segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Perdidos na Selva - Encontros com Tribos Desconhecidas: O Povo Pálido e os lendários Mayoruna

Continuando nosso artigo sobre tribos perdidas na Amazônia.

Além das tribos misteriosas de supostos não-humanos nas profundezas das selvas brasileiras, uma outra lenda persiste desde os tempos dos missionários espanhóis do século XVI. Os religiosos que chegaram à região amazônica relataram encontrar tribos de nativos altos, de pele e cabelos claros, olhos azuis e aparência decididamente caucasiana, que viviam nas áreas mais remotas e inacessíveis da selva. 

Um dos primeiros relatos de encontros com essas pessoas misteriosas foi feito pelo missionário dominicano espanhol Gaspar de Carvajal, que escreveu em 1542 sobre ter encontrado um grupo de mulheres tribais muito altas, muito brancas, de aparência europeia, que usavam seus longos cabelos loiros trançados e enrolados na cabeça. O relato foi incluído em seu livro "Relato da Recente Descoberta do Famoso Grande Rio".

Outro famoso relato sobre tribos amazônicas brancas é consideravelmente mais recente e vem do explorador americano Alexander Hamilton Rice, que viajou pela Amazônia em uma expedição entre 1924 e 1925. Rice realizou a maior parte de sua exploração usando hidroaviões que sobrevoavam a selva e pousavam em rios e lagoas. Ao retornar de uma dessas expedições, ele contou a história de um de seus companheiros exploradores, o Tenente Hinton, que avistou uma tribo de índios brancos enquanto sobrevoava as nascentes do Rio Parima.

Intrigado, Rice organizou uma viagem de canoa rio acima para tentar descobrir a origem dos misteriosos nativos brancos. Por fim, localizaram uma cabana que se acreditava pertencer aos índios brancos e ouviram uma série de gritos agudos que assustaram alguns dos membros da expedição e deixaram o grupo restante nervoso a ponto de pegar em armas. Foi então que dois nativos brancos saíram da floresta, aparentemente em paz.

Os supostos índios brancos da Amazônia

Esses nativos foram descritos como tendo pigmentos pintados no rosto que obscureciam suas feições, mas eram considerados "inegavelmente brancos". Os dois pareciam frágeis e desnutridos, não usavam roupas e carregavam arcos com flechas com pontas envenenadas. Falavam em uma língua única, desconhecida de qualquer outra tribo, o que dificultava a comunicação. Quando os membros da expedição ofereceram contas e lenços como presentes, os dois membros da tribo teriam gritado para a selva, o que fez com que mais nativos de pele clara saíssem de seus esconderijos.

A esses estranhos nativos foi oferecida comida, mas esta foi recusada. Aparentemente eles preferiam se alimentar apenas da comida que haviam trazido e que era carregada em bolsas feitas de folha de bananeira. Durante o encontro, a estranha tribo não demonstrou nenhum interesse ou admiração particular pelas roupas, equipamentos, armas ou hidroavião dos ocidentais. A expedição fez esforços para tentar se comunicar com a tribo, mas a barreira da língua dificultou a comunicação e, depois de um tempo, os índios brancos desapareceram na floresta, movendo-se "entre as árvores como onças, sem fazer barulho ou farfalhar as folhas".

A década de 1920 foi, de fato, um período de muitos encontros estranhos e os misteriosos nativos de pele branca, aparecem com frequência nos relatos de aventureiros que estiveram vagando pela região amazônica. O já mencionado Coronel Percy Fawcett estava convencido de que essas pessoas eram habitantes de uma cidade mística perdida nas profundezas da selva, um lugar que ele chamava simplesmente de "Z". Ele estava tão certo de que essa cidade e seu povo existiam, que a sua busca chegou às raias da obsessão. Fawcett acabaria penetrando cada vez mais longe na selva. Sua derradeira expedição em busca da cidade de Z ocorreu em 1925 e resultou em seu desaparecimento da face da Terra. Nenhum vestígio dele ou de seus companheiros jamais foi encontrado.

Relatos e encontros com nativos brancos na Selva Amazônica continuaram sendo relatados esporadicamente na década de 1940. Em 1945 o jornalista britânico Harold T. Wilkins assumiu a responsabilidade de compilar uma variedade de relatos que remontam ao século XVI em seu livro "Mistérios da Antiga América do Sul". A obra, bastante sensacionalista mencionava tribos de homens e mulheres brancas que habitavam as regiões mais ermas da floresta, sobrevivendo como uma tribo fechada que não se misturava com os demais indígenas. Ele os chamava de Tapicha Moroti, que no idioma tribal tupi significa Povo Pálido.

Esse povo pálido teria como característica marcante justamente a pele de cor clara, praticamente caucasiana, altura superior com média de 1,70, além de olhos e cabelos de compleição clara. Essa tribo, segundo Wilkins seria de descendentes de colonos vindos de terras distantes, possivelmente do norte da África milênios atrás, um grupo de exploradores que teria se perdido nessa região inóspita, adotando o estilo de vida dos nativos. Outra teoria controversa era de que esses nativos seriam os descendentes de alguma civilização desaparecida, tragada pelas águas que se espalharam pelo mundo em uma diáspora que se seguiu a um apocalipse. As lendas da Lemúria, de Mu e da legendárias Atlântida permeavam essas teorias que por sua vez se amparavam nas ideias teosóficas de Helena Blavatsky.


Mesmo nos tempos modernos, houve relatos de encontros com essas tribos enigmáticas. Em 1977, uma expedição conjunta britânica/brasileira relatou ter sido cercada por uma tribo de nativos loiros, incomumente altos, com olhos azuis e pigmentação notavelmente branca, alguns dos quais tinham barba espessa. Todos estavam nus e falavam um dialeto que nenhum especialista jamais ouvira antes. Essas pessoas eram chamadas de Acurinis e foram novamente encontradas por outra expedição na mesma região em 1979. Neste caso, os misteriosos homens da tribo foram vistos apenas brevemente antes de desaparecerem no mato.

Abundam teorias sobre o que poderia estar por trás desses encontros surpreendentes. Uma das teorias é que esses nativos poderiam ser descendentes de náufragos, vikings, exploradores perdidos ou mesmo missionários ocidentais que voluntariamente deixaram a civilização para trás para viver entre os nativos, que os absorveram. De fato, há a crença de que o próprio Percy Fawcett tivesse se convertido em um nativo e que seus descendentes e dos membros de sua expedição, poderiam explicar a existência de nativos de pele clara. 

Nos últimos anos, uma tribo chamada Aché, conhecida por ter pele, cabelos e olhos claros e barbas espessas foi encontrada por uma expedição. Embora tenha sido demonstrado que eles não tinham evidências genéticas de terem se misturado com europeus, sua aparência única sugeria que eles seriam a fonte de pelo menos alguns dos relatos. É improvável que algum dia saibamos com certeza as origens precisas desse mistério.

Um relato bastante peculiar que vem das terras selvagens da Amazônia é o de um explorador intrépido que chegou aqui em busca de mistérios e logo encontraria mais do que esperava, embarcando em uma jornada que incluiria tribos perdidas e isoladas e estranhos poderes da mente. Loren McIntyre foi um explorador, fotojornalista e escritor para publicações conceituadas como National Geographic, Time, Life, Smithsonian, entre outras. 

Ele foi, em muitos aspectos, uma espécie de Indiana Jones da vida real, dedicando grande parte de sua vida a explorar obstinadamente os confins impenetráveis ​​da floresta amazônica. De fato, foi ele o primeiro a descobrir a nascente do Rio Amazonas, quando realizou uma expedição com esse objetivo em 1971. McIntyre faria história ao descobrir que o maior, mais longo e mais caudaloso rio do mundo nascia com um escoamento de neve em uma montanha nos Andes peruanos chamada Mismi. O explorador traçou o curso do rio de sua nascente até onde ele desaguava, através de uma jornada sinuosa por algumas das regiões selvagens mais remotas da Terra. No entanto, embora a expedição tenha se concentrado na origem do Amazonas, certamente esta não foi a sua única descoberta. Durante outra expedição ele teria um encontro inesperado, que ele guardaria para si por anos.

Os Matsés, seriam parentes dos Mayoruna

Em 1969, McIntyre embarcou em uma excursão às profundezas inexploradas da selva amazônica brasileira. Seu alvo era uma tribo pouco conhecida, os Mayoruna, parentes dos Matsés, tão esquivos que nunca haviam sido contatados com sucesso por estrangeiros. Quase nada se sabia sobre essa tribo enigmática vislumbrada apenas fugazmente por algumas testemunhas oculares. Eram como fantasmas, e McIntyre tinha pouco em que se basear quando adentrou o perigoso Vale do Javari, na fronteira entre o Brasil e o Peru. Mal sabia ele que seriam os Mayorunas que o encontrariam.

À medida que o explorador avançava pela selva desconhecida ele acabou percebendo que estava irremediavelmente perdido. Sua jornada se transformou em uma peregrinação à esmo pela perigosa região selvagem que ele imprudentemente havia invadido sozinho. Ele começou a se conformar com o fato de que poderia acabar se tornando mais um explorador perdido, como seu ídolo de infância, Percy Fawcett. Para tornar a jornada ainda mais sinistra, McIntyre se deparou com uma clareira repleta de corpos do que pareciam ser lenhadores, meio devorados por formigas e com flechas saindo de seus cadáveres inchados.

Essa descoberta sinistra fez com que o explorador observasse atentamente as árvores enquanto vagava sem rumo, meio que esperando que a morte o alcançasse a qualquer momento. Parecia certo que ele nunca veria a civilização novamente. Foi nesse momento desesperador que algumas figuras saíram da floresta à sua frente. Era, altos, tinham espinhos cravados no rosto, colares feitos de ossos humanos e lanças compridas. Olhavam para ele com uma mistura de desconfiança e surpresa, mas não demonstraram agressividade. Eram sem dúvida os Mayoruna, e aquele era o mais perto que qualquer forasteiro já chegara deles. Pelo menos qualquer um que ainda estivesse vivo.

O explorador ofereceu alguns presentes que havia trazido para o caso de realmente fazer contato. De sua bolsa, tirou tecidos e espelhos, que colocou diante dos homens da tribo, que os observavam com expressões inescrutáveis ​​em seus rostos perfurados. Eles se aproximaram para aceitar os presentes e então pareceram acenar para que ele os seguisse pela floresta. O cansado McIntyre cambaleou atrás de seus guias, mal conseguindo acompanhar sua ágil navegação pela selva, e assim começaria o próximo capítulo de sua estranha aventura.


O grupo chegou ao que parecia ser um acampamento improvisado habitado por outros membros da tribo, que demonstravam curiosidade com aquele estranho. Retiraram suas botas e as queimaram até virar cinzas, seu relógio, que acharam fascinante, também acabou destruído. De fato, a maioria de seus pertences seria roubado ou destruído, inclusive sua câmera. Embora não tenha havido agressão direta contra ele, havia alguns lembretes sombrios de que ele estava em grande perigo. McIntyre alegou que a tribo usava adereços feitos de ossos humanos, tinham cordas de tendões e que bebia água em cabaças de crânios. Eles também estavam muito bem armados e nunca se afastavam de seus arcos e lanças. Um membro da tribo, sem dúvida um guerreiro, com o rosto pintado de vermelho, a quem ele apelidou de "Bochecha Vermelha", começou a ameaçá-lo e a encará-lo com uma expressão furiosa.

McIntyre ficou com essa tribo perdida por dois meses e, durante esse tempo, fez muitas observações. Percebeu que eles estavam em constante movimento, mudando-se para um novo acampamento a cada semana, às vezes repentinamente e sem aviso. Tinham um estilo de vida nômade, típico de caçadores-coletores. Também pareciam não ter noção de posses individuais, compartilhando livremente tudo uns com os outros e pegando ou usando o que quisessem sem repercussões. Ainda mais estranho, ele notou que essas pessoas frequentemente se moviam de forma bastante bizarra em sincronia, sabendo o que os outros fariam sem precisar falar uns com os outros. Por algum tempo, ele ponderou sobre essa anomalia, mas logo descobriria que a explicação era muito mais estranha do que qualquer coisa que ele tivesse imaginado.

Um dia, ele foi abordado por aquele que supôs ser o chefe da tribo, um homem mais velho, musculoso e grisalho, tratado com respeito pelos demais. Quando o chefe se aproximou e falou com McIntyre, o explorador descobriu que, estranhamente, conseguia entender o que ele tinha a dizer. Isso o deixou perplexo, mas logo ele percebeu que o chefe não movia a boca ao falar, e que estava falando diretamente em sua mente, usando o que ele supôs ser uma espécie de telepatia! Mais tarde ele chamaria essa forma de comunicação não verbal de "transmissão" ou "a outra língua".

O ancião explicou que a tribo existia como uma espécie de consciência coletiva e que seus pensamentos estavam todos interligados, embora apenas os anciãos da tribo fossem capazes de concentrar esse poder telepático. McIntyre aprendeu que não havia um "eu" real na tribo, para eles, o conceito de indivíduo fazia pouco sentido. O chefe também explicou que eles estavam sob constante ameaça de inimigos e que essa era a razão pela qual a tribo se mudava com frequência. Os nativos procuravam sua terra natal onde tencionavam viver, mas eles não sabiam onde ela ficava. Chamavam esse lugar de "O Início" e diziam que era uma terra mística onde os antepassados dos Mayoruna nasceram e para onde seus espíritos migravam.

O fluxo do tempo, passado, presente e futuro, ao mesmo tempo.

O chefe convidou McIntyre para acompanhá-los em sua jornada rumo ao “Início” e, nas semanas seguintes, ele os seguiu  e se envolveu nos seus estranhos ritos. O explorador partilhou de misturas psicoativas extraídas de ervas e raízes que distorciam suas percepções. Ele alegou ter visões de cenas de seu passado e futuro, vistas com inacreditável realidade. Era como se aquelas drogas tivessem aberto sua percepção para um fluxo de tempo que poderia ser visitado. Era como viajar no espaço e no tempo sem sair do lugar, uma experiência que deixou o explorador estarrecido.

Ele também descobriu que, se se concentrasse, poderia captar uma espécie de névoa estática que continha os pensamentos interligados de todos os membros da tribo. Era como pressentir emoções e pensamentos alheios. No entanto, apesar de tudo aquilo, ele sabia que em algum momento teria que deixar para trás aquela selva para retornar à civilização. O único problema era que o explorador não tinha ideia de onde estava e se os seus novos companheiros o deixariam partir. Ele não tinha ilusões de que era um prisioneiro e que eles poderiam matá-lo se tentasse fugir. 

Contudo, o destino se encarregou de dar uma ajuda. Uma enchente varreu a região após chuvas torrenciais, e McIntyre aproveitou a chance para escapar agarrado a uma balsa, despejada no rio. Ele foi encontrado dias depois por madeireiros que o levaram de volta a um vilarejo de onde conseguiu contato com a civilização que já o havia dado como morto. Haviam se passado três meses desde seu desaparecimento.  

Ao retornar McIntyre manteve o que lhe aconteceu em segredo e é bem provável que sua história fantástica jamais fosse partilhada se não fosse por um cineasta romeno chamado Petru Popescu. Em 1987, Popescu conheceu McIntyre por acaso durante uma viagem de barco pelo Rio Amazonas. Os dois homens se deram bem e, por algum motivo McIntyre confidenciou a ele o que havia acontecido na selva. Foi tudo bastante surpreendente, e quando Popescu perguntou por que ele nunca havia contado a ninguém sobre isso, McIntyre disse que não achava que alguém acreditaria na história. Sua reputação como um respeitado explorador poderia ser arranhada por uma narrativa tão surreal que incluía telepatia e viagens no tempo.

Popescu conseguiu convencer McIntyre a deixá-lo escrever um livro sobre suas aventuras e, em 1991 ele lançou "O Encontro", obra que narrava os acontecimentos ocorridos décadas antes e cobria o período do explorador na companhia dos misteriosos Mayoruna. A obra dividiu opiniões e atraiu a atenção de místicos que apontaram as experiências como uma demonstração da sabedoria da floresta. 

Uma das últimas fotografias de Loren McIntyre

Quanto à tribo não se soube mais nada! 

Ela desapareceu nas profundezas da Selva e o próprio McIntyre disse que por um pressentimento sentia que eles não estavam mais acessíveis - se morreram, desapareceram ou chegaram ao "Início", ele não soube precisar. Na sua concepção, era como se eles tivessem sumido. Na sua opinião ninguém os encontraria e expedições de busca jamais teriam êxito. Os Mayoruna nunca foram formalmente achados, embora relatos a respeito de sua existência tenham sido colecionados por exploradores que entrevistaram nativos da região. 

Loren McIntyre faleceu em 2003 sem emitir mais opiniões sobre os acontecimentos na década de 1970 ou a tribo com a qual ele andou. Ele afirmava saber exatamente quando e em que circunstâncias morreria, graças às drogas que tomou nos rituais que abriram sua mente para essa visão. Surpreendentemente ele disse a amigos que sua morte estava próxima, cerca de 2 meses antes dela ocorrer de fato. 

É difícil conceituar a estranha narrativa de McIntyre, mas a despeito de sua confirmação, inegavelmente trata-se de algo fantástico. O livro de Popescu, baseado nas entrevistas que ele conduziu, funciona como uma janela para conhecer essa tribo desconhecida, seus costumes e rituais, mas a verdade sobre a sua existência de fato, isso, provavelmente, jamais saberemos.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Medo de Palhaços - O Infame Pânico que varreu a América em 2016


O chamado Pânico de Palhaços de 2016 pode ser rastreado até um bizarro incidente em agosto daquele ano. Palhaços sinistros supostamente foram vistos andando pelos arredores de Greenville, na Carolina do Sul, supostamente atraindo crianças para áreas desertas atrás de blocos de apartamentos. Era  assustador e alarmante  - não importa se era verdade ou mero rumor.

A maioria desses relatos vinham de crianças. Ninguém foi de fato ferido por esses palhaços ameaçadores que segundo algumas crianças viviam em uma casa próxima de um lago no final de uma trilha na floresta próxima. A polícia que investigou essa historia estranha a lá João e Maria não encontrou indícios de atividade criminosa, menos ainda, qualquer suspeito vestido de Palhaço. 

De acordo com uma fonte da emissora NBC na época, "um morador disse que estava na frente do prédio uma tarde quando um de seus filhos foi até ele apavorado, afirmando ter visto palhaços na floresta sussurrando e fazendo sons esquisitos".

O morador acrescentou que dado o estado de nervos da criança, ele achou melhor verificar o que estava acontecendo. Ao entrar na mata se deparou com três ou quatro indivíduos vestindo fantasias de palhaço apontando luzes esverdeadas de laser na sua direção. Quando ele tentou se aproximar o bando fugiu. Se esse relato deve ser levado em conta, sugere que brincalhões seriam os responsáveis- talvez adolescentes usando máscaras para pregar uma peça nos meses anteriores ao Halloween. Seja lá o que fosse, esse foi apenas um dos acontecimentos bizarros envolvendo palhaços sinistros. Logo dezenas de outros relatos surgiam ao redor do pais.

Palhaços começaram a ser visto com frequência cada vez maior: espiando, espreitando, invadindo... o sentimento de Courofobia (o medo crônico de palhaços) foi às alturas. 


A maioria das histórias sobre palhaços malignos não passam de ficção, mas alguns poucos, como o caso do infame assassino em série John Wayne Gacy são horrivelmente reais. Gacy, um cidadão acima de qualquer suspeita de Chicago, se vestia como Pogo uma figura que ganhou notoriedade pela sua imagem aterrorizante. Pogo, um palhaço diabólico, foi a inspiração para o palhaço Pennywise do romance IT de Stephen King.

Mas alguns acreditavam que haviam outros palhaços perversos vagando pelas ruas e parques, perseguindo crianças inocentes e tentando raptá-las - ainda que ninguém tenha sido preso ou processado. Alguns dizem que esses palhaços eram reais, enquanto outros afirmam que eles não passavam de imaginação. Essas figuras ficaram conhecidas como Palhaços Fantasma, uma expressão criada pelo autor Loren Coleman em seu livro "América Misteriosa".

Segundo Coleman, os primeiros relatos de Palhaços Fantasmas remontam a meados de maio de 1981, quando várias crianças da vizinhança de Brookline, Massachusetts, relataram ter encontrado homens vestidos como palhaços que tentaram atrai-los com a promessa de doces. A polícia vasculhou a área mas não encontrou nada. No dia seguinte, pais preocupados de Boston demonstraram preocupação quando seus filhos comentaram a respeito de adultos vestidos de palhaço. Outros relatos vieram à tona em cidades vizinhas nos meses seguintes, sempre com o mesmo padrão. Pais demonstravam preocupação, crianças eram avisadas para não falar com estranhos e policiais ficavam em estado de alerta. Mas a despeito de todo cuidado, nenhuma evidencia foi obtidas.

Apesar disso as pessoas continuavam receosas sem saber o que pensar, sobretudo porque muitas crianças continuavam falando sobre palhaços assediando e observando. Os casos continuaram esporadicamente, sendo que o auge dos relatos ocorreu em 2016, quando uma verdadeira febre de avistamentos varreu os EUA. 

Sociólogos e psicólogos estudaram o fenômeno por anos, tentando compreender o que ele significava. A folclorista Sandy Hobbs e o historiador David Cornwell, escreveram um livro com o título "Inimigos Sobrenaturais - A Presença do Estranho e Inesperado nos quintais da América". O livro dedicava um longo capítulo aos Palhaços Fantasmas e analisava as raízes desse mito, como ele se espalhava e a justificativa para o pânico existente.


Para começar descobriram que o temor e a desconfiança quanto a palhaços era mais antigo do que se podia imaginar. Uma origem possível seriam os Espetáculos Itinerantes (Carnivals ou Carnivales) uma prática bastante comum na América do século XIX e inicio do século XX. Os Carnivales eram companhias de artistas que viajavam pelo país, visitando cidades pequenas no interior, oferecendo diversão e atrações circenses. Dentre as atrações haviam artistas com maquiagem espalhafatosa, que remetiam a vagabundos clássicos da Comedia de l'Arte. Esses personagens, que muitas vezes faziam alusão a ciganos e outras minorias estigmatizadas, ficaram associados a prática de sequestrar crianças e levá-las consigo quando o bando partia.

Esse temor parece ter se cristalizado no imaginário coletivo em várias cidades do interior, com pais e responsáveis incutindo nas crianças a noção equivocada de que palhaços eram estranhos e potencialmente perigosos. Soma-se a isso as famílias que ameaçavam seus filhos dizendo que se eles não se comportassem, os palhaços as levariam embora. Os espetáculos itinerantes tiveram seu auge na década de 1930 durante a Grande Depressão e sem dúvida contribuíram para o medo dos palhaços vagabundos que foi passado de geração em geração. 

A pesquisa concluiu que o ressurgimento do Pânico dos Palhaços se deu por uma combinação da ação dos pais, da polícia e da mídia, cada qual ajudando a legitimizar rumores absurdos e infundados. Crianças mais velhas ouviam essas histórias e as repassavam aos mais jovens. Lendas Urbanas vinham à superfície depois de ficarem adormecidas por décadas. Dentro das narrativas surgiam o nome de crianças sequestradas e detalhes sobre casos ocorridos no passado: todos "ouviam falar e acrescentavam mais um pequeno fragmentos à narrativa, fazendo com que ela crescesse. Quando professores, autoridades, pais e os jornais compartilhavam alerta sobre uma ameaça, os relatos acabavam ganhavam legitimidade.

Em seu livro "Terrores Inesperados", lançado em 2024, Robert Bartholomew e Paul Weatherhead também examinam essa Lenda Urbana. Os casos geralmente estão associados com uma epidemia de rumores sensacionalistas e o relato de avistamento de figuras elusivas vestidas como palhaços. Além de causar estranheza, esses personagens pareciam surgir e desaparecer sem deixar vestígios, criando uma sensação de grande estranheza.


O Pânico de Palhaços se encaixa perfeitamente na categoria dos temores diante do desconhecido. As pessoas não sabem o que significa o aparecimento de pessoas vestidas de palhaço. Diante do inusitado, concluem que é algo perigoso e maligno. Afinal, a pergunta: "O que eles querem"? não tinha resposta fácil.  

Ao longo do último Pânico dos Palhaços não houve qualquer caso confirmado de criança subtraída por alguém vestido dessa forma. No entanto, se for perguntado, muitas pessoas dirão conhecer casos e irão confirmar incidentes. Isso sugere um tipo de construção social ou mesmo histeria coletiva. Se os casos aconteceram como muitos acreditam, como nenhum deles chegou à polícia? Como explicar que nenhum suspeito foi preso e praticamente nenhum caso resultou em confirmação de ocorrência?

Observado de forma objetiva é difícil acreditar que uma pessoa vestida de palhaço poderia invadir uma casa para cometer um sequestro sem que ninguém percebesse. Palhaços com suas roupas espalhafatosas e maquiagem gritante são qualquer coisa, menos discretos. 

Buscando um pouco mais fundo nos relatórios feitos pela policia de Greenville, é possível encontrar relatórios curiosos; um deles, preenchido em 21 de agosto menciona que "várias crianças da comunidade viram palhaços perambulando pela área florestal próxima do prédio D, e que estes palhaços tentaram persuadir menores a adentrar na floresta, oferecendo em troca brinquedos, doces e até dinheiro".

Este é um detalhe insidioso. Palhaços usando de métodos maliciosos para atrair crianças, oferecendo doces ou sorvetes. Essa narrativa parece um típico exemplo de lenda urbana e moral moderna, aquela mesma que adverte crianças a jamais aceitar doces de estranhos. 


Os relatos sobre palhaços em Greenville provavelmente não passaram de brincadeira, equívocos, lenda urbana ou uma combinação dessas três coisas. As chances de uma ou mais pessoas vestidas de palhaço estarem realmente tentando sequestrar crianças são remotas. Muitas pessoas perceberam isso, mas pais e policiais, compreensivelmente manifestaram seus temores. Com efeito, vídeos se tornaram virais, muitos deles originados (ou compartilhados) nas redes sociais, resultaram no aumento de patrulhas policiais e, em alguns casos, lockdowns completos. 

Em setembro de 2016, a polícia de Flomaton, Alabama, investigou o que foram consideradas ameaças críveis aos alunos da escola local. Mensagens ameaçadoras apareceram nos muros da cidade: "Vai acontecer hoje à noite", prometia uma delas. Cerca de 700 alunos da Flomaton High School e da vizinha Flomaton Elementary School foram instruídos a se abrigarem enquanto as escolas, seguindo o protocolo, foram colocadas em lockdown durante grande parte do dia. Dezenas de policiais e outros agentes da lei vasculharam o local em busca de ameaças. As investigações atraíram até mesmo o FBI que encontrou os responsáveis pela ameaça: um adulto e dois adolescentes foram presos e condenados pela brincadeira sem graça. 

Esses incidentes deixaram pais e professores se perguntando se os "Lockdowns de Palhaços" seriam o novo normal ou se aquilo não passava de exagero? Em outra ameaça escolar também no Alabama, duas pessoas vestidas de palhaço apareceram em um vídeo no Facebook brandindo facas e gritando: "Vamos atrás de você em Troy". A polícia identificou os dois indivíduos no vídeo, que já havia sido visto mais de 50.000 vezes. Eles eram estudantes locais de uma Escola na cidade de Troy. A polícia não indiciou os dois meninos, mas alertou outros potenciais imitadores de que tais brincadeiras não seriam toleradas.

Os boatos podem, é claro, ter consequências graves.

Embora as crianças tenham pouco a temer de palhaços, a lenda urbana pode representar um perigo real. Nos relatórios de Greenville, cidadãos alarmados dispararam armas de fogo na esperança de matar os palhaços à espreita na floresta. Felizmente, ninguém se feriu, mas a situação poderia ter se tornado fatal. Em meio aos boatos e sustos, uma menina de onze anos na Geórgia levou uma faca para a escola por ter medo dos palhaços. Outra criança, um menino de 11 anos, foi detido em Athens, após uma revista descobrir uma pistola 45 em sua mochila. Ele disse que pegou a arma do pai para se defender dos palhaços. 


Em meados de outubro, o Pânico dos Palhaços assustadores se espalhou por todo o país, chegando a dezenas de estados. O incidente tornou-se tão sério que foi abordado em um briefing na Casa Branca em 4 de outubro. O secretário de imprensa Josh Earnest disse: "Não sei se o presidente foi informado sobre esta situação específica... Obviamente, esta é uma situação que as autoridades policiais locais levam muito a sério, e elas devem analisar minuciosamente as ameaças à segurança da comunidade, e agir da maneira mais adequada."

Além dos vídeos, muitos dos relatos foram reconhecidos como invenção. Um homem na Carolina do Norte alegou falsamente que um palhaço havia batido em sua janela à noite, ele foi preso por forjar o incidente. Já uma mulher de Ohio alegou que um palhaço com uma faca a atacou a caminho do trabalho e cortou sua mão, mas depois admitiu que inventou a história.

Também havia pessoas se fantasiando de palhaços para assustar os outros. Dois adolescentes canadenses vestidos de palhaços se divertiram em um parque assustando crianças. Em Wisconsin, um homem vestido de palhaço foi visto repetidas vezes. Posteriormente se descobriu que ele era parte de uma campanha de marketing para um filme de terror. Um ano antes, um palhaço assustador foi avistado do lado de fora de um cemitério de Chicago.

Em qualquer outro momento da história, relatos de palhaços ameaçadores provavelmente teriam sido ignorados, mas esses incidentes ocorreram em um momento em que ameaças terroristas e tiroteios em escolas estavam nos noticiários. O medo se molda e se transforma para admitir novas faces.
 
Pânicos sociais infelizmente são algo comum no mundo moderno. O Pânico dos Palhaços de 2016 não foi o primeiro desse tipo e certamente não será o último. Quando o próximo evento acontecer — e acontecerá — é importante ter em mente que a melhor defesa contra o temor diante do desconhecido é o ceticismo e o pensamento crítico.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Tribos Desconhecidas - Incríveis encontros com Nativos Misteriosos: Os Maricoxi


A história guarda muitas peculiaridades que talvez nunca sejamos capazes de compreender. Muitas vezes por documentação incompleta, desinteresse da época ou simplesmente por um grande ponto de interrogação que paira sobre todos algumas coisas parecem destinadas a nunca serem explicadas. Entre estas, encontram-se as misteriosas tribos perdidas que foram encontradas em todos os cantos do globo, muitas vezes desaparecendo antes que realmente as compreendêssemos. Elas são conhecidas apenas por relatos esparsos, deixando-nos perplexos sobre suas origens. Aqui, examinaremos misteriosas tribos perdidas de homens-macaco, índios de olhos azuis, tribos místicas com poderes telepáticos, entre outras.

Vamos começar pelas selvas remotas da América do Sul que têm sido fonte de contos de criaturas e lendas estranhas há séculos. Há numerosos avistamentos de uma tribo de seres humanoides semelhantes a macacos vivendo em áreas selvagens da qual sabe-se muito pouco.

A descrição dessas criaturas variava enormemente: com uma estatura que ia de diminutos 90 centímetros até gigantescos 3,6 metros de altura eles eram selvagens. Os nativos e viajantes frequentemente afirmavam que estes seres habitavam aldeias próprias, usavam ferramentas e arcos e flechas primitivos para caça e guerra. Tinham ainda uma linguagem própria de grunhidos e assobios. Mais impressionante eram cobertos de pelos crespos e escuros que lhes concedia um aspecto animalesco. Embora os nomes regionais possam variar, eles eram classificados sob o nome genérico Maricoxi e, em sua maior parte constituem um enigma completo.

Os Maricoxi sempre foram um mistério, sendo descritos por exploradores do século XVI em diante. As matas fechadas em que eles viviam eram prudentemente evitadas pelas demais tribos que os consideravam perigosos. 

Talvez um dos encontros mais bem documentados e angustiantes com essas criaturas misteriosas tenha sido detalhado pelo famoso explorador britânico o Coronel Percival H. Fawcett, mais frequentemente chamado de Percy Fawcett, que desapareceu na selva durante uma expedição para encontrar a misteriosa cidade perdida de Z. Fawcett era conhecido por escrever extensos diários de suas viagens, muitos dos quais seriam posteriormente compilados em livros por seu filho Brian. Em um desses livros, intitulado "Trilhas Perdidas, Cidades Perdidas", encontra-se uma história bastante curiosa de um encontro com os Maricoxi.


O incidente ocorreu em 1914, quando Fawcett estava em uma expedição para mapear a região inexplorada do sudoeste do Mato Grosso. A partir da Bolívia, sua expedição penetrou na selva escura rio acima. As tribos locais conheciam histórias bizarras de homens-feras peludos que supostamente habitavam aquele mar de árvores e os advertiram sobre eles. Embora parecesse algo fantasioso, a informação era o suficiente para mantê-los cautelosos com o que os cercava e com o que encontrariam em sua jornada. Ivan Sanderson escreveu sobre as histórias de Fawcett em seu livro "Things", de 1967, no qual escreve:

Essas criaturas eram chamadas de Maricoxis pelos Maxubis. Eles viviam a nordeste deles. A leste, dizia-se que havia outro grupo de pessoas baixas e negras, cobertas de pelos, que eram canibais e caçavam humanos para se alimentar, cozinhando os corpos em espetos na fogueira e arrancando a carne em nacos. Os Maxubis consideravam esses seres repugnantes e inferiores pelos seus hábitos. Em uma viagem posterior, o Coronel Fawcett foi informado de um "povo-macaco" que vivia em tocas no chão, também cobertos de pelos escuros e que tinham hábitos noturnos, de modo que eram conhecidos pelos vizinhos como Povo-Morcego. Esses tipos erma chamados de Cabelludos ou "Povo Peludo" pelos falantes de espanhol, e Tatus, por vários grupos ameríndios, porque viviam em tocas como esses animais. Fawcett registrou relatos de ameríndios na floresta que os Morcegos tinham um olfato incrivelmente bem desenvolvido, o que levava esses caçadores a sugerir que eles tinham um "sexto sentido".

Apesar das narrativas, o grupo se embrenhou bravamente ao longo do rio, encontrando algumas peculiaridades ao longo do caminho. A primeira descoberta interessante foi uma tribo ameríndia até então desconhecida, que se identificava como Maxahubis e exibia algumas características curiosas, como sua religião de adoração ao Sol. Demonstravam também um conhecimento inexplicável dos planetas do sistema solar, que conseguiam deduzir com uma precisão notável. Teria sido interessante estudar isso mais a fundo, mas Fawcett e companhia não estavam lá para fazer trabalho antropológico e, depois de passar alguns dias com a tribo, retornaram à selva envolta em névoa, deixando esse povo fascinante para trás, e cruzando para uma região completamente desconhecida para forasteiros, tão remota e estranha que poderia muito bem ser a superfície de algum planeta alienígena.

Após vários dias lidando com inúmeros perigos dessa terra indomável, a expedição se deparou com uma trilha misteriosa no meio do nada e presumiram ser ela usada pelos nativos da região. Enquanto estavam ali, decidindo se seguiriam a trilha ou não, Fawcett escreve que viram duas figuras se movendo a cerca de 90 metros de distância, aparentemente conversando em alguma língua desconhecida e carregando arcos e flechas. Embora a princípio se presumisse que fossem de uma tribo local, uma inspeção mais detalhada mostrou que eram decididamente mais estranhos, e Fawcett os descreveu:

Não conseguíamos vê-los claramente por causa das sombras salpicadas em seus corpos, mas me pareceu que eram homens grandes e peludos, com braços excepcionalmente longos e testas inclinadas para trás a partir de arcos oculares pronunciados, homens de um tipo muito primitivo, na verdade, e completamente nus. De repente, eles se viraram e se dirigiram para o mato, e nós, sabendo que era inútil segui-los, começamos a subir o trecho norte da trilha.


Parece bastante óbvio, a essa altura, que Fawcett não considerava estes estranhos como seres humanos desenvolvidos. Talvez isso já fosse suficientemente estranho, mas as coisas ficaram ainda mais bizarras. Ao anoitecer, a floresta subitamente ganhou vida com o som do que pareciam ser trombetas ecoando na escuridão distante. Os membros da expedição ficaram imediatamente em alerta, pois instintivamente sabiam que se tratava de um som agressivo emitido com a promessa de ameaça. Fawcett escreveria sobre essas trompas e o que se seguiu:

Na luz suave do entardecer, sob a alta abóbada de galhos nesta floresta inexplorada pelo homem civilizado, o som era tão assustador quanto as notas iniciais de uma ópera fantástica. Sabíamos que os selvagens tinham feito aquilo e que eles estavam agora em nosso encalço. Logo pudemos ouvir gritos e tagarelices acompanhados pelos chamados ásperos das trompas — um estrondo bárbaro e implacável, em nítido contraste com a furtividade do selvagem comum.

A escuridão, ainda distante acima das copas das árvores, estava se instalando rapidamente ali, nas profundezas da mata, então procuramos ao redor um local de acampamento que oferecesse alguma segurança contra ataques e, finalmente, nos refugiamos em um matagal de taquaras. Ali, os selvagens nus não ousariam nos seguir por causa dos enormes espinhos. Enquanto pendurávamos nossas redes dentro da paliçada natural, podíamos ouvir os selvagens tagarelando por todos os lados, mas sem ousar entrar. Então, quando a última luz se extinguiu, eles nos deixaram e não ouvimos mais falar deles."

É uma imagem assustadora, com certeza, este acampamento solitário de exploradores desgrenhados, aterrorizados pela visão de homens peludos e assediados por trombetas misteriosas na noite, pontuado pelo chilrear de alguma língua estranha. Na manhã seguinte, a equipe verificou cautelosamente os arredores e não encontrou nenhum sinal de que qualquer um dos "selvagens" tivesse se intrometido nas proximidades. Nem mesmo as pegadas estavam claras. Eles continuaram por uma das trilhas bem delineadas e acamparam novamente naquela noite, sem incidentes. Na manhã seguinte, partiram do acampamento e, a cerca de um quilômetro de distância, tropeçaram no que parecia ser a aldeia da estranha tribo, povoada por criaturas que obviamente não eram humanas. Fawcett descreve o que aconteceu de forma bastante espetacular:

De manhã, seguimos em frente e, a menos de quatrocentos metros, chegamos a uma espécie de guarita de folhas de palmeira. Então, de repente, chegamos a uma clareira ampla. A vegetação rasteira desapareceu, revelando entre os troncos das árvores uma aldeia de abrigos primitivos, onde se agachavam alguns dos selvagens mais estranhos que já vi. Alguns estavam ocupados fabricando flechas, outros apenas ociosos — grandes brutos, verdadeiramente simiescos que pareciam ter evoluído pouco além do nível de animais selvagens.

Assobiei, e uma criatura enorme, com pelo áspero e escuro levantou-se de um salto no abrigo mais próximo, encaixou uma flecha em seu arco num piscar de olhos e subiu dançando de uma perna para a outra até estar a apenas quatro metros de distância. Emitindo grunhidos que soavam como "Eck! Eck! Eck!", ele permaneceu dançando, e de repente toda a floresta ao nosso redor se encheu de vida com aqueles horríveis homens-macaco, todos grunhindo "Eck! Eck! Eck!" e dançando de uma perna para a outra esticando as flechas em seus arcos. Parecia uma situação muito delicada para nós, e eu me perguntei se seria o fim. Fiz propostas amigáveis ​​em maxubi, mas eles não me deram atenção. Era como se a fala humana estivesse além de sua capacidade de compreensão.

A criatura à minha frente interrompeu sua dança, ficou imóvel por um momento e então puxou a corda do arco para trás até que ela ficasse na altura da orelha, ao mesmo tempo em que erguia a ponta farpada da flecha até a altura do meu peito. Olhei diretamente nos olhos, meio escondidos sob as sobrancelhas salientes, e conclui que ele iria disparar. Mas tão deliberadamente quanto a havia erguido, ele abaixou o arco e recomeçou a dança lenta e aquele absurdo "Eck! Eck! Eck!"


Este "homem-macaco" continuou a fazer aquilo várias vezes, mirando o arco apenas para continuar com sua dança estranha e desconexa e então mirar novamente. No entanto, Fawcett parecia saber que a qualquer momento aquela flecha poderia disparar, e sua mão estava firmemente apoiada na coronha da pistola. Em algum momento, Fawcett diz que começou a temer seriamente por sua vida e decidiu assustá-los com sua arma, disparando uma bala que atingiu perto da criatura. O som estrondoso ecoou pela selva. Ele conta sobre a sequência de eventos que se seguiu:

"Saquei uma pistola Mauser que eu tinha no quadril. Era uma arma grande e desajeitada, de um calibre inadequado para uso na floresta, mas eu a trouxe porque, ao prender o coldre de madeira à coronha da pistola, ela se transformava em uma carabina e era mais leve de carregar do que um rifle de verdade. Usava cartuchos de pólvora negra calibre .38, que faziam um barulho desproporcional ao seu tamanho. Eu nunca o levantei; apenas puxei o gatilho e o disparei no chão aos pés do homem-macaco.

O efeito foi instantâneo! Uma expressão de completo espanto tomou conta do rosto hediondo, e os olhos se arregalaram. Ele largou o arco e saltou tão rápido quanto um gato para desaparecer atrás de uma árvore. Então as flechas começaram a voar. Disparamos contra os galhos, esperando que o barulho assustasse os selvagens e os deixassem mais receptivos, mas eles não pareciam nem um pouco dispostos a nos aceitar, e antes que alguém se machucasse, desistimos, pois não tínhamos esperança, e recuamos pela trilha até o acampamento desaparecer de vista. Não fomos seguidos, mas o clamor na aldeia continuou por um longo tempo enquanto rumávamos para o norte, e imaginávamos ainda ouvir o "Eck! Eck! Eck!" dos nativos enfurecidos.

Este relato pode parecer completamente sensacionalista a ponto de ser fácil para os mais céticos descartá-lo de imediato, mas há razões pelas quais ele tem fundamento e merece consideração. A primeira é que provavelmente não se tratava de uma história fictícia que Fawcett estava contando. Ela fazia parte de suas anotações meticulosas sobre a expedição, e estava ali, entre observações mais mundanas da vida selvagem e dos diversos povos da região. Fawcett era um aventureiro profissional e membro da Royal Geographical Society, além de explorador e agrimensor muito respeitado e experiente no seu campo. Não há nenhuma razão para que ele quisesse inventar tal história e deixá-la no meio de seu diário, que de outra forma, é perfeitamente normal. Por que ele faria isso, correndo o risco de arruinar sua reputação? Com ​​que objetivos? 


Fawcett também foi acusado de ter exagerado em suas relações com os nativos e, neste caso, tê-los retratado como brutos peludos por motivos racistas. Mas, se fosse esse o caso, por que existem outros registros de suas relações com os nativos que são completamente precisos na descrição tanto de aparência quanto comportamento? É verdade que Fawcett era conhecido por ter opiniões fortes sobre as tribos mais primitivas, mas ele parece nunca ter deixado que isso comprometesse a maneira objetiva como registravam os povos nativos. Sanderson tem muito a dizer sobre esse aspecto dos registros do diário, escrevendo:

Ele (Fawcett) não era etnólogo, antropólogo ou arqueólogo, mas foi com essas disciplinas que ele entrou em conflito expressando sentimentos de amargura. Em suas extensas viagens por territórios até então inexplorados, ele descobriu grupos de pessoas pela primeira vez, conviveu com eles, muitas vezes aprendeu suas línguas, registrou o que pôde de seus costumes e tentou alguma classificação de suas origens. Ele gostava muito disso! Considerava um dos aspectos mais importantes de seu trabalho. Mesmo assim, as teorias de Fawcett estavam em total desacordo com o que era então, aceito pelos estudiosos. Mas embora essas teorias tenham sido fortemente criticadas, a veracidade dos relatos coletados jamais foi questionada."

Isso coloca seu relato dos Maricoxis sob uma luz completamente diferente, independentemente do fato de que sua palavra nunca foi posta em dúvida. Mais tarde o que ele viu foi confirmado por outros exploradores, em relatos que lhe foram transmitidos por várias pessoas que travara contato com os Maricoxi. Muitos falavam desses seres peludos como mais animais que homens...

Portanto, somos compelidos a aceitar o relato feito na íntegra; um relato que afirma que no ano de 1914, tribos de hominídeos de aspecto primitivo, quase bestial, viviam a nordeste da Serra dos Parecis, no Mato Grosso. Uma tribo completamente desconhecida. 

Embora Sanderson possa parecer precipitado demais para acreditar na história completa, certamente é um relato que se destaca entre os escritos de Fawcett e que, em última análise, deixa mais perguntas do que respostas. O que Fawcett e seus companheiros de expedição encontraram naquela selva? Seriam eles de fato os lendários Maricoxi? É realmente lamentável que, considerando que Fawcett não estava particularmente interessado em investigar o assunto, e parece tê-lo considerado principalmente um obstáculo e uma estranheza, ele nunca tenha se esforçado para descobrir o que eram as criaturas de seu relato. Será que essa tribo de homens-macaco peludos realmente existiu como Fawcett os descreveu? E, se sim, o que eram eles e como se encaixavam na lenda de Maricoxi? A resposta pode permanecer para sempre escondida naquele covil proibido da selva.