terça-feira, 15 de maio de 2018

Estados Alterados - Jornadas bizarras para mundos alternativos através de drogas místicas



Desde tempos imemoriais culturas ao redor do mundo tentam alcançar outros planos de existência, transcender a realidade como conhecemos e viajar para outros reinos místicos e espirituais, acessando reinos desconhecidos.

Um dos métodos favoritos que muitos místicos adotam para tentar forçar seu caminho através do véu que separa nossa realidade das outras, é empregar fórmulas especialmente criadas para esse fim. Hoje sabemos que elas eram potentes psicoativos e psicodélicos, coquetéis químicos destilados com componentes especiais, mas no passado elas eram compreendidas como poções mágicas e bebidas sagradas.

Mas será que essas fórmulas seriam capazes de causar mais do que apenas um estado alucinógeno no cérebro? Poderia uma substância ou a mistura de várias delas resultar em algo que realmente ajudasse a transcender nossos corpos e a própria realidade? Por muitos anos houve pesquisas esporádicas a respeito de tais drogas; potentes componentes psicodélicos com incríveis efeitos que seus utilizadores e especialistas acreditam, causam efeitos inesperados na mente, colocando-os em contato com realidades alternativas e dimensões muito além da nossa.

Um dos componentes químicos mais estudados é a Dimetiltryptamina, ou DMT para facilitar, uma droga da família das triptaminas, que é encontrada em uma vasta gama de plantas e animais na natureza. Embora ela tenha sido sintetizada em laboratório apenas em 1931 e descoberta em estado puro em plantas e certos animais em 1960, os poderosos efeitos do DMT já eram conhecidos por povos ancestrais, que o usavam como um ingrediente ativos nas suas bebidas sagradas entre as quais a famosa ayahuasca.

Capaz de ser inalado, injetado ou ingerido oralmente, o DMT é notável pela sua incrível capacidade psicoativa, psicodélica e pelos efeitos eufóricos que as pessoas que o consomem experimentam. Seus efeitos se manifestam quase que imediatamente e diminuem ao longo de 5 a 30 minutos dependendo da concentração. É por essa razão que essa droga nos anos 1960 e 1970, ganhou o apelido de "viagem de negócios" pois seus efeitos se instalavam rapidamente, eram muito potentes e se encerravam de maneira breve. Embora jamais tenha sido particularmente popular entre os utilizadores de drogas recreativas, o DMT se tornou em tempos recentes notório pelos seus estranhos efeitos colaterais na mente, com alguns usuários afirmando que sob os seus efeitos alcançaram outros reinos de existência e um estado pleno de consciência.


Usuários de DMT descreveram que sob sua influência exploraram paisagens absurdamente alienígenas e ainda assim realistas, para onde eles se viram transportados e onde encontravam e até se comunicavam com entidades não-humanas, na maioria das vezes descritas como benevolentes guias que usavam gestos, telepatia e imagens visuais para se fazer entender. Estes estranhos seres assumiriam as mais diferentes formas incluindo as feições de "alienígenas clássicos" cinzentos (os grey), animais inteligentes, palhaços coloridos, fadas e outras figuras humanoides, bem como plantas e formas vegetais dotadas de consciência e capacidade de interagir com seres inteligentes.

Essas bizarras entidades aparecem em ambientes saturados de intensas cores vívidas, muito mais brilhantes e distintas do que na vida real ou mesmo em sonhos, e são adornados por padrões geométricos como um caleidoscópio que muda e se altera a todo momento. Certos usuários acreditam que o DMT permite transcender a realidade e criar uma espécie de elo psíquico com seres que ressurgem em cada experiência. Em alguns casos, essas entidades parecem interessadas na interação e sondam a mente do usuário, ou até mesmo os examinam fisicamente  para compreender suas motivações.

O que torna essa experiência ainda mais incomum é que apesar da sensação inicial de desorientação, no decorrer dessas visões, os usuários afirmam manter um estado mental completamente lúcido, que os leva a acreditar que se trata de uma experiência real, não um sonho e menos ainda uma alucinação. Toda essa clareza faz com que usuários típicos de DMT se recusem a acreditar que o que eles experimentam está apenas em suas mentes e permanecem convictos de que tudo aquilo é real. 

Este fenômeno de encontrar formas de vida não-humanas parece ser exclusivo do uso de DMT, mesmo entre outras substâncias psicodélicas, e essa peculiaridade a tornou o foco de pesquisas realizadas por psiquiatras como Rick Strassman a partir dos anos 1990. Durante seus testes Strassman percebeu que nos dois minutos iniciais do efeito, o indivíduo experimenta um intenso efeito psicodélico de confusão, depois, entra em um  estado de relaxamento no qual é capaz de manter a calma e a lucidez a ponto de descrever o que está vendo e sentindo ao longo dos 30 minutos seguintes. Segundo a pesquisa de Strassman mais da metade dos indivíduos analisados teve visões bastante reais de seres não humanos, estabelecendo com eles comunicação. O psiquiatra classificou esse estágio como "Nível independente de percepção da existência".

Os resultados dessas experiências são surpreendentes por que foram exclusivos ao uso do DMT, em particular a frequência em que os usuários encontraram com essas entidades, e na maneira como eles foram descritos em detalhes. Na percepção dos usuários, o contato foi tão real e vívido que todos eles os classificaram como tendo acontecido. O fenômeno é tão estranho que Strassman teorizou que algo similar poderia explicar as histórias a respeito de abduções alienígenas. Ele até conjecturou que um estado semelhante possa ser a causa direta das narrativas a respeito de universos alternativos e dimensões paralelas. 


Em seu estudo, Strassman sugere que o DMT possa ser uma ferramenta para alcançar um nível de compreensão da própria realidade em um plano mais profundo. Suas pesquisas resultaram em vários livros que foram reconhecidos por parte da comunidade científica. O maior questionamento a respeito do trabalho de Strassman diz respeito a suas conclusões de que o DMT seria capaz de alterar a química do cérebro de tal maneira que permitiria um vislumbre ou até a interação do usuário com realidades alternativas que normalmente estão além de nosso alcance. Em outras palavras, a substância seria capaz de levantar um véu, ou remover uma venda que normalmente bloqueia nossas percepções da realidade, filtrando uma infinidade de sensações e estímulos para os quais somos cegos. O DMT faria com que o mundo pudesse ser visto como realmente é, o que poderia ser ao mesmo tempo uma experiência reveladora e assustadora, uma vez que não fomos feitos para ter essa percepção.

Há, no entanto críticos às pesquisas de Strassman. Embora não se saiba porque o uso do DMT resulta em seus efeitos únicos, muitos estudiosos acreditam que isso se deve simplesmente à natureza psicodélica da substância interagindo com noções pré-concebidas. Os povos que se valeram da Ayahuasca há séculos, a utilizavam em cerimônias religiosas nas quais acreditavam ser ela uma espécie de portal para contatar o mundo espiritual ou divino. Eles portanto esperavam que seu uso "abria os canais de comunicação com seres do além". Nesse contexto, suas mentes trabalhavam a noção de que tomando a droga eles encontrariam esses seres não-humanos em uma realidade diversa. O ponto de vista dos céticos é que, embora o DMT tenha uma natureza incomum em seus efeitos, estes não são suficientes para corroborar explicações metafísicas a respeito de seres alienígenas, realidades paralelas ou mundos alternativos.

Em um artigo para a conceituada revista "Psychology Today", Scott McGreal, chamou tal crença de "Misticismo Psicodélico" e escreveu:

 "De uma perspectiva puramente científica, a noção de que uma substância possa ser ferramenta para atingir outras realidades é difícil de ser aceita. A ideia de que existem reinos invisíveis habitados por entidades conscientes que não podem ser detectadas por métodos empíricos, mas que podem ser percebidas por estados alterados da química cerebral é difícil de ser reconciliado com a ciência moderna. Strassman expressa uma crença mais geral que eu costumo categorizar de "misticismo psicodélico". Esta é a crença de que drogas psicodélicas como o LSD e o DMT podem alterar estados da realidade. Por exemplo, ver além de um véu e enxergar o tempo, o espaço e o próprio universo de uma maneira diversa do que estamos habituados".

Mas apesar das críticas, muitos estudiosos acreditam que o DMT seria a chave para ir além das fronteiras de nossa percepção. O estudo de substâncias como o DMT ainda requer muitas pesquisas e investigação e inúmeras teorias continuam sendo levantadas para explicar seus efeitos. Alguns teóricos sugerem que as entidades não-humanas seriam personificações de aspectos da mente humana imaginados como seres vivos. Há ainda os que acreditam serem estas criaturas a reflexão de componentes espirituais de nós mesmos, projeções de nosso subconsciente universal ou até guias espirituais colocados ali para nos ajudar na transição de nossa percepção. 


O que não faltam são noções estranhas...

As teorias mais bizarras, no entanto, são aquelas que qualificam estas entidades como seres alienígenas ou inter-dimensionais que se vêem atraídos pela entrada de mentes humanas em seu reino. Segundo essas teorias, tais entidades sobrenaturais seriam os habitantes desses reinos que existiriam além, criaturas independentes cuja inteligência e propósito nós podemos apenas supor. Para as tribos primitivas que há séculos utilizam a Ayahuasca eles seriam espíritos, fantasmas, deuses, demônios e seres nativos de esferas distantes, muito superiores aos humanos.

Talvez existam maneiras de obter evidências científicas da existência dessas entidades habitando um lugar separado. Experimentos conduzidos nesse sentido tentam traçar um paralelo entre as diferentes experiências de indivíduos que encontraram essas criaturas após o uso de DMT. O testemunho detalhado de indivíduos e a utilização de diários onde são registradas as experiências individuais de cada pessoa permitem uma comparação de elementos similares, conexos e consistentes entre si.

Não é surpresa que drogas psicoativas e psicodélicas possam provocar poderosas alucinações, e de fato, é exatamente por isso que elas foram usadas por inúmeras culturas ao redor do mundo para propósitos místicos. Há registros de drogas similares sendo usadas pelos aborígenes da Austrália para viagens extra-corporais, no Tibet para comungar com os Tulpas e no Oriente Médio para realizar previsões do futuro. Tribos na América do Sul usavam drogas alucinógenas para promover curas mágicas e elas estavam presentes na África como narcóticos místicos usados em rituais de passagem - jovens só chegavam a idade adulta depois de visitar o mundo espiritual. Pagés da Amazônia usavam certas ervas misturadas em uma beberagem para empreender "jornadas espirituais" nas quais comungavam com deuses e assim ficavam sabendo dos grandes segredos do universo. O saber ancestral registra uma infinidade de tradições místicas nas quais drogas tinham enorme importância.

Mas qual será a verdade a respeito dessas substâncias?

Será que o fenômeno das experiências com DMT apontam para algo que escapa de nossa percepção convencional. Será possível que essas substâncias podem mesmo "abrir as portas para o outro lado" e nos permitir extrapolar nossas percepções?

No final das contas, parece aceitável dizer que alguma coisa de fato acontece quando tais substâncias entram na nossa química cerebral. As narrativas de mundos mágicos e criaturas fantásticas são muito frequentes para serem afastadas como mera coincidência. O que elas representam e se realmente são seres vivos ou tão somente alucinações incrivelmente vívidas, continua sendo um mistério de difícil solução. O debate continua aberto, pesquisadores talvez um dia possam oferecer uma resposta a respeito dos estranhos efeitos dessas substâncias e nas suas alegadas propriedades de permitir ver além.

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