domingo, 19 de junho de 2016

Depósito de Loucos - As Experiências no Hospital Psiquiátrico de Sadovich


Em dezembro de 2010, quarenta e duas pessoas morreram em um incêndio no Hospital Psiquiátrico de Sadovich na região ocidental da Sibéria, Rússia. Grupos de resgate trabalharam arduamente no local por três semanas tentando recuperar corpos carbonizados dos escombros. A demora na remoção se deu pelo fato de que os próprios responsáveis pelo hospital não sabiam ao certo quantos pacientes estavam sob os seus cuidados.

Os corpos a medida que eram removidos da estrutura foram levados para o hospital da Vila de Lurka onde se iniciou o complicado trabalho de identificação. 

O acontecimento foi considerado num primeiro momento um trágico acidente. 

Mas a medida que as investigações e os trabalhos de busca avançavam, fatos perturbadores começaram a vir à tona. Dentre os 42 mortos, 40 eram internos da instituição uma parcela muito desigual em comparação aos dois funcionários falecidos, o que indicava que o staff pouco fez para ajudar a evacuação dos pacientes. Além disso, a maioria dos mortos foi vítima de asfixia provocada pela densa fumaça inalada, como apuraram os exames de necrópsia. As chamas foram responsáveis pela morte de relativamente poucas vítimas. Um bom número de internos estavam trancados em seus quartos ou em áreas comuns cuja entrada era barrada por grades e trancas. Mais aterrorizante é que 18 dos mortos estavam presos por algemas, cordas e até correntes que ficavam soldadas a grilhões nas paredes. Eles sequer tiveram a chance de escapar.


Embora o número total de vítimas tenha sido fixado em 37, ativistas dos Direitos Humanos até hoje suspeitam que o número possa ser muito maior. Algumas fontes afirmam que o Hospital Psiquiátrico de Sadovich comportava mais de 150 internos, apesar de sua lotação de 60.

Especialistas concluíram que o fogo teve início em uma das salas de recreação. Um dos internos na véspera teria subtraído um isqueiro pertencente a um dos membros do staff. Acredita-se que nas mãos do paciente, este tenha sido usado para atear fogo um um armário que estocava material de limpeza altamente inflamável. Isso explicaria como as chamas se espalharam tão rapidamente e porque foi praticamente impossível deter o incêndio que em apenas duas horas consumiu a antiga estrutura de três andares.

O governo russo criticou o fato do hospital não possuir um plano de evacuação ou de combate a incêndio. A opinião pública também reagiu com indignação diante da tragédia. Os responsáveis pela instituição explicaram que havia um plano para transferir os pacientes e demolir o prédio para a construção de um prédio mais moderno. O incêndio chamou a atenção para a situação caótica dos Hospitais Psiquiátricos na Rússia: entre 2005 e 2011, nada menos do que quatro instituições passaram por incêndios com vítimas fatais.  


Sadovich era uma Instituição Antiga com uma longa e tumultuada história.

Fundada em 1931 com o nobre intuito de hospedar pacientes mentalmente perturbados e oferecer tratamento psiquiátrico de qualidade, ele jamais atingiu essa meta. Ele foi construído para atender a demanda por uma instituição hospitalar na região, já que o manicômio que existia previamente foi destruído ironicamente em outro incêndio. Logo Sadovich se converteu meramente um abrigo para loucos, reclusos, excêntricos e indesejados apelidado de "O Depósito de Loucos da Sibéria".

Infelizmente, em seus primeiros anos de funcionamento, Sadovich se tornou algo mais: o destino para muitos dissidentes e presos políticos considerados como inimigos da Revolução. Sendo a Sibéria e seus Gulags o frequente destino de indivíduos que desagradavam o sistema, um número indeterminado de pessoas teria sido enviado para o confinamento mesmo sem sofrer de qualquer doença mental. O Hospital se notabilizou por receber membros do partido que caíam em desgraça e acabavam presos. As instalações receberam milhares de pacientes durante seu 85 anos de funcionamento, em parte porque vagas abriam facilmente.


Apesar de ser considerado um Hospital de referência, Sadovich sempre teve de lidar com rumores desabonadores que criticavam uma infraestrutura precária, maus tratos e lotação. Por vezes, ele não tinha condições de oferecer nada além de uma sopa rala para os internos. Sobravam, no entanto, acusações ainda piores a respeito do que acontecia atrás de seus muros. 

Muitos acreditam que entre 1940 e 1950, o Hospital Psiquiátrico de Sadovich se tornou o palco para experimentos moralmente questionáveis de Recondicionamento Comportamental. Os pacientes serviam como cobaias para todo tipo de experiência psicológica. Entre os muitos experimentos supostamente realizados nas instalações, ocorriam testes com drogas psicotrópicas e hipnóticas, lavagem cerebral através do uso de substâncias químicas, cirurgias visando modificação de personalidade, testes com lobotomia e implantação de memórias falsas. Ao longo de todo período do regime soviético, o abuso político da psiquiatria foi flagrante e as cortes de justiça podiam condenar presos a um recondicionamento psicológico, ou seja, tratamento compulsório em um manicômio.

A partir de 1960, Sadovich passou por uma profunda transformação. Ele se converteu em um centro de referência para médicos soviéticos, especialistas em experimentos envolvendo memória e análise de sonhos. Em 1962, as instalações receberam melhorias e foi construído um campo de prisioneiros externo, além de instalações subterrâneas com um ambulatório, necrotério e um grande depósito. Dizem que além dessas instalações, construiu-se também celas para o isolamento dos internos.


Alguns sugerem que foi em Sadovich que a notória Experiência de Privação do Sono pode ter sido realizada no todo ou ao menos em parte. Se você não sabe do que se trata, click AQUI.

Um psiquiatra que trabalhou nas instalações enquanto ela era controlada pelo governo soviético, o controverso Professor Lev Andropov - envolvido também com o perturbador "Projeto Kamera" na década de 1970, relatou em uma entrevista, que muitas experiências eticamente questionáveis foram conduzidas secretamente em Sadovich. O Hospital recebia um fluxo constante de internos que eram utilizados em experiências sancionadas pelo governo.

Andropov contou que a direção do Hospital tinha carta branca para a realização de experimentos conforme a necessidade. Em dado momento, as instalações contaram com um programa de troca de informações com especialistas chineses e coreanos que possibilitou avanços expressivos em lavagem cerebral. Em uma estimativa feita por Andropov, mais de duas mil lobotomias teriam sido realizadas nas instalações.

Dada a distância e isolamento do Hospital, a maioria das coisas que ocorriam lá, eram simplesmente ignoradas por medo, conivência ou descaso.


Nos dias finais da União Soviética, os recursos para as Pesquisas realizadas em Sadovich diminuíram expressivamente. Muitos dos projetos foram descontinuados e as instalações voltaram a comportar apenas um hospital psiquiátrico. Quando a URSS se fragmentou, a instituição foi fechada e os pacientes transferidos. Contudo, a necessidade de haver um Hospital Psiquiátrico na região fez com que ele fosse reaberto menos de um ano depois sob uma nova direção disposta a esquecer seu passado grotesco.

Após o incêndio que decretou o fim do Hospital Psiquiátrico de Sadovich, uma nova onda de boatos teve início.

Durante os trabalhos de resgate dos corpos, os grupos de busca teriam encontrado uma passagem que permitia o acesso ao complexo subterrâneo expandido em meados de 1961. Até então, acreditava-se que todos os acessos a essas câmaras e salas haviam sido lacrados em 1997, data da última grande reforma e remodelação do prédio. Na ocasião, até mesmo as escadas foram bloqueadas, com paredes de tijolos erguidas em corredores e passagens, de modo a não permitir que ninguém entrasse no complexo.

Muitas estórias circularam a respeito do que os grupos de resgate teriam encontrado nos três andares inferiores que desciam rumo ao subsolo. Alguns afirmam que as gavetas do necrotério ainda continham cadáveres do período em que o lugar era palco de experimentos bizarros. Outros mencionam que o laboratório continha uma coleção absurda de cérebros e outras partes da anatomia humana preservados em frascos e vidros.



Em outro aposento haveria um estoque assombroso de drogas e todo tipo de componente farmacológico, testados exaustivamente pelos médicos nos pacientes de Sadovich. Entre estes comprimidos estariam metaqualones de incrível potência, drogas hipnóticas, tonéis de LSD, inibidores do sistema nervoso central e até mesmo variantes da heroína que os soviéticos planejaram disseminar na América nos anos 1960 através de expoentes da contra-cultura.

Mais importante, o subterrâneo do Hospital, até então inacessível ainda conteria os arquivos de décadas de experiências realizadas clandestinamente. Os prontuários com os nomes de todos que passaram pela instituição, e qual foi o destino deles. Filmes, fotos, documentos e relatórios com os resultados de experimentos bizarros e informações sigilosas que por anos ficaram armazenadas nos porões da instituição.

Logo que esses boatos começaram a ser compartilhados, dezenas de Exploradores Urbanos convergiram para a Sibéria decididos a vasculhar as entranhas de Sadovich em busca desse "rico tesouro". Não demorou para que o governo russo intervisse, negando a existência de qualquer coisa incomum ou valiosa nos subterrâneos do antigo hospital. Mas à essa altura, os rumores já haviam atingido a internet com força total, atraindo um público cada vez maior de interessados.

Muitas pessoas se gabavam de ter conseguido explorar as ruínas do hospital, emergindo de lá com provas documentais de seu passado aterrorizante. Quaaluds extremamente potentes atingiram o mercado negro do submundo de Moscou, sendo negociados a peso de ouro pela máfia russa. No site Silk Road, ativo na Deep Web, itens retirados de Sadovich teriam atingido altas cifras em negociações com colecionadores mundo afora.


Não demorou para que providências mais drásticas fossem tomadas.

As ruínas foram definitivamente fechadas pelo governo russo e cercadas com um muro construído pelo Exército às pressas. Hoje, soldados ficam aquartelados na área para coibir a presença de curiosos e penetras. Desde 2011, mais de 20 estrangeiros foram deportados acusados de invasão e um número não divulgado de cidadãos russos, presos e processados.

Em fevereiro de 2014, divulgou-se que o exército teria realizado uma grande operação nas ruínas com o intuito de remover de uma vez por todas material que ainda estaria no depósito. Alguns dão conta que mais de 20 caminhões abarrotados de caixas e material médico foram transportados para a Base da 36a Divisão do Exército em Ulan Ude.

O Exército não comentou a respeito desses rumores.

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