"O Horror em Red Hook" foi publicado em Janeiro de 1927 em uma edição da clássica revista Weird Tales. Ele foi escrito, segundo o próprio Lovecraft em meros dois dias de trabalho.
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Vale lembrar que em 1924, época em que o conto foi escrito, ele e sua esposa, Sonia Greene, haviam recentemente se mudado para Nova York e Howard se mostrava constantemente incomodado pelo caldeirão étnico que compunha a população da metrópole. Sonia teria escrito em uma de suas correspondências: "Sempre que andamos pelas ruas apinhadas de gente com diferentes identidades étnicas, Howard fica lívido de raiva. Ele parece quase a ponto de perder as estribeiras!"
É provável que a mudança de panorama tenha causado uma reação adversa em Lovecraft. Providence sua amada terra natal era pequena e provinciana em comparação com Nova York. O barulho, a sujeira e o movimento constante irritavam Lovecraft e o deixavam incomodado.
Notavelmente "Red Hook" é um de seus único contos que se passa inteiramente em um ambiente urbano. As impressões de Lovecraft a respeito da vida na cidade teriam sido tão profundas que fizeram com que ele escrevesse um conto de horror claustrofóbico?
É possível que a resposta seja sim...
Desde que passou a viver na cidade grande, Lovecraft não escondia seu descontentamento. Seu desejo de retornar a Nova Inglaterra, pode ter sido uma das razões para o divórcio.
Mas não vamos desvirtuar do tema...
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Os residentes de Red Hook vinham de todas as partes do mundo: portugueses, italianos, espanhóis, poloneses, alemães e irlandeses, além de ocasionais habitantes de Barbados, Haiti e Guiné. Além dos idiomas, havia diferenças quanto a cor da pele, crenças religiosas e tradições.
Lovecraft reconhecidamente não aprovava o caos, e o movimento caótico de estrangeiros, com seus "costumes incomuns", causava nele uma profunda repulsa. A descrição dele dos hábitos dos estrangeiros nesse conto, é tudo menos simpática.
Praticamente todos os locais referidos em "O Horror em Red Hook" existem e são lugares com os quais Lovecraft estava bem familiarizado:
Pascoag e Chepatchet são dois vilarejos no norte de Rhode Island que o autor visitou em meados de 1923 e onde considerou residir.
Pascoag e Chepatchet são dois vilarejos no norte de Rhode Island que o autor visitou em meados de 1923 e onde considerou residir.
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Borough Hall é o mais próximo da prefeitura do Brooklyn; trata-se de um impressionante prédio situado no número 209 da Joralemon Street. Lovecraft escreveu a respeito de sua arrojada arquitetura em uma carta a um amigo.
Flatbush é outra região do Brooklyn, estabelecida em 1652; Lovecraft se mudou para essa vizinhança e viveu no 269 da Parkside Avenue depois que se separou de sua esposa. Curiosamente os dois dividiram o apartamento até que ele decidisse retornar a Providence, deixando a mulher com a escritura da casa.
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A Rua Martense (do conto "Lurking Fear") se encontra a poucas quadras dali ao sul do Hospital Universitáro do Brooklyn, e nas proximidades de Prospect Park.
Gowanus é outra vizinhança do Brooklyn, notória pelo movimento de estrangeiros e pelo funcionamento de bares clandestinos, tavernas e prostíbulos sórdidos. Lovecraft se refere ao lugar em outra de suas cartas como um formigueiro humano de péssima reputação.
Diferente de outros contos de horror, Lovecraft aqui quase não se refere aos Grandes Antigos, focando o horror nas ações de um bando que se assemelha a um grupo de satanistas. Em uma correspondência que Lovecraft trocou com Clark Ashton Smith, ele afirmava que a idéia para "O Horror em Red Hook" surgiu de um questionamento à cerca da existência de velhos cultos e religiões que ainda seriam praticadas secretamente por homens e mulheres de terras distantes. Crenças essas que teriam sido trazidas para o novo mundo e que ainda encontrariam seguidores nos porões, longe de olhos curiosos.
É provável que Lovecraft tenha se inspirado em rumores sobre igrejas clandestinas frequentadas por estrangeiros na sua própria vizinhança. Ele era uma ateu convicto e a prática de ritos estranhos, com cantorias e tambores, por detrás de portas cerradas, foi aproveitado por ele em "O Horror em Red Hook".
Contudo, é mais provável que ele meramente pesquisasse esses temas para utilizá-los em seus contos sem jamais levá-los a sério.
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A Kabbalah também é citada no conto. O sistema teosófico judaico é um método de interpretação das escrituras, envolvendo um complexo código numérico. Lovecraft faz alusão a Kabbalah, mas não se aprofunda no tema, talvez por não estar familiarizado com seu intrincado funcionamento.
Os nomes Sephiroth, Ashmodai e Samael pertencem a entidades judaicas presentes também na Kaballah. Sephiroth representa o atributo pelo qual o infinito se relaciona com o finito. Ashmodai é outro nome de Asmodeus, um espírito maligno. Na Grécia ele é conhecido como Astarte. Samael é a encarnação de Leviathan, o demônio que convenceu Eva a cometer o pecado original. Se Lovecraft sabia o significado desses nomes, não se sabe ao certo, contudo é mais provável que ele os tenha usado pela identificação oculta deles e pela sonoridade.
A "Lenda de Fausto" é uma fábula do século XVI a respeito do Dr. Johann Fausto, que vendeu sua alma ao diabo em troca de juventude, poder e conhecimento. O dramaturgo elizabetano Christoper Marlowe (1564-1593) adaptou Fausto em uma peça, assim como o alemão Goethe (1749-1832). Mais tarde a história do Dr. Fausto inspirou compositores como Schubert, Schumann, Berlioz, Mahler e Gounod, além do novelista Thomas Mann (1875-1955). Lovecraft era um entusiasta dessa peça, e lamentava jamais ter podido assistir sua execução.
Não se sabe ao certo a natureza do termo Gorgo, embora seja aceito que é uma variação do nome "Górgona", as fêmeas amaldiçoadas com cabelos em forma de serpentes, tão hediondas que a mera visão tornaria um homem em pedra. Das três, Medusa é a mais conhecida.
Mormo também se refere a uma figura extraída da Mitologia Grega. Esta entidade era uma espécie de carniçal que servia a Hécate perseguindo crianças, mordendo-as e deixando cicatrizes em seus corpos. A Hécate por sua vez é uma deusa grega que habita as encruzilhadas. Ela é normalmente representada com três faces distintas, representando as três idades da mulher: jovem, mãe, e anciã. Mais tarde na história, sua imagem foi transformada de deusa do destino para entidade do submundo, patrona da magia e associada na Mitologia de Cthulhu a Shub-Niggurath.
A "Lenda de Fausto" é uma fábula do século XVI a respeito do Dr. Johann Fausto, que vendeu sua alma ao diabo em troca de juventude, poder e conhecimento. O dramaturgo elizabetano Christoper Marlowe (1564-1593) adaptou Fausto em uma peça, assim como o alemão Goethe (1749-1832). Mais tarde a história do Dr. Fausto inspirou compositores como Schubert, Schumann, Berlioz, Mahler e Gounod, além do novelista Thomas Mann (1875-1955). Lovecraft era um entusiasta dessa peça, e lamentava jamais ter podido assistir sua execução.
Não se sabe ao certo a natureza do termo Gorgo, embora seja aceito que é uma variação do nome "Górgona", as fêmeas amaldiçoadas com cabelos em forma de serpentes, tão hediondas que a mera visão tornaria um homem em pedra. Das três, Medusa é a mais conhecida.
Mormo também se refere a uma figura extraída da Mitologia Grega. Esta entidade era uma espécie de carniçal que servia a Hécate perseguindo crianças, mordendo-as e deixando cicatrizes em seus corpos. A Hécate por sua vez é uma deusa grega que habita as encruzilhadas. Ela é normalmente representada com três faces distintas, representando as três idades da mulher: jovem, mãe, e anciã. Mais tarde na história, sua imagem foi transformada de deusa do destino para entidade do submundo, patrona da magia e associada na Mitologia de Cthulhu a Shub-Niggurath.
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Lovecraft também usou outros elementos do antigo testamento em seu conto. Moloch é uma divindade dos amonitas. Ele era reverenciado através do sacrifício de crianças atiradas às chamas. Ele é mencionado no "Paraíso Perdido" de John Milton como "..um horrível rei, sujo pelo sangue dos inocentes e lágrimas de seus pais..." Historiadores sugerem que a divindade era glorificada na forma de uma estátua representando um boi de latão.
"Walpurgis" se refere a Walpurgisnacht, também chamada de Noite de Beltane. A data marca uma das mais importantes reuniões de bruxas, o Sabbath. Ele é mencionado várias vezes na obra de Lovecraft em especial "The Dunwich Horror" e "The Dreams in the Witch House".
Não foram poucas as citações colhidas por Lovecraft em "O Horror em Red Hook", o que o torna um dos contos com maior número de referências. Ainda que não faça parte dos Mitos de cthulhu, e que seja colocado em um segundo plano , sobretudo por aqueles que se ofendem pela visão precinceituosa, "Red Hook" continua sendo uma estória assustadora envolvendo fanatismo e loucura, temas sempre recorrentes na obra de Lovecraft.
"Walpurgis" se refere a Walpurgisnacht, também chamada de Noite de Beltane. A data marca uma das mais importantes reuniões de bruxas, o Sabbath. Ele é mencionado várias vezes na obra de Lovecraft em especial "The Dunwich Horror" e "The Dreams in the Witch House".
Não foram poucas as citações colhidas por Lovecraft em "O Horror em Red Hook", o que o torna um dos contos com maior número de referências. Ainda que não faça parte dos Mitos de cthulhu, e que seja colocado em um segundo plano , sobretudo por aqueles que se ofendem pela visão precinceituosa, "Red Hook" continua sendo uma estória assustadora envolvendo fanatismo e loucura, temas sempre recorrentes na obra de Lovecraft.
Estava relendo este conto magnífico ontem, quando prestei mta atenção à maravilhosa descrição do ritual, juntamente com o cântico a Gorgo e Mormo.
ResponderExcluirDiferente e contundente. Eu gosto mto desta narrativa, porém não tinha atentado ao fato que era 100% urbano.
Mamedes
É um dos meus trabalhados favoritos dele, justamente por esse grande acervo de referências bem fundadas. É arrepiante, crua e insana!
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