Sempre existiu uma ligação bem próxima, ao menos no que diz respeito a cultura popular, entre criatividade e estranheza. Recentemente alguns círculos médicos parecem concordar com esse vínculo incomum, de fato, existe. Genialidade caminha de mãos dadas com excentricidade
Associar estranheza a genialidade é algo que ocorre com impressionante frequência. Os mais brilhantes pintores, compositores, musicistas, escultores, poetas, dramaturgos e personalidades em tantos outros campos da arte, não raramente são pessoas complexas, cuja existência é marcada por notáveis desdobramentos e reviravoltas que os colocam em uma categoria de pessoas diferenciadas.
Na literatura isso é especialmente verdadeiro.
Existem incontáveis figuras na literatura que se encaixam na persona do gênio incompreendido... alguns mais que outros.
Certos nomes vêm facil à mente: Ernest Hemmingway certamente, William Shakespeare definitivamente era peculiar, assim como Charles Dickens, Leon Tolstoy, George Orwell, Sir Arthur Conan Doyle, H.P. Lovecraft, e muitos, muitos outros. Há no entanto um que se destaca mesmo entre os seus pares: Edgar Allan Poe.
Além de ser um escritor brilhante, Poe foi em vida muitas coisas: um beberrão, um excêntrico e na concepção de muitas pessoas que o conheceram, um indivíduo enigmático.
A morte de Poe trouxe alguns questionamentos e mistérios que contribuíram para realçar sua já bem estabelecida reputação.
Um dos mais populares mistérios a respeito de Poe, envolve o trágico episodio do Mignonette. Este era o nome de uma embarcação britânica que afundou no Cabo da Boa Esperança perto da África do Sul em 5 de julho de 1884. Quatro de seus tripulantes acabaram em um bote salva-vidas e resistiram por semanas com pouca comida e água fresca. Quando a situacao se tornou desesperadora, os três marinheiros mais velhos decidiram matar e se alimentar do mais jovem e inexperiente entre eles. Um jovem marujo chamado Richard Parker, foi estragulado, esquartejado e devorado pelos seus companheiros. Uma historia terrível com certeza, uma que resultou em uma lei náutica que isentava homens submetidos a esse tipo de suplício de punição por cometerem o supremo tabu da civilização: o canibalismo.
Mas qual a ligação disso com Poe, você deve estar se perguntando.
O caso descrito é um evento real, mas também é o roteiro de uma obra escrita por Poe 50 anos antes.
Na novela publicada no ano de 1834 com o título "A Narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket", Poe conta uma historia ate entao ficcional sobre o marujo Arthur Gordon Pym. As aventuras se desenvolvem em tres diferentes navios onde ocorre um naufrágio, um motim e um ato de canibalismo.
Até aí, nada de mais, afinal coincidencias acontecem. No entanto a coisa é mais estranha do que mera coincidencia. Os detalhes descritos na novela de Poe parecem um roteiro perfeito dos acontecimentos reais meio séculos mais tarde.
A forma como o navio afunda, os detalhes da jornada, a forma como os homens decidem cometer o canibalismo... tudo é idêntico. Estranho? Bem, não é apenas isso!
O personagem que é morto e devorado é um pobre e inexperiente marinheiro cujo nome é... Richard Parker! Exatamente o mesmo nome do marinheiro que sofreu o mesmo fim.
Alguns sugerem que as coincidencias nao param por ai... que o nome do navio naufragado, Grampus, em algumas versões era Minouette, um nome muitíssimo parecido com Mignonette. Tanto na ficção quanto na realidade os dois navios eram baleeiros, ambos em uma viagem que partiu de Boston com destino a Hong Kong.
As similaridades são surpreendentes. Outra curiosidade é que quando perguntado por um amigo de onde veio a inspiração para sua história, Poe teria dito: " É o tipo de coisa que homens do mar poderiam enfrentar. De fato, é algo que não me surpreenderia se viesse a acontecer".
Mas este não é o unico mistério envolvendo Poe.
Edgar Allan Poe morreu de causas desconhecidas em 7 de outubro de 1849 trancafiafo em uma instituição médica de segurança. Ele foi colocado lá depois de ser achado em um banco de parque no centro de Baltimore, Maryland. Testemunhas disseram que o autor parecia agir como um lunático a pelo menos quatro dias. Ele foi tratado pelo Dr. Joseph E. Snodgrass, qie descreveu seu estado como desmazelado e delirante. Uma vez em custódia de médicos, Poe ganhou e perdeu consciência mas nunca reczluperou suficientemente a lucidez parar relatar o que estava sentindo.
Ele morreu por volta das 5 da manhã.
Durante sua breve convalescença, Poe gritou e implorou para que os médicos nao permitissem que alguém chamado Reynolds viesse vê-lo. Ele também fez referencias incoerentes sobre uma esposa que viveria em Richmond, apesar de que sua verdadeira esposa, Virginia, tivesse morrido alguns anos antes. Poe teria gritado loucuras e dito que "Reynolds viria aquela noite, para levá-lo ou matá-lo".
Uma das últimas coisas que ele teria dito e que foi registrada por uma enfermeira foi:
"Se Reynolds me alcançar, avise minha esposa em Richmond. Não deixem que me leve... coloquem uma arma na minha cabeca e estourem meus miolos".
É de conhecimento público que Poe foi em vida um alcólatra, ainda que muitos acreditem que a fama era exagerada principalmente pela campanha de um desafeto chamado Rufus Wilmot Griswolt. Muitos acreditam que os momentos finais de Poe foram reflexo de uma bebedeira e que seu estado geral era causado pelo álcool. Mas nem todos biógrafos concordam com isso!
Há teorias surpreendentes sobre esses acontecimentos finais. Embora muitos acreditassem que ele havia bebido excessivamente, outros apontavam para algo mais sinistro: uma tentativa de suicídio ou ate de homicidio por envenenamento.
Poe teria acumulado um número considerável de inimigos que o detestava, isso seme mencionar desafetos e credores que juraram ir a forra com ele.
Mas poderia haver algo mais... em 3 de outubro, quando Poe foi encontrado ocorreu uma eleição em Baltimore. Alguns acreditam que Poe pode ter sido agredido por expressar críticas a algum candidato. Naquele dia, uma grande confusão irrompeu durante um discurso que resultou em um quebra quebra que se espalhou pela área em que elee foi achado horas mais tarde. Alguns afirmaram que Poe teria sido golpeado por uma garrafa e surrado, o que causou seu estado de confusão mental.
Contudo os médicos que o atenderam não relataram ferimentos em seu corpo que pudessem comprovar essa teoria.
Outra questão central que poderia explicar os acontecimentos é quem seria o Reynolds que ele parecia temer tanto. E é entao que a história fica ainda mais estranha misturando ficção e realidade de maneira trágica.
Para alguns amigos e biógrafos, Poe contou estar trabalhando em uma novela ambiciosa que infelizmente ele jamais foi capaz de concluir. Essa novela envolveria personagens diabólicos e uma trama macabra com um personagem detestável chamado... Reynolds.
Poe teria contado a seu editor e empresario que estava animado com o rumo de sua historia e que esperava concluí-la em breve. Ele revelou que um dos personagens da trama o assustava e assombrava, um vilão chamado Reynolds.
Teria Poe, num estado debilitado (induzido por álcool, veneno ou ferimento contundente), delirado sobre o personagem de sua trama inédita? Teria ele alucinado em seus momentos finais, sendo levado a acreditar que se encontrava em perigo, ameaçado por um personagem que existia apenas em sua mente criativa?
O misterio de Reynolds, seja ele quem for continua sendo um enigma investigado por biógrafos e estudiosos de Poe. A grande verdade é que ninguem sabe o que aconteceu nos dias finais do genial autor. Poe, um escritor que conseguiu tocar as partes mais escuras da literatura deixou um grande legado com sua obra. Seus contos, novelas e poesia permanecem como uma exploração única da crueldade e depravação humana.
Seria de se esperar que a morte dele fosse outra coisa além de incomum?
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