sexta-feira, 8 de março de 2013

Guardiã de Cthulhu - Vida de Jogadora e Mestre de RPG (em especial Cthulhu)


Pois é, mais um Dia Internacional da Mulher e mais um dia para falar de “nós”. Não que eu precise do Dia Internacional para deixar de pensar na importância que a mulher tem no mundo, mas hoje em especial quero pensar em mulheres jogando RPG.

Sim, isso mesmo, temos várias aqui, podemos não aparecer muito, mas estamos aqui para ficar. E não somos apenas jogadoras habituais de Vampire que acompanham o hobby esquisito dos namorados / maridos. Gostamos do jogo!

Eu comecei a jogar RPG há mais de 17 anos. Comecei com Call of Cthulhu, e em grande estilo, embarcando no famoso Orient Express. Mas também joguei (muito!) D&D, AD&D (Al Qadim e Dark Sun), World of Darkness (Vampire), Deadlands, 7th Sea, D&D 3/3.5 (Greyhawk, Ravenloft, Forgotten Realms, Birthright, Wheel of Time e outros...), Kult, Trinity, Rastro de Cthulhu, e continuo jogando as novidades que aparecem, atualmente "sou" um anão em One Ring.

No início a história era que jogar RPG era só um “teatrinho” (ou assim me explicaram), mas confesso que gostei demais. Não sei se tenho veia de atriz, mas adorei encarnar outros personagens: ser o detetive inspirado em Hercule Poirot viajando no Orient Express, enfrentar cultistas gritando “morram seus malditos!” quando éramos só dois ou três de nós investigadores contra uma legião de fanáticos vestindo manto. Gostei de ser uma barda perdida em Ravenloft, tendo de enfrentar coisas medonhas ocultas nas sombras, de ser um Thri-Kreen em Dark Sun caçando e querendo devorar o elfo do grupo, de ser uma Sucubus em uma campanha só com personagens malignos, de ser uma vampira do Clã Toreador na dança macabra do Rio de Janeiro...

Adorei ser um Guerreiro em uma longa campanha de Greyhawk, armado com uma espada em cada mão, sem passado, enfrentando uma peregrinação para revelar seu futuro, só não gostei de ter perdido minhas espadas sem necessidade. Ora, se você pede a um guerreiro um sacrifício extremo, claro que ele vai abrir mão do que lhe é mais precioso, suas espadas, não um símbolo religioso que ele começou a cultuar há pouco tempo (!!!). Ele é um Guerreiro antes de tudo! Mas estou me desviando do foco! Coisa de jogador defendendo seu personagem...

Mas minha paixão sempre foi e continua sendo Call of Cthulhu. Com Cthulhu, os Old Ones, e todos horrores lovecraftianos tenho passado momentos inesquecíveis, como citei acima. O “pãozinho belga”, meu médico aprisionado atrás das grades em uma enorme lareira por uma bruxa. Meu personagem que acabou entrando numa sala cheia de cultistas e, sem saída, acabou gritando “morram todos”. Óbvio que quem morreu foi ele e os amigos, mas o mestre disse que a gente podia negociar com os cultistas e ficar vivo. Mestre, onde está com a cabeça, não se negocia com cultistas, mata-se cultistas! E, para alegria do narrador, cheguei às lágrimas ao final de uma cena tensa em que só o meu personagem conseguiu escapar com vida.

Foram grandes momentos, e inesquecíveis amigos. Muitas lutas para salvar o mundo, para manter a sanidade, para derrotar cultos, para enviar alguma coisa feia, tentacular e melequenta de volta para sua dimensão de origem. Felizmente foram muitas vitórias! Mas também amargas derrotas como a inesquecível morte pisoteada por uma árvore no final de uma campanha. O namorado / mestre naquela ocasião perdeu a carona para casa. Fui embora furiosa. Mas tudo isso faz parte, sem estes altos e baixos não seria uma atividade tão prazerosa, onde horas passam em minutos, quando se diverte com os amigos.

Parte da atração por Call of Cthulhu decorre dele se passar em um ambiente parecido com a realidade, com o mundo em que vivemos e conhecemos, permitindo explorar uma época fascinante. Mas eu adoro especialmente a simplicidade do sistema. Nunca encontrei até hoje um sistema de que gostasse mais, pois é baseado fundamentalmente na interpretação. E quando temos que lidar com regras é bem fácil, tudo em termos de percentagens. Fica fácil de entender e mais ainda de jogar.

E, entendendo mais a fundo as regras, foi natural que surgisse o interesse por mestrar. Fui inclusive um dos mestres na última edição do Torneio Tentacular. Atualmente participo regularmente de eventos de RPG e sempre que dá, tenho a minha mesa cativa, com as minhas vítimas, quero dizer, jogadores. Eu me divirto muito assustando e tirando a sanidade dessas vítimas, digo, jogadores inocentes. E se precisar, sempre posso jogar um carro em cima deles para ver se mato algum (maldito rolamento de dodge que às vezes me atrapalha, mas só às vezes...).

E é isso pessoal. Quando o calor esquenta, quando o frio quer te levar para debaixo das cobertas, faça chuva ou faça sol, quando você está cansado de uma semana de trabalho e estudos, o bom e velho joguinho de RPG está lá aguardando... e, é claro, Cthulhu está sempre disposto a te matar, ou melhor, divertir. Ele leva você a um universo incrível, criado por Lovecraft, no qual criaturas estranhas espreitam em becos escuros e você implora ao mestre por aquela Metralhadora Thompson, shotgun de cano serrado ou mesmo uma carabina de caçar elefantes, embora o que aprendi nestes anos de jogadora é que deve-se tomar MUITO cuidado com o que se pede, porque embora algumas armas causem enorme dano, se você tem acesso a ela, é porque o “monstro” que você vai enfrentar é muito “casca grossa”.

Então, um conselho, às vezes é melhor ficar feliz com seu revólver .32, que dá três tiros por round, do que ter um lança chamas que de nada adianta, e no final ter que sair correndo ou morrer nas charnecas enlameadas da Primeira Guerra, como em “No Man’s Land”. Desse eu nunca vou esquecer!

Convido a todos a conhecer este universo, a se divertir, investigar mistérios e estragar os planos maquiavélicos de cultistas e criaturas. O que digo aos meus jogadores é o seguinte: Call of Cthulhu é muito bom de jogar porque é fácil. Você está num mundo normal, como o nosso. Pessoalmente, prefiro as aventuras na década de 1920, com a empolgação do pós-guerra e sem as preocupações que assolariam a humanidade apenas uma década mais tarde. A única diferença é que há coisas espreitando no escuro, e em vez de seguir os nossos instintos normais e correr, enfrentamos, investigamos, às vezes até fugimos mesmo, mas procuramos impedir que o mal prevaleça. Parafraseando Hellboy (o filme): "Há coisas espreitando no escuro e somos nós que espreitamos de volta", ou seja, cabe a nós chegar, ver e vencer!

Em minha opinião, Call of Cthulhu não tem idade, porque qual criança que não sente algum tipo de atração por filmes de terror. Eu confesso que até hoje me apavoro, fico “traumatizada” quando vejo, tenho pesadelos, etc. Mas quando criança sempre me juntava com minhas primas para assistir à algum filme que obviamente ia nos causar pesadelos depois. Dormíamos todas juntas e estes são momentos inesquecíveis e muito preciosos para mim. Momentos que uma boa narrativa de horror ajudam a trazer à tona.

Hoje em dia, não perco uma oportunidade de enfrentar Cthulhu. Me divirto demais! Podem experimentar. O que são alguns pontos de sanidade? O que são alguns meses em uma instituição para tentar voltar a ser você mesmo? 

Nada se compara com as aventuras que você vai ter. E os pesadelos em que vai mergulhar...

Vamos rolar dados?


Laura Furtado, é jogadora de vários sistemas e mestre de ambientações lovecraftianas. Quando não está investigando algum horror ancestral e reclamando do mestre, ela própria está atormentado a existência de seus jogadores, lançando-os em terríveis pesadelos como Mestre. Fora isso tem sido a minha cúmplice e co-arquiteta  nos planos para derrubar a Humanidade. Ainda não deu resultado, mas adoramos conspirar juntos... 

2 comentários:

  1. Lendo suas histórias me lembrei de nossos joguinhos nos finais de semana, muitas saudades das nossas sessões, sempre divertidíssimas e cheias de polêmicas... Se tem uma coisa de que não podemos ser acusados é de não mergulhar de cabeça nos nossos personagens!!!
    Saudades, e Parabéns

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  2. Muito legal ver sua história. Aliás, sempre leio tudo desse blog. Vocês são ótimos.

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