sábado, 12 de novembro de 2016

Espetáculo do Bizarro - A estranha inauguração do Túnel Gotthard na Suíça



Com a presença dos mais poderosos líderes e Chefes de Estado da Europa, a cerimônia de Abertura da Base do Túnel Gotthard, na Suíça, foi marcada por momentos estranhos, perturbadores e tão surreais que muitos dos presentes se perguntaram em determinados segmentos o que diabo estavam assistindo.

Para alguns foi uma cerimônia incomum e que chamou a atenção. Para outros foi meramente de mal gosto, um tipo de cerimônia na qual pouco, ou praticamente nada, fazia sentido e onde imagens misteriosas e uma sucessão de esquisitices pontilhava cada bloco da festa. Outros foram mais longe e declararam que a celebração era um bem pouco disfarçado Ritual Satânico. 

Antes que alguém pergunte, SIM, essas imagens e esses comentários foram tirados de páginas e de artigos a respeito da celebração. Todos eles são verdadeiros e não há nenhum exagero nas imagens e nas descrições, pois elas são condizentes com o livreto distribuído para os convidados da grande abertura.

Medindo incríveis 57 quilômetros de extensão, ao custo exorbitante de 11 bilhões de Euros, o Gotthard Base Tunnel é uma das mais impressionantes obras de engenharia do mundo moderno. Trata-se do maior e mais caro projeto de costrução de um túnel subterrâneo da história. Passando por baixo dos Alpes Suíços, as escavações para a abertura da passagem demoraram 17 anos para serem concluídas e tiveram de empregar maquinário específico. Em determinados momentos durante a obra, peças e equipamento para perfuração simplesmente não existiam, e estes tiveram de ser desenvolvidos e fabricados.

O Túnel é um símbolo da unificação da Europa em um cotexto de que o nacionalismo cede lugar para abertura plena das fronteiras. O Túnel cruzando o coração da Europa serve como um eficiente símbolo de unidade entre as nações do Oeste e do Leste que compõem a UE. Ele deve reduzir o tempo de viagem entre Zurique e Milão para apenas uma hora. Em um ano conturbado em que a Grã-Bretanha abandonou o barco, o Túnel serve como uma espécie de reafirmação da União, como uma instituição capaz de realizar façanhas notáveis.

Ou assim deveria ser...

Para celebrar a abertura oficial do Túnel, uma elaborada cerimônia foi organizada nos mínimos detalhes. Pouco se sabia qual seria o tema e o que seria mostrado na apresentação - o objetivo era surpreender. Uma das metas era apresentar um pouco do folclore e das tradições suíças e dos povos alpinos. A longa lista de convidados ilustres contou com nomes como a Chanceler alemã Angela Merkel, o Presidente francês Francois Hollande e o Primeiro Ministro da Itália Matteo Renzi, além é claro do Presidente da Suíça, da Suécia, além de membros da família real da Holanda, Bélgica e Mônaco. Todos esperavam uma celebração do grande feito, capaz de enaltecer o feito que consumiu tantos recursos.

Mas as coisas saíram "um pouco" diferentes do esperado. Na realidade, a abertura foi tudo menos convencional. Efeitos especiais perturbadores, música com coral em latim, peças heréticas, trechos com alusão clara a crenças pagãs e elementos que chegaram a chocar alguns convidados mais sensíveis. Orquestrado pelo diretor alemão Volker Hesse, a celebração já é considerada como a mais estranha e incomum da história da União Européia, talvez a mais bizarra de todos os tempos.

Há rumores de que a celebração serviu para consolidar de uma vez por todas o poder de uma elite devotada ao ocultismo que "casualmente" é também responsável por governar algumas das nações mais poderosas do mundo. Fala-se muito nos Illuminati e na Nova Ordem Mundial, supostas Sociedades Secretas tão poderosas e influentes que dominariam a economia e a política com ramificações em dezenas de nações. 

Para alguns Teóricos da Conspiração, a celebração, ocorrida em primeiro de Junho, foi uma clara demonstração de que essas Sociedades Secretas de cunho oculto não estão mais interessadas em manter o segredo sobre as suas práticas e mesmo sobre sua existência. Dizem que esse é o maior truque do diabo: "Fazer com que ninguém acredite na sua existência, tornando-se parte do cotidiano". Quem acredita em Sociedades Secretas hoje em dia? Bem, se for isso, não deixa de ser genial.

Para outros, foi uma demonstração de força uma maneira de apresentar sua agenda e filosofia simbólica. Que melhor forma de demonstrar poder do que esfregar na face de todos uma celebração dessa natureza, sabendo que a repercussão pouco irá importar. Muito se comentou a respeito de certos aspectos e elementos herméticos presentes na Abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, mas aqui, as coisas foram muito mais óbvias.

Finalmente, há aqueles que vão ainda mais longe, defendem que a Celebração foi um Ritual diante dos olhos de milhares de testemunhas. Um Ritual que serviu para fortalecer a Sociedade, granjear poder, influência e canalizar energias para objetivos específicos. Além de tudo, seria uma forma de provar que o poder em suas mãos não pode ser contestado ou evitado. 

Exagero? Provavelmente, mas é inegável que essa celebração foi muito (muito, muito mesmo) estranha!

Mas julgue por si mesmo.

Vamos mostrar alguns momentos chave da abertura e vocês podem dizer se há ou não algo incomum.

A cerimônia se iniciou com uma procissão de pessoas (cerca de 200 atores) vestindo roupas laranja semelhantes às usadas pelos operários que trabalharam na construção do Túnel. A procissão começava no escuro com tochas sendo acesas em meio às trevas. O som que acompanhava os operários era o de tambores rítmicos em uma cadência claramente militar.


A marcha representava os trabalhadores que tomaram parte no projeto sendo convocados para participar da celebração, colocando-os como personagens essenciais para a realização da façanha.

Há algo bem na sintonia com a tal "Nova Ordem Mundial" nessa manifestação militarista da força de trabalho agindo como um grupo coeso que obedece e acata as ordens. Até o uniforme e a face de todos suja de poeira, sinaliza com uma igualdade forçada, na qual todos trabalhadores são iguais quando desempenham sua atividade. Na metade do percurso, os tambores vão assumindo um ritmo diferente e alguns dos trabalhadores começam a dançar e saltar fazendo todo tipo de acrobacias. Mas o Caos é logo em seguida coibido, eles voltam aos seus lugares em uma procissão ordenada e monótona. Estranho, mas até aí tudo bem.

É então, que as coisas começam a ficar realmente esquisitas! Um trem surge no final da procissão carregando algumas figuras em trajes brancos sumários.


Vestidos em branco, esses homens e mulheres representam as massas que irão viajar nos trens através do túnel. 

Alguns acharam curiosa a representação dos viajantes como indivíduos despidos e em alguns casos com roupas esvoaçantes, verdadeiros lençóis ou quem sabe mortalhas cobrindo seus corpos semi-nus, quase como representações de fantasmas. Seria esse o objetivo? Estabelecer uma espécie de ligação entre a jornada dos viajantes pelo túnel e a jornada da alma pelo além? Os viajantes que nada carregam além de seus corpos? Alguns estudiosos de simbologia cogitaram que esse era o propósito apresentado nesse bloco. 


Por alguma razão, a cerimônia se torna estranhamente sensual, com os viajantes à bordo do "trem" se relacionando de maneira bastante passional. 

Depois de retratar os operários como uma horda de verdadeiros soldados zumbis, a cerimônia prossegue apresentando os utilizadores com um grupo lascivo com uma coreografia bastante provocante. Para analistas, seria uma represenetação clara das paixões da alma sendo levadas pela árdua jornada além da vida. As almas mesmo despidas de sua carga física, ainda carregam suas paixões, suas emoções e seus desejos reprimidos durante a vida.   

Tudo bem! Mas o que vem a seguir é ainda mais esquisito (e sinto que vocês lerão isso várias vezes ao longo dessa descrição).

Quando o trem chega a um determinado ponto, ele é cercado pelos operários que começam a dançar ao redor dele, como se estivessem de alguma maneira ameaçando os passageiros. O que isso significa é difícil de dizer, mas a medida que o círculo vai se fechando, eles parecem cada vez mais furiosos.

É então que um estranho anjo, suspenso por cabos, desce do alto. A figura veste apenas uma tanga, tem asas de plumas e uma enorme cabeça de querubim. O que chama mais atenção é a face distorcida de uma criança furiosa que retrata a máscara do ator.

Uma criança furiosa, linda e perfeita, mas que se comporta mal e se rebela contra a autoridade de seu pai... ainda assim, um anjo de luz. Eu me pergunto: quem poderia ser?


O anjo faz evoluções acima do grupo de operários que começa a se dispersar. O trem então segue viagem se afastando. Com o trem livre para seguir viagem, ele desaparece em uma explosão de luzes brancas quase cegante.

Isso encerra o primeiro bloco da celebração, mas não e nem de longe o mais estranho.

O segundo bloco talvez seja o mais bizarro, bebendo de fontes pagãs clássicas e com elementos que remetem a tradições místicas e lendas locais.


O personagem principal nesse segundo bloco é um homem vestindo a fantasia de um bode. Ele age como mestre de cerimônias dali em diante, aquele a quem todos os demais personagens pagam homenagem e respeito. 

Quando o peculiar "homem bode" surge no palco, que já está cheio com a presença de dezenas de dançarinos vestindo trajes curiosos, há uma quebra na dança e nos festejos. O som de flautas são sustentados no ar enquanto um a um, os dançarinos se curvam em uma espécie de veneração. 

A imprensa tentou explicar essa cena como um tributo aos pastores e aos animais que habitam os alpes, onde cabras e bodes são abundantes... mas que ligação tem isso com a construção de um túnel que passa por baixo dos Alpes? Além disso, qual a explicação para a importância do "Homem Bode" nessa parte do espetáculo? Por que as pessoas se curvam diante dele, algumas se contorcem no chão aos seus pés e outras saltam loucamente quando tocadas por ele. Um êxtase quase religioso os aflige, como se a figura eletrificasse cada um daqueles que toca.

O Homem Bode parece ser uma figura de grande importância, um ser superior cuja influência se mostra tão marcante que os demais personagens estão ali apenas para validar sua hegemonia sobre eles.


Segundo o livreto que tenta explicar o espetáculo, a cerimônia encena uma lenda medieval da Suíça chamada "A Ponte do Demônio".

Segundo a Lenda uma ponte era muito necessária para dois pequenos vilarejos situados no topo dos Alpes. Seus habitantes desejavam muito atravessar de um lado para o outro: comprar coisas, visitar amigos e conhecer a cidade vizinha. Entretanto, esse sonho era atrapalhado por um despenhadeiro impossível de ser transposto. Várias vezes o povo dos vilarejos tentaram erguer uma ponte de ligação, mas jamais tiveram sucesso na empreitada, que não raramente terminava em tragédia. Vendo a desilusão dos habitantes dos dois vilarejos, o Diabo em pessoa resolve aparecer e fazer uma proposta. Ele irá construir uma ponte resistente e segura ligando os dois lugares, contudo ele faz um pedido em troca de seus préstimos: o primeiro a cruzar a ponte terá de lhe entregar sua alma de bom grado.

Os aldeões depois de ponderar muito acabam aceitando a barganha. O Diabo cumpre a sua parte, uma bela ponte é erguida entre os vilarejos e todos ficam deslumbrados pela magnífica obra de engenharia realizada pelo demônio (essa parte também é significativa, já que a ponte é fruto da obra do diabo, mas enfim!). Depois de realizada a obra, as pessoas tem medo de atravessar a ponte, ninguém afinal quer entregar sua alma imortal ao suplício no Inferno. Um aldeão então tem uma ideia brilhante, ele faz com que um bode atravesse a ponte inaugurando assim a passagem. Com isso, o diabo acaba sendo ludibriado pelos camponeses. Furioso, o diabo faz chover fogo e enxofre e ameaça o povo dizendo que irá destruir a ponte. Uma mulher então desenha uma cruz na pedra de sustentação da ponte e o diabo é repelido por ela.

Agora, a parte curiosa. A lenda como sempre tem um fundo de verdade.


Não estou dizendo que a ponte foi construída pelo diabo - ao menos não há provas nesse sentido, entretanto, a ponte realmente tinha uma cruz desenhada com cal na pedra de sustentação. Ela estava lá desde o início da utilização da ponte que realmente existe e é incrivelmente bem construída.

Contudo, para que a obra do Túnel Base fosse realizada, a ponte teve de ser reforçada, já que o trem passaria por baixo dela. Durante as obras do túnel, a histórica Pedra de Sustentação da ponte, pesando nada menos do que 220 toneladas foi removida e trocada por uma outra, considerada mais segura. Antes que perguntem, aqui vai a resposta; NÃO. A nova pedra que serve para sustentar a ponte que está acima do Túnel não possui uma cruz protetora desenhada. O que é no mínimo curioso. Uma pedra que esteve há tanto tempo no lugar e que tinha uma importância histórica e uma ligação com o folclore simplesmente foi removida. No mínimo ela deveria ser transportada para um Museu ou Praça, mas não, segundo rumores ela foi simplesmente dinamitada. 

Mas a encenação da lenda da Ponte do Diabo é ainda mais estranha na apresentação, uma vez que ela não condiz exatamente com os elementos folclóricos presentes na lenda.

Para começar, o Demônio é retratado como o vencedor na barganha sobre a ponte.


A cena do surgimento do demônio é aliás uma das mais debatidas nos canais que trataram dos rumores sobre a Festa.

Para começar havia uma nova procissão composta de aldeões. Nessa versão, o Diabo não surge querendo fazer a barganha, ao invés disso, ele é INVOCADO pelos camponeses em uma espécie de Ritual pagão de arrepiar. Nele, homens e mulheres fazem uma curiosa procissão carregando crânios de bodes e de vacas acima de suas cabeças. As figuras vestem mantos compridos, peles de animais ou pinturas corporais prevalecendo as cores vermelha, negra e cinza. As figuras evoluem pelo palco dançando ao som de uma música estranha com flautas.


Um grupo de mulheres vestindo trajes imaculados brancos entra a seguir. Elas são apresentadas a uma espécie de realizador do tal ritual de invocação, uma figura vestindo um manto preto. Para bom entendedor meia palavra basta, as mulheres de cabelos compridos e roupas brancas puras simbolizam virgens que serão oferecidas durante o ritual de invocação.

Não há um sacrifício para estabelecer o contato, ao invés disso, as mulheres recebem uma por uma uma espécie de coroa de chifre de cabra. Enquanto elas recebem os adereços, uma música mefítica é executada de maneira solene, como se aquilo fosse uma espécie de comunhão entre as mulheres e a entidade. Como uma espécie de matrimônio profano! Por fim, depois que a última recebe a coroa, se faz um silêncio e todas vestem no mesmo momento a peça na cabeça em aceitação ao seu destino.


É então que o "Homem Bode" entra em cena novamente. A representação cênica é tão clara, que até uma essência de enxofre foi liberada no ar para demonstrar o que estava acontecendo. O Homem Bode começa a dançar e evoluir tocando a mão ou a testa de cada uma de suas "noivas" que desmaiam. Quando a última é tocada o palco fica escuro e quando as luzes se acendem a ponte, feita de luz, surge no palco. A barganha foi realizada à contento e o bloco se encerra nesse ponto!

Sem diabo sendo enganado, sem bode atravessando a ponte, sem aldeã protegendo a pedra fundamental... nada disso parece ter importância.

O Terceiro bloco tem lugar na parte externa do Túnel.

Os cerca de mil convidados foram chamados para seguir até o lado de fora onde haviam arquibancadas montadas para que eles pudessem apreciar o restante da apresentação.


Esse trecho aparentemente visa render homenagem aos trabalhadores que morreram durante a realização das obras. É curiosa a importância dispensada para os operários que pereceram na construção do túnel, não que eles não mereçam, mas pelo fato da obra ter sido extremamente segura. Nos 17 anos de obras, houve relativamente poucos acidentes fatais - um total de nove. Um bloco inteiro destinado a esse propósito parece estranho, mas francamente, o que não é estranho nessa cerimônia de abertura?

Figuras representando os operários mortos são erguidas por cabos e permanecem pendendo soltas como bonecos. Eles são erguidos e movimentados de um lado para o outro.


Finalmente, em determinado momento, os corpos dos três operários são substituídos por essas imagens vestindo lençóis brancos e compridos, como se fossem fantasmas.

Eles giram e evoluem na frente de uma instalação com imagens sendo apresnetadas.


A primeira imagem é um enorme olho. A simbologia parece clara, o "Olho que tudo vê" um símbolo místico que traduz a presneça metafísica de Deus, observando a criação e cada acontecimento relevante. Os três "fantasmas" são finalmente puxados para o interior do grande olho e desaparecem, em mais uma alusão a passagem da alma para uma jornada espiritual.


E adivinha só quem está de volta? 

O Homem Bode ressurge cercado por uma multidão de indivíduos vestindo roupas brancas imaculadas e véus transparentes. O Homem Bode é cercado por essas figuras, as mesmas que fizeram o papel de trabalhadores zumbis no início da Encenação.

A música é uma mistura de canto gregoriano e latim, com o som sempre presnete de flautas e com acompanhamento de tambores.


O Homem Bode começa a correr pelo palco ao redor das figuras de branco que dessa vez o ignoram. Ele grita e emite sons guturais. 

Finalmente, a face do Homem Bode aparece no lugar do "Olho que tudo vê" e sua expressão cercada de chamas e com um brilho vermelho é de fúria e descontentamento. A imagem concede a ele um olhar extremamente maligno. Ao mesmo tempo, três enormes escaravelhos egípcios parecem flutuar na frente da imagem.

Os escaravelhos são um símbolo da imortalidade do espírito, um símbolo dligado a morte e ressurreição. Quando os escaravelhos descem ao chão, o Homem Bode começa a girar e as pessoas vão se distribuindo em um círculo.


Finalmente, um círculo de indivíduos com enormes flautas folclóricas dos Alpes também começam a soprar seus instrumentos a medida que os figurantes se curvam em saudação ao Homem Bode.

O som dos grandes instrumentos reverbera pelo local ao mesmo tempo que um estranho círculo de olhos em espiral começa a girar na tela. Os olhos vão girando cada vez mais rápido a medida que as flautas são sopradas.


Fogos de artifício começam a estourar e o terceiro bloco se encerra com essa cacofonia de sons caóticos e imagens dissonantes que não parecem significar nada que se possa compreender.

A última imagem que se tem do Homem Bode é uma mulher colocando sobre os seus ombros um tipo de capa branca.


É claro, assim que foi concluída a celebração começou a atrair críticas de todos que assistiram. Ela foi televisionada ao vivo para a maioria das nações da União Européia e milhares de pessoas assistiram sem entender exatamente o que estavam vendo.

Ainda que a apresentação possa não ter sido uma celebração em homenagem a Sociedades Secretas e suas agendas ocultas, como muitos querem pensar, ou mesmo um Ritual Satânico, é inegável que ela transborda em simbolismo. Uma elite estaria demonstrando seu real poder diante de todos? Ela estaria fazendo uma declaração? "É nessas coisas que nós acreditamos"!

A Cerimônia de Abertura e seus idealizadores receberam críticas contundentes da maioria da imprensa e do público. As pessoas pareciam incrédulas diante do que haviam acabado de assistir e as redes sociais fervilhavam com comentários. A Cerimônia dirigida e coreografada pelo polêmico Volker Hesse custou nada menos do que 9 milhões de Euros e demorou seis meses para ser ensaiada. Ela era mantida em segredo e ninguém além dos envolvidos tinham permissão para assistir os ensaios ou saber detalhes do que seria apresentado.

Mas no que Hesse estaria pensando quando concebeu esse espetáculo grandioso e de gosto duvidoso? Talvez seu objetivo fosse exatamente causar choque e obter repercussão, pura e simplesmente uma medida para incomodar a opinião pública e incitar debates sobre sua forma de arte. O fato é que as críticas negativas suplantaram de longe as positivas. Foram poucos os meios de comunicação que endossaram a abertura e a elogiaram, em um canal de televisão na suíça, 89% dos espectadores responderam a uma pesquisa afirmando que a Abertura foi de péssimo gosto.

Mas o que dizer dos rumores sobre Rituais Diabólicos, Satanismo e a presença de Sociedades Secretas metidas com a construção do Túnel? Estariam seus idealizadores comprometidos com algo bizarro e com significado obscuro?

Provavelmente jamais saberemos ao certo.

O Túnel Gotthard já está em operação, até agora, nenhum incidente estranho foi reportado.

Quer assistir alguns trechos selecionados da Celebração?

Basta ver aqui em baixo:

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Terrores Profanos - Os contos de Horror do Mestre Arthur Machen


Um experimento sinistro nas montanhas do País de Gales.

Uma criança nascida de uma comunhão profana!

Um jovem aterrorizado por testemunhar algo incompreensível numa clareira da floresta.

Perturbadores desenhos no caderno de um artista.

Um herdeiro levado à miséria após ser enganado por sua misteriosa esposa.

Uma sucessão de inexplicáveis suicídios na alta sociedade.

"Un succés fou! Un succés fou!" declarou ninguém menos que Oscar Wilde após ter acesso à obra – um sucesso insano. No ano de 1893, a icônica novela de horror fantástico "O Grande Deus Pã" (The Great God Pan) chocou e escandalizou a pudica cena literária britânica, que se sentiu ultrajada e fascinada na mesma medida. 

O Jornal "The Manchester Guardian" chamou a estória de "o mais agudo e intencionalmente desagradável livro escrito no idioma inglês".

Continuou a seguir:

"Nós poderíamos falar mais a respeito, mas qualquer comentário a respeito seria dar publicidade a esse trabalho."

E essass foram algumas das críticas mais leves, claro, houve comentários ainda mais contundentes: "The Lady’s Pictorial", um semanário dedicado a literatura chamou a novela de "inumana", enquanto o "Glasgow Herald" recomendou que "após ler tal coisa, melhor seria desanuviar a mente e limpar os pensamentos com algo mais leve afim de esquecer a experiência". O Literary News, um periódico londrino julgou o livro "doentio demais para ter vindo de uma mente saudável!"

O Grande Deus Pã realmente causou sensação na Sociedade Victoriana!

Sacudiu as estruturas do romance gótico de horror de uma maneira que nem mesmo obras consagradas como Drácula, de Bram Stoker conseguiu. O livro se tornou maldito, várias editoras o recusaram por achar a narrativa absurda e demasiadamente extravagante. Os editores temiam que os leitores pedissem seu dinheiro de volta. Que ficassem enfurecidos. Que queimassem o livro causando assim uma publicidade negativa.


O autor de "O Grande Deus Pã" era um jovem de 30 anos, nascido na parte mais escura do País de Gales, uma terra selvagem e inóspita coberta de florestas ermas que ele conhecida e temia como poucos. Seu nome era Arthur Machen (Fala-se Má-Ken).

Ao longo dos sete anos seguintes, ele iria produzir mais alguns trabalhos, e estes, nas palavras de H.P. Lovecraft estariam um degrau acima de tudo que foi escrito no gênero durante o período, superando tudo o que vinha antes. "Algo que marcou um diferencial na história da literatura".

Lovecraft sabia do que estava falando. Em seu ensaio Horror Sobrenatural na Literatura, ele rende elogios rasgados a obra de Machen e o coloca entre os maiores autores do gênero. Não é à toa que muito do Horror Cósmico, termo cunhado por Lovecraft, bebeu da fonte de Machen que dedicou várias de suas estórias a noção de Deuses Alienígenas, entidades extraterrestres e raças inumanas desaparecidas que habitaram o passado longínquo.

Há algo na obra inteira de Machen que soa estranho, bizarro, perturbador... "The Three Impostors", "The Inmost Light", "The Red Hand", "The Shining Pyramid", "The White People", e é claro, "The Great God Pan" representam uma visão muito particular do que seria o Mal Sobrenatural. Os horrores de Machen são os precursores do estilo lovecraftiano, em intensidade e forma são bastante semelhantes. As criações de Machen reverberam e continuam influenciando a literatura de horror, permanecem atuais e apavorantes mesmo hoje. Stephen King sempre rendeu homenagem a Machen, dizendo que o Grande Deus Pã ainda o aterroriza, passados tantas décadas desde a primeira vez que o leu.


E na boa, quem sou eu para contrariar alguns desses luminares do horror? Na minha opinião, Mache é simpelsmente genial. Um dos autores mais viscerais em sua narrativa e perversos em seus temas. A maneira como as estórias de Machen são construídas vão aumentando um suspense e uma aura de estranheza perceptível. 

Muitos críticos, entretanto, encaram a obra de Machen como um tanto superficial, um resultado da decadência do fim do século XIX que lançou uma sombra pessimista sobre o século que estava prestes a se iniciar. Machen foi um dos pioneiros a introduzir sugestões claras de sexo e luxúria nas páginas de livros que seriam folheados pelas senhoras britânicas em busca de sustos e emoções fortes. Não por acaso, mais de uma senhorita teve de recorrer aos seus sais depois de ler as obras de Machen.

O autor foi um dos expoentes no movimento dos doentios "Livros Amarelos" cujo conteúdo chocava e incomodava os conservadores. Mas se a maioria dos autores dessa vertente se dedicavam a decadência do submundo das metrópoles como Paris e Londres, com láudano e absinto enebriando os sentidos, Machen buscava nas regiões remotas de seu País de Gales as raízes para os medos primitivos, com cheiro de mato e madeira apodrecida. Nas florestas ermas, nas charnecas cujas árvores jamais viram um machado, descritas em suas narrativas em detalhes, habitam os horrores ancestrais e que ao cruzar o caminho dos homens, desencadeiam horrores incomparáveis.

Machen foi acima de tudo um poeta, mas também um estudioso do mundo oculto e espiritual. Ingressou na Ordem Hermética da Golden Dawn, ao lado de outros luminares ocultistas do período por indicação de A.E. Waite. Participava de reuniões e rituais de onde extraía inspiração para suas estórias de horror sobrenatural. Alguns colegas torciam o nariz para suas estórias, achavam que ele estava falando demais, compartilhando seus segredos místicos.

Nascido na região de Gwent, ele tinha medo das florestas verdejantes e dos vales profundos que repousam na sombra das montanhas. Afirmava que nenhum lugar era mais aterrorizante do que sua terra natal. Aos 19 anos, com certo alívio, mudou-se para Londres, mas jamais esqueceu das paisagens rústicas que lhe causavam falta de ar e pesadelos. Forçado a escrever para aliviar a pobreza crônica em que vivia, começou a rascunhar suas primeiras estórias antes de completar 20 anos.


Os editores o achavam estranho e evitavam publicá-lo. Vivia, portanto, em estado de quase penúria. Alimentava-se de pão e chá verde, fumava tabaco barato e por vezes conseguia surrupiar um biscoito de algum vizinho ou amigo. Era, no entanto, muito solitário. Habitava um quarto pequeno no qual se trancava para escrever suas estórias. Passava dias sem ser visto. Atiçava a lareira de seu lar com um único cômodo até que as chamas ficassem quase fora de controle, o quarto fervia com o calor do fogo feroz. Enquanto escrevia, o suor se misturava à tinta que escorria da pena para o papel. 

"O Grande Deus Pã" a obra prima pela qual ganharia fama, foi escrito para aliviar suas aflições. Um colega o aconselhou a colocar no papel as lembranças de sua juventude, vivendo em um lugar que conforme ele descreveu causava "uma sensação permanente de perturbação, mistério e terror". Talvez assim, seus pesadelos pudessem ser exorcizados. Vivendo sua infância no vilarejo medieval de Carleon, um assentamento fundado pelos romanos sob o nome de Isca, Machen acreditava em espíritos da natureza, fadas e seres elementais. Era um entusiasta da história antiga e medievalismo.

Machen desconfiava da beleza, reputava a ela uma qualidade indecifrável e dizia que tudo que era belo em seu íntimo era também perigoso. Boa parte da visão de mal definida por Machen, passa pela noção de que a beleza oculta uma feiura indescritível. Em suas descrições da luxuriante natureza do interior de Gales, é possível enxergar beleza perene, mas há por detrás dela, uma perversidade palpável, bem escondida.

Em outra de suas novelas mais celebradas, a "The Dark Seal", o protagonista se rende a exuberância do interior de Gales e baixa sua guarda diante da armadilha que é o lugar. As cenas pastorais nas quais a natureza parece oferecer o que tem de melhor, sempre contrastam com um medo ancestral, forças quase esquecidas que o homem moderno é incapaz de compreender e enfrentar. As criaturas ancestrais que vivem nas florestas isoladas agem através de suas crianças: o assustador povo pequeno, as nada inocentes fadas silvestres e outros seres que habitam as sombras de sua ficção. São horrores rústicos que o mero vislumbre ocasiona loucura e desespero, bem no estilo dos Mithos de Cthulhu.


A aura de beleza sinistra derivada do interior não está limitada às paisagens, mas integra a própria mecânica do horror criado por Machen. A bela aparência Helen Vaugn, personagem central em "O Grande Deus Pã", evoca "os mais vívidos sentimentos de perversidade". Em determinado momento, um dos personagens se refere a ela como "a mulher mais bela e repulsiva que ele conheceu". Assim como em estórias de vampiros, o mal nas estórias de Machen é extremamente sedutor, oferecendo inúmeros prazeres e descobertas para quem aceitar abraçá-lo.

Os rituais de fertilidade realizados em honra ao Deus Pã se referem a comunhão sexual entre Deuses e Mulheres. Seres chifrudos e beldades de aparência inocente. Algo que deveria ser belo, mas que se mostra aniquilador para a sanidade. Tudo está implícito na obra de Machen, em "The Hills of Dreams" por exemplo, o mal se esconde na beleza onírica, todo um mundo de sonhos que é na verdade um portal para os pesadelos mais vívidos.

Os heróis de Machen são indivíduos inocentes, vivendo existências solitárias, seus vínculos afetivos se resumem a amizade, eles são ludibriados pela beleza e se deixam enganar pela aparência angelical de belas mulheres. Só despertam para o perigo quando é tarde demais e enlouquecem pouco antes de terem suas mentes cooptadas pelo horror.

Na obra de Machen, o universo conspira contra a humanidade, e não há uma força benevolente regendo tudo. Não há um Deus, apenas forças antigas dotadas de desejos que pretendem saciar sua vontade às custas da pobre humanidade. Nesse processo, muitos dos heróis de Machen são reduzidos a testemunhas impotentes, fadadas a um destino tenebroso, o que nos leva a mais um elemento célebre na obra de Lovecraft, a impotência e o fatalismo diante de um universo indiferente.

Anos mais tarde, já gozando de fama, Machen escreveu que seu maior erro como escritor foi constantemente retratar o desconhecido como algo tenebroso e maligno. Hoje parece justamente o inverso, esse não era seu maior erro, sem dúvida foi seu maior acerto. Machen era um mestre em sugerir o horror e raramente mostrá-lo. Além disso, seu horror tinha um status universal, ao invés de ser apenas folclore localizado ou mera superstição.  


O Grande Deus Pan serviu para consolidar a carreira de Machen. Apesar, ou talvez por conta, das críticas em várias revistas literárias, a novela chamou a atenção do público. Muitos compravam o livro justamente por conta do teor sexual e das insinuações de profanidade. O livro chegou a uma segunda edição, algo incomum para autores de fantasia gótica. Com sua carreira deslanchando ele se casou e mudou para uma casa maior.

Na virada do século a morte da esposa, após uma longa luta contra o câncer fez com que ele repensasse vários aspectos de sua vida. Por pouco não abandonou de vez a literatura.

Machen se envolveu com movimentos espiritualistas muito em voga no período e se tornou uma autoridade em Religiões Célticas e Cristianismo Primitivo. Ele escreveu várias dissertações sobre o Santo Graal e a respeito de Lendas Arthurianas. Em 1910, Machen decidiu se dedicar ao jornalismo e se tornou um correspondente internacional para o Evenning News. Em 1914, no início da Grande Guerra, ele viajou para a França e começou a fazer a cobertura dos acontecimentos no front.

Nesse período escreveu importantes obras que foram usadas para promover o patriotismo: "The Bowman" e "Angels of Mons" são seus contos mais importantes do período, mas ele também escreveu a novela "The Terror" e "The Great Return", todos marcados pela fantasia e horror. Nos anos 1920 Machen experimentou o reconhecimento de críticos e fãs, publicou biografias, trabalhos importantes e teve seu nome enaltecido como um dos grandes autores britânicos do período. Ele morreu em 1947 em situação financeira confortável e com grande aceitação popular.


Infelizmente, Arthur Machen é pouco conhecido em terras brasileiras. Poucas de suas obras foram traduzidas para o português e mesmo clássicos de suma importância como "Hill of Dreams" e "The Three Impostors", estão indisponíveis em nosso idioma, contudo o lançamento da Editora Clock Tower (ver release) que acertou na mosca com essa publicação, promete corrigir essa grave falha. A Antologia irá reunir o que Machen tem de melhor.

As estórias de horror e fantasia escritas por Arthur Machen podem ser lidas em noites de tempestade em um quarto silencioso e à meia luz, como manda o figurino para estórias do gênero. Contudo, mesmo durante o dia, em um banco de praça ou num parque, será possível apreciar sua narrativa na qual o horror se apresenta no mundo natural. E se a qualquer momento, você sentir um arrepio ao perceber o formato inusitado de uma nuvem, uma fila de formigas ou o piar de algum pássaro, será por que ele já conseguiu mexer com você.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Mestre do Oculto - Próximo lançamento da Editora Clock Tower


Segue o press release do próximo lançamento da Editora Clock Tower, uma antologia com contos - muitos deles até então inéditos em português, dedicada ao Mestre do Horror gótico, Arthur Machen.

Uma bela publicação, sem dúvida uma ótima pedida para quem é fã de horror e tem curiosidade de conhecer alguns clássicos que serviram de inspiração para compor aquilo que ficaria conhecido como Horror Cósmico.

A seguir os detalhes:

A Editora Clock Tower, conhecida pelos livros O Mundo Fantástico de H.P. Lovecraft, O Rei de Amarelo e  O Mundo Sombrio (você pode ler as resenhas clicando sobre o título) tem o prazer de apresentar nosso mais novo projeto de financiamento coletivo, o livro:

ARTHUR MACHEN - O Mestre do Horror

Trata-se de um livro com obras de horror do escritor galês Arthur Machen, grande influência para os escritos de H.P. Lovecraft e um dos maiores nomes do gênero horror e fantasia.

O livro já conta com uma lista preliminar de contos:

1 – A luz interior (The Inmost Light)
2 – A mão vermelha (The Red Hand)
3 – A pirâmide de fogo (The Shining Pyramid)
4 – Ao abrir a porta
 (Opening the Door)
5 – As crianças da lagoa (The Children of the Pool)
6 – O grande deus pã (The Great God Pan)
7 – O povo branco (The White People)
8 – O sinete negro (The Novel of the Black Seal)
9 – O vinho do demônio
10- Um jovem brilhante (
The Bright Boy)

Outros contos, o acabamento refinado e os extras (que são a marca da editora), a gente espera definir junto com você leitor (temos material já traduzido para 3 livros), já que esse é um livro participativo aonde aceitamos sugestões enquanto já rola a campanha de financiamento do livro que se estenderá apenas até o fim desse ano de 2016, agora com um preço especial (R$55,00) com diversas formas de pagamento (depósito, paypal, pagseguro e parcelado).

Independente da quantidade de livros no final da campanha o livro será impresso!


Mais informações sobre o livro nos links:



domingo, 6 de novembro de 2016

Páginas que Matam - O Mistério do Livro Mortal escrito por Goethe


Nós já falamos aqui no Mundo Tentacular a respeito de Gloomy Sunday, uma melodia que supostamente é tão melancólica que ouvi-la repetidas vezes podia induzir a um estado de tristeza e depressão profunda que a pessoa se sente compelida a cometer suicídio. Para ler ou lembrar desse artigo, clique AQUI - (A Canção do Suicídio)

Aparentemente, a música não está sozinha como fator capaz de induzir um estado de pesar tão lúgubre que parece convidar a morte. 

Alguns séculos atrás, a Europa experimentou uma estranha epidemia de suicídios. Um número desconcertante de homens jovens foram encontrados mortos sem uma razão óbvia.

Logo foi descoberto que embora nenhum deles se conhecesse ou vivesse na mesma cidade, tinham algo em comum. Todos eles se vestiam com roupas semelhantes e haviam atentado contra a própria vida com um disparo de arma de fogo na têmpora.

Uma investigação mais cuidadosa resultou em uma descoberta chocante: todos os homens haviam lido um certo romance, considerado na época uma obra de grande sucesso. Mesmo hoje, o livro ainda é muito popular e continua sendo vendido mundo afora.

Poderiam palavras escritas em um livro afetar as pessoas de tal forma que elas decidissem cometer suicídio? O que aconteceu? Que livro é esse e que poder sinistro ele exerce sobre a mente de homens jovens, sendo capaz de persuadi-los a abraçar o esquecimento?

O livro em questão foi escrito por Johann Wolfgang von Goethe, e segundo estatísticas ele foi o responsável - direta ou indiretamente, pelo suicídio de mais de 2000 pessoas.

Em 1774, Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832), um dos mais populares escritores germânicos publicou o romance "Os Sofrimentos do Jovem Werther" ("The Sorrows of Young Werther"). Ele demorou apenas quatro semanas para completar seu trabalho, mas a repercussão do livro foi muito mais duradoura e catastrófica. 

A influência da narrativa lacônica de Goethe se espalhou rapidamente pela Europa, e ao longo do século seguinte seu trabalho se converteu em uma grande fonte de inspiração para a música, teatro, poesia e filosofia. Infelizmente essa obra em especial se tornou célebre por estar associada a um grande número de mortes - "A Febre de Werther"

O livro "Os Sofrimentos do Jovem Werther" narra a estória de um rapaz chamado Werther, um artista nascido na classe média que se apaixona perdidamente por uma mulher que ele não pode ter. Charlotte, o objeto da devoção de Werther já está comprometida com outro homem. Embora sua amada Lotte corresponda ao profundo amor de Werther, ela decide se manter fiel ao seu compromisso com Albert, seu noivo. Werther, incapaz de controlar suas emoções e aceitar a situação, sofre de forma terrível ao longo de toda narrativa, escrita em forma de cartas a um correspondente que vive um outra cidade. Nos capítulos finais, ele planeja seu suicídio, uma vez que a morte será o único alento para seu coração despedaçado. Werther termina encostando o cano de uma arma contra a têmpora e pressionando o gatilho.

Parece uma estória demasiadamente sentimental e tola, mas é preciso lembrar que ela foi escrita em uma época em que o romantismo estava no auge.

O livro de Goethe tornou-se rapidamente um sucesso e serviu para transformá-lo em um autor celebrado praticamente da noite para o dia. Os leitores europeus apreciavam a tristeza da estória que refletia a maneira como muitos deles se sentiam. As cartas de Werther sensibilizaram muitas pessoas e foram usadas como declaração de muitos suicidas.

Napoleão Bonaparte, o famoso General e Imperador Francês carregava consigo uma cópia do livro e o considerava uma das mais importantes obras de literatura. Napoleão era tão devotado a esse romance que quando foi exilado em Elba pediu que seus captores permitissem que ele levasse consigo um exemplar para que pudesse ler.


Será possível que palavras podem afetar as pessoas de tal maneira que elas decidam cometer suicídio após absorver o conteúdo de um livro?

Infelizmente, Goethe não havia antecipado que tantos jovens seguiriam os passos de Werther. Repentinamente, vários suicídios começaram a acontecer nas principais cidades da Europa. Na maioria dos casos, homens entre 16 e 24 anos de idade, educados e interessados em literatura. Em comum, o fato deles vestirem um casaco azul e calças amarelas, as mesmas roupas usadas por Werther quando ele foi encontrado morto no final do romance. Em todos os suicídios, a arma utilizada era uma pistola, pressionada contra a têmpora e disparada à queima roupa. Vários dos suicidas não deixaram cartas ou mensagens para explicar suas ações, contudo, exemplares do romance sempre estavam próximos.

A influência que o livro de Goethe teve sobre jovens homens acabou se convertendo em um problema social. A Igreja Católica ficou extremamente preocupada e começou uma campanha condenatória do livro. Líderes da Igreja, é claro, postulavam que o suicídio era considerado um dos maiores pecados que alguém poderia cometer. Em um período em que a religião perdia sua influência sobre as pessoas, nem mesmo a Campanha que envolveu o próprio Papa surtiu algum efeito. O romance continuava sendo vendido, atingindo enormes tiragens.

Temendo que a epidemia de suicídios em massa continuasse, vários países da Europa decidiram banir o livro e proibir sua venda e tradução. Nações como Noruega, Austria, Dinamarca e alguns estados da Alemanha decidiram confiscar as edições do livro. Milhares de cópias foram queimadas, mas centenas escaparam da censura e foram parar em coleções particulares.

Mesmo Goethe teve que admitir que algo estava terrivelmente errado. O autor sempre disse que "Os Sofrimentos do Jovem Werther" haviam lhe causado um misto de sentimentos conflitantes. Goethe sempre deixou claro que o livro não era biográfico e tampouco inspirado em acontecimentos que ele testemunhou, sendo apenas uma obra de ficção. Contudo, no final de sua vida, ele admitiu que em seu romance haviam certos acontecimentos com os quais ele próprio teria lidado em sua juventude. Goethe sempre se disse assombrado pelos fantasmas daqueles que foram influenciados pela sua obra, reconheceu em seu leito de morte que talvez tivesse sido melhor jamais ter escrito uma obra tão lamentosa. Teria confessado a um amigo: "Esse é um livro que eu escrevi com sangue vindo de meu próprio coração despedaçado".

Quando a segunda edição foi impressa, Goethe foi obrigado pelo seu editor a incluir um aviso aos leitores. Na contra-capa passou a ser escrita a seguinte frase: "Seja homem, não siga os meus passos", como se o alerta fosse dado pelo próprio Werther.



O surto de suicídios conhecido como "A Febre de Werther" demorou alguns anos para diminuir. Com o tempo, o número de mortes foi reduzindo, mas elas ainda aconteciam. A Noruega foi o último país a remover o banimento da obra em meados de 1820. No início do Século XX, a Febre voltou com força total. Nos sangrentos campos da Grande Guerra, o número de suicídios influenciados pela obra foi arrebatador. Tamanho o estrago do livro que o Exército Imperial Alemão proibiu que os recrutas tivessem acesso a ele. Ironicamente, cópias em inglês publicadas pelos alemães foram lançadas em caixotes do alto de dirigíveis atrás das linhas inimigas. A idéia era influenciar os soldados britânicos a ler e morrer. Se o plano foi bem sucedido ou não, talvez nunca saibamos.  

Hoje em dia, o livro de Goethe é considerado uma das obras mais populares de sua bibliografia e um dos mais lidos.

Historiadores estimam que cerca de 2 mil pessoas cometeram suicídio depois de ler "The Sorrows of Young Werther" mas o número exato é desconhecido. Alguns especulam que pode ser muito maior, algo em torno de 5 ou 10 mil. 

O que é válido contemplar nesse caso é se nossa sociedade mudou muito desde então. Será que somos indivíduos mais fortes hoje em dia? Será que temos controle absoluto sobre os nossos sentimentos? Seria possível que algo semelhante acontecesse em nossa época cínica? 

Naturalmente, o livro não matava as pessoas, mas ele provavelmente agia sobre as emoções de seus leitores fazendo com que eles encarassem a situação do protagonista como um dilema similar ao vivido por eles mesmos. Muitos de nós, já experimentamos momentos de tristeza decorrentes de relacionamentos desfeitos, mas a grande maioria jamais encontrou nisso motivos para querer morrer. Por outro lado, há incontáveis relatos sobre cultos cujos membros planejam cuidadosamente morrer por uma causa, por uma crença, por um sonho...

Livros podem conter senhas e códigos mortais capazes de influenciar o desejo de morrer? 

Pelo sim, pelo não, melhor tomar cuidado com aquilo que se lê.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Lugares Estranhos: O assombroso Monumento de Buzludzha na Bulgária


O caminho até o monumento é extremamente difícil e perigoso.

O Monumento Nacional do Partido Comunista da Bulgária fica na parte mais elevada do Monte Buzludza, a uma altitude de 1441 metros, há 12 quilômetros da Passagem de Shipka. Não há cidades próximas, apenas alguns poucos vilarejos distribuídos nessa paisagem inóspita que no inverno se cobre de neve, e que ao longo do ano todo é varrida por ventos fortes. A temperatura pode cair até -30 graus na madrugada, o vento atravessa roupas e mesmo os casacos mais resistentes oferecem pouca proteção, partículas de gelo são arremessadas e mesmo um fragmento do tamanho de um grão de areia pode causar ferimentos.

Foi nesse lugar isolado da civilização que uma guarnição combinada de 38 mil soldados russos e búlgaros conseguiram repelir o avanço do exército turco em 1877, na épica Batalha da Passagem de Shipka. Uma Batalha que impediu que o Império Otomano conseguisse fixar uma cabeça de ponte na Europa Oriental o que poderia mudar a história de toda região.  

Mesmo durante o verão, acessar o monumento é complicado. As estradas ficam bloqueadas pelos deslizamentos frequentes e a despeito da temperatura mais agradável, o clima pode mudar drasticamente. Uma das formas de escalar a montanha é a partir do vilarejo de Kazanlok, no lado Búlgaro. O lugar é pouco mais do que uma aldeia com mais de 800 anos, habitada por pastores de cabra, filhos e descendentes de pastores de cabra. Felizmente os moradores conhecem bem as montanhas e se oferecem como guias para o perigoso trajeto. Em 2012, um grupo tentando visitar o lugar morreu em um acidente, quatro turistas e um guia despencaram para a morte em uma ravina quando o carro em que estavam perdeu a direção. Dois anos antes outro grupo que pegou uma das trilhas consideradas fáceis, se perdeu. O grupo de quatro não encontrou o caminho de volta e dois morreram de hipotermia.

Apesar das estradas tortuosas, cheias de curvas e despenhadeiros, automóveis ainda são o método preferido de ascender a montanha. A quantidade de placas advertindo do perigo e as cruzes colocadas por parentes onde pessoas morreram são um grave aviso do que o visitante encontra pela frente: ladeiras ingrimes, rochas soltas, cascalho escorregadio...

Mas se o motorista for competente e conhecer o caminho, a visão é surpreendente. O vale abaixo das montanhas oferece uma paisagem grandiosa de um recanto selvagem dos Balcãs. Uma região inóspita que foi preterida por colonizadores ao longo dos séculos, considerada árida, escura e demasiadamente assustadora. O que não faltam nessas Montanhas são lendas e quase todas envolvendo fantasmas, assombrações e horrores que se escondem em grutas e arrastam os desavisados para suas profundezas. Por muito tempo, as pessoas acreditavam que desertores turcos habitavam os recessos subterrâneos e que se tornaram bandidos, saqueadores e segundo alguns, canibais. Teriam se acostumado com a escuridão dos túneis cavados no interior da rocha e regredido a um estado de barbárie extrema.

Não menos assustadores são os relatos dos fantasmas de pessoas mortas na sangrenta Batalha. Gritos em Búlgaro, Russo e e Turco se misturam ao som de canhões e disparos. Muitos falam que eles não passam dos ecos de trovões distantes reverberando pelas gargantas ou o sopro do vento frio. Mas quem sabe? Visões de soldados com medonhos ferimentos andando pela escarpa à noite são comuns em qualquer época do ano. A Batalha deixou seus sinais aqui e ali, crateras produzidas por explosões, marcas nas rochas deixadas pela artilharia e ocasionais ossos humanos insepultos. Os deslizamentos revelam essas coisas - em 1978 um deslizamento revelou a cova de 14 homens mortos em uma mesma trincheira executados por disparos à queima roupa.


Mais do que fantasmas, há o medo palpável do Ugri uma espécie de bicho papão do folclore búlgaro que pode ter sido a inspiração para os "ogres". Essas criaturas são grandes seres corpulentos com músculos e propensos à violência. Seus corpos são cobertos de cabelos pretos e compridos que mais parecem crinas de cavalo. Eles vestem peles curtidas e usam porretes para subjugar seus inimigos. Não são espertos, mas quando famintos empregam de furtividade para conseguir capturar suas presas. Durante o governo comunista, foi "proibido" acreditar na existência dos Ugri, como se fosse possível apagar de um momento para o outro um folclore enraizado nas tradições camponesas. Avistamentos de Ugris e outras criaturas feiosas continuam sendo comuns entre os povos que habitam as montanhas e o costume de se deixar sangue de cabra com intuito de afastá-los ou guiá-los para longe das aldeias ainda é seguido.     

Após a perigosa escalada, o visitante enfim é saudado pelo grandioso - megalomaníaco, talvez fosse uma palavra mais adequada, monumento no topo da montanha. A bizarra construção em forma de disco, surge de uma forma tão repentina que é como se ela simplesmente brotasse em meio às rochas, surgindo como algo completamente estranho na paisagem natural. O tamanho do monumento é a primeira coisa que choca o observador. Combinado com a arquitetura moderna e os contornos em ângulos dramáticos, a obra inteira em concreto armado transmite uma sensação de absurda estranheza, como se essa monstruosidade pertencesse a uma outra civilização, talvez até a uma espécie alienígena.

O monumento coroa uma escadaria de pedra com degraus irregulares e com estranhos padrões talhados na rocha crispada. Do alto da escadaria é possível ver um enorme pátio onde os convidados para as celebrações políticas se reuniam para ouvir os discursos dos líderes que os endereçavam do alto. A acústica é assombrosa e o menor sussurro pode ser escutado claramente por todos que estão abaixo. As escadas são guarnecidas de esculturas de pedra na forma de mãos portando chamas. Durante as celebrações, estas esculturas eram acesas com óleo e queimavam na noite podendo ser vistas de longe. Hoje, resta bem pouco delas, muitas foram desgastadas pelo vento ou arrancadas de suas bases após anos sem manutenção.   


A entrada principal permanece aberta, as portas arrombadas muito tempo atrás. No entrada do salão abobadado alguém escreveu em letras vermelhas as palavras "FORGET YOUR PAST" (Esqueça seu Passado), cobrindo símbolos e dizeres socialistas gravados ali com letras do alfabeto cirílico búlgaro. Muitas dessas letras foram roubadas por visitantes que conseguiram soltá-las da parede onde estão fixadas com rebites. As frases que um dia resplandeciam em dourado perderam seu brilho e desapareceram na obscuridade. O que restou foram as frases de efeito talhadas na parede, "De pé?" e "Sim, sempre de pé", palavras usadas como saudações nos tempos do regime.

Há apenas um acesso ao interior do Disco, as outras foram lacradas com tijolos quando o Monumento foi fechado. Atravessar o portão com mais de 8 metros de largura e quase o mesmo de altura é como atravessar o portão do Hades. A primeira impressão é de que a escuridão esconde sombras mais escuras. Ao longo de todo inverno, Buzludzha fica inacessível, quase enterrada na neve, então quando chega a primavera o gelo derrete e corre como um rio pelas escadarias ou despenca do teto com uma cascata. A impressão é que o monumento se ergueu de um mar profundo, rumo à superfície. Mesmo após o inverno, ainda há crostas de gelo e estalactites cristalinas se projetando do teto. Os guias chamam a atenção dos visitantes pois todo cuidado é pouco. Sons podem causar a precipitação dessas estruturas que constituem um grave perigo se atingirem alguém. O ambiente se assemelha ao interior de um congelador, preservado pelo granito presente no teto, nas paredes e no chão.


Três escadarias ascendem para o pavimento interior. A partir desse ponto, as coisas começam a ficar ainda mais perigosas. Os largos degraus de concreto se tornaram escorregadios com as camadas de gelo depositadas sobre eles. O gelo é tão antigo que se tornou escuro, com cristais azulados moldados pelo vento em formas bizarras. No escuro, ou contando apenas com a luz das lanternas, é como se deparar com fósseis congelados em uma caverna no Ártico. Uma corredeira congelada saúda o visitante.

As escadarias levam para o segundo andar dominado por um colossal auditório que serve como o centro dramático da estrutura, algo de tirar o fôlego. A vasta sala de conferência circular é cercada de janelas de ferro batido constantemente bloqueadas pela neve acumulada. O piso de madeira lustrosa foi destruído há muito tempo pelo frio restando apenas um esqueleto de metal enferrujado onde os ladrilhos eram encaixados elegantemente. Os assentos se foram, sobrando apenas a estrutura de ferro onde eles eram fixados. O símbolo comunista da foice e do martelo ainda pode ser visto em um mosaico no teto que tem impressionantes 107 metros de altura. A arena possui uma aparência sobrenatural, como um imenso rinque de patinação fantasmagórico.


Na parede oposta é possível discernir as faces dos camaradas responsáveis pela Revolução. Nesse mosaico com pedras coloridas predominando a cor vermelha, vemos da direita para esquerda Engels, Marx e, é claro, Lenin. Enquanto isso, orgulhoso atrás dos assentos reservados para conselheiros e comissários, encontram-se outras duas figuras importantes da história nacional. A imagem de Todor Zhivkov – presidente comunista da República Popular da Bulgaria de 1954 até 1989. No final de sua longa carreira, Zhivkov foi criticado por ter permitido que a crise econômica dominasse o país; para muitos ele era apenas um fantoche dos soviéticos e um corrupto. Assim que o URSS desmoronou e o apoio aos aliados minguou a população da Bulgária exigiu mudanças.

O rosto de Zhivkov foi duramente danificado e coberto de símbolos e xingamentos. Na fase final de seu governo, dizem ele chegou a cogitar lutar para preservar o poder e não disse que não cederia a pressão popular. Há boatos que ele chegou a ordenar toques de recolher para debandar o povo e consultar a junta militar. O exército entretanto não acatou sua ordem. Isolado ele foi destituído e se exilou na Albânia.


Dimitar Blagoev, um filósofo considerado o pai do socialismo búlgaro também é lembrado num mural que foi danificado pelos visitantes. A base foi avariada por golpes de marreta. A cabeça e a mão foram arranhados e os ladrilhos quebrados. Os outros murais também se perderam, a tinta foi apagando até desaparecer quase por inteiro, mas ainda é possível perceber imagens como a das mulheres camponesas trabalhando nos campos.

O teto em formato arredondado se encontra em grave risco de desabamento. As nevascas se acumulam no topo e a falta de reparos fez pedaços inteiros de argamassa e concreto se desprender. Engenheiros chegaram a afirmar que é questão de tempo até o lugar ser soterrado pelas toneladas de concreto do teto.

Abandonado desde 1990, o local se tornou uma espécie de Meca para exploradores urbanos na Bulgaria: entretanto a despeito dos desafios, o Monumento não atrai muitas pessoas dado o difícil acesso. Explorar câmara por câmara é perigoso, o risco de ferimentos sempre existe e com o socorro tão distante é um risco considerável se aventurar no interior.


A pergunta que não quer calar é: Por que o Monumento teria sido erguido em um lugar tão distante e isolado?

A construção se iniciou em 1974, como uma obra coordenada pelo Governo, pelas Forças Armadas e por "operários voluntários". O Local escolhido deveria refletir o passado da região e servir como um Tributo à importante Batalha contra os Turcos e como símbolo da resistência dos Búlgaros diante da Ocupação Nazista. O objetivo principal era fazer com que o Monumento servisse como Quartel General do Partido Comunista, para que delegados e comissários do Partido viessem para participar de festividades e eventos. Um dos objetivos do governo era transformar o monumento em um lugar de peregrinação para a população.

A construção da grandiosa obra teve um custo elevado, mais de 16 milhões de Levs, algo em torno de 7 milhões de libras. A maior parte do dinheiro teria vindo de "doações", coletadas pelos oficiais do partido junto da população. Na verdade, a construção sempre foi criticada pelo povo que via nela uma demonstração absurda e desnecessária. Além disso, muitos operários envolvidos na construção passavam por extrema necessidade, lançados em trabalho quase escravo. A construção consumiu muitas vidas, sobretudo nos meses mais rigorosos do inverno. Doença e fome também era algo corriqueiro e centenas de trabalhadores não sobreviveram para ver a obra concluída. Lendas sobre cadáveres sendo lançados nos misturadores de cimento e usados como argamassa nas paredes eram bem conhecidos. As obras foram concluídas em 1981. 

É preciso compreender que o Partido Comunista da Bulgária era um tanto... peculiar.


Existia uma espécie de devoção que beirava a religiosidade entre seus líderes, se é que tal coisa pode ser dita de uma filosofia política que prega o ateísmo. As celebrações do partido eram realizadas de uma maneira quase ritualística, com uma série de observâncias e regras de conduta. Os hinos, os símbolos, a indumentária, tudo era extremamente teatral, com muitos elementos copiados da ortodoxia. O objetivo era causar o máximo de efeito em quem assistia essas celebrações. Tradições culturais camponesas completavam os procedimentos. Os companheiros soviéticos não gostavam do que viam, mas aceitavam a escolha dos búlgaros quanto a maneira como o comunismo era apresentado em seu país. O culto extremo à personalidade chegava ao ponto que o Comissário de cada localidade ser ligado aos recém nascidos, transformado em uma espécie de padrinho e assim membro da família. Todas as famílias eram obrigadas a ter a foto do presidente em um lugar de destaque de suas casas. As crianças ganhavam brinquedos com o símbolo do partido, soldadinhos, bonecas e carrinhos. Mesmo a comida era entregue em caixas e latas com estes símbolos. Antes das refeições era obrigatório fazer uma espécie de homenagem aos heróis, e se tal coisa fosse esquecida, havia multas pesadas. Aos domingos, reuniões e palestras de doutrinação ocorriam com comissários trajando roupas de celebração como sacerdotes. Curiosamente, esses encontros ocorriam em antigas igrejas, com o dobrar de sinos conclamando as pessoas a vir. Havia todos elementos de uma religião, ou ao menos de um culto bem estruturado.

O Monumento de Buzludza deveria ser uma espécie de Catedral. Ainda hoje é possível ver uma torre semelhante a um minarete com uma estrela vermelha três vezes maior do que a que existe na Praça do Kremlin. Dessa estrutura podiam ser ouvidos hinos várias vezes ao dia graças a um potente equipamento de rádio. Buzludza deveria arrastar multidões, e se pensava em construir estradas e pistas, para que as pessoas viessem mais facilmente. Entretanto, os custos com a extravagante obra foram tão elevados que os projetos acessórios nunca saíram do papel. A distância fazia com que ele fosse pouco usado pelo partido. A estrutura até chegou a comportar eventos e festividades importantes, a inauguração foi um acontecimento, mas a distância incomodava demais aos dignatários que precisavam fazer o longo caminho. As instalações também não estimulavam a visita pois havia pouco conforto e acomodações satisfatórias.

Com o tempo, o Monumento foi caindo em desuso, convertendo-se em um gigantesco "elefante branco" cuja manutenção era caríssima.

Em 1989, o partido comunista da Bulgária foi destituído do poder e em 1991, o novo governo decretou que Buzludzha fosse definitivamente fechado para o público. Desde 1996 o governo parou de realizar a manutenção e o local, um símbolo de outra época foi definitivamente abandonado.

É claro, um lugar desses continua causando controvérsia.


Fala-se de salas secretas, depósitos e compartimentos lacrados abaixo da estrutura. Alguns cogitam que o Governo mantinha um sistema de bunkers subterrâneos para serem usados no caso de uma guerra ou revolta popular. Como membro do Pacto de Varsóvia, búlgaros estavam obrigados a apoiar os soviéticos. Acredita-se que os russos tinham permissão de estocar armamento e munições em salas secretas sob o monumento. Há boatos de que até mesmo silos de armas nucleares e material radioativo seriam guardados nos compartimentos mais profundos que foram cimentados. Outros falam de laboratórios para produção de armas químicas e biológicas. Ninguém entretanto viu esses lugares ou encontrou indício de sua existência.

Fala-se ainda de porões usados para manter presos políticos e dissidentes. Algumas câmaras estranhas foram encontradas, mas não se sabe se serviam ao propósito de manter prisioneiros. Alguns comentam que no ocaso do partido, um grande número de prisioneiros teriam sido executado e enterrados em covas rasas nos arredores do Monumento. Nenhum desses cemitérios foi encontrado, mas é claro, essas estórias ajudaram a criar a imagem de que a região é assombrada também por estes espíritos inquietos.

Hoje em dia, não existe nenhum interesse do governo em renovar o lugar ou dar alguma finalidade a estrutura. Simplesmente não vale a pena fazer qualquer coisa, dada a distância e o significado ligado ao passado recente do qual a maioria não sente falta. Buzludza parece fadado a desaparecer em um futuro próximo, mas as memórias e lendas sobre esse estranho lugar devem permanecer vivas por muito tempo.