Esta é uma daquelas resenhas em que é melhor se conter para não deixar escapar nenhum detalhe que possa entregar as surpresas do filme.
Mas a medida que tento escrever esses comentários percebo que é muito difícil falar de Ilha do Medo ("Shutter Island") sem abordar a trama central. Por esse motivo estou me policiando e lendo esse texto pela décima vez... suponho que agora ela possa ser lida sem medo por quem não assistiu o filme e teme spoilers.
Ilha do Medo é estrelado por Leonardo DiCaprio no papel do Agente Federal Teddy Daniels, um detetive enviado para um distante hospital psiquiátrico na costa da Nova Inglaterra (a tal ilha do título, algo como "Ilha Fechada" em uma tradução literal). Trata-se de um hospital onde maníacos perigosos passam por tratamentos inovadores ministrados por um certo Dr. Cawley (Ben Kingsley) apoiado por seus leais médicos, enfermeiros e seguranças fortemente armados.
O ano é 1954 e Teddy chega a ilha acompanhado de seu novo parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo), determinado a resolver o mistério que envolve o desaparecimento de uma interna chamada Rachel Solando, que sumiu de sua cela sem deixar vestígios. Rachel é considerada instável e perigosa: ela foi presa após assassinar seus três filhos e dispor as crianças ao redor da mesa de jantar para que o pai as encontrasse.
Teddy e Chuck começam a fazer perguntas, mas as respostas não são exatamente o que eles esperavam. Ninguém na ilha parece disposto a revelar seus segredos e fica claro que algo muito estranho está acontecendo. A equipe, os pacientes, o próprio Dr. Cawley e seu enigmático colega Dr. Naehring (Max Von Sydow) parecem acobertar algo incrivelmente sinistro.
A medida que os dois investigadores começam a cavar cada vez mais fundo, Teddy passa a ser afetado pela aura de insanidade que permeia a ilha. Ele começa a ter sonhos bizarros e experimenta alucinações inexplicáveis. Lembranças dolorosas a respeito de sua esposa (Michelle Williams) que morreu em um horrível incêndio, vem à tona de forma perturbadora.
Para complicar ainda mais, Teddy é um veterano da Segunda Guerra, traumatizado pela sua participação na libertação do Campo de Extermínio de Dachau. A investigação faz com que velhos medos e fantasmas da guerra voltem a assombrá-lo.
A medida que sua mente começa a duvidar de tudo o que está à sua volta, Teddy passa a suspeitar que a ilha pode ser uma armadilha na qual ele mergulhou de cabeça. Sem poder confiar em ninguém, a não ser em seu parceiro, ele começa a arranhar a superfície do mistério que o levará a revelações surpreendentes.
Ilha do Medo é baseado no romance "Shutter Island" do autor Dennis Lehane, mais conhecido pelo drama/policial "Sobre meninos e lobos" (filmado em 2003). Ao contrário de seu livro mais famoso, Ilha do Medo é um drama de terror psicológico bem mais profundo e complexo. Em alguns momentos sonho e realidade parecem se misturar criando um panorama surreal. Tive a oportunidade de ler Shutter Island e posso dizer que é um livro difícil e cheio de reviravoltas. Com certeza, adaptar a história para o cinema deve ter sido uma tarefa complicada, mas que teve êxito. O filme é uma transposição honesta e bem completa do livro.
Dirigido pelo genial Martin Scorcese, o filme é maravilhoso visualmente. As sequências envolvendo sonhos/alucinações (que corriam o risco de virar lugar comum) são executadas de forma magistral, conferindo uma sensação de pesadelo à jornada do personagem, como se ele estivesse descendo rumo aos círculos mais profundos do inferno. Scorcese estabelece também um ritmo que não permite ao espectador parar para pensar no que está acontecendo, tornando as pistas e indícios cada vez mais nebulosos.
O elenco foi muito bem escalado, DiCaprio e Scorcese já conhecem bem o suficiente um ao outro, afinal esta é a quarta parceria dos dois, e estabeleceram uma excelente química. O elenco de coadjuvantes também está afinado com destaque para os soturno médicos, cercados por uma aura de velada ameaça. Basta um leve erguer de sobrancelha para deixar transparecer certo grau de intimidação. Também merece destaque o elenco de suporte distribuído em pequenos papéis, como o de Jackie Earle Haley (o Rorchach de Watchmen) como um perturbado paciente e Patricia Clarkson que faz as vezes de uma mulher misteriosa vivendo clandestinamente na ilha.
O roteiro também explora a paranóia da época, falando do perigo de agentes comunistas, subversivos, bombas atômicas, traumas de guerra e experiências comportamentais moralmente questionáveis.
Para quem gosta do clima de paranóia e inquietação, Ilha do Medo oferece uma série de referências a loucura e insanidade, sem cair em clichês. Não se trata de um filme de horror, mas de terror psicológico de primeira categoria. O desconforto não está nas coisas que são mostradas ou ditas, mas nas suposições levantadas pelo próprio espectador enquanto tenta compreender o que está se passando.
Realçado por uma perfeita reconstituição de época e por uma trilha sonora beirando a perfeição(desde já, candidata a se tornar trilha sonora oficial para cenários de Call of Cthulhu) Ilha do Medo é um filme denso que vai muito além de uma simples estória de detetive como muitos podem supor com base no trailer.
É mais uma jornada pelos labirintos da mente humana e pelos devaneios que ela é capaz de criar.
Abaixo, o trailer do filme legendado:
Um excelente filme. Recomendado!
ResponderExcluirTenho curiosidade em saber como é o livro.
Um bom filme apenas, vale a pena assistir e tudo o mais, mas a explicação for dummies no final para o corte final não ficou bom.
ResponderExcluirMas acho a trilha sonora 'feliz' demais, poderia ser melhor ambientada.
Obrigado pela dica, Luciano! Estava garimpando a tag de Cinema para assistir um Netflix no feriado e esse filme não decepcionou!
ResponderExcluirÉ um dos melhores filmes a que já assisti. DiCaprio sensacional. Não basta assistir uma vez. A cada vez assistida há novas percepções.
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