domingo, 3 de agosto de 2025

Mesa Tentacular: Aurora Blue no Evento Lendas da Taverna em Porto Alegre

No mês passado, dia 12 de Julho, rolou a primeira edição do Lendas da Taverna em Porto Alegre.

O evento de RPG contou com a presença de várias lojas especializadas em cultura geek/nerd, expositores, criadores de conteúdo e é claro, fãs de RPG. Além disso, várias mesas de RPG animaram o encontro que aconteceu no ginásio do Clube São José.

Foi um daqueles eventos raiz, como os de antigamente, "sem frescura". O pessoal chegava, se informava sobre as mesas disponíveis, se inscrevia, sentava, jogava e se divertia.

Muito bom ainda ter eventos assim!

E pela reação de todos que passaram por lá, essa será a primeira de muitas!

Aproveitei a ocasião para narrar uma Mesa Tentacular e foi uma oportunidade muito legal de conhecer novos jogadores, apresentar e eles Chamado de Cthulhu e espalhar as sementes da Loucura.

O cenário escolhido foi AURORA BLUE, uma aventura da excelente antologia No Time to Scream.

Em Aurora Blue, os investigadores assumem o papel de agentes do Departamento do Tesouro em 1931. Eles recebem ordens de capturar um contrabandista de bebida ilegal chamado Jacob Beaker que produziu um lote adulterado de gin chamado Aurora Blue. A bebida causou mortes em Chicago e o governo quer Beaker detido e processado. O problema é que ele se refugiou em uma fazenda isolada no Alasca está escondido nesse lugar. Apesar das dificuldades ocasionadas pelo clima severo, não parece ser uma missão muito complicada para quatro agentes treinados e experientes.

Mas aí é que o grupo se engana.

O que parecia uma missão simples de captura e escolta se torna uma luta pela sobrevivência em u ambiente hostil e com a presença de algo terrível e sobrenatural espreitando na paisagem gelada.

Aurora Blue é daquelas histórias com a premissa aparentemente simples, mas que esconde um Horror Cósmico intrincado. Um mergulho num pesadelo tenebroso (e extremamente divertido de se jogar).

Seguem algumas imagens do jogo que foi muito legal!

Recursos do Cenário:


As fichas dos personagens nessa história. Dois detetives que trabalhavam para o Departamento do Tesouro, um Contador especializado no Ato Volstead (Lei Seca) e uma ambiciosa Promotora de Justiça.


A imagem de alguns suspeitos e a pasta com os dados e documentos do Departamento do Tesouro.


A ficha do perigoso Sr. Jacob Beaker


As Informações do Bureau de Investigação.


Dois perigosos Comparsas de Jacob Beaker


Mais algumas pistas e documentos importantes


Desenhos feitos por uma criança narrando um estranho fenômeno no Alasca.


Os mapas da Cabana e arredores da Fazenda de Beaker


Fotos da Mesa:


A jogo foi no Ginásio Atlético do Clube São José


Aquela bagunça típica na mesa de jogo


O pessoal que jogou pouco antes do massacre. Foram quatro jogadores nessa sessão.


Os jogadores discutindo como agir e qual será o plano para entrar na fazenda e capturar sua presa.


E terminado o jogo, entre insanos, feridos e mortos, teve bastante diversão. Ótimo grupo, todos tendo a sua primeira experiência em Chamado de Cthulhu. Espero que tenham gostado.


E a tradicional fotografia com o placar da sessão. Dois mortos, um severamente ferido (e cego) e uma sobrevivente.

Então é isso!

Grande evento, jogo animado e muita diversão!

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Fome sem Fim - Como um inverno causou canibalismo em massa na era medieval

Canibalismo em massa parece algo saído de historias de terror e não da historia real. Contudo, um inverno particularmente severo na era medieval deixou muitos questionamentos em aberto sobre o tema e poucas respostas.

Por mais que queiramos nos dissociar dessa ideia atroz, os rumores sobre o que aconteceu naquele inclemente início do século XIV, jamais será esquecidos e segue nos assombrando. A tragédia deixou um lembrança amarga que marcou a Europa para sempre.

O que dê fato aconteceu nesses anos congelante e que as pessoas preferiam não falar a respeito? Seriam os rumores murmurados verdadeiros? Teria esse sido um dos piores anos da humanidade coo dizem alguns cronistas?

Para entender como as coisas aconteceram, temos de voltar no tempo até o distante ano de 1320. Aquele foi um ano que se iniciou como qualquer outro na Europa continental, ao menos até a natureza aparentemente se revoltar e parar de oferecer alimentos para a sobrevivência da população. 

O que se iniciou com chuvas fortes fora da estação, progrediu para enormes enchentes de proporções nunca antes vistas. As inundações se provaram um verdadeiro desastre: mudaram o curso de rios e áreas ribeirinhas foram consumidas por uma torrente de água que arruinou a agricultura. Campos de cultivo viraram um lamaçal,  plantações morreram inundadas e silos de estocagem foram destruídos por completo. O Verão, Primavera e Outono foram marcados por chuvas torrenciais que pareciam não ter fim. Como o Dilúvio bíblico, a Europa se viu de baixo da água.

Para piorar os anos anteriores também haviam sido de escassez e as reservas de alimentos estavam perigosamente baixas. Quando as chuvas começaram a amainar, os fazendeiros se viram a diante da horrenda constatação de que suas reservas de alimento para enfrentar o rigor do inverno estavam muito abaixo do necessário. De fato, em breve não haveria o que comer.

As fazendas ainda tentavam se recuperar do catastrófico ano de 1316 que resultou em colheitas insatisfatórias e em um período de fome sem precedente. Contudo, o que viria a seguir era muito pior, muito mais perigoso e terrível.

Muitos fazendeiros foram obrigados a abater seus animais após fazer as contas e constatar que não haveria como mantê-los ao longo da estação mais fria do ano. Simplesmente não tinha como alimentá-los. Contudo, a única maneira de conservar a carne também se tornou dispendiosa, já que as enchentes alagaram as minas de sal. Com efeito, sal passou a valer tanto quanto ouro, um recurso que a maioria não podia pagar.

Os grãos estocados começaram a apodrecer por conta da umidade, assim como a lenha usada para alimentar os fornos e fogueiras. Logo, o pão atingiu um preço nunca antes visto, custando mais do que uma pessoa recebia em uma semana. A fome começou a se espalhar com enorme rapidez. Vilarejos e aldeias foram se esvaziando, com a população vagando sem destino em busca de um lugar menos depauperado. Infelizmente, constatavam que a tragédia havia atingido todas as regiões vizinhas. A fome era geral, o desespero completo!

Quando o estômago começou a reclamar, e nada havia para aplacar o vazio as pessoas recorriam a qualquer coisa que pudesse aplacar a sensação. Isso os levava a comer coisas que jamais considerariam anteriormente. Grama, embora rara, se tornou uma opção viável quando fervida em um caldeirão numa massa verde e insossa. Madeira de Árvore também era fervida ou transformada em sopa. Ossos de animais que já haviam sido descartados ganhavam uma segunda chance, moídos e dissolvidos em água fervente para virar um cozido ralo. Até itens de couro se tornaram alimento emergencial, com cintos, luvas e mesmo sapatos sendo fervidos até amolecer e poderem ser comidos.

Cães, gatos e ratos se converteram numa ração necessária para sustentar famílias inteiras. O sangue de cavalos era drenado e misturado a qualquer alimento para dar algum gosto. Pombos e pássaros silvestres eram capturados e assados inteiros, nem mesmo as penas eram desperdiçadas. A ordem do dia era conseguir qualquer fonte de proteína. Fungos e liquens podiam ser raspados de pedras indo direto para a panela. Ate mesmo lama e barro cozido podia ser comido na esperança de absorver alguns minerais. 

O desespero e carestia fez com que o pior aflorasse endurecendo o coração de pais e mães que abandonavam seus filhos à própria sorte. As crianças mais fortes eram escolhidas, as que aparentavam fragilidade não tinham tanta sorte.

Mas mesmo essas medidas desesperadas não foram suficientes para algumas pessoas e limites que geralmente não são cruzados por constituir tabus ancestrais acabaram sendo ultrapassados.

Registros de cortes de justiça desse período contam historias que parecem inacreditáveis. A fome conseguiu empurrar as pessoas além de todas as fronteiras morais e éticas pelas quais elas viviam até então. O sistema legal começou a documentar crimes que ninguém poderia prever, quanto mais categorizar e menos ainda julgar. Havia casos de pais que cozinharam e devoraram seus próprios filhos. Juízes tinham de lidar com famílias que estavam literalmente morrendo de fome e que escolheram sacrificar alguns dos seus para que outros sobrevivessem. 

A justiça da Alemanha condenou uma mulher por matar e transformar os restos do marido em carne moída para a vizinhança. Um mercado de carne de procedência duvidosa supostamente de porco, começou a operar no submundo de Bremen. Alguns se perguntavam que carne era aquela, outros preferiam não saber. Vilarejos em Flandres reportaram o desaparecimento de pessoas e mesmo em Paris, na calada da noite, mendigos sumiam em vielas escuras. Ao mesmo tempo, o açougue local recebia um misterioso estoque de carne que chegava sem ninguém saber de onde vinha.

Ate mesmo os corpos de prisioneiros executados, orgulhosamente pendurados em muros ou postes, sumiam de madrugada. Mesmo os mortos não podiam descansar em paz já que cemitérios eram constantemente escavados por ladrões famintos. Crônicas da Dinamarca e Países Baixos atestam que cemitérios eram constantemente vasculhados em busca de mortos recentes. Algumas pessoas eram contratadas para vigiar os mortos ou parentes devotos ficavam de prontidão. Ainda assim, cadáveres sepultados recentemente seguiam sumindo. Os corpos duros e emaciados eram carregados para as casas, esquartejados e fervidos em potes e caldeirões. 

As florestas e matas eram uma espécie de campo de caça para camponeses famintos que vagavam aos bandos cercando e perseguindo grupos menores que cruzasse seu caminho. As turbas de canibais se multiplicavam. Os ladrões habituais de beira de estrada passaram a visar mais do que objetos e posses, eles desejavam a carne de suas vítimas.

A maior parte dos casos de canibalismo ocorriam depois de os recursos se exaurirem por completo e pelo menos um membro da família morrer de inanição. A maioria das comunidades tentava recorrer a outros métodos antes de abraçar o canibalismo, afinal essa não era uma decisão fácil. Nessa época, estranhos ou forasteiros corriam enormes riscos ao viajar para lugares onde não eram conhecidos. Eles podiam afinal, serem convidados a ficar para o jantar, sem saber que seriam o prato principal.

Curiosamente, a Grande Fome atingia a todos, ricos e pobres, nobres e plebeus. De nada adiantava ter ouro e tesouros, se estes não podiam comprar nada. Alguns se tornavam predadores, outros se convergiam em presas. Órfãos, velhos e prisioneiros eram alvos prováveis, pois não haviam muitas pessoas dispostas a protegê-los da sanha faminta das multidões. Se eles desapareciam, ninguém dava pela falta. Algumas aldeias da Normandia organizavam ceias nas quais a origem do alimento oferecido não era questionada. Ao mesmo tempo, masmorras e orfanatos eram esvaziados da noite para o dia. A regra era não discutir, aquilo que não valia a pena discutir.

Igrejas e monastérios conseguiam lidar um pouco melhor com a situação pois muitos possuíam despensas cheias de anos anteriores. Mas quando a população descobria esses depósitos ocultos, muitas vezes se iniciava uma revolta e saque. A devoção religiosa diminuía com a fome. As instituições europeias não estavam preparadas para lidar com a gravidade da situação e não conseguiram reagir a tragédia. Líderes religiosos eram questionados por uma solução para o sofrimento. O Papa declarou que a Grande Fome era uma punição divina pelos muitos pecados cometidos pela humanidade. Padres sugeriam que se rezasse e jejuasse, quando o problema era justamente a falta do que comer. Era como prescrever dieta para quem já estava faminto.

Os Reis descobriram que sua autoridade de nada valia, quando os exércitos minguavam e as estradas se transformavam em um caos. Mesmo os monarcas mais poderosos da época não podiam criar comida do nada. Silos de estocagem acabaram sendo pilhados e preciosos grãos levados pela população, o que motivou a defesa desses lugares por tropas implacáveis. Qualquer um que fosse pego roubando grãos podia ser executado imediatamente. Essa foi a época em que leis encaravam roubar pão ou abater um gamo, motivo para enforcamento.

Revoltas ocasionadas por fome se tornaram cada vez mais comuns pela Europa à fora. As leis se derreteram e a obediência civil com ela. O ódio pelos ricos - que supostamente escondiam comida, se tornou endêmico e plantou as sementes de futuras revoltas de camponeses. Nem a Igreja católica escapava da fúria do povo.

Eventualmente a longa provação do inverno passou e as chuvas diminuíram trazendo uma primavera mais amena, ainda assim, os profundos traumas deixados por esse terrível ano não foram esquecidos facilmente. O temor de que isso voltasse a acontecer fez com que o cotidiano medieval fosse alterado para sempre. Antes havia um receio quanto a passar fome, agora havia um terror paupavel de tal coisa voltar a acontecer. Conselhos municipais exigiam que impostos fossem usados para comprar rações emergenciais que estivessem disponíveis para o inverno seguinte. Agricultores foram forçados a usar métodos de revezamento do solo e promover a estocagem de grãos.

Centenas de vilas foram abandonadas e jamais foram reconstruídas e a sensação de que as cidades grandes lidaram melhor com a crise motivou uma enorme evasão dos campos inflando os centros urbanos com mais e mais gente. 

O folclore medieval incorporou dezenas de fábulas populares à respeito de crianças atormentadas por bruxas famintas dispostas a lançá-las em seus caldeirões e transformá-las em refeição. Muitas dessas historias aterrorizantes se originaram durante a Grande Fome, mas acabaram sendo disfarçadas como parte do folclore local. Em seu íntimo, as pessoas sabiam que não havia encanto na fábula de João e Maria.

A Fome se Fim, como ficou conhecido o período mostrou como o senso de preservação pode se impor aos dilemas éticos. A sociedade humana parece ser bem mais frágil do que imaginamos quando colocada face a face com o impensável. Só podemos esperar que tal provação não venha novamente.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Lugares Estranhos: Bonehenge - O Círculo de Ossos de Mamute na Sibéria


Imagine se for capaz...

Em uma noite gélida nas estepes siberianas luzes de tocha iluminam a noite escura. O bater ritmado de tambores ecoava pela plácida taiga coberta de neve. No firmamento, na abóboda celeste luzes do norte se formam maravilhando os observadores com suas luzes azuis-arroxeadas.

Homens de aspecto rude, cobertos de peles para se proteger do clima gélido se aproximam em reverência. Eles vem de longe, de terras distantes atravessando distâncias consideráveis em uma época em que não existem estradas, mapas ou marcos. Eles vem com o objetivo de se reunir para uma festividade, uma celebração e um ritual ancestral que honrava os Deuses esquecidos de uma época primitiva.

Muitos traziam oferendas: peles, animais, totens e principalmente presas de marfim. Essa era a maior das oferendas, as presas dos poderosos mamutes que um dia marcharam pelas planícies em rebanhos imensos. Animais que se tornavam cada vez mais raros, mas que um dia caminharam fazendo o solo tremer sob o seu peso.

Os homens eram caçadores, eles portavam lanças, facas e machados talhados em pedra. Alguns dominam a recém descoberta técnica da arquearia que lhes dava a vantagem de matar à distância. Eles vinham de longe e quando avistavam seu destino caiam de joelhos extenuados. Muitos ouviram falar daquele lugar mas nunca viram a estrutura. Eles admiram sua grandiosidade e simbolismo místico, não há nada igual no mundo - mesmo as pirâmides do Egito apenas surgirão daqui a milhares de anos.

Após uma longa jornada, enfim eles chegaram ao Círculo de Ossos.


Essa misteriosa estrutura circular se encontra na atual Rússia, em uma região isolada conhecida como Korokov 11. Ela foi apelidada de Bonehenge, não apenas por ser incrivelmente antiga, mas por lembrar o famoso Stone Henge, o circulo de Pedras da Inglaterra. O Bonehenge foi construído por volta de 20.000 mil anos atrás, quando a humanidade ainda era jovem e tentava sobreviver às intempéries desse planeta hostil.

Mais conhecido como o "Circulo de Ossos", a estrutura central era formada por centenas de ossadas de animais de grande porte. Elas foram levados até lá e arranjada em um círculo que compõem uma das mais antigas estruturas construídas por mãos humanas.

Acredita-se que a construção do círculo tenha se iniciado durante a última Era do Gelo, ela foi erguida por tribos de Caçadores-Coletores do Paleolítico. Nesse período da historia, a temperatura despencou para -20º com nevasca e gelo constante cobrindo a paisagem. De fato, o Círculo foi erguido durante o auge da Era do Gelo, quando o frio era mais intenso. Este período compreendeu entre 70 mil e 20 mil anos anos e foi um dos mais severos para a manutenção da humanidade. Francamente, é notável que a raça humana tenha conseguido perseverar diante de tamanha provação.

O Dr. Alexander Pryor, um Arqueólogo Paleolítico da Universidade de Exeter liderou o estudo do local e falou a respeito do severo ambiente que as pessoas enfrentaram. 

"As pesquisas arqueológicas estão mostrando como nossos ancestrais conseguiram sobreviver em condições desesperadoras, num frio inconcebível e com enorme falta de recursos", ele prossegue "Na maior parte da Europa, em latitudes similares houve um grande êxodo em busca de áreas mais abundantes em comida, água e abrigo, contudo, o Círculo de Ossos é uma demonstração da capacidade de adaptação e sobrevivência do povo das estepes".


A estrutura mais antiga do círculo mede cerca de 20 metros de diâmetro e foi erguida inteiramente com ossos de Mamutes das planícies, o que inclui 64 crânios, 51 mandíbulas, além de quase 400 presas de marfim alinhadas como uma parede. Os ossos foram dispostos em uma estrutura mais ou menos redonda, parcialmente enterrada e unida com amarras. Mais ossos foram achados em seu interior bem como três enormes fossos escavados onde eram acendidas fogueiras.

Enquanto a maioria esmagadora dos ossos pertencem a Mamutes, há uma quantidade significativa de ossos de cavalos, renas, lobos, ursos e raposas do ártico, outros animais que dividiam a região com as tribos primevas. 

Ao redor dessa estrutura central maior existiam círculos menores, ao menos 30 deles, dispostos pelo perímetro formando o que seria uma espécie de comunidade ou vilarejo capaz de hospedar algo entre 400 e 600 indivíduos, garantindo a eles abrigo diante do rigor climático.

Além dos ossos, arqueólogos encontraram restos de plantas, madeira usada para as fogueiras, carvão e pedras talhadas. Os indícios sugerem que as estruturas serviam como uma espécie de alojamento para as tribos. A especialização de algumas estruturas surpreendeu os estudiosos que encontraram alojamentos que funcionavam como cozinhas comunitárias, depósitos, oficinas e até mesmo uma enfermaria primitiva onde eram estocadas ervas, raízes e plantas medicinais. Uma das oficinas produzia roupas, barbante e peles essenciais para a sobrevivência.

Além disso, eles encontraram evidências de ferramentas primitivas que são muito mais avançadas do que quaisquer outras achadas nesse período e nesse local. "É como encontrar uma sociedade organizada em meio a vizinhos primitivos que mal conheciam os rudimentos da confecção de roupas".


O mais notável, entretanto são as descobertas feitas no círculo maior de ossos exatamente no centro da comunidade. 

"É sensacional! Impossível não associar essa estrutura com algum tipo de templo religioso primitivo", comenta o Dr. Pryor. 

Os arqueólogos descobriram sinais inequívocos de que o lugar servia para reunir os participantes de cerimônias religiosas de suma importância. Além das fogueiras acesas em fossos, onde se preparava comida, a área central era usada para danças ritualísticas e cerimônias. 

O povo das estepes possuía um conjunto de crenças religiosas que só recentemente começaram a ser compreendidas. É provável que eles prestassem reverência a divindades naturais que eram representadas pelo sol, pela lua, pela terra e pelo fogo, além de forças espirituais na forma de animais totêmicos. De fato, escavações revelaram a existência de totens de quase 18 mil anos representando mamutes, lobos e renas.

"Estes povos apesar de primitivos possuíam crenças enraizadas em seus costumes e se reuniam nessa estrutura impressionante para honrar seus deuses, pedir a eles força e fartura na caça."

Pryor acredita que rituais eram executados no grande salão, com a iniciação de jovens caçadores e a união de tribos por laços de cooperação. 

A descoberta de ossos humanos carbonizados nas piras sugere que sacrifícios humanos para os deuses também era algo frequente no Círculo. Dentre as plantas medicinais foram achadas substâncias que provavelmente eram consumidas pelos participantes ou queimadas nas piras para criar efeitos alucinógenos. 


Restos de instrumentos de percussão, com chocalhos de ossos e tambores de pele completam o cenário de uma celebração ruidosa e espontânea. 

"Seja lá quais fossem os deuses e entidades que esses indivíduos cultivavam, não é exagero dizer que este era um grande centro de devoção. Ele atraía viajantes de terras distantes que provavelmente ouviam falar desse círculo de ossos. Eles empreendiam verdadeiras jornadas pelas estepes agrestes afim de conhecer o templo onde os deuses se manifestavam. Devia ser algo muito significativo comparecer a essas festividades".

Os sacerdotes tinham uma tradição xamânica e eram responsáveis por comunicar aos mortais a vontade divina. Após consumir doses maciças de substâncias alucinógenas, eles experimentavam visões proféticas que precisavam ser interpretadas. Eles também conduziam os rituais que muitas vezes envolviam violência e sacrifício. Os sacerdotes barbudos, cobertos de pele e com galhos de renas brotando dos cabelos, portavam clavas usadas para golpear os sacrifícios na cabeça. 

"As divindades totêmicas representavam forças da natureza primaz, que precisavam ser apaziguadas ou satisfeitas para permitir ao grupo prosperar. Não oferecer o sacrifício correto, era, aos olhos dos xamãs, um risco que poderia decretar a morte de todos".

Só podemos imaginar o teor desses rituais selvagens e alucinantes. Mas apesar da violência eles podem ter representado um fator de união que permitiu a essas tribos sobreviver em um ambiente inconcebível. 

Para as tribos que ainda hoje habitam a região de Korokov 11, as ruínas do velho Círculo de Ossos constituem um tabu. Seu folclore menciona que esse lugar foi tocado por deuses e espíritos selvagens e que estes uma vez invocados por ritos de seus ancestrais, jamais partiram. 


Os velhos que ainda mantém as tradições de seus antepassados falam de fantasmas e espíritos que vagam no limiar do real e imaginário. Há ainda a lenda do Monstro Labynkir, uma criatura feroz e incontrolável, fera gigantesca e poderosa que vagava pelos arredores devorando tudo que conseguia agarrar. 

O Labynkir possui uma origem medonha, como um espirito desencarnado que era trazido para o mundo contra duas vontade e forçado a possuir algum animal selvagem, tornando-o uma besta com implacável sede de sangue. 

"O folclore local é rico em todos tipo de criatura e monstro" diz o Dr Pryor que salienta "muitos deles com uma ordem extremamente antiga. Algumas lendas podem ter se originado milhares de anos atrás, sendo transmitidas de pais para filhos ao longo de gerações".

O Círculo também representava uma espécie de proteção contra essas feras terríveis, naturais e sobrenaturais, um lugar seguro em que as pessoas podiam descansar, honrar os deuses e pedir pela sua intercessão. Tudo isso em meio a um dos períodos mais dramáticos de nossa historia, quando o Circulo de Ossos era a única coisa entre a sobrevivência e a morte certa.

sábado, 19 de julho de 2025

Dicionário do Mythos de Cthulhu - Letra F de "Família Ferenczy"

 Família Ferenczy

Radicados na porção central da Transilvânia, na atual Romênia, a Família Ferenczy possui uma longa e infame tradição como feiticeiros, adoradores do demônio e cultistas de forças nefastas. A linhagem pode ser traçada até o século XI, tendo como ancestral mais antigo conhecido o Barão Radu Ferenczy, um nobre de estirpe germano-eslava que se fixou na isolada região de Halmagiu. Radu teria usurpado o título da família nobre que exercia domínio sobre essas terras, depois de servi-los por décadas. 

Os detalhes são incertos, mas supostamente foi um herdeiro de Radu, Faethor Ferenczy quem deu início a construção de uma Fortaleza que se tornou um bastião defensivo para o Vale de Nygori e os Cárpatos Meridionais. Os rumores dão conta de que Faethor foi o primeiro dos Ferenczy a se envolver com feitiçaria após desposar Drunila Vasilescu, sua prima e uma conhecida bruxa servil aos Mythos. Ela iniciou Faethor em tradições ancestrais e o persuadiu a venerar o Grande Antigo Nyogtha em troca de poder e influência.

Segundo cronistas do período, Drunila convenceu seu esposo a instituir uma espécie de loteria na qual os nomes de jovens camponesas que viviam nas aldeias próximas eram sorteados. Aquelas escolhidas pelo acaso eram levadas para servir na Fortaleza Halmagiu. Essas moças não eram mais vistas. As jovens eram sacrificadas em um altar subterrâneo na Masmorra da Fortaleza. Quando determinado número de sacrifícios foi atingido, Nyogtha consagrou o local como um Templo onde os mais pérfidos rituais de magia negra foram realizados.

Eventualmente uma revolta de camponeses destruiu parcialmente a Fortaleza e extinguiu por algumas décadas a cabala nefasta que a controlava.

Um novo Barão Ferenczy reclamou seu título em 1476, tornando-se o regente de Halmagiu e súdito de Stevan I da Hungria. Desta linhagem destaca-se Janos Ferenczy outro membro do ramo decaído subserviente aos Mythos de Cthulhu. Janos, considerado um vampiro e licantropo, ficou famoso pela crueldade e por enfrentar os turcos otomanos que invadiram a Romênia. Os prisioneiros eram sacrificados no mesmo altar profano erguido pelos seus antepassados na masmorra.

Os Turcos acabaram sitiando o castelo, Janos foi capturado e executado depois de ser tratado como feiticeiro. Na ocasião as centenas de ossadas encontradas nas câmaras do templo se tornaram prova incontestável do horror que lá se passava. A história de Janos Ferenczy persistiu até os dias atuais como uma lenda muito disseminada na região.

Séculos depois, outro homem assumiu o Castelo, alegando ser um descendente direto da linha sucessória dos Ferenczy. Ele iniciou uma nova linhagem de Barões que se manteve por aproximadamente duzentos anos e se tornou tão infame quanto as demais. Foi um destes nobres, supostamente Costandinus Ferenczy quem engajou extensa correspondência com o bruxo Joseph Curwen de Pawtuxet no século XVII. Supostamente ele também era membro dos Cavaleiros de Yog-Sothoth, uma fraternidade internacional de feiticeiros. Constandinus esteve envolvido na troca de restos humanos reduzidos a condição de sais essenciais e que podiam ser revividos através de ritos profanos, uma das atividades mais infames desse seleto grupo.

O último Barão Ferenczy foi convocado pelo governo romeno em 1947 para prestar contas à respeito de uma explosão que devastou a Fortaleza Halmagiu. Oficialmente a explosão foi causada por um acidente num depósito de munições utilizado na Segunda Guerra Mundial. Nos círculos de feitiçaria ativos no país alguns sugeriram que a explosão foi deflagrada por uma tentativa mau sucedida de invocar Yog Sothoth. O derradeiro nobre a carregar o nome Ferenczy cometeu suicídio numa prisão estatal no mesmo ano de sua prisão.

Acredita-se que ainda existam descendentes da linhagem original espalhados pelo Leste Europeu, alguns deles, do ramo não decaído, migraram para a Grã-Bretanha e Canadá em meados do século XX. 

Uma ilustração da Dolma de Nobres (Assembléia) com um Ferenczy no poder 

Um quadro do temido Barão guerreiro Janos Ferenczy

Um afresco nas paredes da Masmorra da Fortaleza de Halmagiu

A Fortaleza de Halmagiu em 1934

quinta-feira, 17 de julho de 2025

O Lado Obscuro da Corrida Espacial - Ordens Secretas, Rituais Bizarros e Sacrifícios Mortais


Seria seguro supor que o fator que levou a humanidade ao espaço foi puramente o método científico combinado com a engenhosidade humana. No entanto, de acordo com alguns pesquisadores, esse pode não ser exatamente o caso. Diversas pessoas – pesquisadores acadêmico, com argumentos convincentes – têm defendido que as origens do conhecimento tecnológico que levou a humanidade às estrelas reside em rituais ancestrais e comunicações ritualísticas estabelecidas com inteligências não humanas.

Basicamente esse conceito leva a teoria dos "Deuses Astronautas" a um novo patamar.

A Dra. Diana Walsh Pasulka, professora de estudos religiosos na Universidade da Carolina do Norte em Wilmington, fez algumas afirmações notáveis sobre conexões entre encontros com inteligências não humanas e relatos bíblicos em dois livros de seus livros: American Cosmic: UFOs, Religion, Technology (Cosmicismo americano: OVNIs, Religião e Tecnologia) e Encounters: Experiences with Non-Human Intelligences (Experiências com Inteligências não-humanas). Ela não a única a se inclinar sobre o tema, o veterano pesquisador e investigador paranormal Steve Mera também declarou recentemente que muitos alegados "relatos de aparições religiosas e o contato com seres divinos" seriam, na verdade, relatos perfeitamente detalhados do que entendemos como "interação entre humanos e alienígenas"

Em última análise, Mera declarou que certos documentos — muitos dos quais alega se encontrarem nos Arquivos do Vaticano — são narrativas de contato alienígena adaptadas para uma visão teológica. Assim, alguns supostos encontros com anjos e seres sobrenaturais descritos na Bíblia, como por exemplo as histórias da "A Roda de Ezequiel" e "A Escada de Jacó", seriam na realidade o avistamento de veículos aéreos incompreensíveis e de seres alienígenas que dominavam tecnologia avançada.

Pasulka vai mais distante em suas conclusões.

As misteriosas conexões da Bíblia com alienígenas
 
Essas mesmas inteligências não humanas teriam participado e influído diretamente em vários momentos da Corrida Espacial. Segundo ela os programas espaciais, em ambos os lados da Guerra Fria (americanos e soviéticos), teriam "uma história incrivelmente estranha" que incluiria rituais de ocultismo. 

Para sustentar suas teorias Pasulka salienta que muitos dos "idealizadores dos cálculos que nos levaram ao espaço – os cientistas de foguetes – participavam ativamente de rituais bem estranhos!" Esses rituais visavam "abrir portais estelares" e "portas para outros reinos da existência". Além disso, enquanto esses rituais eram realizados por engenheiros nos Estados Unidos, cerimônias muito similares eram conduzidas pelos cientistas espaciais soviéticos acreditando que estavam se comunicando com seres de esferas superiores.

A estrutura de crenças, em ambos os lados, como Pasulka observou, era a mesma, e essas comunicações provenientes de rituais visavam "obter informações" que, por sua vez, levavam à criação de "tecnologias reais". Era uma especie de trica de ideias, entre cientistas interessados no progresso de seus projetos e supostos seres avançados que elogiam fornecer a expertise necessária para esses avanços.

As tecnologias eram obtidas por intermédio da comunicação com os alienigenas. Tais conhecimentos se provaram uma necessidade imprescindível para o avanço da humanidade. Sem ela, nao conseguiríamos chegar ao espaço.

A infame Divisão Novogorod ativa na União Soviética se dedicavam ao estudo de motores de propulsão, mas segundo rumores, vários de seus membros compunham um círculo místico que só pode ser definido como uma cabala. Esta se dedicavam a estudar o mundo oculto e realizar experimentos com psiquismo e expansão mental. Nao é exagero dizer que os dois trabalhos estavam intimamente relacionados .

Dentre os que realizaram rituais estranhos logo após a Segunda Guerra Mundial estava Jack Parsons, um indivíduo que viria a fundar o Laboratório de Propulsão a Jato um ramo intimamente ligado a viagens espaciais. Parsons é um nome controverso pelas suas crenças estranhas, mas ele é também um dos fundadores da NASA. Antes de analisarmos a vida de Jack Parsons – que, aliás, acabou sendo forçado a deixar o JPL devido às suas conexões com o ocultismo – vale a pena dedicarmos nossa atenção a outro místico famoso, ninguém menos que Aleister Crowley.

O Sr. Crowley observa o Passado

Crowley é, sem dúvida, uma das pessoas mais interessantes da história e alguém que frequentemente encontramos ligado a alguns dos acontecimentos mais importantes do século XX. Talvez seja por isso que alguns pesquisadores até sugeriram que ele tinha ligações com os serviços de inteligência britânicos, no final da década de 1890, ligação que seguiu durante o período das Grandes Guerras, até o fim de sua vida - ele faleceu em 1947.

Independentemente de ter ou não se envolvido com a Inteligência, Crowley certamente viajou bastante após mundo afora, com uma de suas viagens mais famosas ocorrendo em 1904, quando foi ao Egito, onde, segundo consta, realizou rituais diante da Grande Pirâmide de Gizé. Foi durante esses rituais e cerimônias que Crowley afirmou ter se comunicado com os antigos deuses egípcios e com uma "entidade incorpórea" chamada Aiwass. Essa entidade foi responsavel por ditar o que se tornaria O Livro da Lei, um texto fundamental para as crenças ocultas.

Nos anos seguintes, Crowley continuou a viajar extensivamente. Uma jornada particularmente interessante o levou até a montanha Kanchenjunga, no Himalaia, Nepal. Crowley teria sido atraído para esse local com o intuito de se comunicar com outras entidades não humanas. Por volta dessa época, e até 1906, ele passou um tempo considerável na China, durante o qual teria usado uma grande quantidade de ópio. Para alguns, um dos objetivos de Crowley era testar o uso de substâncias que permitissem expandir sua mente para planos superiores, permitindo assim a comunicação com entidades de planos elevados.

Seja qual for a verdade, as atividades de Crowley durante a primeira metade do século XX foram particularmente intrigantes. Entre 1909 e 1911, o Místico passou um período na Argélia, tempo no qual continuou a testar rituais de contato com seres superiores. Um dos seus propósitos era estabelecer contato com os alegados "Grandes Mestres" que supostamente forneciam conhecimento desconhecido.

Foi nessa época que ele afirmou ter iniciado na Ordo Templi Orientis (a O.T.O, sua Ordem de Natureza mística), vários membros de alto escalão do que viria a ser o Terceiro Reich. Estes indivíduos com profundo interesse no ocultismo foram fundadores da infame Sociedade Vril, uma Sociedade secreta dedicada a comunicação com inteligências não humanas. Os membros da Sociedade Vril, que mais tarde deu lugar a Amnenerbe Nazista, acreditavam que tecnologias avançadas poderiam ser obtidas com entidades alienígenas que lhes ensinariam os segredos do Universo. Para eles a troca de informações com mentes alienígenas lhes abriria o caminho para a conquista mundial.

A Ahnenerbe foi um dos ramos nazistas dedicados ao sobrenatural

Anos mais tarde, entre 1917 e 1918, quando Crowley estava em Nova York, ele alegadamente realizou um de seus rituais mais importantes. Este tentaria abrir um canal de comunicação com seres que ele identificava como Lam. O mais interessante sobre essas entidades é a descrição que Crowley fazia delas – criaturas de constituição magra, cabeça e olhos excessivamente grandes e pele pálida, essencialmente uma descrição do que a maioria dos ufólogos chama hoje em dia de alienígenas cinzentos (Grey). Devemos lembrar que isso foi três décadas antes do suposto acidente de Roswell, e pelo menos quatro décadas antes que alienígenas cinzas se estabelecessem no inconsciente coletivo.

Se essas entidades eram ou não alienígenas cinzas permanece em aberto; no entanto, nos anos e décadas que se seguiram, desenvolveu-se um "Culto de Lam", essencialmente composto por pessoas que foram seguidores de Crowley. Eles acreditavam que os Lam podiam fornecer sabedoria e progresso científico.

Um desses seguidores era Jack Parsons, que mencionamos anteriormente – o mesmo Jack Parsons que, de acordo com a pesquisa de Diana Pasulka, participava de rituais ocultistas no deserto da Califórnia. Suas experiências visavam abrir um canal de comunicação similar ao que Crowley mencionava. Seu objetivo final: obter tecnologia com os Lam.

Vale a pena retornar à O.T.O. e sua estreita ligação com a Sociedade Vril e os membros ilustres do Terceiro Reich, incluindo engenheiros de foguetes e cientistas. Há boatos de que estes cientistas estavam ligados a muitos rituais de ocultismo antes e mesmo depois de se tornarem impostantes recursos humanos no desenvolvimento de tecnologias para a máquina de guerra nazista. 

Muitos desses seriam cooptados no final da Segunda Guerra Mundial por forças soviéticas e norte-americanas. O lado americano dessa missão foi chamado Operação Clipe de Papel (Paperclip), que conseguiu trazer centenas de engenheiros e cientistas nazistas para os Estados Unidos com o intuito de continuar seu trabalho em solo americano. Muitos desses engenheiros acabaram trabalhando nos programas espaciais, com Wernher von Braun sendo um dos nomes mais notáveis. Nem é preciso dizer que von Braun foi um dos fundadores da NASA e que seus foguetes permitiam ao homem chegar à Lua. O que precisa ser dito é que ele tinha enorme interesse em ocultismo e nas "comunicações com esferas exteriores".

Werner Von Brau na época que tinha outros patrões

Podemos nos perguntar se há uma conexão entre esses cientistas do Terceiro Reich – muitos dos quais, lembre-se, eram membros de sociedades ocultistas secretas – e as supostas práticas rituais na época da corrida espacial de ambos os lados da Guerra Fria.

Com tudo isso em mente, este seria um bom momento para voltar nossa atenção para a notável relação da Maçonaria com o programa espacial Apollo e, especificamente, com a missão Apollo 11 (que levou o homem à Lua). Entre 1961 e 1968, James Webb, foi o administrador da NASA que mais teve influência na Missão Apollo. Ele era um maçom conhecido e um indivíduo ligado ao misticismo. Outro Diretor do programa Apollo, Kenneth Kleinknect, também era um maçom, assim como vários dos astronautas, antes e depois da missão de pouso da Apollo 11. Gordon Cooper, Virgil Grissom, Donn Eisele, John Glenn, todos eram maçons devotos.

Talvez o mais interessante de tudo, seja a segunda pessoa a pisar na Lua, Buzz Aldrin, que era um maçom de 33º grau do Rito Escocês. Acredita-se que Aldrin até levou um lenço de seda com símbolos maçônicos na missão Apollo 11. Posteriormente ele doaria o lenço para a Casa Maçônica da Jurisdição Sul, em Washington, D.C.

No entanto, foi o próprio pouso da Apollo 11 na Lua que despertou a maior curiosidade quanto a certos aspectos místicos.

Começamos pelo local do pouso – o Mar da Tranquilidade –, uma área suspeita, pelo menos para alguns. A razão oficial para a escolha deste local pela NASA foi que ele oferecia um local de pouso ideal devido ao seu terreno relativamente plano. No entanto, segundo alguns, este local em particular foi escolhido para que Aldrin pudesse realizar um ritual antigo na superfície lunar. Talvez o que dê mais peso a essas alegações seja o fato de que a pessoa responsável pela seleção deste local, bem como pelos horários exatos da missão, seja Farouk El-Baz, um especialista em rituais egípcios antigos.

Na Lua, um Ritual que saúda os Deuses de Orion

De acordo com algumas pesquisas, o local foi escolhido porque exatamente 33 minutos após o pouso, o Cinturão de Órion estaria perfeitamente alinhado com o horizonte lunar, momento em que Aldrin realizaria um ritual simples, essencialmente um agradecimento e louvor ao Deus egípcio, Osíris. É claro que o número 33 é de particular importância para a Maçonaria. Só para demonstrar essas aparentes conspirações em torno de tais assuntos, vários anos após as missões de pouso na Lua, quando o primeiro ônibus espacial retornou à Terra, pousou na Pista de Pouso 33. Além disso, a única plataforma de lançamento em White Sands, no Novo México, é chamada de Plataforma 33.

E qual seria o propósito dessa cerimônia egípcia antiga conduzida em solo lunar? De acordo com as lendas do antigo Egito, realizar tais cerimônias e fazer tais oferendas diretamente sob o Cinturão de Órion abriria comunicações com Osíris. Estariam alguns indivíduos ligados às missões espaciais Apollo em busca de contato com um deus do Egito Antigo? Quem seriam eles, de onde vinham e onde residiriam essas divindades ancestrais? Por mais bizarras e quase ultrajantes que essas alegações possam ser, todas se encaixam perfeitamente – em última análise, aqueles que buscam levar a humanidade ao espaço, aparentemente estiveram em contato com entidades não humanas e usaram rituais e até sacrifícios para chegar onde desejavam.

Voltemos a Jack Parsons e os rituais que ele, juntamente com outros, incluindo L. Ron Hubbard, conduziram no Deserto de Mojave, na Califórnia, nas primeiras semanas de 1946. Em uma entrevista recente, o já mencionado Steve Mera falou sobre esse assunto. Segundo Mera, Parsons desejava aumentar seu conhecimento aeronáutico e para tanto planejou um ritual através do qual poderia falar com os seres elevados. O Ritual de contato demandou dedicação total de todos os envolvidos, e algo mais...  Sacrifício de sangue!

Segundo Mera, um dos métodos de se contatar os Seres Superiores que habitavam as estrelas distantes, envolvia algum tipo de sacrifício. Os portais místicos escancarados por magia ritual só podiam ser mantidos assim por intermédio de algum sacrifício que o justificasse. Mera afirma que Parsons e seus companheiros estavam decididos a fazer qualquer coisa para estabelecer a comunicação com os seres superiores inclusive praticar sacrifícios. Animais seriam um sacrifício à altura, cabras, ovelhas, pombos... mas certos círculos de magia ritualística, iam mais longe mencionando a necessidade de sacrifícios humanos. Essa ideia parece inconcebível, mas muitos dos que conheceram Parsons sabiam de sua determinação e comprometimento com o mundo sobrenatural. Ademais, o afastamento dele da NASA ocorreu depois de alguns colegas alegarem que seu envolvimento com "coisas estranhas" ter ido longe demais.

O brilhante e estranho Jack Parsons

Parsons morreu em um acidente no deserto do Mojave, ocasião em que sofreu queimaduras horríveisno corpo enquanto testava um protótipo para um veículo de propulsão. Muitos de seus amigos achavam que ele estava desequilibrado em seus dias finais, perseguindo uma tecnologia de maneira obsessiva.

Para a maioria, até mesmo para os mais radicais teóricos da conspiração, a ideia de cientistas tentando estabelecer contato com inteligências não humanas ancestrais, parece um absurdo especulativo. Porém parece haver pelo menos algumas verdades em tais alegações.

Um caso que merece nossa atenção seria um dos incidentes mais bizarros registrados no mundo dos OVNIs – conhecido como o Caso das Máscaras de Chumbo. O relato foi detalhado pelo conceituado ufólogo Jacques Vallee em seu livro Confrontations, embora várias outras publicações também tenham abordado o incidente. 

O relato começa com a descoberta de dois cadáveres em uma clareira na mata em 20 de agosto de 1966, na cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Um adolescente havia visto dois homens na mesma clareira dias antes em 17 de agosto. Ele alegou tê-los observado à distância por vários minutos  antes de seguir seu caminho. Posteriormente encontrou os dois homens deitados na clareira imóveis. Foi somente quando os viu daquela maneira que decidiu relatar a outros moradores, que, por sua vez, comunicaram o ocorrido à polícia.

Quando as autoridades se aventuraram até o local encontrou os mortos. Ambos estavam vestidos com ternos e gravatas novos, com uma capa de chuva novinha em folha por cima. Talvez o mais estranho de tudo fosse o fato de cada um deles usar uma estranha máscara de chumbo, de fabricação rudimentar, sobre os olhos. Os homens foram finalmente identificados como José Viana, de 43 anos, e Manuel Pereira da Cruz, de 32, dois eletricistas da vila vizinha de Atafona. As investigações iniciais sugeriram que ambos eram muito queridos em sua comunidade, sem inimigos conhecidos e sem motivo para as autoridades suspeitarem de seu envolvimento em qualquer tipo de atividade ilícita. Além disso, não havia sinais de qualquer tipo de luta no local onde os corpos foram encontrados. 

O que foi realizado naquela clareira em Niterói?

Para a polícia, parecia que os dois homens simplesmente haviam se deitado lado a lado e falecido pacificamente. Quando as autópsias iniciais foram realizadas, determinou-se que ambos haviam morrido de ataque cardíaco fulminante – com segundos de diferença. Como podemos imaginar, as chances de isso acontecer são astronômicas. De fato, a polícia acreditava que algo, fosse o que fosse, devia ter causado os ataques cardíacos repentinos nos dois homens ao mesmo tempo.

Enquanto a polícia conduzia suas investigações, começou a receber relatos do avistamento de objetos estranhos, emitindo uma luz laranja, pairando sobre a mesma clareira onde os corpos foram descobertos. Também houve relatos de um estranho feixe de luz emanando do objeto para a clareira. Um desses relatos, o da Senhora Gracinda Coutinho da Sousa, chegou a ser publicado pela imprensa local. O objeto brilhante e laranja foi visto por dezenas de testemunhas, pairando sobre a floresta onde tudo aconteceu. Gracinda afirmou que o objeto estava "emitindo raios em todas as direções" enquanto pairava sobre a cabeça deles.

Por mais estranhos que fossem esses relatos, o caso sofreria uma reviravolta quando os investigadores souberam de outro incidente bizarro algumas semanas antes. Na noite de 13 de junho, uma "explosão violenta" abalou Atafona após vários dias de relatos persistentes de OVNIs. Apesar dos relatos iniciais de jornais brasileiros, estes abandonaram repentinamente a história. Uma espécie de acobertamento foi colocado sobre o caso. Os investigadores descobriram, no entanto, que alguns moradores relataram ter visto uma "bola de fogo" cruzando o céu pouco antes da explosão, enquanto pescadores atestaram ter visto um "objeto voador misterioso" cair no mar. Rumores também circulavam localmente sobre algum tipo de experimento bizarro envolvendo os eletricistas locais como responsáveis pela estranha explosão. 

Talvez o mais estranho seja o fato de Viana e Cruz estarem presentes nesse evento bizarro alguns dias antes de morrerem. Teria essa sido uma experiência preliminar do que viria a acontecer em Niterói dias depois? O que visavam atingir os dois homens com as Máscaras de Chumbo? 

Por muitas décadas ufólogos cogitavam que os dois homens poderiam estar envolvidos em uma tentativa de contatar discos voadores, mas a Dra. Pasulka crê que o objetivo deles era outro: contatar seres superiores através de um Portal e se reunir com eles. 
 
O Misterioso caso das Máscaras de Chumbo

Seja lá o que eles tencionavam realizar naquela clareira, o resultado parece ter saído do controle deles acarretando na morte acidental dos dois. É inegável que o caráter ritualístico do que eles cogitavam atingir deixa margem para muitas especulações. Seria um experimento científico? Uma busca por contato alienígena? Ou algo ainda mais misterioso? E qual o propósito das máscaras de chumbo que precisavam ser usadas sobre os olhos quando o momento chegasse?

O que torna esse caso inquietante ainda mais interessante é a aura de mistério que cerca o incidente. Há boatos de que radiação teria sido liberada no local e que a vegetação por anos apresentou uma deterioração localizada no ponto exato em que os corpos foram encontrados. Também havia o boato de que os cadáveres brilhavam no escuro, resultado de uma alegada descarga de radiação que os banhou pouco antes deles morrerem. Finalmente falou-se de militares brasileiros escoltando especialistas estrangeiros para visitar ao local onde tudo aconteceu. Amostras de terra teria sido obtidas para análise. 

E há o avistamento do OVNI testemunhado por vários moradores locais antes mesmo da descoberta dos cadáveres. Teriam eles, de alguma forma, invocado a nave usando métodos ritualísticos semelhantes aos de Jack Parsons? Teriam usado métodos experimentais nos moldes daqueles empregados por sociedades secretas? E mais importante o que visavam conseguir com o experimento? Não há como saber... mas o fato de as mortes permanecerem sem solução até hoje atesta sua enorme estranheza.

Seja qual for a verdade, investigadores de OVNIs descobririam um caso quase idêntico, cerca de quatro anos antes. Neste um técnico de televisão foi encontrado na mesma posição, também com uma máscara de chumbo sobre os olhos. Dizer que essa descoberta é apenas uma coincidência beira o ridículo. Além disso, relatos da época sugeriam a existência de algum tipo de Sociedade Secreta, formada por engenheiros eletricistas que realizavam experimentos com "ondas de pensamento de alta frequência" usando LSD para "aumentar o estado de alerta mental" e "alterar a frequência cerebral". 

Quando foi levado para interrogatório, o morador local Elci Gomes, amigo próximo de Viana e Cruz, alegou que ambos faziam parte de um grupo misterioso, cujos membros eram "especialistas e entusiasta de mistérios antigos". Embora Gomes tenha afirmado desconhecer o objetivo dos amigos, revelou que eles se dedicavam a descobrir uma forma de comunicação com seres do outro lado. Segundo Gomes, foram Viana e Cruz os responsáveis pela queda do objeto que explodiu em junho de 1966, apenas algumas semanas antes das mortes repentinas e trágicas. Ele supôs que os dois amigos estavam assustados com o que havia acontecido e com sua participação no incidente. Talvez tentassem corrigir algum erro.

Aqueles que responde ao chamado

Se essas duas mortes estão de alguma forma conectadas às práticas rituais utilizadas por cientistas e engenheiros, não há como dizer. Certamente parece que os tentáculos de tais alegações se estendem a muitas áreas diferentes. Se, como argumentamos anteriormente, a Corrida Espacial encontra eco em práticas ocultistas idealizadas por Crowley e testadas no Terceiro Reich, poderíamos nos perguntar quando essa comunicação entre a humanidade e inteligências não humanas teve início. Teria havido uma comunicação longa e contínua, talvez transmitida por sociedades secretas ao longo dos séculos? E se for assim, essas comunicações remontam ao início da Maçonaria ou antes?

Claro, se tudo isso for verdade, mesmo que apenas em parte, então poderíamos nos perguntar se essa comunicação ocorre atualmente e, em caso afirmativo, quem está envolvido nela nos dias atuais.

O mistério prossegue...

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Cinema Tentacular: "Faça Ela Voltar" um filme angustiante sobre perda e tragédia


Em 2022, Danny e Michael Philippou se tornaram nomes conhecidos entre os fãs do Terror com o sucesso inesperado de Fale Comigo, um filme assombroso sobre luto que acabou se tornando a produção de maior bilheteria da produtora A24 até então. Em Fale Comigo, o longa-metragem de estreia dos irmãos, a dupla ofereceu uma combinação impressionante de imagens bizarras ​​e momentos chocantes, tudo enquanto contava uma história sobre tragédia e luto. Foi assustador com certeza, mas o que realmente tocou o espectador foi a maneira como o filme lidou com o trauma de perder alguém tão próximo que não haveria limites para tentar tê-lo de volta, nem que por alguns instantes.

Em seu aguardado segundo filme, "Faça Ela Voltar" (Bring Her Back, 1925), os irmãos Philippou abordam novamente o trauma da perda. No entanto, enquanto Fale Comigo se concentrava nesse sentimento em um mundo de festas adolescentes e brincadeiras divertidas, Faça Ela Voltar é muito mais sério e perturbador. Em vez de adolescentes em busca de emoções fortes, a dor da perda se torna o cerne do segundo filme, deixando a dor se infiltrar em cada cena. Do início perturbador, com imagens caseiras granuladas, até a conclusão de tirar o fôlego, o filme tem o efeito de um soco na boca do estômago. 

Embora ambos os filmes explorem a natureza da perda, Faça Ela Voltar adota uma abordagem muito mais crua, que se deleita com a escuridão de maneira ainda mais assombrosa do que Fale Comigo. Juntos, esses dois filmes criam uma mistura fascinante de tristeza e terror que consegue ser enervante e trágica na medida certa.

Mas do que trata Faça Ela Voltar?

Podem ficar tranquilos, nada do que vou escrever aqui contém SPOILERS e não vai estragar sua (bem, digamos), diversão. 


(Aqui é interessante abrir um parênteses e falar sobre as situações perturbadoras que esse filme vai oferecer ao público. Não se trata de um filme palatável e imagino que muita gente vai ficar legitimamente incomodada com ele. Não me entendam mal, esse é em excelente filme, mas também é uma experiência indigesta e agonizante, para dizer o mínimo, portanto, estejam avisados).

Na trama, o adolescente Andy (Billy Barratt) e sua meio-irmã Piper (Sora Wong) voltam da escola um dia e descobrem que seu pai morreu no chuveiro. Em três meses, Andy terá idade suficiente para se tornar tutor legal de Piper, mas até lá, os dois serão enviados para morar com uma mãe adotiva, Laura (Sally Hawkins), e seu filho, Oliver (Johan Wren Phillips) que os recebem. Laura age de forma excêntrica, também está de luto pela morte acidental da filha, mas se apega a Piper imediatamente. As duas meninas tem em comum a deficiência visual e ela parece ver em Piper o reflexo de sua falecida filha.

Andy sente que há alguma coisa estranha com sua nova guardiã, para dizer o mínimo. Laura tem pensamentos estranhos sobre a morte e frequentemente se refugia em seu quarto onde assiste a vídeos perturbadores de um ritual aterrorizante. O pequeno Oliver também é muito estranho, ele anda por aí ou fica trancado em seu quarto por horas a fio, sem falar e aparentemente sem comer. Enquanto Piper se adapta ao novo arranjo, Andy percebe que algo estranho está acontecendo, ou será que o trauma da perda do pai o está fazendo ver coisas que não existem?

Aos poucos a aura de estranheza vai se intensificando a medida que segredos aterradores vem à tona.


Danny e Michael Philippou mostram que o talento apresentado no primeiro filme não é obra do acaso. A atmosfera lúgubre ajuda a criar um ar incômodo, mantendo certos detalhes ocultos do público para maximizar o terror de cada descoberta. Em "Faça Ela Voltar", o expectador é compelido a juntar as peças do quebra-cabeça para entender o que exatamente Laura está planejando. As pistas são oferecidas através de imagens borradas das fitas VHS, onde algo monstruoso e difícil de entender acontece. Fica claro que é algum tipo de cerimônia, mas o verdadeiro teor horrendo só irá se revelar no desfecho, e acredite, não será nada bonito.

O tema central do filme, a PERDA é mesclada com um terror, profundo, físico e por fim, corporal. Desde Hereditário eu não tinha uma reação tão visceral a um filme de terror. 

Laura, Andy e Piper são personagens muito bem construídos. Os três estão intimamente unidos pela tragédia e isso impacta em suas vidas cotidianas todo dia, toda hora, a cada segundo. O peso da perda de Laura é uma luta constante, fica claro que ela nunca a deixou ir. Já Andy se esforça ao máximo para preservar Piper e fazê-la superar, a um elevado custo emocional. O drama do trio protagonista vai se desenvolvendo em cenas que alternam estranheza e crueldade num ritmo vertiginoso. 

Faça Ela Voltar é realmente arrepiante, repleto de momentos surpreendentes que ficarão na sua memória coçando por baixo da pele. A dupla de diretores consegue manter o espectador na beira da poltrona com trechos inesperados e sombrios. Assustadora também é a maneira como eles manipulam o público com o mínimo de informação para que não possam fazer suposições razoáveis sobre o que está acontecendo. 

Não é exagero dizer que esse filme contém algumas das cenas mais surpreendentes que você verá em um filme de horror neste ano, contudo não é no susto e no choque que reside seu maior mérito. É a sensação tangível de desconforto, que faz nossa mente vagar para lugares escuros, que torna o filme uma experiência angustiante.


Sally Hawkins está fantástica como a mãe adotiva, Laura, que parece estar presa numa cápsula temporal: isso se reflete nas roupas que ela veste, nos vídeos que assiste em seus momentos de privacidade e por sua incapacidade geral de superar a morte da filha. Hawkins interpreta Laura com um nível compreensível de tristeza, uma mulher que faria de tudo para reaver a pessoa que mais ama. Sua vida foi arruinada e ela está desesperada para voltar a ser feliz. Isso não a impede de ser um monstro. É o tipo de atuação que só uma indicada duas vezes ao Oscar poderia retratar, e ela equilibra com perfeição tudo o que a personagem precisa ser.

Traga Ela de Volta também apresenta uma das melhores atuações de ator infantil dos últimos anos, com Jonah Wren Phillips como Oliver. Em um papel predominantemente silencioso, Phillips faz de seu personagem uma presença assombrosa, pairando como uma sombra excruciante sempre que está presente. Sem dizer nada, ele torna as coisas especialmente desconfortáveis com seu olhar vazio.

Em meio a tudo isso, Billy Barratt e Sora Wong, são o coração dessa fábula distorcida, conduzindo através de sua tortuosa jornada os acontecimentos mais infames. O roteiro nos faz torcer para que eles sobrevivam e que possam começar uma nova vida juntos e longe de seu passado. Os dois formam uma dupla adorável pela qual torcemos. Os papéis de Barratt e Wong são muito mais contidos, mas eles são a essência que faz o filme funcionar.

Filmes de terror sobre tragédia familiar e perda parecem estar em alta, mas inegavelmente coube a Danny e Michael Philippou dirigir os dois melhores exemplares sobre o tema. Assista a esse filme e prepare-se para ver algo que vai ficar com você por uns bons dias.

Trailer:


Poster: