segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Perdidos na Selva - Encontros com Tribos Desconhecidas: O Povo Pálido e os lendários Mayoruna

Continuando nosso artigo sobre tribos perdidas na Amazônia.

Além das tribos misteriosas de supostos não-humanos nas profundezas das selvas brasileiras, uma outra lenda persiste desde os tempos dos missionários espanhóis do século XVI. Os religiosos que chegaram à região amazônica relataram encontrar tribos de nativos altos, de pele e cabelos claros, olhos azuis e aparência decididamente caucasiana, que viviam nas áreas mais remotas e inacessíveis da selva. 

Um dos primeiros relatos de encontros com essas pessoas misteriosas foi feito pelo missionário dominicano espanhol Gaspar de Carvajal, que escreveu em 1542 sobre ter encontrado um grupo de mulheres tribais muito altas, muito brancas, de aparência europeia, que usavam seus longos cabelos loiros trançados e enrolados na cabeça. O relato foi incluído em seu livro "Relato da Recente Descoberta do Famoso Grande Rio".

Outro famoso relato sobre tribos amazônicas brancas é consideravelmente mais recente e vem do explorador americano Alexander Hamilton Rice, que viajou pela Amazônia em uma expedição entre 1924 e 1925. Rice realizou a maior parte de sua exploração usando hidroaviões que sobrevoavam a selva e pousavam em rios e lagoas. Ao retornar de uma dessas expedições, ele contou a história de um de seus companheiros exploradores, o Tenente Hinton, que avistou uma tribo de índios brancos enquanto sobrevoava as nascentes do Rio Parima.

Intrigado, Rice organizou uma viagem de canoa rio acima para tentar descobrir a origem dos misteriosos nativos brancos. Por fim, localizaram uma cabana que se acreditava pertencer aos índios brancos e ouviram uma série de gritos agudos que assustaram alguns dos membros da expedição e deixaram o grupo restante nervoso a ponto de pegar em armas. Foi então que dois nativos brancos saíram da floresta, aparentemente em paz.

Os supostos índios brancos da Amazônia

Esses nativos foram descritos como tendo pigmentos pintados no rosto que obscureciam suas feições, mas eram considerados "inegavelmente brancos". Os dois pareciam frágeis e desnutridos, não usavam roupas e carregavam arcos com flechas com pontas envenenadas. Falavam em uma língua única, desconhecida de qualquer outra tribo, o que dificultava a comunicação. Quando os membros da expedição ofereceram contas e lenços como presentes, os dois membros da tribo teriam gritado para a selva, o que fez com que mais nativos de pele clara saíssem de seus esconderijos.

A esses estranhos nativos foi oferecida comida, mas esta foi recusada. Aparentemente eles preferiam se alimentar apenas da comida que haviam trazido e que era carregada em bolsas feitas de folha de bananeira. Durante o encontro, a estranha tribo não demonstrou nenhum interesse ou admiração particular pelas roupas, equipamentos, armas ou hidroavião dos ocidentais. A expedição fez esforços para tentar se comunicar com a tribo, mas a barreira da língua dificultou a comunicação e, depois de um tempo, os índios brancos desapareceram na floresta, movendo-se "entre as árvores como onças, sem fazer barulho ou farfalhar as folhas".

A década de 1920 foi, de fato, um período de muitos encontros estranhos e os misteriosos nativos de pele branca, aparecem com frequência nos relatos de aventureiros que estiveram vagando pela região amazônica. O já mencionado Coronel Percy Fawcett estava convencido de que essas pessoas eram habitantes de uma cidade mística perdida nas profundezas da selva, um lugar que ele chamava simplesmente de "Z". Ele estava tão certo de que essa cidade e seu povo existiam, que a sua busca chegou às raias da obsessão. Fawcett acabaria penetrando cada vez mais longe na selva. Sua derradeira expedição em busca da cidade de Z ocorreu em 1925 e resultou em seu desaparecimento da face da Terra. Nenhum vestígio dele ou de seus companheiros jamais foi encontrado.

Relatos e encontros com nativos brancos na Selva Amazônica continuaram sendo relatados esporadicamente na década de 1940. Em 1945 o jornalista britânico Harold T. Wilkins assumiu a responsabilidade de compilar uma variedade de relatos que remontam ao século XVI em seu livro "Mistérios da Antiga América do Sul". A obra, bastante sensacionalista mencionava tribos de homens e mulheres brancas que habitavam as regiões mais ermas da floresta, sobrevivendo como uma tribo fechada que não se misturava com os demais indígenas. Ele os chamava de Tapicha Moroti, que no idioma tribal tupi significa Povo Pálido.

Esse povo pálido teria como característica marcante justamente a pele de cor clara, praticamente caucasiana, altura superior com média de 1,70, além de olhos e cabelos de compleição clara. Essa tribo, segundo Wilkins seria de descendentes de colonos vindos de terras distantes, possivelmente do norte da África milênios atrás, um grupo de exploradores que teria se perdido nessa região inóspita, adotando o estilo de vida dos nativos. Outra teoria controversa era de que esses nativos seriam os descendentes de alguma civilização desaparecida, tragada pelas águas que se espalharam pelo mundo em uma diáspora que se seguiu a um apocalipse. As lendas da Lemúria, de Mu e da legendárias Atlântida permeavam essas teorias que por sua vez se amparavam nas ideias teosóficas de Helena Blavatsky.


Mesmo nos tempos modernos, houve relatos de encontros com essas tribos enigmáticas. Em 1977, uma expedição conjunta britânica/brasileira relatou ter sido cercada por uma tribo de nativos loiros, incomumente altos, com olhos azuis e pigmentação notavelmente branca, alguns dos quais tinham barba espessa. Todos estavam nus e falavam um dialeto que nenhum especialista jamais ouvira antes. Essas pessoas eram chamadas de Acurinis e foram novamente encontradas por outra expedição na mesma região em 1979. Neste caso, os misteriosos homens da tribo foram vistos apenas brevemente antes de desaparecerem no mato.

Abundam teorias sobre o que poderia estar por trás desses encontros surpreendentes. Uma das teorias é que esses nativos poderiam ser descendentes de náufragos, vikings, exploradores perdidos ou mesmo missionários ocidentais que voluntariamente deixaram a civilização para trás para viver entre os nativos, que os absorveram. De fato, há a crença de que o próprio Percy Fawcett tivesse se convertido em um nativo e que seus descendentes e dos membros de sua expedição, poderiam explicar a existência de nativos de pele clara. 

Nos últimos anos, uma tribo chamada Aché, conhecida por ter pele, cabelos e olhos claros e barbas espessas foi encontrada por uma expedição. Embora tenha sido demonstrado que eles não tinham evidências genéticas de terem se misturado com europeus, sua aparência única sugeria que eles seriam a fonte de pelo menos alguns dos relatos. É improvável que algum dia saibamos com certeza as origens precisas desse mistério.

Um relato bastante peculiar que vem das terras selvagens da Amazônia é o de um explorador intrépido que chegou aqui em busca de mistérios e logo encontraria mais do que esperava, embarcando em uma jornada que incluiria tribos perdidas e isoladas e estranhos poderes da mente. Loren McIntyre foi um explorador, fotojornalista e escritor para publicações conceituadas como National Geographic, Time, Life, Smithsonian, entre outras. 

Ele foi, em muitos aspectos, uma espécie de Indiana Jones da vida real, dedicando grande parte de sua vida a explorar obstinadamente os confins impenetráveis ​​da floresta amazônica. De fato, foi ele o primeiro a descobrir a nascente do Rio Amazonas, quando realizou uma expedição com esse objetivo em 1971. McIntyre faria história ao descobrir que o maior, mais longo e mais caudaloso rio do mundo nascia com um escoamento de neve em uma montanha nos Andes peruanos chamada Mismi. O explorador traçou o curso do rio de sua nascente até onde ele desaguava, através de uma jornada sinuosa por algumas das regiões selvagens mais remotas da Terra. No entanto, embora a expedição tenha se concentrado na origem do Amazonas, certamente esta não foi a sua única descoberta. Durante outra expedição ele teria um encontro inesperado, que ele guardaria para si por anos.

Os Matsés, seriam parentes dos Mayoruna

Em 1969, McIntyre embarcou em uma excursão às profundezas inexploradas da selva amazônica brasileira. Seu alvo era uma tribo pouco conhecida, os Mayoruna, parentes dos Matsés, tão esquivos que nunca haviam sido contatados com sucesso por estrangeiros. Quase nada se sabia sobre essa tribo enigmática vislumbrada apenas fugazmente por algumas testemunhas oculares. Eram como fantasmas, e McIntyre tinha pouco em que se basear quando adentrou o perigoso Vale do Javari, na fronteira entre o Brasil e o Peru. Mal sabia ele que seriam os Mayorunas que o encontrariam.

À medida que o explorador avançava pela selva desconhecida ele acabou percebendo que estava irremediavelmente perdido. Sua jornada se transformou em uma peregrinação à esmo pela perigosa região selvagem que ele imprudentemente havia invadido sozinho. Ele começou a se conformar com o fato de que poderia acabar se tornando mais um explorador perdido, como seu ídolo de infância, Percy Fawcett. Para tornar a jornada ainda mais sinistra, McIntyre se deparou com uma clareira repleta de corpos do que pareciam ser lenhadores, meio devorados por formigas e com flechas saindo de seus cadáveres inchados.

Essa descoberta sinistra fez com que o explorador observasse atentamente as árvores enquanto vagava sem rumo, meio que esperando que a morte o alcançasse a qualquer momento. Parecia certo que ele nunca veria a civilização novamente. Foi nesse momento desesperador que algumas figuras saíram da floresta à sua frente. Era, altos, tinham espinhos cravados no rosto, colares feitos de ossos humanos e lanças compridas. Olhavam para ele com uma mistura de desconfiança e surpresa, mas não demonstraram agressividade. Eram sem dúvida os Mayoruna, e aquele era o mais perto que qualquer forasteiro já chegara deles. Pelo menos qualquer um que ainda estivesse vivo.

O explorador ofereceu alguns presentes que havia trazido para o caso de realmente fazer contato. De sua bolsa, tirou tecidos e espelhos, que colocou diante dos homens da tribo, que os observavam com expressões inescrutáveis ​​em seus rostos perfurados. Eles se aproximaram para aceitar os presentes e então pareceram acenar para que ele os seguisse pela floresta. O cansado McIntyre cambaleou atrás de seus guias, mal conseguindo acompanhar sua ágil navegação pela selva, e assim começaria o próximo capítulo de sua estranha aventura.


O grupo chegou ao que parecia ser um acampamento improvisado habitado por outros membros da tribo, que demonstravam curiosidade com aquele estranho. Retiraram suas botas e as queimaram até virar cinzas, seu relógio, que acharam fascinante, também acabou destruído. De fato, a maioria de seus pertences seria roubado ou destruído, inclusive sua câmera. Embora não tenha havido agressão direta contra ele, havia alguns lembretes sombrios de que ele estava em grande perigo. McIntyre alegou que a tribo usava adereços feitos de ossos humanos, tinham cordas de tendões e que bebia água em cabaças de crânios. Eles também estavam muito bem armados e nunca se afastavam de seus arcos e lanças. Um membro da tribo, sem dúvida um guerreiro, com o rosto pintado de vermelho, a quem ele apelidou de "Bochecha Vermelha", começou a ameaçá-lo e a encará-lo com uma expressão furiosa.

McIntyre ficou com essa tribo perdida por dois meses e, durante esse tempo, fez muitas observações. Percebeu que eles estavam em constante movimento, mudando-se para um novo acampamento a cada semana, às vezes repentinamente e sem aviso. Tinham um estilo de vida nômade, típico de caçadores-coletores. Também pareciam não ter noção de posses individuais, compartilhando livremente tudo uns com os outros e pegando ou usando o que quisessem sem repercussões. Ainda mais estranho, ele notou que essas pessoas frequentemente se moviam de forma bastante bizarra em sincronia, sabendo o que os outros fariam sem precisar falar uns com os outros. Por algum tempo, ele ponderou sobre essa anomalia, mas logo descobriria que a explicação era muito mais estranha do que qualquer coisa que ele tivesse imaginado.

Um dia, ele foi abordado por aquele que supôs ser o chefe da tribo, um homem mais velho, musculoso e grisalho, tratado com respeito pelos demais. Quando o chefe se aproximou e falou com McIntyre, o explorador descobriu que, estranhamente, conseguia entender o que ele tinha a dizer. Isso o deixou perplexo, mas logo ele percebeu que o chefe não movia a boca ao falar, e que estava falando diretamente em sua mente, usando o que ele supôs ser uma espécie de telepatia! Mais tarde ele chamaria essa forma de comunicação não verbal de "transmissão" ou "a outra língua".

O ancião explicou que a tribo existia como uma espécie de consciência coletiva e que seus pensamentos estavam todos interligados, embora apenas os anciãos da tribo fossem capazes de concentrar esse poder telepático. McIntyre aprendeu que não havia um "eu" real na tribo, para eles, o conceito de indivíduo fazia pouco sentido. O chefe também explicou que eles estavam sob constante ameaça de inimigos e que essa era a razão pela qual a tribo se mudava com frequência. Os nativos procuravam sua terra natal onde tencionavam viver, mas eles não sabiam onde ela ficava. Chamavam esse lugar de "O Início" e diziam que era uma terra mística onde os antepassados dos Mayoruna nasceram e para onde seus espíritos migravam.

O fluxo do tempo, passado, presente e futuro, ao mesmo tempo.

O chefe convidou McIntyre para acompanhá-los em sua jornada rumo ao “Início” e, nas semanas seguintes, ele os seguiu  e se envolveu nos seus estranhos ritos. O explorador partilhou de misturas psicoativas extraídas de ervas e raízes que distorciam suas percepções. Ele alegou ter visões de cenas de seu passado e futuro, vistas com inacreditável realidade. Era como se aquelas drogas tivessem aberto sua percepção para um fluxo de tempo que poderia ser visitado. Era como viajar no espaço e no tempo sem sair do lugar, uma experiência que deixou o explorador estarrecido.

Ele também descobriu que, se se concentrasse, poderia captar uma espécie de névoa estática que continha os pensamentos interligados de todos os membros da tribo. Era como pressentir emoções e pensamentos alheios. No entanto, apesar de tudo aquilo, ele sabia que em algum momento teria que deixar para trás aquela selva para retornar à civilização. O único problema era que o explorador não tinha ideia de onde estava e se os seus novos companheiros o deixariam partir. Ele não tinha ilusões de que era um prisioneiro e que eles poderiam matá-lo se tentasse fugir. 

Contudo, o destino se encarregou de dar uma ajuda. Uma enchente varreu a região após chuvas torrenciais, e McIntyre aproveitou a chance para escapar agarrado a uma balsa, despejada no rio. Ele foi encontrado dias depois por madeireiros que o levaram de volta a um vilarejo de onde conseguiu contato com a civilização que já o havia dado como morto. Haviam se passado três meses desde seu desaparecimento.  

Ao retornar McIntyre manteve o que lhe aconteceu em segredo e é bem provável que sua história fantástica jamais fosse partilhada se não fosse por um cineasta romeno chamado Petru Popescu. Em 1987, Popescu conheceu McIntyre por acaso durante uma viagem de barco pelo Rio Amazonas. Os dois homens se deram bem e, por algum motivo McIntyre confidenciou a ele o que havia acontecido na selva. Foi tudo bastante surpreendente, e quando Popescu perguntou por que ele nunca havia contado a ninguém sobre isso, McIntyre disse que não achava que alguém acreditaria na história. Sua reputação como um respeitado explorador poderia ser arranhada por uma narrativa tão surreal que incluía telepatia e viagens no tempo.

Popescu conseguiu convencer McIntyre a deixá-lo escrever um livro sobre suas aventuras e, em 1991 ele lançou "O Encontro", obra que narrava os acontecimentos ocorridos décadas antes e cobria o período do explorador na companhia dos misteriosos Mayoruna. A obra dividiu opiniões e atraiu a atenção de místicos que apontaram as experiências como uma demonstração da sabedoria da floresta. 

Uma das últimas fotografias de Loren McIntyre

Quanto à tribo não se soube mais nada! 

Ela desapareceu nas profundezas da Selva e o próprio McIntyre disse que por um pressentimento sentia que eles não estavam mais acessíveis - se morreram, desapareceram ou chegaram ao "Início", ele não soube precisar. Na sua concepção, era como se eles tivessem sumido. Na sua opinião ninguém os encontraria e expedições de busca jamais teriam êxito. Os Mayoruna nunca foram formalmente achados, embora relatos a respeito de sua existência tenham sido colecionados por exploradores que entrevistaram nativos da região. 

Loren McIntyre faleceu em 2003 sem emitir mais opiniões sobre os acontecimentos na década de 1970 ou a tribo com a qual ele andou. Ele afirmava saber exatamente quando e em que circunstâncias morreria, graças às drogas que tomou nos rituais que abriram sua mente para essa visão. Surpreendentemente ele disse a amigos que sua morte estava próxima, cerca de 2 meses antes dela ocorrer de fato. 

É difícil conceituar a estranha narrativa de McIntyre, mas a despeito de sua confirmação, inegavelmente trata-se de algo fantástico. O livro de Popescu, baseado nas entrevistas que ele conduziu, funciona como uma janela para conhecer essa tribo desconhecida, seus costumes e rituais, mas a verdade sobre a sua existência de fato, isso, provavelmente, jamais saberemos.

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