Decapitação.
O ato de separar a cabeça do corpo pela ação de uma lâmina ou de uma ferramenta afiada o bastante para romper as vértebras que a unem ao restante do corpo.
Uma definição simples para uma prática medonha.
Até recentemente, a mais antiga decapitação humana de que se tinha notícia fora datada como tendo ocorrido há cerca de 5,000 anos atrás.
Evidências ancestrais de vítimas de decapitação são frequentemente colhidas na região dos Andes, onde essa prática se tornou razoavelmente corriqueira há três milênios entre os ameríndios. Rituais tribais, leis do estado ou punição para transgressores, a decapitação nessa região do planeta era promovida mais do que em qualquer outro lugar. Sepulturas comunais com cadáveres decapitados e tumbas coalhadas de cabeças foram achadas nas ruínas de várias civilizações pré-colombianas.
Recentemente, uma equipe de arqueólogos internacionais, realizou uma descoberta surpreendente que pode revelar a mais antiga decapitação da história, datando de incríveis 9.000 anos atrás.
O terrível acontecimento teve lugar no que hoje corresponde ao Brasil Central. É provável que a vítima tenha sido um importante guerreiro, um prisioneiro valioso ou um líder tribal que sofreu uma execução diferenciada em face de seu status ou posição elevada.
De acordo com as informações publicadas pelo jornal El Mundo, os cientistas fizeram a descoberta, corroborada pelo Departamento de Evolução Humana no Instituto Max Planck em Leipzig, na Alemanha. Os líderes da expedição são os pesquisadores André Strauss e Domingo Carlos Salazar-Garcia.
A equipe encontrou restos mortais em um sistema de câmaras subterrâneas chamada Lapa do Santo, no estado de Minas Gerais. Esse complexo já revelou a presença de várias ossadas de animais pré-históricos e vem sendo explorada desde o século XIX. Foi a primeira vez, no entanto, que uma grande concentração de esqueletos humanos foi descoberta. Os restos estavam em uma fissura a 375 metros da entrada da caverna, em uma câmara que parece ter servido como cemitério comunal na antiguidade.
O crânio decapitado, catalogado como item número 26, estava no fundo da sepultura, acompanhado de outros esqueletos. Nenhum dos outros cadáveres teve o mesmo destino macabro. Apesar disso, esses restos apresentavam certas "anomalias" e "curiosidades anatômicas" - vários deles possuindo algum tipo de escarificação ritualística com mãos e pés decepados. Os esqueletos, todos pertencentes a homens jovens entre 15 e 22 anos, sofreram mortes violentas e foram enterrados cuidadosamente sob lajes de calcário. Os pesquisadores ainda não terminaram de catalogar todas descobertas e ainda se questionam a respeito de quem eram esses indivíduos e sobre quem os executou de modo tão sinistro.
Para muitas culturas antigas, o ato de decapitar o inimigo era um meio de separar a alma (ou espírito) do corpo físico. O vencedor de uma batalha poderia guardar a cabeça de seu inimigo como um troféu - simbolizando a conquista total sobre o espírito; além, é claro, de representar uma série de implicações nos campo místico e sobrenatural. Os nativos americanos, os povos ilhéus do Pacífico, as tribos celtas e de pictos da Europa, muitas civilizações do Oriente Médio, os germânicos, bérberes do norte da África... todos em algum momento utilizaram a decapitação como uma forma de demonstração de poder sobre um inimigo derrotado. Para muitas culturas, decapitar um inimigo simbolizava que o espírito deste jamais poderia retornar ao seu corpo. Era a derrotada definitiva e inquestionável sobre o oponente. Na Europa Paleolítica já foram encotrados crânios com até 15 mil anos que sugerem ter sofrido decapitação, mas não houve certeza absoluta.
No crânio de Lapa Santa não resta dúvida: ele é positivamente o caso mais antigo de decapitação de que se tem notícia. Segundo os testes de carbono 14, o crânio foi datado como tendo algo entre 9,438 e 9,127 anos. Esta datação foi realizada com uma amostra extraída do osso esfenóide: uma estrutura na base do crânio. Um estudo estensivo conduzido no crânio atestou que o indivíduo foi decapitado com repetidos golpes, três ou quatro, desferidos por um instrumento mais pesado do que afiado. É importante salientar que o restante do esqueleto não estava presente na caverna.
Com esta datação confirmada, o crânio de Lapa Santa é 4 mil anos anterior à decapitação mais antiga conhecida até então.
Segundo o Professor Strauss há indícios claros de que a decapitação ocorreu obedecendo um contexto claramente ritualístico. Quando vivo, o indivíduo deve ter sido uma pessoa de influência, cuja morte dramática e única, representou a conquista definitiva de um grupo sobre outro.
Cabeças transformadas em troféus em geral possuem buracos através dos quais cordas são passadas permitindo que eles sejam transportados. Em outros casos, o crânio era fincado em uma lança ou poste no qual poderia ser exposto para a apreciação pública. Entre os pictos, a cabeça de inimigos decapitados era afixada num espigão de ferro e os inimigos, obrigados a beijar seus lábios como reconhecimento de sua morte. Na Revolução Francesa o simbolismo de decapitar os nobres, aqueles que eram os detentores do poder, significava que a cabeça da monarquia havia sido definitivamente cortada e não poderia renascer.
O Crânio de Lapa do Santo não possui buracos ou sinal de ter sido estacado, mesmo assim ele foi depositado com outros esqueletos que segundo análise de estrôncio pertencem a mesma raça e grupo étnico. Não se trata de um troféu, mas de um rito mortuário no qual os derrotados parecem ter sido enterrados com seu líder que recebeu a mais severa das punições.
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Provavelmente jamais venhamos a saber o que se passou 9.000 anos atrás em algum lugar do Brasil central. Tampouco, entenderemos por que os restos dessas pessoas foram transportados à grandes custos, para as profundezas de um complexo subterrâneo onde foram ocultados para lá permanecer eternamente.
Tudo que sei é que esse tipo de notícia causa em mim uma certa sensação de estranheza...
É dificil dissociar tal descoberta de uma típica investigação pulp que envolve a busca por uma civilização ancestral engolida pela floresta e da qual nada sabemos. De povos nativos que tinham um conhecimento perdido e do qual nada restou.
Talvez esses nossos antepassados brasileiros tenham sido cultistas dos Deuses Primordiais. Seriam eles seguidores do Deus Tsathoggua? Acólitos de Yig? Servos de Bubastis? Os habitantes das vastas cavernas que pontuam o território nacional, responsáveis pelas pinturas rupestres de animais estranhos e deuses incompreensíveis que recobrem as rochas lisas e ainda intrigam arqueólogos. Teriam sido eles sacrificados pelo seu conhecimento profano por outras tribos temerosas de seu saber? Aquele decapitado seria seu líder? O Shaman que comungava com as criaturas do além?
Ainda é possível que esses homens tenham sido uma casta única de guerreiros-feiticeiros que dominavam artes perdidas, trazidas por povos que vieram de terras distantes além dos mares fugindo de cataclismos - Atlântida, Mu ou da legendária Hiperbórea...
Seriam estes homens os últimos membros de um povo desconhecido cujos costumes estão fadados a permanecerem um mistério para as futuras gerações? Ou haveria alguma pista repousando na poeira das eras, no fundo da mesma caverna, uma pista que colocará em xeque todos conceitos que temos sobre os povos da América.
Tantas ideias para um cenário, apenas esmiuçando uma notícia menor e olhando essas órbitas vazias...
Excelente matéria. Sou fã deste tipo de descoberta, ainda mais em solo brasileiro.
ResponderExcluirLi a matéria quando foi publicada nos meios e não havia atentado para o fato de o cranio estar enterrado em um complexo subterraneo. Haja idéas para aventuras!