A história guarda muitas peculiaridades que talvez nunca sejamos capazes de compreender. Muitas vezes por documentação incompleta, desinteresse da época ou simplesmente por um grande ponto de interrogação que paira sobre todos algumas coisas parecem destinadas a nunca serem explicadas. Entre estas, encontram-se as misteriosas tribos perdidas que foram encontradas em todos os cantos do globo, muitas vezes desaparecendo antes que realmente as compreendêssemos. Elas são conhecidas apenas por relatos esparsos, deixando-nos perplexos sobre suas origens. Aqui, examinaremos misteriosas tribos perdidas de homens-macaco, índios de olhos azuis, tribos místicas com poderes telepáticos, entre outras.
Vamos começar pelas selvas remotas da América do Sul que têm sido fonte de contos de criaturas e lendas estranhas há séculos. Há numerosos avistamentos de uma tribo de seres humanoides semelhantes a macacos vivendo em áreas selvagens da qual sabe-se muito pouco.
A descrição dessas criaturas variava enormemente: com uma estatura que ia de diminutos 90 centímetros até gigantescos 3,6 metros de altura eles eram selvagens. Os nativos e viajantes frequentemente afirmavam que estes seres habitavam aldeias próprias, usavam ferramentas e arcos e flechas primitivos para caça e guerra. Tinham ainda uma linguagem própria de grunhidos e assobios. Mais impressionante eram cobertos de pelos crespos e escuros que lhes concedia um aspecto animalesco. Embora os nomes regionais possam variar, eles eram classificados sob o nome genérico Maricoxi e, em sua maior parte constituem um enigma completo.
Os Maricoxi sempre foram um mistério, sendo descritos por exploradores do século XVI em diante. As matas fechadas em que eles viviam eram prudentemente evitadas pelas demais tribos que os consideravam perigosos.
Talvez um dos encontros mais bem documentados e angustiantes com essas criaturas misteriosas tenha sido detalhado pelo famoso explorador britânico o Coronel Percival H. Fawcett, mais frequentemente chamado de Percy Fawcett, que desapareceu na selva durante uma expedição para encontrar a misteriosa cidade perdida de Z. Fawcett era conhecido por escrever extensos diários de suas viagens, muitos dos quais seriam posteriormente compilados em livros por seu filho Brian. Em um desses livros, intitulado "Trilhas Perdidas, Cidades Perdidas", encontra-se uma história bastante curiosa de um encontro com os Maricoxi.
O incidente ocorreu em 1914, quando Fawcett estava em uma expedição para mapear a região inexplorada do sudoeste do Mato Grosso. A partir da Bolívia, sua expedição penetrou na selva escura rio acima. As tribos locais conheciam histórias bizarras de homens-feras peludos que supostamente habitavam aquele mar de árvores e os advertiram sobre eles. Embora parecesse algo fantasioso, a informação era o suficiente para mantê-los cautelosos com o que os cercava e com o que encontrariam em sua jornada. Ivan Sanderson escreveu sobre as histórias de Fawcett em seu livro "Things", de 1967, no qual escreve:
“Essas criaturas eram chamadas de Maricoxis pelos Maxubis. Eles viviam a nordeste deles. A leste, dizia-se que havia outro grupo de pessoas baixas e negras, cobertas de pelos, que eram canibais e caçavam humanos para se alimentar, cozinhando os corpos em espetos na fogueira e arrancando a carne em nacos. Os Maxubis consideravam esses seres repugnantes e inferiores pelos seus hábitos. Em uma viagem posterior, o Coronel Fawcett foi informado de um "povo-macaco" que vivia em tocas no chão, também cobertos de pelos escuros e que tinham hábitos noturnos, de modo que eram conhecidos pelos vizinhos como Povo-Morcego. Esses tipos erma chamados de Cabelludos ou "Povo Peludo" pelos falantes de espanhol, e Tatus, por vários grupos ameríndios, porque viviam em tocas como esses animais. Fawcett registrou relatos de ameríndios na floresta que os Morcegos tinham um olfato incrivelmente bem desenvolvido, o que levava esses caçadores a sugerir que eles tinham um "sexto sentido".
Apesar das narrativas, o grupo se embrenhou bravamente ao longo do rio, encontrando algumas peculiaridades ao longo do caminho. A primeira descoberta interessante foi uma tribo ameríndia até então desconhecida, que se identificava como Maxahubis e exibia algumas características curiosas, como sua religião de adoração ao Sol. Demonstravam também um conhecimento inexplicável dos planetas do sistema solar, que conseguiam deduzir com uma precisão notável. Teria sido interessante estudar isso mais a fundo, mas Fawcett e companhia não estavam lá para fazer trabalho antropológico e, depois de passar alguns dias com a tribo, retornaram à selva envolta em névoa, deixando esse povo fascinante para trás, e cruzando para uma região completamente desconhecida para forasteiros, tão remota e estranha que poderia muito bem ser a superfície de algum planeta alienígena.
Após vários dias lidando com inúmeros perigos dessa terra indomável, a expedição se deparou com uma trilha misteriosa no meio do nada e presumiram ser ela usada pelos nativos da região. Enquanto estavam ali, decidindo se seguiriam a trilha ou não, Fawcett escreve que viram duas figuras se movendo a cerca de 90 metros de distância, aparentemente conversando em alguma língua desconhecida e carregando arcos e flechas. Embora a princípio se presumisse que fossem de uma tribo local, uma inspeção mais detalhada mostrou que eram decididamente mais estranhos, e Fawcett os descreveu:
“Não conseguíamos vê-los claramente por causa das sombras salpicadas em seus corpos, mas me pareceu que eram homens grandes e peludos, com braços excepcionalmente longos e testas inclinadas para trás a partir de arcos oculares pronunciados, homens de um tipo muito primitivo, na verdade, e completamente nus. De repente, eles se viraram e se dirigiram para o mato, e nós, sabendo que era inútil segui-los, começamos a subir o trecho norte da trilha.”

Parece bastante óbvio, a essa altura, que Fawcett não considerava estes estranhos como seres humanos desenvolvidos. Talvez isso já fosse suficientemente estranho, mas as coisas ficaram ainda mais bizarras. Ao anoitecer, a floresta subitamente ganhou vida com o som do que pareciam ser trombetas ecoando na escuridão distante. Os membros da expedição ficaram imediatamente em alerta, pois instintivamente sabiam que se tratava de um som agressivo emitido com a promessa de ameaça. Fawcett escreveria sobre essas trompas e o que se seguiu:
“Na luz suave do entardecer, sob a alta abóbada de galhos nesta floresta inexplorada pelo homem civilizado, o som era tão assustador quanto as notas iniciais de uma ópera fantástica. Sabíamos que os selvagens tinham feito aquilo e que eles estavam agora em nosso encalço. Logo pudemos ouvir gritos e tagarelices acompanhados pelos chamados ásperos das trompas — um estrondo bárbaro e implacável, em nítido contraste com a furtividade do selvagem comum.
A escuridão, ainda distante acima das copas das árvores, estava se instalando rapidamente ali, nas profundezas da mata, então procuramos ao redor um local de acampamento que oferecesse alguma segurança contra ataques e, finalmente, nos refugiamos em um matagal de taquaras. Ali, os selvagens nus não ousariam nos seguir por causa dos enormes espinhos. Enquanto pendurávamos nossas redes dentro da paliçada natural, podíamos ouvir os selvagens tagarelando por todos os lados, mas sem ousar entrar. Então, quando a última luz se extinguiu, eles nos deixaram e não ouvimos mais falar deles."
É uma imagem assustadora, com certeza, este acampamento solitário de exploradores desgrenhados, aterrorizados pela visão de homens peludos e assediados por trombetas misteriosas na noite, pontuado pelo chilrear de alguma língua estranha. Na manhã seguinte, a equipe verificou cautelosamente os arredores e não encontrou nenhum sinal de que qualquer um dos "selvagens" tivesse se intrometido nas proximidades. Nem mesmo as pegadas estavam claras. Eles continuaram por uma das trilhas bem delineadas e acamparam novamente naquela noite, sem incidentes. Na manhã seguinte, partiram do acampamento e, a cerca de um quilômetro de distância, tropeçaram no que parecia ser a aldeia da estranha tribo, povoada por criaturas que obviamente não eram humanas. Fawcett descreve o que aconteceu de forma bastante espetacular:
“De manhã, seguimos em frente e, a menos de quatrocentos metros, chegamos a uma espécie de guarita de folhas de palmeira. Então, de repente, chegamos a uma clareira ampla. A vegetação rasteira desapareceu, revelando entre os troncos das árvores uma aldeia de abrigos primitivos, onde se agachavam alguns dos selvagens mais estranhos que já vi. Alguns estavam ocupados fabricando flechas, outros apenas ociosos — grandes brutos, verdadeiramente simiescos que pareciam ter evoluído pouco além do nível de animais selvagens.
Assobiei, e uma criatura enorme, com pelo áspero e escuro levantou-se de um salto no abrigo mais próximo, encaixou uma flecha em seu arco num piscar de olhos e subiu dançando de uma perna para a outra até estar a apenas quatro metros de distância. Emitindo grunhidos que soavam como "Eck! Eck! Eck!", ele permaneceu dançando, e de repente toda a floresta ao nosso redor se encheu de vida com aqueles horríveis homens-macaco, todos grunhindo "Eck! Eck! Eck!" e dançando de uma perna para a outra esticando as flechas em seus arcos. Parecia uma situação muito delicada para nós, e eu me perguntei se seria o fim. Fiz propostas amigáveis em maxubi, mas eles não me deram atenção. Era como se a fala humana estivesse além de sua capacidade de compreensão.
A criatura à minha frente interrompeu sua dança, ficou imóvel por um momento e então puxou a corda do arco para trás até que ela ficasse na altura da orelha, ao mesmo tempo em que erguia a ponta farpada da flecha até a altura do meu peito. Olhei diretamente nos olhos, meio escondidos sob as sobrancelhas salientes, e conclui que ele iria disparar. Mas tão deliberadamente quanto a havia erguido, ele abaixou o arco e recomeçou a dança lenta e aquele absurdo "Eck! Eck! Eck!"

Este "homem-macaco" continuou a fazer aquilo várias vezes, mirando o arco apenas para continuar com sua dança estranha e desconexa e então mirar novamente. No entanto, Fawcett parecia saber que a qualquer momento aquela flecha poderia disparar, e sua mão estava firmemente apoiada na coronha da pistola. Em algum momento, Fawcett diz que começou a temer seriamente por sua vida e decidiu assustá-los com sua arma, disparando uma bala que atingiu perto da criatura. O som estrondoso ecoou pela selva. Ele conta sobre a sequência de eventos que se seguiu:
"Saquei uma pistola Mauser que eu tinha no quadril. Era uma arma grande e desajeitada, de um calibre inadequado para uso na floresta, mas eu a trouxe porque, ao prender o coldre de madeira à coronha da pistola, ela se transformava em uma carabina e era mais leve de carregar do que um rifle de verdade. Usava cartuchos de pólvora negra calibre .38, que faziam um barulho desproporcional ao seu tamanho. Eu nunca o levantei; apenas puxei o gatilho e o disparei no chão aos pés do homem-macaco.
O efeito foi instantâneo! Uma expressão de completo espanto tomou conta do rosto hediondo, e os olhos se arregalaram. Ele largou o arco e saltou tão rápido quanto um gato para desaparecer atrás de uma árvore. Então as flechas começaram a voar. Disparamos contra os galhos, esperando que o barulho assustasse os selvagens e os deixassem mais receptivos, mas eles não pareciam nem um pouco dispostos a nos aceitar, e antes que alguém se machucasse, desistimos, pois não tínhamos esperança, e recuamos pela trilha até o acampamento desaparecer de vista. Não fomos seguidos, mas o clamor na aldeia continuou por um longo tempo enquanto rumávamos para o norte, e imaginávamos ainda ouvir o "Eck! Eck! Eck!" dos nativos enfurecidos.
Este relato pode parecer completamente sensacionalista a ponto de ser fácil para os mais céticos descartá-lo de imediato, mas há razões pelas quais ele tem fundamento e merece consideração. A primeira é que provavelmente não se tratava de uma história fictícia que Fawcett estava contando. Ela fazia parte de suas anotações meticulosas sobre a expedição, e estava ali, entre observações mais mundanas da vida selvagem e dos diversos povos da região. Fawcett era um aventureiro profissional e membro da Royal Geographical Society, além de explorador e agrimensor muito respeitado e experiente no seu campo. Não há nenhuma razão para que ele quisesse inventar tal história e deixá-la no meio de seu diário, que de outra forma, é perfeitamente normal. Por que ele faria isso, correndo o risco de arruinar sua reputação? Com que objetivos?
Fawcett também foi acusado de ter exagerado em suas relações com os nativos e, neste caso, tê-los retratado como brutos peludos por motivos racistas. Mas, se fosse esse o caso, por que existem outros registros de suas relações com os nativos que são completamente precisos na descrição tanto de aparência quanto comportamento? É verdade que Fawcett era conhecido por ter opiniões fortes sobre as tribos mais primitivas, mas ele parece nunca ter deixado que isso comprometesse a maneira objetiva como registravam os povos nativos. Sanderson tem muito a dizer sobre esse aspecto dos registros do diário, escrevendo:
“Ele (Fawcett) não era etnólogo, antropólogo ou arqueólogo, mas foi com essas disciplinas que ele entrou em conflito expressando sentimentos de amargura. Em suas extensas viagens por territórios até então inexplorados, ele descobriu grupos de pessoas pela primeira vez, conviveu com eles, muitas vezes aprendeu suas línguas, registrou o que pôde de seus costumes e tentou alguma classificação de suas origens. Ele gostava muito disso! Considerava um dos aspectos mais importantes de seu trabalho. Mesmo assim, as teorias de Fawcett estavam em total desacordo com o que era então, aceito pelos estudiosos. Mas embora essas teorias tenham sido fortemente criticadas, a veracidade dos relatos coletados jamais foi questionada."
Isso coloca seu relato dos Maricoxis sob uma luz completamente diferente, independentemente do fato de que sua palavra nunca foi posta em dúvida. Mais tarde o que ele viu foi confirmado por outros exploradores, em relatos que lhe foram transmitidos por várias pessoas que travara contato com os Maricoxi. Muitos falavam desses seres peludos como mais animais que homens...
Portanto, somos compelidos a aceitar o relato feito na íntegra; um relato que afirma que no ano de 1914, tribos de hominídeos de aspecto primitivo, quase bestial, viviam a nordeste da Serra dos Parecis, no Mato Grosso. Uma tribo completamente desconhecida.
Embora Sanderson possa parecer precipitado demais para acreditar na história completa, certamente é um relato que se destaca entre os escritos de Fawcett e que, em última análise, deixa mais perguntas do que respostas. O que Fawcett e seus companheiros de expedição encontraram naquela selva? Seriam eles de fato os lendários Maricoxi? É realmente lamentável que, considerando que Fawcett não estava particularmente interessado em investigar o assunto, e parece tê-lo considerado principalmente um obstáculo e uma estranheza, ele nunca tenha se esforçado para descobrir o que eram as criaturas de seu relato. Será que essa tribo de homens-macaco peludos realmente existiu como Fawcett os descreveu? E, se sim, o que eram eles e como se encaixavam na lenda de Maricoxi? A resposta pode permanecer para sempre escondida naquele covil proibido da selva.