sábado, 28 de julho de 2018

Algo Bizarro na Etiópia - Os Mortos (ainda) não estão voltando


Coisas esquisitas acontecem diariamente...

Basta dar uma olhada nas notícias e acabamos encontrando pequenas cenas dantescas, notícias perturbadoras e incidentes bizarros que terminam por corroborar aquela noção de que o mundo real é bem mais estranho do que a mais fantástica ficção. 

Tomemos por exemplo o pequeno drama que ocorreu na Etiópia semana passada e que foi noticiado em alguns veículos de informação sem receber muito destaque. É o tipo de coisa que muitas vezes passa desapercebido, mas que quando pensamos a respeito, acaba se convertendo em um daqueles instantes em que uma pequena janela de estranheza se abre e podemos contemplar o quão estranho é esse mundo.

A notícia em questão diz respeito a um alegado Necromante que foi preso depois de tentar reviver um cadáver usando seus "poderes mágicos" e uma alegada "influência sobre a vida e morte".

A bizarra história teve lugar na pequena cidade de Galilee na região de Oromia na Etiópia Ocidental. De acordo com um correspondente da BBC e um médico servindo ao Programa Médicos sem Fronteiras que testemunhou tudo, um alegado aspirante a Profeta chamado Getayawkal Ayele, popular na região foi o pivô dos acontecimentos. Ayele ganhou fama nos últimos anos realizando milagres e promovendo misteriosas curas através do uso de suas habilidades mágicas. O homem teria curado várias pessoas apenas pousando sobre elas suas mãos que segundo rumores produziam um calor e brilho capazes de aliviar aflições, mitigar dores e fazer doenças mortais reverterem e por vezes, desaparecerem por completo. Entre os milagres promovidos por Ayele estaria a cura total de homens e mulheres sofrendo de AIDS e até mesmo câncer terminal.

A primeira vista, Ayele é apenas mais um curandeiro itinerante, como muitos em países africanos, que perambulam entre as cidades e vilas, oferecendo seus serviços. Muitos povos na África ainda se apegam às crenças antigas de que doenças e males são causados por espíritos malignos e forças negativas que se instalam no corpo das pessoas. Esses curandeiros tribais são portanto uma mistura de médicos e exorcistas, que se especializam em afastar essas forças e assim salvar a vida dos que são afligidos por eles.

Passando pela região de Oronia, Ayele ficou sabendo que na pequena Galilee uma família importante havia perdido seu patriarca algumas semanas atrás, Belay Biftu, que era muito admirado por todos e que havia sido governador daquela província.


O Curandeiro seguiu para Galilee depois de supostamente experimentar uma visão na qual compreendeu que a morte de Biftu havia ocorrido antes do tempo e que ele ainda tinha uma importante missão a ser realizada em vida. A visão era bastante clara e algo precisava ser feito para que ela fosse cumprida. Ayele seria o agente de um novo e incrível milagre: A Ressurreição de Belay Biftu.

A caminho de Galilee, muitas pessoas ouviram falar a respeito do que o Curandeiro tentaria realizar e imediatamente se tornaram Seguidores de Ayele. Acreditavam que testemunhariam um incrível milagre largaram tudo: família, trabalho, obrigações para segui-lo.

A história ganhou força, sendo noticiada em jornais, rádio e televisão, logo uma multidão seguia Getayawkal Ayele em uma verdadeira peregrinação até o vilarejo de Galilee.

Ao chegar lá, a família de Belay Biftu pediu que a polícia intercedesse e dissipasse a multidão que acampou em frente a casa onde viviam. Queriam permissão para exumar o cadáver de Biftu, enterrado em um túmulo no cemitério local. A família, é claro, não estava tão confiante quanto a multidão de que o milagre era possível e a princípio não deu autorização para que os restos de seu parente fossem perturbados.

Mas de nada adiantou!



A multidão estava convicta de que aquilo era algo que precisava ser feito e não havia como dialogar com a massa de pessoas. O grupo seguiu para o cemitério de Galilee onde começou a escavar a sepultura usando pás, ferramentas e as próprias mãos. O caixão contendo os restos do morto ilustre foi retirado da cova e aberto para que todos pudessem constatar que ele realmente estava morto. Três semanas sob a terra haviam deixado o cadáver em estado lastimável. O cheiro de decomposição era terrível e parte de sua face havia revertido a uma caveira. Mesmo assim o Curandeiro parecia confiante. Aplaudido, encorajado e incentivado pela multidão ele se aproximou do cadáver putrefato e pousou sobre ele as mãos como sempre fazia. 

"Belay Biftu, eu estou aqui para trazê-lo de volta à vida! Retorne!" Disse, primeiro em um tom baixo como se estivesse sussurrando para o defunto. 

As pessoas se acotovelavam e observavam curiosas ao redor. Muitos choravam e se postavam de joelhos. 

"Belay Biftu! Volte a viver!" ele insistiu novamente.

As pessoas continuavam convictas em sua crença, afinal, o Profeta havia prometido ser capaz de operar o definitivo milagre - o Retorno dos Mortos! Mas logo ficou claro que Biftu não era Lázaro, e menos ainda Ayele, era Jesus.


O curandeiro então saltou sobre o cadáver, se colocou sobre ele gritando em sua face de caveira. Abriu sua boca e soprou no interior dela, ergueu suas mãos para tentar reanimá-lo, enfurecido levantou os braços para o céu como se estivesse conjurando as forças do Céu e da Terra... mas nada aconteceu!

Um vídeo do incidente foi feito, nele Ayele aparece deitado sobre o cadáver exumado enquanto ordena a ele que "Acorde e viva novamente" várias e várias vezes. Na filmagem, é possível ver parte da multidão com pás e picaretas nas mãos aguardando nervosamente. De acordo com testemunhas que estiveram presentes durante o ritual muitas pessoas desmaiaram e começaram a se sentir mal. Outras, no entanto, simplesmente começaram a ficar furiosas com o espetáculo, em especial os parentes do falecido. 

Quando ficou claro que o milagre não aconteceria, a população se voltou contra o curandeiro e nesse momento a polícia teve de interceder para que ele não fosse atacado pela multidão. Ayele escapou por pouco, se não fosse a polícia que o levou sob custódia, ele teria sido linchado.

Embora a história possa parecer absurda e bizarra, ela é um bom exemplo de até onde indivíduos que se auto proclamam Profetas ou líderes religiosos estão dispostos a ir para atrair seguidores. Ela também mostra que as pessoas estão dispostas a tudo para acreditar que forças superiores podem derrotar a morte de uma vez por todas. Ao longo da história, diferentes culturas e povos foram fascinados pela ideia de reviver os mortos seja por intermédio de forças sobrenaturais, rituais de magia, necromancia ou por intermédio da ciência e tecnologia. Enquanto cientistas acreditam que em breve seremos capazes de digitalizar a consciência humana e isso permitirá transplantar a mente para outros corpos mais resistentes (e imortais), será que isso realmente poderá ser chamado de vida? Verdadeira imortalidade, a habilidade de enganar a morte enquanto ainda estamos habitando o corpo, permanece como um truque que ainda não conseguimos realizar.

Será que ainda conseguiremos superar a maior e mais antiga das barreiras da natureza? Aquela que nos dita que tudo que nasce, um dia morre? Se isso for possível, provavelmente não será alcançado simplesmente gritando na face de um cadáver putrefato.

Esse é um mundo estranho, meus amigos, mas cadáveres (ainda) não despertaram.

2 comentários:

  1. Talvez o ponto mais interessante é o fato de que a multidão ao não se ver realizada pelo feito bizarro, se volta com violência contra o profeta que eles tanto admiravam.

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