sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Onde o Mal está confinado - Cidades perversas marcadas por uma maldade que não descansa


"Existem recessos escuros em nossa realidade. Fossos negros no espírito humano.
Lugares malditos onde, devido à densidade, à miséria ou à pura perversidade humana, 
o tecido das coisas se desfaz e esse núcleo engole todo o resto."

*     *     *

Há lugares no mundo que se assemelham a buracos negros de negatividade. 

Eles são como fossos profundos que devoram a luz e se alimentam da esperança dos seus habitantes. Eles afetam diretamente todos os que escolhem viver em seus limites provocando uma sucessão de acontecimentos terríveis que não parecem ser obra do acaso.

O conceito não é exatamente novo e a Parapsicologia o reconhece como parte de seu estudo. 

A teoria do Lair of Evil (Covil do Mal em uma tradução livre) tenta explicar o mal que parece permear certos lugares. Para os estudiosos, um Covil do Mal é como um repositório de energia negativa, uma espécie de represa que não deixa essa energia, caracterizada pela dor, depressão, sentimentos violentos, desânimo se dissipar naturalmente. Sentimentos e emoções fortes ficam contidas ali. O pressuposto é que toda essa energia causa uma reação no ambiente, uma repercussão (ou eco) que fica impresso no local. 

A analogia mais corriqueira para explicar a natureza desses lugares é a de uma fatia de pão deixada tempo demais em uma torradeira. A torrada queimada irá criar um cheiro forte e desagradável que se espalha pelo ambiente. Mesmo limpando e arejando o local, o cheiro levará algum tempo para ser eliminado e ficará perceptível para qualquer um que entre posteriormente. Via de regra, o cheiro acaba diminuindo e se dissipando. Mas agora imagine um ambiente totalmente lacrado, sem ventilação e vedado. O odor de queimado não tem para onde ir e permanece suspenso.

Um Covil do Mal na sua definição corrente é uma área delimitada em que episódios traumáticos deixaram uma marca indelével que se mantém ali, confinada. Um covil é como um câncer espiritual elevando a ebulição de quaisquer paixões e sentimentos naquela área. Mais do que sintoma de um mal, ele é uma doença que catalisa energia negativa e a expande.

A maioria das pessoas dirá que já teve a experiência de entrar em um lugar e sentir "um peso". Como se um determinado aposento ou casa tivesse algo que causa uma sensação desagradável. Seja um pressentimento, um arrepio ou um frio repentino. Em maior ou menor escala, esse efeito é percebido por indivíduos com sensibilidade, contudo qualquer um pode ser afetado ao adentrar um lugar onde está represada uma carga negativa latente. Chamamos esses lugares de "carregados", mas termos como "assombrados" e "malignos" também são utilizados para descrevê-los.

Um Covil se desenvolve quando os eventos acumulam suficiente energia negativa para gerar essa ressonância que perdura indefinidamente. A vibração pode ser sentida muito tempo depois das emoções terem desaparecido. Colocado de forma simples, um Covil é o legado daquelas emoções e sentimentos que seguem reverberando.

É claro, nem todos os lugares acometidos pela tragédia humana geram Covis do Mal. Cemitérios, hospitais, asilos, campos de batalha são típicos candidatos, pois evocam sentimentos latentes de medo e sofrimento, mas nem todos eles tem o potencial para se transformar em um Covil. Mesmo um lugar em que gerações de indivíduos sofrem, pode não resultar no surgimento de tal anátema. Nem toda morte brutal ou ato hediondo é forte o bastante para afetar o ambiente, mas sem dúvida esses componentes emocionais estarão presentes quando um Covil se formar. Via de regra, quanto mais potente a emoção negativa, mais poderosa a Erupção que gera o Covil.

Os estudiosos da Parapsicologia postulam que um Covil do Mal geralmente ocupa uma área circunscrita onde geralmente o mal ocorreu. Mas em raros casos, quando os atos são muito poderosos e a repercussão é duradoura, o Covil pode se espalhar por uma área bem mais extensa.   

O Escoadouro do Mal (Sinkhole of Evil) é uma extrapolação do conceito de Covil para espaços muito maiores. Ele não se refere a uma sala ou a uma casa, mas a uma área muito mais ampla. Ele pode ser uma rua, um bairro ou em alguns casos, uma cidade inteira.

O Escoadouro é como uma bacia para onde escorre toda energia negativa e onde esta fica depositada. A reverberação é muito forte e as pessoas sensíveis tendem a senti-la em toda parte. Uma característica dos Escoadouros do Mal é que eles transbordam: se alastram, lançam tentáculos se espalham e crescem. Reclamam novas áreas e se tornam cada vez maiores e mais potentes. Dentro dos seus limites, incidentes de violência, maldade e perversidade tendem a se tornar corriqueiros, multiplicam-se como uma doença, uma epidemia que afeta o ambiente sufocando-o num caos palpável.

Os estudiosos afirmam que o aparecimento de um Escoadouro geralmente está ligado à ocorrência de incidentes traumáticos isolados ou a um único episódio de enorme repercussão. O fato gerador é como um tsunami emocional que varre o lugar mudando sua paisagem. Traumas em grande escala, que afetam muitas pessoas simultaneamente, podem dar causa a sua gênese. O palco de enormes injustiças, misérias, perseguições, massacres e horrores são candidatos ideais ao surgimento de um Escoadouro do Mal. 

Certos incidentes históricos bem documentados como a Revolução Francesa, a Revolução Russa, o Holocausto Nazista, o Levante Kmer e outros episódios marcados pelo medo, violência e insegurança podem gerar Escoadouros, alguns deles registrados por pesquisadores. 

Alguns se dissipam com o tempo, outros não.

Em Nanquim, na porção meridional da China, os estudiosos encontraram um grande Escoadouro do Mal formado por um episódio conhecido como Massacre de Nanquim. Essa tragédia ocorreu entre dezembro de 1937 e janeiro de 1938 e marcou a cidade para sempre. Durante seis semanas a população foi submetida a todo tipo de atrocidade nas mãos do Exército Imperial do JapãoO número total de mortos não pode ser estimado com precisão porque a maioria dos registros militares foram deliberadamente destruídos ou mantidos em segredo, contudo o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente estimou as vítimas em pelo menos 250 mil. Não foram apenas assassinatos que ocorreram em Nanquim: saques, estupros e incêndios foram praticados pelos soldados em uma campanha de terror inenarrável.

Todo esse horror teria gerado reverberações sentidas até os dias atuais. 

Certas áreas de Nanquim são reputadas como assombradas com reverberações ao longo das décadas e com milhares de pessoas afirmando poder sentir e em muitos casos testemunhar cenas de horror se desenrolando diante de seus olhos. Um dos lugares mais notórios é a ponte sobre o rio Taikang que segundo relatos em 1938 foi represado por incontáveis cadáveres arremessados em suas águas. A torrente correu vermelha por vários dias após a atrocidade. Pessoas sensíveis afirmam ouvir o som de gemidos e murmúrios, enquanto outros alegam ver a água do rio correndo vermelha. Não por acaso, a ponte é um ponto habitual de suicídio.

Outro local, o distrito de Pinghu foi onde soldados chineses feitos prisioneiros foram reunidos e executados pelos japoneses. Ele também tem fama de ser maldito. O som de gritos de horror é ouvido frequentemente, um eco impresso no tecido do tempo. Dizem que os japoneses mataram milhares de prisioneiros com espadas e facas nesse local ermo e que o cheiro de morte ainda pode ser sentido. A área foi o epicentro de vários atos de violência nas décadas seguintes, inclusive um tiroteio em 1978 que deixou sete mortos.

[Não vou colocar imagens aqui no artigo, mas há fotografias realmente chocantes que registram o que aconteceu em Nanquin. Um horror que jamais deve ser esquecido!]

Nanquin foi por muitos anos uma das províncias mais violentas da China, até que na década de 1990 a cidade passou por uma reestruturação. Acredita-se que essa mudança teria apaziguado as reverberações reduzindo o poder do Escoadouro ali existente. Ainda assim Nanquim é tida como uma das cidades mais assombradas da China.

Outro lugar que os parapsicólogos acreditam ser uma represa de energias negativas fica no norte do México, em Ciudad Juarez um dos lugares mais violentos do mundo. 

A história de Ciudad Juarez foi manchada de sangue muito antes dela receber seu nome, mesmo antes de se tornar uma cidade. No passado remoto a região já era habitada por tribos que ocupavam a Serra de Samalayuca, tribos estas que viviam em guerra umas contra as outras, atacando-se mutuamente. Arqueólogos encontraram vestígios desses conflitos na forma de restos humanos - homens, mulheres e crianças, mutilados e lançados em valas escavadas. Posteriormente a região se tornou importante para os espanhóis que a colonizaram e a transformaram em um posto avançado para a exploração do território, já que o rio que passa por ali é navegável. Várias expedições de conquistadores partiram de lá voltando carregadas com ouro, prata, pedras preciosas e escravos.

A cidade moldada sobre um forte chamado inicialmente de Passo del Rio do Norte prosperou como um dos assentamentos mais ao norte da colônia hispânica. Eventualmente as injustiças e perseguições aos nativos deram vazão a uma rebelião, a Revolta dos Pueblos que destruiu quase por completo o lugar. Os historiadores afirmam que o levante deixou um saldo de milhares de mortos entre colonos brancos e rebeldes nativos que se massacraram mutualmente. Os colonos foram expulsos, mas não demorou até eles se reorganizarem e voltarem em maior número, mais bem equipados e armados. O retorno atendia a todos requisitos de uma vingança, mas o que se seguiu foi genocídio puro e simples. Os registros históricos mencionam montanhas de corpos decapitados, enterrados nos arredores da cidade. As cabeças foram jogadas no rio, cumprindo um insulto final já que os nativos acreditavam que na cabeça repousava a alma imortal.

Passo del Norte viu ainda mais violência durante a Guerra de Independência que varreu o país como uma tempestade de sangue, morte e  extermínio no ano de 1830. Antes do país se recuperar desse trauma, dissidências internas descambaram para a Guerra contra os Estados Unidos (1846), outro conflito devastador que custou ao México boa parte de suas terras na Alta Califórnia, Texas e Novo México. Batalhas como a de Tesmacalitos ficaram notórias pelo número de vítimas principalmente no lado mexicano. Passo del Norte se tornou uma das cidades mais próximas da Fronteira norte-americana, ganhando fama como refúgio de criminosos e mal feitores que cometiam crimes ao norte e se bandeavam para o sul da fronteira. O lugar era um verdadeiro antro de corrupção, crime desenfreado, miséria, violência gratuita e injustiças que fizeram de Passo del Norte um dos buracos mais temidos do século XIX.

Mas a história de violência ainda não estava terminada. Ainda haveria sangue suficiente para alagar toda região, dessa vez por conta da Guerra Civil Mexicana um conflito cuja carnagem empalideceria todos os anteriores. Passo del Norte se tornou base para o Exército de Porfírio Diaz apoiado pelos Estados Unidos. Lá mercenários treinavam as tropas e ensinavam os princípios da guerra moderna visando esmagar seus opositores. Os instrutores não deixavam nada fora do treinamento, usavam prisioneiros capturados como alvo de tiro, os explodiam com dinamite ou simplesmente ensinavam como matá-los com armas brancas. Foi nessa época que o lugar mudou seu nome para Ciudad Juarez, uma cidade que testemunhou atrocidades e uma infinidade de crimes hediondos. Há décadas Juarez é o lugar mais violento do México. 

A violência é claro, se intensificou com o Narcotráfico que passou a controlar áreas inteiras do país. Ironicamente Ciudad Juarez nunca teve um cartel dominante, mas vários, envolvidos numa guerra permanente. A principal tática usada pelos cartéis é a intimidação. Quando um grupo quer aterrorizar seus rivais a mensagem é tudo menos sutil. Cadáveres aparecem horrivelmente mutilados, torturados e degolados. O choque é uma arma poderosa. Em 1993, os Federales do México encontraram uma casa nos subúrbios com os restos de 22 cadáveres esquartejados com serra elétrica. Em 1996, Juarez assistiu chocada uma disputa territorial que se arrastou por três semanas deixando um saldo de 54 mortos. No meio do fogo cruzado inocentes são feridos e mortos. O medo impera. 

Pode-se imaginar que a violência seja proveniente apenas das disputas entre cartéis, entretanto a coisa é pior. Uma força invisível parece fomentar a violência entre os habitantes comuns. Ciudad Juarez acumula o primeiro lugar na lista das cidades com mais agressão, estupros e homicídios do México. O lugar é tão perigoso que o gabinete de segurança pública já tentou de tudo: de toques de recolher a vigilância do exército. Nada funcionou! A miséria e a falta de perspectiva em Juarez é palpável, e a população se vê sufocada por um ciclo de violência sem fim. 

Assim como Nanquim e outras cidades que foram palco de eventos hediondos, Ciudad Juarez possui uma vasta tradição de relatos sobre fantasmas, espectros e atividade paranormal. Certas áreas de Juarez são tão temidas que caíram no abandono; construções dilapidadas, prédios e depósitos se converteram em ruínas evitadas pela população residente que as trata como assombradas. Nesses lugares as reverberações são quase insuportáveis gerando sons descarnados, áreas de frio extremo, exalando odores de putrefação e até mesmo visões medonhas. A citada casa do massacre foi por muitos anos um dos lugares mais temidos de Juarez, atraindo todo tipo de lenda urbana. Vizinhos partiram, pessoas desistiram de viver ali perto, tudo por conta dos gritos de gelar o sangue ouvidos em plena madrugada.

Que conclusão tiramos de tudo disso?

Será possível que a energia negativa acumulada ao longo da tumultuada história de algumas cidades é capaz de fomentar ainda mais violência? O que seria necessário para acabar com esse círculo vicioso que se retroalimenta indefinidamente com mais e mais terror?

Estudiosos acreditam que eventualmente as energias negativas contidas num Covil ou mesmo em um Escoadouro acabam se dissipando se este parar de ser alimentado. Mesmo lugares que viram as maiores atrocidades imagináveis pelo homem podem ser expurgados com o passar do tempo, mas que esperança existe para aqueles que estão imersos no que parece ser um ciclo interminável de violência e miséria, de dor e tristeza? 

Na continuação deste artigo conheceremos aquele que os estudiosos consideram o maior Escoadouro do Mal do mundo.

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