período, uma pessoa não identificada conseguiu se infiltrar na casa de cidadãos locais e disseminou uma substância venenosa - por meios ainda desconhecidos, para incapacitar e ferir inocentes.

Desde o fatídico ano, debates acalorados discutiram a verdadeira identidade do maníaco. Alguns especularam que o Envenenador poderia ser um Cientista maluco, enquanto outros sugeriram que ele fosse um agente do governo testando uma nova e devastadora arma. Outros ainda, teorizavam que ele podia ser um veterano da Grande Guerra, horrivelmente deformado pelos gases lançados nas trincheiras durante o conflito no início do século. Havia ainda a teoria de que os ataques seriam coordenados por um grupo de delinquentes juvenis que teriam colocado as suas mãos em material insalubre abandonado. É claro, havia ainda a teoria de que os incidentes eram parte de uma invasão alienígena e que extraterrestres estariam usando o gás para realizar algum tipo de experimento em seres humanos.


Seja qual for a origem desse enigmático criminoso, os fatos a cerca dessa terrível série de eventos em Mattoon se tornaram assunto para muita discussão e paranoia, sobretudo porque indícios sugerem que ocorrências muito semelhantes teriam ocorrido nos Estados da Florida e Virgínia cerca de 10 anos antes de Mattoon ser vítima de um estado de desespero.

A primeira sequência de eventos teve lugar na área rural do condado de Botetourt, Virginia. Um homem chamado Cal Huffman junto com sua esposa, seis crianças e um amigo da família relataram terem sido vítimas de um estranho ataque nunca até então reportado nos Estados Unidos. 

De acordo com o testemunho dos Huffman, por volta das 10 horas da noite, um vapor não identificado de coloração amarelada encheu a casa deixando a Sra. Huffman imediatamente nauseada. Ela se retirou para o quarto, junto com três crianças que também começavam a sentir os efeitos da forte náusea. Enquanto isso, seu marido saiu para ver de onde vinha aquele cheiro desagradável que empesteava o ar. Ele percebeu a presença de uma figura vestida de preto e com uma máscara de gás escondendo suas feições. O sujeito escapou correndo e sumiu na noite.

Cerca de uma hora depois, Cal descobriu que a casa estava sob ataque uma vez mais. O vapor amarelado estava se insinuando novamente pela casa, provocando uma reação alérgica nas crianças que vomitavam sem parar. Cal não encontrou o sujeito novamente, mesmo revistando a área armado com uma espingarda. Ele, no entanto, se ocupou de retirar a mulher e os filhos da casa e levá-los para a cidade mais próxima. De lá, seguiu de volta acompanhado com a polícia que revistou o local, encontrando indícios de que a casa havia sido fumegada uma terceira vez - já que a concentração de vapor era ainda maior quando retornaram.

Um dos retratos falados da misteriosa figura de preto
Uma das filhas de Cal, Alice de 19 anos perdeu os sentidos no hospital e outras duas crianças sofreram efeitos alérgicos derivados da substância que inalaram. Todos receberam cuidados médicos após o incidente. Os membros da família Huffman sofreram de náusea, dores de cabeça e dores de garganta causadas pela inalação do gás venenoso. Cal foi incapaz de descrever o responsável pelo ataque, mencionando apenas que ele estava vestido dos pés à cabeça com uma roupa de borracha e tinha uma máscara de gás cobrindo o rosto.  

O Dr. W.N. Breckinridge foi trazido pela polícia para ajudar na identificação do gás que foi usado para incapacitar a Família Huffman. Durante o curso da investigação, o Dr. Breckinridge descartou que se tratasse de gás lacrimogêneo ou derivado de clorofórmio, mas não foi capaz de determinar a verdadeira origem do vapor tóxico. De fato, a única pista deixada na cena do ataque foi a pegada de um sapato feminino descoberta sob a janela de onde o gás teria sido aspergido no interior da casa.

O ataque seguinte ocorreu em Cloverdale - que é um Condado vizinho de Botetourt, palco do primeiro incidente. O episódio também teve lugar à noite, na véspera do Natal, quando Clarence Hall, sua esposa e dois filhos retornavam da igreja. Momentos depois de entrar em casa, a Família Hall percebeu um estranho odor pendendo no ar.

Clarence inspecionou a casa e minutos depois começou a sentir os efeitos da névoa amarelada. Quase perdendo a consciência, descobriu que a fonte do vapor nauseante era o porão da casa que havia sido arrombado. Alguém aparentemente havia aspergido a nuvem de vapor tóxico através do porão para dentro da residência. 

A polícia e o Dr. Breckinridge foram novamente chamados para revistar a cena do bizarro e aparentemente sem motivo "ataque de gás", mas quando finalmente chegaram ao local, o vapor já havia se dissipado. O médico atestou que o odor nessa ocasião era sensivelmente diferente e que ao contrário do outro tinha um tom "adocicado", possivelmente um derivado de formaldeído. Infelizmente o distinto químico não foi capaz de discernir do que se tratava a substância. Nenhuma pegada ou pista foi encontrada na entrada do porão, mas um dos oficiais descobriu uma madeira que havia sido usada para arrombar a tranca e permitir o acesso.

"População da Virgínia aterrorizada pelo lançador de Gás que foge na noite depois de fazer vítimas"
Hall enviou sua família para a casa de amigos e recrutou um bando de vizinhos para ficar de guarda o restante da noite procurando por sinais do criminoso. Um dos vizinhos de Hall, um homem chamado Emmett Lee, estava convencido de ter ouvido estranhos sons perto da casa atacada. Ele afirmou ter ouvido um ruído estranho, como uma respiração forçada, o que poderia ser condizente com o uso de uma máscara de gás.

Três dias depois, o Envenenador agiu novamente dispersando uma nuvem de vapor tóxico na casa de 
A.L. Kelly e de sua mãe em Troutville. Dessa vez testemunhas oculares foram capazes de ver uma figura aterrorizante andando pelo local. Kelly percebeu o cheiro e foi até uma janela de onde conseguiu ver uma figura vestida de preto dos pés a cabeça e usando uma máscara andando pelo seu quintal. Ele tinha nas mãos um estranho tubo de onde saía o vapor, este estava conectado por uma mangueira a uma espécie de mochila metálica que ele trazia nas costas. Quando Kelly fez menção de gritar, o homem percebeu sua presença e sacou uma espingarda de cano cortado de dentro de sua capa. A mulher se abaixou e correu para apanhar a mãe e se refugiar em um quarto onde o fedor nocivo não era tão severo. 

Ela contou que o vapor continuou sendo disseminado para dentro da casa por mais 30 minutos. Depois disso, ela ouviu o som de um caminhão sendo ligado e se afastando. Imaginando que fosse o envenenador, ela correu com a mãe para o lado de fora e procurou ajuda de vizinhos. O ataque deixou a mãe de Kelly, uma senhora de 70 anos com sequelas permanentes para respirar.

Após esse ataque, o pânico se espalhou pelas pequenas comunidades como fogo em palheiro e a mídia local ficou em frenesi, publicando todo tipo de especulação a respeito dos ataques e da origem do criminoso chamado de "Invasor do Gás Anestésico", em face de uma declaração de um químico de que o gás usado dessa vez fosse um anestésico usado por veterinários. Pais começaram a ficar alertas para qualquer movimento suspeito na calada da noite, armados com espingardas nas janelas ou alpendres. Mães colocavam algodão nas fechaduras e restos de tecido sob o vão das portas para evitar qualquer acesso do maníaco envenenador. O pânico estava em todo canto e os cidadãos cobravam providências imediatas por parte das autoridades.

Uma das representações ais conhecidas do Envenenador Louco
Uma quantia substancial de 500 dólares foi oferecida para qualquer um que fornecesse informações que levassem à captura do monstro. Mas ninguém sabia de nada!

O Envenenador ficou quieto por cerca de duas semanas quando resolveu atacar novamente. Homer Hylton estava acordado quando ele e a esposa começaram a sentir um estranho odor e ouviram um som seco e em seguida gritos. O barulho vinha do quarto de suas filhas de 10 e 14 anos. Hylton correu para lá e encontrou a menina mais velha gritando enquanto a outra se sacudia incontrolavelmente na cama, revirando os olhos e com espuma escorrendo da boca. Ela estava sofrendo um ataque alérgico que causava convulsões. O cheiro nauseante estava ainda mais forte no andar de baixo da casa.

Hylton apanhou a menina nos braços e correu para o lado de fora para que ela pudesse tomar ar fresco. Mas assim que abriu a porta foi saudado por um disparo de espingarda que passou sobre a sua cabeça. Ele se jogou no chão e mais dois disparos se fizeram ouvir. Diante disso, ele teve que retornar para o interior. A família se refugiou no quarto do casal, o único que tinha fechadura e lá improvisaram proteções para suportar o cheiro que se tornava quase insuportável. Mais dois tiros despedaçaram janelas e fizeram com que todos se protegessem em baixo da cama aterrorizados com o ataque.

Felizmente, o criminoso partiu em seguida quando vizinhos chamaram a polícia após ouvir os disparos. Uma viatura chegou rapidamente, mas não descobriu nada a não ser um pequeno buraco em uma janela que o maníaco usou para enfiar a mangueira e dispersa o vapor no interior da casa.

A escalada de violência nos ataques serviram para aumentar ainda mais o grau de paranoia na região. Um veterano da Grande Guerra que havia combatido nas trincheiras da França foi apontado como um suspeito, sobretudo pelo fato dele ter sido vítima de ataque de armas químicas que desfiguraram parte de seu rosto. O homem, tido com um fazendeiro amargo e violento, chegou a ser interrogado, mas provou ter um álibi para os dias dos ataques. Uma família de agricultores que havia comprado veneno para sua plantação também foi questionado, mas nada contra eles foi descoberto.

Em 21 de janeiro um ataque do Envenenador foi frustrado quando um vizinho percebeu uma estranha movimentação na calada da noite. Vendo que se tratava de um estranho tentando abrir uma janela, ele gritou e deu vários tiros para o ar com sua pistola, o homem vestido de preto se afastou correndo. Perto da janela, foi encontrado um tubo de borracha tipicamente usado em equipamento de dispersão de veneno agrícola.

Mais duas semanas se passaram e um novo ataque ocorreu em uma casa vazia que foi inundada com gás venenoso. A concentração era tão forte que a polícia teve dificuldades em entrar na cena do crime para verificar se não havia ninguém no lugar. Felizmente, os moradores estavam fora visitando um parente. Um químico foi chamado para revistar a casa e ele determinou que o gás usado no ataque era uma variante de um gás usado para plantações com acréscimo de componentes tóxicos. Na opinião dele não havia dúvidas de que o Envenenador tinha conhecimentos básicos sobre química e a respeito de manipulação de substâncias tóxicas, que ele estava tentando potencializar. Segundo o químico, a substância tinha potencial de matar se respirada por um período de pelo menos uma hora. Ele determinou ainda que o maníaco estava tentando manipular o composto e dirimir o odor para que ele passasse indetectável em uma flagrante intenção de matar.

A esse ponto, os jornais locais estampavam a manchete "Moradores da Virgínia aterrorizados com os Ataques do Envevenador que foge na noite depois de fazer vítimas", o New York Times chegou a publicar uma matéria completa a respeito dos incidentes que ganharam a curiosidade e atenção pública. 

Cerca de um mês se passou até que o criminoso agisse novamente, dessa vez usando o gás modificado para atingir uma família de Cloverdale que teve muita sorte. O gás foi dispersado através do porão da casa por uma fresta, mas os residentes perceberam que seu cão de estimação começou a se comportar de maneira estranhar. Perceberam então que a casa estava sob ataque de gás e que este não parecia ser facilmente percebido uma vez que era incolor e inodoro. Um vizinho percebeu um caminhão Ford estacionado perto da casa e esse se afastou em disparada, dirigido por um sujeito magro de cabelos pretos e olhar nervoso. Um retrato falado do motorista foi feito, mas o sujeito não foi reconhecido por ninguém.

Curiosamente depois desse caso, o Envenenador parou abruptamente de atacar na Virgínia. Talvez temendo a aprovação de uma nova lei que equiparava ataques com gás a atentados com explosivos, estipulando punição capital em caso de vítimas fatais.

Por cerca de um ano ninguém ouviu falar a respeito de ataques com gás venenoso, até que a Flórida se tornasse a próxima escala do Envenenador Maluco. Um respeitado biólogo chamado Loren Coleman residente da comunidade de Lake County foi a primeira vítima. Um tipo de vapor com coloração azulada foi dispersado no interior de sua casa através da janela na calada da noite. Coleman acordou sufocando e foi capaz de chegar ao telefone e pedir ajuda à polícia. Felizmente as autoridades chegaram e arrombaram a porta encontrando o biólogo caído ao lado da mesa de onde havia feito a ligação que salvou sua vida.

O tipo de máscara usada pelo maníaco
A concentração de vapor venenoso na casa era intensa, uma mistura de enxofre e cianeto, dois componentes comuns em pesticidas agrícolas, usados em fazendas e plantações. Coleman foi internado em um hospital e sobreviveu, apesar de ter ficado com sequelas no sistema respiratório. O caso trouxe a tona suspeitas de que o Envenenador da Virgínia poderia ter migrado para a Flórida.

As suspeitas se confirmaram quando mais quatro residencias os arredores de Lake County foram atacadas pelo maníaco. O modus operandi era sempre o mesmo, o maníaco usava janelas, portas encostadas e frestas para dispersar a substância que foi finalmente identificada - um derivado de agrotóxicos à base de cianeto, mas modificado para que se tornasse incolor e inodoro. Os especialistas atestaram que apenas alguém com conhecimentos de química poderia criar a fórmula.

Uma descrição do atacante foi feita por uma testemunha que viu o movimento do criminoso em um ataque: um homem de 1,80, esguio, vestindo uma capa preta e uma máscara de borracha que escondia seu rosto totalmente. A máscara era uma peça militar, usada na época da Grande Guerra para proteção pessoal, o que aumentou a suspeita de que o maníaco fosse um veterano. Ele respirava lentamente produzindo um ruído roufenho e elaborado como se sofresse de algum problema respiratório. Mais importante, em uma das cenas de ataque a polícia encontrou uma lata de pesticida que havia sido usada para misturar o componente disseminado numa fazenda.    

Após um total de seis ataques afortunadamente sem vítimas, o insidioso Envenenador resolveu desaparecer uma vez mais.

E isso nos leva a Mattoon, uma pequena comunidade rural localizada na parte Central de Illinois. Os estranhos eventos ocorreram em 1944 e foram bastante significativos deixando um profundo trauma entre os residentes. A forma como ocorreram os ataques levou muitas pessoas a suspeitar que o Envenenador Louco estaria envolvido, uma vez que o sistema usado por ele era incrivelmente similar, além da fórmula e concentração usada.

"Envenenador acrescenta mais seis vítimas!"
Os incidentes tiveram início com um ataque ocorrido nas primeiras horas da madrugada em 31 de agosto de 1944. Um homem de Mattoon foi acordado de um sono profundo reclamando com sua esposa que se sentia sufocado. Ele perguntou a ela se o gás da cozinha havia sido deixado aberto, pois conhecia os sintomas de exposição a gás. A mulher tentou levantar da cama mas imediatamente sentiu uma vertigem e quase perdeu a consciência. Ao abrir a janela o casal percebeu um homem parado no quintal em frente, vestia uma capa preta e máscara de gás e tinha nas mãos uma pistola de dispersão de gás conectado a uma mochila.

O homem ficou observando por alguns instantes e então se afastou calmamente apesar dos gritos do casal.
   
Na noite seguinte, uma mulher chamada Bert Kearney acordou sentindo um odor peculiar em seu quarto. O odor era adocicado e se tornava cada vez mais intenso na cozinha de onde emanava a ponta de um dispersor de gás. Bert percebeu a presença de um homem de preto e mascarado que tinha nas mãos uma espingarda que apontou para a mulher. Ela foi até o telefone e pediu socorro, mas quando a polícia chegou não encontrou sinal do maníaco. Kearney sofreu ferimentos graves nos lábios e na garganta e o gás foi identificado como um derivado de pesticida a base de enxofre e cianeto modificado para se tornar inodoro. A mulher ficou hospitalizada por três semanas e quando liberada apresentava problemas permanentes no sistema respiratório. 

Duas noites depois, o maníaco fez outro ataque, uma das casas vizinhas de Kearney foi fumegada pelo Envenenador que lançou uma cortina de fumaça sobre a casa habitada por uma família de 7 pessoas. Duas crianças sofreram queimaduras intensas na garganta e a esposa passou a sofrer de crises constantes. O maníaco acessou a casa através de uma fresta na porta que dava acesso ao porão, em um ataque extremamente parecido com os realizados na Virgínia. 

A histeria com o Envenenador Louco de Mattoon, como o maníaco ficou conhecido, só aumentou nas semanas seguintes quando mais duas casas vazias, foram fumegadas com uma mistura de gás pesticida. A história foi mau trabalhada pelas autoridades e jornais locais que reportaram os ataques de maneira amplamente sensacionalista. Anos mais tarde, os jornalistas envolvidos nas reportagens seriam acusados de contribuir para a criação da histeria ao redor do caso. Segundo alguns, as matérias inflamaram vários incidentes imaginários que acabaram eliminando evidencias e prejudicando ainda mais as investigações. Para se ter uma ideia do estado de pânico que acometeu a cidade, em apenas um dia houve cinco denúncias de ataques do Envenenador sendo em que nenhum deles ficou provada sua ação.

Na manhã do dia 5 de setembro, o Departamento de polícia recebeu mais quatro informes falsos de ataque. Mais grave, a polícia foi chamada para apartar um linchamento por parte de vigilantes que capturaram um suspeito dos ataques. O homem foi surrado e agredido apenas porque um comerciante local lembrou de ter vendido a ele uma lata de pesticida agrícola. 

"Matton arrepiada pelos Ataques com Gás"
Apesar de todo pânico e vigilância, o Envenenador agiu mais uma vez, deixando dessa vez pistas. Estas foram achadas na propriedade de Carl e Beulah Cordes. A família retornou para casa e detectou imediatamente um odor distinto vindo da cozinha. Em minutos perceberam que algo estava errado e que haviam sido atacados. A polícia foi chamada e revistando o local encontrou um tubo de batom contendo uma chave mestra caída no gramado. O objeto provavelmente estava sendo usado para abrir a porta dos fundos e foi largado quando a família chegou. Encontraram ainda um pedaço de pano embebido no que parecia ser a substância usada pelo envenenador, possivelmente ela havia vazado.

O maníaco atacou novamente na mesma noite, tentando dispersar o veneno através de uma fresta de janela aberta. Um dos ocupantes da casa, Lisa Monroe, acordou e viu o homem do lado de fora, com a capa preta e a máscara de gás, nas mãos! Ele havia retirado a máscara protetora para fazer ajustes e Monroe foi capaz de ver o sujeito claramente: era magro e pálido, a face longa e com olhos esbugalhados, cabelos pretos, compridos e lisos e devia ter entre 40 e 50 anos de idade. A testemunha contou que ele estava tossindo e respirando com dificuldade, o que reforçava a suspeita de que o conteúdo da mochila tinha vazado. Novamente um retrato falado foi feito e cartazes foram espalhados em toda região.

Cidadãos armados tomaram as ruas, organizando patrulhas para frustrar novos ataques, mas eles continuaram acontecendo a despeito da vigilância reforçada. Os ataques se tornaram mais frequentes e o atacante passou a deixar evidências como pegadas e ferramentas usadas para arrombamento. Pouco impressionado com o comitê de vigilância, mais três casas foram atacadas em apenas uma semana. A casa de Violet Driskell foi fumegada no meio da madrugada e a mulher sofreu um colapso nervoso. 

Eventualmente, a polícia chamou o FBI para ajudar nos esforços de captura. O pânico chegou a tal ponto que as pessoas acreditavam nas mais estranhas teorias, inclusive uma que se tornou muito popular dando conta de que o envenenador era um espião nazista tentando se vingar da derrota que a Alemanha estava prestes a sofrer. O equipamento dele seria idêntico ao de soldados alemães na Grande Guerra e o homem estaria completamente obcecado pelo ideal de destruir a América. Os agentes do FBI realizaram diligências, mas as histórias coletadas por eles eram absurdas, o pânico havia pervertido qualquer juízo verdadeiro. Havia relatos falsos, testemunhas errôneas, pessoas querendo participar da investigação e uma série de informações infundadas. Bastava um odor estranho ou o som de gás para que as pessoas gritassem e chamassem a polícia. Para alguns o homem era um doente mental que havia escapado de uma Instituição próxima, para outros era um inventor maluco que pretendia destruir o país. Pessoas eram apontadas como culpadas, mas uma simples entrevista provava que não tinham nada com os acontecimentos. A gota d'água ocorreu quando um agente do FBI foi confundido com o criminoso e agredido violentamente por cidadãos armados com paus e pedras.

"O Envenenador de Mattoon é uma Fraude Histérica"
Este período pareceu marcar uma virada nos ataques que passaram a se afastar cada vez mais do centro de Mattoon. Fazendas mais afastadas passaram a ser vítimas de ataques com gás, sem que nada pudesse ser encontrado. Na mesma época, um oficial de Saúde Pública chamado Thomas V. Wright, deu a seguinte declaração: "Não há dúvida de que nossa comunidade está sofrendo ataques. Mas é inegável que a maioria desses não são nada além de histeria. O medo se tornou o nosso principal inimigo! A mera ameaça e sugestão dessa figura misteriosa, que ninguém até hoje realmente viu, já é suficiente para levar as pessoas ao desespero!

Os jornais, muito criticados pela sua cobertura bombástica diminuíram o tom e as manchetes começaram a perder impacto. Gradualmente as pessoas passaram a acreditar que simplesmente ignorar o problema, poderia ser a solução para a questão. Mais cedo ou mais tarde ele seria capturado ou desapareceria, afinal, por quanto tempo ele continuaria atacando?

Em 12 de setembro, o chefe de polícia de Mattoon reuniu a imprensa para uma declaração impressionante. As autoridades haviam encontrado uma enorme quantidade de latões de carbono tetraclorídrico em um depósito de lixo local. Os tonéis estavam vazando seu conteúdo tóxico o que poderia esta causando envenenamento em várias propriedades que culparam a ação do Envenenador. Ninguém sabia exatamente de onde havia vindo o material e se ele realmente era responsável por contaminação. Depois do material ter sido removido e enterrado em um aterro sanitário distante o que a situação melhorou e as denúncias de ação do Envenenador diminuíram rapidamente. 

Uma explicação oficial dada pelas autoridades afirmava que o Envenenador de Mattoon jamais tinha existido a não ser na imaginação dos moradores da cidade que criaram o personagem, capa negra e máscara de gás, inclusive. Aqueles que manifestaram efeitos nocivos, que supostamente teriam sido causados pelo envenenamento teriam sido sofrido os efeitos dos dejetos que estavam vazando. Por algum tempo circularam boatos de que os ataques foram simplesmente ignorados pela mídia o que fez o criminoso perder o interesse em seus ataques a medida que eles não eram noticiados.


A verdade sobre o que transcorreu naqueles dias de pânico em Mattoon ainda é um mistério e provavelmente nós jamais venhamos a saber ao certo. É correto afirmar, entretanto que algo realmente ocorreu, ainda que motivado pela histeria que tomou conta da comunidade fazendo incidentes verdadeiros e falsos se misturem. Será que o Envenenador de fato atacou em Illinois? Seria ele o mesmo maníaco a fumegar as casas na Virginia e Flórida? É duro ignorar as semelhanças entre os casos, no que diz respeito ao método e procedimento. Tudo se encaixa. Mas novamente, não teriam sido os ataques meramente um efeito da sugestão na mente impressionável das pessoas? Teriam elas imaginado todos os acontecimentos?  

Seja lá quem fosse o Louco Envenenador, se é que ele realmente visitou essas cidades, ele simplesmente escapou impune dos seus crimes.

Em uma nuvem de fumaça, alguns poderiam dizer.  

Um comentário:

  1. A serie de jogos Shin Megami Tensei fez uma "homenagem" a ele criando um demônio chamado Mad Gasser que vc enfrenta no decorrer do jogo. A terceira imagem usada no post corresponde ao sprite dele no jogo.

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