Em 1761, o magnífico navio britânico de três mastros, o Octavius deixou o porto de Londres. Seu objetivo era empreender uma longa jornada com destino final na China. Era uma viagem demorada, perigosa e extremamente lucrativa para seus proprietários. Tais viagens quando bem sucedidas rendiam uma fortuna para empresários e marinheiros envolvidos.
A viagem transcorreu rotineiramente com a tripulação de experiente homens do mar trabalhando a contento. Além dos marinheiros, o Octavius se tornou o lar para a esposa e o filho do capitão que viajavam com ele. Sete meses após sua partida da Inglaterra, a embarcação chegou ao seu destino e desembarcou sua carga, sendo preparado quase que imediatamente para retornar levando consigo provisões, chá e porcelana.
Contudo, havia um plano em curso, um que levaria o Octavius e sua tripulação a ruína e escreveria seu nome na lista dos maiores mistérios náuticos de todos os tempos.
Os proprietários do Octavius haviam obtido mapas e cartas náuticas, realizaram pesquisas e consultaram o clima que oferecia condições ideias de navegação. Decidiram realizar uma audaciosa missão de exploração com o ambicioso objetivo de provar a existência da Passagem Noroeste. Na época, essa era uma lendária rota marítima que supostamente ligaria o Atlântico ao Pacífico através do Oceano Ártico. Sua descoberta ofereceria um caminho mais curto que permitiria chegar a Ásia quase como num atalho.
Contudo, até aquela data, a existência da Passagem Noroeste não passava de uma suposição, repousando no campo da teoria pura e simples. Ninguém havia tido sucesso em provar sua existência e muitos exploradores que haviam buscado sua localização, tinham falhado. Falhado e morrido.
Acredita-se que o capitão e a companhia a qual ele servia tivessem em seu poder alguma pista da localização da Passagem Noroeste. Apenas isso explicaria o motivo pelo qual eles estavam dispostos a correr tamanho risco. O Octavius era um navio bem aparelhado, levava a bordo o que havia de mais moderno em tecnologia naval à época. Além disso, contava com uma tripulação e capitão extremamente experientes. Ainda assim, era uma tremenda aposta. Impetuoso, o Octavius investiu rumo às águas geladas do Oceano Ártico em uma corrida para completar a viagem. Ele singrou para o norte e avançou rumo ao desconhecido para se tornar uma lenda dos Sete Mares.
A Passagem Noroeste era notoriamente traiçoeira, coberta de gelo em grandes extensões, com imensos icebergs ocultos pelas águas turbulentas. Tampouco era mapeada, um dos motivos pelos quais ninguém jamais conseguiu atravessá-la. Contudo a tripulação do Octavius apostava nas condições favoráveis, no verão ameno e em sua experiência para ter êxito onde tantos falharam. Seriam os pioneiros e como tal ganhariam fama e fortuna. Todos os preparativos foram feitos, traçaram um curso e partiram para o grande desconhecido, mal sabiam que a embarcação estava prestes a sair da face da terra. A última vez que alguém a viu foi na forma de uma silhueta desaparecendo no horizonte. O Octavius jamais chegou a Londres e, a medida que o tempo passava, presumiu-se que ele havia encontrado seu destino final no gelo eterno.
Mais de uma década depois, em outubro de 1775, um navio baleeiro chamado Herald que estava caçando nas águas geladas da Groenlândia se deparou com uma visão assustadora. Ao longe avistou uma embarcação que parecia navegar sem rumo. Quando o Herald se aproximou, puderam constatar que não havia ninguém no convés e que o navio parecia ter sido abandonado, apesar de aparentar estar em bom estado, ainda que coberto de gelo e com as velas reduzidas a farrapos. Apesar do desgaste natural, o navio estava em condições razoáveis. Ao se aproximarem e examinar o misterioso navio fantasma, eles foram capazes de deduzir que se tratava do Octavius, há muito perdido, o que deixou a tripulação perplexa. Onde ele esteve todo aquele tempo? O que aconteceu com a tripulação? Por que desapareceu? Os marinheiros no Herald pretendia descobrir e para tanto, enviaram um grupo de cinco homens para investigar mais a fundo.
Quando o grupo de embarque subiu cautelosamente no Octavius, ouviam apenas o som do vento cortante e das ondas batendo na lateral do navio sem rumo. Chamaram pessoas à bordo, mas tiveram apenas silêncio como resposta. Parecia não haver ninguém ali há muito tempo. Caminhando pelo convés rangente e castigado pelos elementos, eles não acharam viva alma. O gelo luzia brilhante no tombadilho. Se prepararam então, para penetrar no interior sombrio, iluminando o caminho com lanternas que emitiam luzes bruxuleantes diante da escuridão indevassável. Enquanto avançavam pelo interior escuro, fizeram uma descoberta macabra, a primeira entre muitas: um homem estava congelado em seu aposento, aparentemente como se tivesse simplesmente deitado e dormido. Fragmentos de gelo cobriam sua barba e brilhavam na luz fraca.
Investigando ainda mais o navio perdido, encontramos mais e mais corpos congelados, todos perfeitamente preservados como insetos presos em âmbar, parecendo assustadoramente como se tivessem sido simplesmente congelados de repente no tempo e no espaço enquanto cuidavam de suas atividades diárias. Um homem rachava lenha quando sentou e ali ficou pela eternidade, outro estava observando por uma escotilha - também havia congelado feito estátua no lugar. Toda a tripulação, composta de 28 homens foi encontrada nestas condições absurdas. Nenhum homem, cede aos rigores da hipotermia sem tentar se salvar. Trata-se de uma morte terrível e aqueles que a enfrentam por instinto tentam lutar com ela da forma que podem. Mas aqueles homens, pareciam ter simplesmente se conformado com seu destino e se entregado à morte. Se isso já não fosse suficiente apavorante, tudo ficaria ainda mais estranho a medida que se aproximaram da cabine do Capitão.
Quando a equipe de embarque adentrou o aposento, puderam ver que alguém parecia estar sentado à mesa, tão real que eles pensaram estar vivo. Logo descobriram pelo uniforme impecável que era o capitão, totalmente congelado da mesma forma que o resto da tripulação. Sua mão rígida ainda segurava uma caneta que pairava sobre o diário de bordo do navio, acima de uma anotação datada de 11 de novembro de 1762. O restante da sala estava totalmente em ordem, o tinteiro e uma xícara de chá cuidadosamente pousados sobre a mesa. Nada estava fora do lugar, e tudo passava a sensação assustadora de que aquele homem simplesmente havia congelado naquela posição. Era como se um frio intenso e repentino o tivesse envolvido, transformando-o em uma estátua de gelo num piscar de olhos.
Ainda mais assustador do que isso foi a descoberta sombria de sua esposa e filho, os dois igualmente congelados enquanto enrolados em um cobertor no beliche. A criança com os olhos fechados, aninhada no colo da mãe que a acalentava com uma expressão serena de tranquilidade. Haviam simplesmente deitado ali e dormido? Teriam cedido a hipotermia de bom grado?
Uma olhada no diário de bordo mostrou que a última posição registrada pelo Octavius foi ao norte de Utqiagvik, no Alasca, cerca de 400 quilômetros ao norte de Barrow, mas não havia mais informações sobre o que havia acontecido com o navio depois disso. Tudo o que se sabia era que, considerando o local onde foi encontrado, o navio afinal havia conseguido atravessar pela Passagem Noroeste, quer alguém estivesse vivo ou não.
A tripulação do Herald ficou tão assustada que decidiu partir, e esta seria a última vez que alguém veria o Octavius. Desde então, seu destino é desconhecido. A principal teoria é que o navio ficou preso no gelo enquanto tentava fazer sua malfadada passagem pela Passagem Noroeste, posteriormente livrou-se naturalmente graças ao degelo e singrou solitário por alguma passagem quase que por milagre. Mas isso pouco explica por que a tripulação foi encontrada tão perfeitamente congelada, sem qualquer sinal de caos ou pânico a bordo.
Infelizmente, o navio nunca mais foi visto, apesar das tentativas de grupos de busca e resgate de encontrar qualquer sinal dele. Por conta disso não há como saber exatamente o que se passou com ele e com sua tripulação. Os marinheiros do Herald levaram consigo alguns poucos itens de bordo para provar a sua história, mas não conseguiram recuperar o diário, congelado que estava sobre a mesa. Marinheiros são supersticiosos, e os cinco que foram à bordo quiseram voltar o quanto antes.
A trágica história do Octavius tornou-se lendária e foi recontada com detalhes levemente alterados ao longo do tempo, embora a premissa seja sempre a mesma, com os mesmos elementos surreais da tripulação e do capitão congelados como se estivessem no meio de fazer tarefas diárias. Há pouca corroboração real e concreta sobre o incidente, e a história do Otávius passou para as fronteiras do mito e da lenda.
As circunstâncias exatas e detalhes permanecem perdidos no tempo, encapsulados em gelo.
Boa Noite. Gosto imensamente das postagens feitas por vocês. E como tudo que é bom sempre é escasso sigo ansioso por mais informações de tão rico labor.
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