segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
Vaesen Starter Set - Uma Introdução ao Horror Nórdico
terça-feira, 16 de dezembro de 2025
Assassino Revelado - A controvérsia sobre a identidade de Jack, o Estripador
Por mais de um século, o caso vive nas sombras da dúvida e da incerteza. Uma lenda envolta em névoas e medo. Um assassino sem face assombrando os becos escuros da Londres Vitoriana. Centenas de livros, milhares de teorias foram oferecidas, mas nenhuma prova contundente foi obtida.
Mas após 137 anos, o mistério pode ter sido enfim solucionado.
Em 2019, dois cientistas britânicos revelaram o que seria um dos maiores mistérios criminais da historia. Eles teriam obtido evidências científicas, mais especificamente DNA, que apontava a identidade de ninguém menos do que o lendário Jack, o Estripador.
Os defensores da notícia não se apoiam em um teoria e muito menos numa suspeita, mas em um resultado cientifico. O caso de Jack, o Estripador, dizem eles, foi oficialmente fechado.
Mas será possível acreditar no que estes cientistas afirmam?
Se a ciência estiver certa, então Jack, o Estripador não era um fantasma. Ele não era um Príncipe degenerado, não era um cirurgião demoníaco e muito menos uma mente criminosa brilhante. Ele era um homem de quem a polícia já suspeitava. Um homem que as autoridades vigiaram e que foi seguido na época. Essa figura era um dos vários indivíduos anônimos que chamavam White Chapel de lar e que vagavam pelo East End sem chamar a atenção, pois era simplesmente um rosto qualquer.
Mais interessante, a polícia teria suspeitado dele, mas preferiu manter tudo em segredo. Eles permitiram que o homem simplesmente desaparecesse após o último assassinato ao invés de prendê-lo. A questão não é apenas quem ele foi, mas por que a Scotland Yard deixou que ele ficasse sem ser conhecido?
Para entender como os cientistas chegaram a sua conclusão, é preciso apresentar um objeto macabro e explicar como essa simples peça de vestimenta pode ter se tornado o instrumento que revelou a identidade do mais notório assassino de todos os tempos.
Por décadas os crimes de Jack, o Estripador se tornaram uma historia assustadora, mais até do que um caso criminal concreto. O mistério ganhou contornos quase sobrenaturais, na mesma medida que o homem se tornou uma lenda. Era como se o assassino vagasse invisível pelas ruas, sem ser visto e sem despertar a atenção de ninguém. Como era possível ele matar e não ser visto em uma vizinhança densamente povoada?
Muitos acreditavam que ele deveria ser alguém poderoso e influente. Essa suposição deu origem a teorias que envolviam escândalos reais, médicos ilustres, sociedades secretas... o mito demandava um monstro à altura. Mas a pista que desafiou esse mito não veio de um palácio, de um velho diário ou de uma testemunha secreta. Veio de algo pequeno e ordinário, uma peça de roupa puída e esfarrapada: um velho cachecol de seda.
De acordo com a historia, essa peça foi obtida ao lado do corpo mutilado de Katherine Eddowes, a quarta vitima canônica do Estripador, assassinada em Mitre Square em setembro de 1888.
Um oficial que esteve presente na cena do crime o recolheu do chão. Ele estava enrolado ao lado de Eddowes a poucos centímetros de seu corpo. Na época, o cachecol não foi considerado como uma evidência válida pois se tratava de uma peça reconhecidamente pertencente à vítima. O oficial perguntou se poderia ficar com ela, como um tipo de souvenir macabro e recebeu autorização para isso. O cachecol ficou em sua família por gerações. Ele foi dobrado, colocado em uma caixa e mostrado a visitantes curiosos como uma herança mórbida.
Por muito tempo, os especialistas o desconsideravam como um item menor no vasto mercado de relíquias relacionadas ao Estripador. Mas um homem resolveu investigar essa peça mais à fundo. Entra em cena o investigador forense e autor britânico, Russel Edwards que decidiu comprar o cachecol quando ele finalmente foi levado a leilão em 2017.
Russel apostou seu dinheiro e reputação profissional em uma ideia. Se o cachecol tinha realmente vindo da cena de crime em Mitre Square, talvez ele ainda pudesse carregar alguma pista que os Vitorianos não conheciam à fundo: DNA.
A principio, o objetivo de Edwards era descobrir se o cachecol realmente pertenceu a uma vitima canônica de Jack, o Estripador. O item foi mandado para um laboratório moderno, onde duas manchas de sangue do século XIX foram submetidas a ciência moderna. Em um laboratório estéril da Universidade John Moores, referencia em testes genéticos na Inglaterra, o tecido passou por um cuidadoso exame. O geneticista forense, Jari Luhalenan foi incumbido de realizar as análises. Com mais de um século de idade, manipulado por incontáveis pessoas, exposto ao ar, poeira, calor e sujeito ao tempo, o desafio parecia enorme.
A equipe do Dr. Luhalenan se concentrou nas duas marcas marrom castanhas que se acreditava ser sangue. Mas também buscou qualquer outra marca residual deixada no tecido descolorido usando um espectrógrafo. A procura era por DNA mitocondrial, que poderia sobreviver mesmo depois de tanto tempo. Ao contrário do DNA convencional, o mitocondrial podia ser traçado até a linha materna de seu doador. Além disso, ele era mais durável e se uma quantidade decente fosse obtida, seria possível ligar a amostra a quem se supunha ser a fonte.
Foi assim que a equipe forense conseguiu responder a primeira pergunta: o sangue na peça pertenceu a Katherine Eddowes? O perfil genético foi comparado a de um descendente da linha materna, no caso a da irmã da vitima. O resultado foi positivo, o que confirmou que o cachecol realmente carregava o sangue de Eddowes e que estivera na cena do crime.
Por si só, essa confirmação já seria notável, mas uma revelação ainda mais surpreendente viria em seguida.
A equipe forense decidiu esquadrinhar milímetro por milímetro do cachecol em busca de qualquer outro traço que pudesse fornecer pistas. Concentraram-se principalmente em uma mancha quase invisível na ponta do cachecol. Esta quando analisada cuidadosamente revelou ser um traço material consistente com sêmen que jamais havia sido analisado. O trabalho meticuloso dos geneticistas conseguiu isolar essa segunda amostra de DNA mitocondrial que se provou autêntica.
O cachecol não apenas possuía uma amostra do sangue da vitima, mas possivelmente guardava um fragmento do assassino.
Mas mesmo que fosse uma amostra válida de sêmen, como seria possível relacionar essa pista com Jack? A vítima afinal era uma prostituta e portanto seria aceitável que sua roupa de alguma forma fosse contaminada com material genético de um cliente.
De fato, a amostra poderia apontar para a escuridão, ser um material que jamais viria a ser identificado, mas os geneticistas tinham um plano. Mesmo sem saber de quem era o sêmen misterioso, eles poderiam compará-lo com amostras de DNA dos descendentes de indivíduos relacionados entre os suspeitos de ser Jack, o Estripador. Esse método de análise forense é adotado quando há suspeitos de um crime. O material genético é comparado ao de suspeitos ou seus descendentes.
A equipe elencou descendentes da linhagem maternal de 12 dos principais suspeitos de serem o Estripador. Eles conseguiram o DNA de nove destes descendentes diretos que ofereceram de bom grado amostras de seu perfil genético para serem comparados a amostra colhida no cachecol. Parecia um tiro no escuro, mas qual não foi a surpresa quando um dos perfis genéticos bateu perfeitamente com o da mancha.
E assim um nome ganhou notoriedade: Aaron Kosminsky.
Por décadas o imigrante polonês Aaron Kosminsky foi considerado pelos historiadores e pesquisadores um suspeito válido. Seu nome aparecia em memorandos internos e em documentos redigidos por investigadores da Scotland Yard. Ele foi citado pelo Chefe de Polícia Melville McNagden como um dos três maiores suspeitos de ser o maníaco. Chamado de "mentalmente perturbado" e "sexualmente pervertido" por McNagden, Kosminsky era suspeito de outros crimes violentos praticados contra mulheres.
Outro investigador ligado à caçada do assassino de White Chappel, o Inspetor Chefe Donald Swanson deixou cadernos e anotações pessoais nas quais suspeitava que o assassino não era outro senão Aaron Kosminsky. Ele ia ainda mais longe afirmando que este havia sido vigiado, entrevistado e identificado positivamente por testemunhas que o colocavam na cena do crime.
A equipe levou em conta a suspeita histórica que pesava sobre Kosminsky. Eles conseguiram rastrear um descendente maternal de sua linhagem que ainda residia na Inglaterra. Quando o perfil genético bateu, eles testaram outros três descendentes e o resultado foi o mesmo: correspondência perfeita.
Os resultados foram publicados em 2021 no Journal of Forensics Sciences, mas imediatamente causou controvérsia. Os autores defendiam que a evidência genética era suficiente para identificar Kosminsky como a fonte da evidência genética (sêmen) presente no cachecol de Eddowes. Os opositores afirmavam que a identificação do material, em especial tão antigo não poderia ser tão precisa.
Para Russel Edwards, contudo, a prova era suficientemente contundente. Jack, o Estripador agora tinha um nome e este era ninguém menos do que Aaron Kosminsky!
Mas quem foi esse obscuro sujeito?
Se você andasse pelas ruas escuras de White Chapel em meados de 1888, provavelmente não iria reparar em Aaron Kosminsky. Ele era apenas mais um dos milhares de judeus refugiados que deixaram a violência e pobreza do Leste Europeu para se fixar na Inglaterra da Revolução Industrial. Sua família se estabeleceu nos pérfidos arredores do East End, uma das regiões mais pobres de Londres. Ele tinha o ofício de barbeiro, serviço essencial na época, que envolvia não apenas o corte de cabelo e barba, mas também pequenas intervenções cirúrgicas ligadas a pele. Um barbeiro tratava de feridas, supurava furúnculos e cauterizava a pele com instrumentos próprios. Era portanto um homem familiarizado com lâminas e ferramentas de corte.
Mas Kosminsky não era um sujeito 'normal" no sentido racional da palavra. As pessoas que o conheciam sabiam que ele tinha um comportamento estranho, considerado degenerado, sobretudo quando se tratava de mulheres. Havia sido pego "se expondo" e realizando auto abuso (masturbação) em público. Ele dizia detestar as mulheres e guardava um profundo rancor do sexo feminino. Era suspeito de agressão e conhecido por ter um gênio ruim, que o levava a explosões de violência, embora jamais tenha sido preso ou processado formalmente.
Além disso havia a suspeita de que ele sofria de algum tipo de perturbação mental. O fato dele alegar ouvir vozes e manifestar uma severa paranoia sugerem que ele fosse esquizofrênico. Kosminsky alegava que pessoas misteriosas tentavam envenenar sua comida e por isso se negava a comer qualquer coisa que não fosse cozida por ele mesmo. O sujeito também bebia de maneira compulsiva, consumindo quantidades de gin barato que sem dúvida o deixavam ainda mais propenso a violência.
Não é de se estranhar que o comportamento de Kosminsky chamasse a atenção e acabasse por colocá-lo entre os suspeitos de ser o maníaco de White Chapel. De fato, ele vivia nas proximidades de onde ocorreram os crimes e portanto conhecia a geografia caótica de becos e vielas conectando o distrito. Ele também era um cliente habitual das prostitutas do bairro a quem tratava com desprezo no dia a dia. Kosminsky não tinha álibis para pelo menos dois crimes. Sabemos disso pois ele teria sido entrevistado por policiais envolvidos no caso que seguiam pistas oferecidas por terceiros. É provável que um vizinho tivesse apontado Kosminsky como um possível candidato a ser o maníaco, dada sua misoginia. Ao ouvir falar de Jack, o Estripador ele sempre gargalhava e defendia efusivamente que o assassino estava fazendo um "bom trabalho" limpando as "putas de rua".
Kosminsky chegou a constar em memorandos, o que indica que ele teria sido seguido ou ao menos investigado diretamente. Mas como ele teria conseguido escapar da prisão, já que esta era uma espécie de questão de honra para a Scotland Yard capturar o criminoso. A explicação oferecida é mais ou menos conveniente.
Sabe-se que após o último crime canônico, o medonho massacre realizado contra Mary Jane Kelly, Jack desapareceu sem deixar sinal de seu paradeiro. Muito se especulou à respeito, alguns sugerindo que a polícia encobriu a divulgação de outros assassinatos como forma de controlar o pânico crescente. Outros acreditavam que o assassino teria deixado Londres ou mesmo que ele tivesse sido preso por outros crimes que o tiraram de circulação. É difícil traçar o paradeiro de Aaron Kosminsky após o derradeiro crime de Jack, o Estripador, mas sabe-se que sua condição mental teria deteriorado a tal ponto que a família o internou num Manicômio. Não se sabe exatamente quando se deu essa internação, mas o nome dele constava como paciente no Mile End, uma instituição de tratamento em 1891. Posteriormente ele foi encaminhado para o Asilo Leavesden em 1894, especializado na hospitalização de pacientes perigosos. Ele foi tratado como "possível homicida" e mantido longe de mulheres já que constituía uma ameaça a elas. Não há dados sobre a transferência de Kosminsky para Leavesden, mas uma vez que se trata de um Manicômio para criminosos condenados, é possível que ele tenha sido direcionado para a instituição pela autoridade policial.
Há suspeitas de que a Scotland Yard acreditava que se o nome de Kosminsky fosse divulgado como o maníaco o resultado poderia ser uma revolta generalizada contra a minoria da qual ele fazia parte. Em outras ocasiões judeus e imigrantes do leste europeu já haviam sido acusados e a desconfiança contra estes grupos crescia no East End. Esse temor pode ter justificado o encarceramento perpétuo de Kosminsky como suspeito de ser o assassino de White Chapel sem grande alarde. Segundo os cadernos de Investigadores do caso, após a prisão de Kosminsky os assassinatos cessaram levando a crer que ele realmente poderia ser o responsável.
Seja como for, Aaron Kosminsky viveu por quase duas décadas trancafiado em uma ala de segurança do Asilo Leavesden. Durante o período ele foi descrito como inofensivo, já que sua condição mental colapsou de tal forma que ele deixou de falar e precisava ser alimentado e limpo pelo staff. Ele morreu em 1919, vítima de anemia severa e de uma ferida na perna que evoluiu para gangrena. Ele tinha 53 anos de idade.
No fim das contas a divulgação da suposta identidade de Jack, o Estripador dividiu opiniões.
Para muitos as conclusões eram duvidosas, sobretudo quando se considera a idade do material genético periciado pela equipe. O item do qual ele foi obtido jamais foi reconhecido como uma evidência policial e por mais de um século ele foi manipulado e guardado sem o devido cuidado. Todo e qualquer contato poderia ser uma chance para apagar o DNA real e inserir um falso. Os críticos também contestam a escolha de DNA mitocondrial como uma prova incontestável, já que para eles o método oferece variáveis duvidosas. Finalmente, alguns colocam em dúvida a transparência, aludindo para o fato de que a equipe não aceitou compartilhar com outros laboratórios o material para realização de uma análise neutra.
Para os defensores há suficientes provas. O DNA e sangue compatíveis, o nome do suspeito, sua presença nos arquivos, o fato dos crimes terem cessado após a sua institucionalização... todas essas seriam peças a serem consideradas em um quebra-cabeças que foi sendo montado e que no final mostrava a face de Aaron Kosminsky.
Então, será que finalmente fomos capazes de desmascarar Jack, o Estripador?
A resposta mais honesta é que talvez sim, fosse ele, mas também, talvez não... o cachecol pode ser genuíno, o DNA pode ser conclusivo, o risco de contaminação pode ser menor do que os críticos imaginam. Ou então os céticos podem ter razão e tudo não passar de uma bem arquitetada autopromoção e de resultados inconclusivos. O mais provável é que nunca venhamos a saber com absoluta certeza. Contudo, mesmo essa aura de incerteza já causa uma incômoda sensação, pois, se Aaron Kosminsky foi o maníaco, então o mito de um monstro assassino sobre-humano cai por terra. O que temos é um homem doente e ordinário de uma vizinhança brutal, alguém que fez coisas terríveis que reverberam mais de um século depois. E esta versão da história pode ser menos cinematográfica, mas por ser muito mais humana, é ainda mais assustadora.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Pilares do Horror Cósmico - Fatalismo: Nada irá te salvar do Destino
QUINTO PILAR
FATALISMO - Nada irá te Salvar do Destino
"Abandonai toda a esperança, vós que entrais"
Dante - A Divina Comédia
- Transforme o epílogo das histórias em um momento íntimo no qual os personagens pesam os feitos e contabilizam suas baixas. Lance questionamentos aos investigadores sobre o custo de sua participação na história e se na visão deles, valeu a pena. Esse é um ótimo momento para que os personagens reflitam sobre suas perdas pessoais: ferimentos acumulados, sanidade perdida, família e amigos afastados, ruína financeira, fracasso profissional... enfrentar o Mythos não é uma tarefa simples, ela cobra um pesado preço de quem ousa fazê-lo. Em histórias lovecraftianas, o herói muitas vezes termina em um asilo gritando para monstros imaginários, em uma cama de hospital de recuperando de suas feridas ou sozinho erguendo um cálice de vinho em homenagem aos seus colegas que tombaram. Não raramente pode terminar com uma carta de despedida, antes de uma bala ser disparada rente à têmpora. Fatalismo... com certeza.
- A conclusão não precisa ser sempre trágica, mas ela deve sedimentar a noção de que algo continua incompleto e a ameaça ainda paira. Quando a Cor que se instalou na velha charneca volta para o espaço, os efeitos dela persistem por gerações incomodando e surpreendendo quem visita o lugar. Quando a pedra mística que invoca o Assombro na Escuridão é atirada no mar, parece que é o fim, mas o texto indica que o artefato poderá ser reencontrado, como de fato aconteceu ao longo da História. A melhor maneira de emular isso é inserir uma cena adicional - como uma cena pós crédito - na qual fica evidente que o horror ainda está presente. Experimente colocar uma cena extra, sem personagens próximos ou mesmo sem testemunhas, na qual o Horror deixa claro que "não acabou" e que "Nunca vai acabar".
- Nas histórias lovecraftianas — e em muitas que seguem sua tradição — não há resolução. O fim de uma história pode ser abrupto e estarrecedor. Ela termina de maneira incerta. O monstro pode ou não ter sido destruído; a entidade pode ou não ter sido banida; o mistério persiste a última frase dita. Os personagens podem acreditar que tiveram sucesso, mas essa certeza não é definitiva. Uma explosão pode ter destruído a casa assombrada, mas será que foi o bastante para atingir o porão e os túneis que se estendem muito abaixo da superfície? A morte do cultista colocou um fim na Assembléia blasfema que ele presidia. Contudo, alguns dos seus discípulos escaparam e o que os impedirá de reconstruir o Culto novamente? Os personagens sempre terão uma dúvida sobre a vitória completa e essa criará a paranoia ao longo de sua existência.
O final é sempre o mesmo: "Nada mudou. Tudo foi apenas adiado."
- Nada cria maior terror do que a sensação do inevitável. Faça seus jogadores acreditarem que é impossível derrotar os inimigos. Em geral isso é fácil quando se vê as estatísticas dos monstros, criaturas e deuses... mas estamos falando de algo além de números e atributos. Para salientar a dimensão do Mythos permita aos personagens contemplar o tamanho deles. Um monstro que é imune a armas, não apresenta danos sofridos por tiros, facadas ou golpes que simplesmente desviam em sua massa alienígena. Como matar essa coisa que não é ferida por nada na Terra? Da mesma maneira, quando um Culto é enfrentado, permita ao grupo compreender o tamanho dele, que ele possui ramificações em outras cidades, em outros países, que ele sempre esteve presente. Como desbaratar um Culto desse tamanho que age em segredo há tanto tempo?
- Por vezes acontecimentos alheios à vontade dos personagens/Jogadores acabam conspirando para o desfecho favorável de uma trama. O acaso ou a indiferença cósmica pode ser um aliado valioso para uma narrativa de Horror Cósmico. Lembre do que acontece no filme Caçadores da Arca Perdida. Nele Indiana Jones passa por terríveis testes e tribulações para chegar no final e sobreviver a abertura da Arca da Aliança. Os nazistas são varridos da existência pela Ira Divina, enquanto ele é poupado. O acaso conspira no final para que ele seja preservado. Mais do que isso: Se Indiana Jones estivesse ali ou não, o desfecho seria o mesmo! A Arca da Aliança protegeria a si mesma, com ou sem a ajuda do aventureiro. O acaso e a indiferença podem salvar a pele dos investigadores: nem sempre rituais são bem sucedidos, nem sempre os Deuses ouvem, e quando ouvem, nem sempre atendem os pedidos, de seus suplicantes. Se uma situação parecer impossível de ser superada, por vezes é o acaso que irá conspirar para uma aparente vitória. O acaso... nada mais!
O fatalismo cósmico também é temporal. O tempo, no horror cósmico, é cíclico ou insignificante.
- Para simular isso em uma mesa de jogo brinque com a percepção do quanto são ancestrais o Mythos. Saliente que um determinado artefato já era antigo quando os primeiros homens ainda habitavam cavernas e temiam os elementos. Deixe claro que uma criatura hibernou por milênios nos recessos de uma ruína construída por proto-humanos. E o tempo pouco significou para ela. Brinque com a noção de que investigadores no passado tentaram deter as mesmas ameaças que os personagens continuam a combater. Faça a sugestão de que no futuro essas mesmas ameaças irão ressurgir, uma e outra vez, talvez pela eternidade.
- Lovecraft sempre deixou claro o quanto a civilização humana é ínfima. O tempo que levamos para nos desenvolver como raça civilizada é nada para o Mythos. E quando o Mythos resolver agir, nós iremos desaparecer tão rápido que nossa presença sequer será presumida. Nesse contexto, sonhos premonitórios, visões apocalípticas e alucinações plantadas na mente dos personagens podem deixar claro que o destino final é inapelável. O sonho com um mundo devastado onde horrores ancestrais despertaram. A visão recebida ao contemplar um artefato de que um Horror está prestes a irromper pela barreira do real. Uma sensação de que algo está em curso para destruir tudo... cada uma dessas coisas ajuda a erguer a aura que permeia o Horror Cósmico.
Paradoxalmente, há uma beleza na aceitação desse destino.
Não há salvação.














