quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A Besta está entre nós - Histórias apavorantes e reais envolvendo Lobisomens


Acusações de Licantropia eram algo relativamente comum na Europa entre os séculos XV e XVII.

A histeria com a presença maléfica de lobos e bruxas se tornou uma epidemia na qual qualquer pessoa podia ser acusada. Muitas pessoas acabaram sendo acusadas das duas coisas e terminaram seus dias exilados, punidos ou executados.

Existia uma forte ligação entre crimes de assassinato e licantropia. Um homem que confessava ter matado crianças ou mulheres podia ser chamado de lobisomem, se o crime tivesse sido cometido em determinadas datas, em noites de lua cheia ou por meio de violência desmedida. Canibalismo, desmembramento ou necrofilia também eram tidos como indícios da atividade de um lobisomem.

É perfeitamente possível que alguns dos primeiros Assassinos em Série documentados tenham sido acusados de se transformarem por intermédio da licantropia. O Lobisomem era considerado um monstro e atribuir aos acusados atributos sobrenaturais, era uma forma de explicar a maldade que alguns eram capazes de produzir.

Aqui está uma lista de lobisomens documentados ao longo da história.

O Lobo da Livônia


As confissões envolvendo pessoas acusadas de serem lobisomens podiam ser bastante peculiares. 

Tomemos como exemplo um tal Thiess de Kaltebrun que viveu em uma região chamada Livônia na Suécia no século XVII. As pessoas tinham muito medo de Thiess e o evitavam à todo custo. O homem tinha mais de 80 anos de idade e habitava uma cabana isolada. Ele raramente ia até o vilarejo, pois havia sido avisado para não fazê-lo, do contrário seria linchado. Mesmo seus filhos, netos e bis- netos detestavam o ancião e haviam mudado de nome para não ter qualquer ligação com ele.

Você pode se perguntar o que esse octogenário poderia ter feito para ser tão desprezado por todos os seus vizinhos e parentes. A resposta é simples: Ele afirmava ser um lobisomem.

Thiess teria contraído licantropia depois de passar um inverno inteiro sozinho. Desesperado de frio e fome ele aceitou uma barganha com o diabo que apareceu diante dele. O tinhoso ofereceu a chance de sobreviver, desde que aceitasse a maldição de se transformar em lobo. O velho não apenas afirmava que a história a seu respeito era verdade, mas se orgulhava da sua Licantropia.

As autoridades locais não se importavam muito com o velho, já que o consideravam louco e inofensivo. Que mal poderiam fazer as sandices de um velho eremita? Entretanto, em algum momento de 1691, três juízes visitaram a casa de Thiess para fazer perguntas a respeito de um roubo que havia ocorrido na Igreja do povoado. O velho recebeu os juízes e disse não saber nada a respeito do roubo, mas que gostaria de confessar uma série de outros crimes que havia cometido quando se transformava em lobisomem. A princípio, os juízes não levaram o sujeito à sério, mas acabaram concordando em levá-lo para a aldeia e ouvir o que ele tinha a dizer.

O problema é que, quando começou a falar, ele simplesmente não parava mais.

De acordo com o testemunho, Thiess afirmava ter vivido com a licantropia e usado os poderes que ela lhe concedia para fazer todo tipo de perversidade. Ele afirmava que se transformava em lobo em dias sagrados como o Dia de S. lúcia, Pentecostes e Páscoa como uma forma de renegar a Deus. Sua transformação acontecia quando ele vestia uma pele de lobo que jogava sobre as costas e que lhe concedia a fúria e a força daqueles animais selvagens.

O velho confessou que uma vez transformado em lobisomem vagou pelos campos e fazendas matando animais e os devorando. Declarou também ter atacado fazendeiros inocentes, tomado suas esposas e filhas, matado seus herdeiros e derramado seu sangue. Até então as histórias do velho não pareciam muito coerentes, contudo a medida que ele ia falando um dos juízes lembrou de casos semelhantes ocorridos na sua infância em que inocentes foram assassinados pelo que se julgou tratar-se do ataques de lobos.

Os relatos começaram a se tornar cada vez mais impressionantes e repletos de detalhes sanguinolentos, atraindo a população dos vilarejos próximos que disputavam um lugar na sala de audiência para ouvir as medonhas confissões.

Em determinado momento, as histórias foram se tornando ainda mais bizarras. O velho afirmava que embora ainda fosse um lobisomem e tivesse feito coisas horríveis, havia traído a barganha com o diabo e abraçado novamente a fé cristã. Para se redimir, Deus deu a ele a tarefa de caçar outros lobisomens e bruxos. Por muitos anos ele teria matado esses monstros como uma espécie de agente divino o que o reabilitou.

As pessoas mudaram o julgamento a respeito do velho e começaram a acreditar que ele realmente poderia ter se arrependido e que, portanto, merecia o perdão da justiça. Os juízes ficaram sem saber o que fazer a respeito do caso do estranho lobisomem. Finalmente, foi revelado que o velho não era um luterano devoto, e que praticava um tipo de magia camponesa baseada em amuletos e bençãos. Os juízes decidiram então que por esse crime, ele deveria ser exilado da região sob pena de ser executado caso retornasse.

Não se sabe o que aconteceu depois disso com Thiess de Kaltebrun, mas até o século seguinte algumas lendas afirmavam que ele ainda vivia na floresta e que continuava sendo um lobisomem a serviço de Deus.

O Lobisomem de Dole


Bem menos divertido é o Lobisomem de Dole, Gilles Garnier um camponês que vivia nos arredores da cidade de Dole na Província francesa de Comté.

A crueldade de Garnier se tornou lendária e alimentou por muitos anos a imaginação dos franceses a respeito de lobisomens. Segundo a história, Garnier havia casado há pouco tempo e decidiu se mudar com a sua jovem esposa para uma cabana isolada na floresta. Acostumado a sustentar apenas uma pessoa ele achou extremamente difícil providenciar comida para sua esposa. Mais ou menos nessa época, várias crianças pequenas começaram a desaparecer ou foram encontradas mortas, supostamente vítimas de lobos. As autoridades da Província lançaram um édito para que interessados em matar ou apreender lobos se apresentassem. Já então, corria entre os camponeses supersticiosos o rumor de que o responsável pelas mortes era um lobisomem. 

Certo dia, um grupo de aldeões estava voltando do trabalho no campo, quando avistaram ao longe um enorme lobo negro. Eles atiraram pedras e afugentaram a fera, mas infelizmente acharam o corpo destroçado de uma menina ali perto. Um grupo de homens se armou e fez uma busca pelo bosque sem encontrar sinal da besta. Entretanto, acharam um homem suspeito vagando pelo mesmo local. Era Giles Garnier, com as roupas sujas de sangue e aparentemente confuso. O sujeito não foi capaz de explicar o que fazia ali e acabou preso pela turba.

Mais tarde na aldeia, ele foi interrogado e acabou revelando uma história bizarra de morte e crueldade que chocou a todos. Giles contou que no início do inverno estava caçando sem sucesso na floresta, tentando encontrar comida para ele e a esposa. Foi quando ele avistou um tipo de espectro espreitando atrás das árvores. A assombração ofereceu a ele um unguento que acabaria com todos os seus problemas, bastando para isso passar o líquido em seu corpo. Dessa forma ele conseguiria caçar e suprir a casa com comida suficiente para garantir sua sobrevivência. 

Acreditando que aquilo era um milagre ele afirmou tê-lo feito conforme instruído. O unguento, nas palavras do próprio acusado, fez com que ele se transformasse em em um lobo, e como tal, conseguia caçar e obter sustento. Entretanto, vestindo a pele da fera ele também se tornava um terrível matador que não tinha controle nenhum sobre sua sede de sangue. Garnier confessou ter atacado e matado ao menos cinco crianças entre 9 e 12 anos de idade. 

Em Outubro de 1572, ele fez sua primeira vítima, uma menina de 10 anos que foi arrastada até uma videira perto de Dole. O lobisomem disse que a estrangulou, removeu suas roupas e comeu sua carne dos braços e cintura. Quando se satisfez, removeu parte da carne e levou para sua esposa. Semanas mais tarde, Garnier ferozmente atacou outra garotinha, mordendo e arranhando até derrubá-la, mas ele foi interrompido por um transeunte e teve de abandoná-la. A menina acabou sucumbindo aos ferimentos dias depois. Em novembro, Garnier matou um menino de 10 anos, e novamente canibalizou o seu corpo, levando para a mulher uma parte da perna para que ela fizesse um ensopado. Ele estrangulou um outro menino um mês depois, mas também teve de abandonar o corpo na floresta por ter ouvido a aproximação de alguém. No final do ano, ele matou um menino de 12 anos com uma mordida no pescoço, cortou o corpo da vítima e levou seus braços e parte da barriga para que a mulher servisse com cebolas e aspargos em uma ceia. A seguir, o lobisomem fez sua derradeira vítima, uma menina de 13 anos que ele estrangulou, e de quem chegou a cortar a carne. Antes de devorá-la, contudo, teve de fugir de uma turba. Pouco depois, ele acabou sendo capturado logo depois de reverter a forma humana.

Garnier foi julgado culpado dos crimes de licantropia e feitiçaria. Em janeiro de 1573 ele foi conduzido até uma estaca de madeira colocada no centro de uma grande fogueira. Seus crimes foram considerados tão tenebrosos que o juiz ordenou que ele fosse queimado sem o benefício de ser previamente estrangulado. Para o caso do lobisomem de Dole, era preciso ouvir seus gritos para saber que ele havia sido realmente morto. Para se certificar disso passaram em seu corpo piche e óleo. Quando as chamar lamberam seus pés ele se incendiou por inteiro em um espetáculo descrito como medonho. Sua esposa também foi capturada, mas morreu em uma masmorra antes da sentença ser cumprida. O cadáver também foi queimado até ser reduzido a cinzas.

Após a execução, mais de 50 pessoas se apresentaram dizendo que seus filhos e filhas haviam sumido e que possivelmente o lobisomem também era responsável por estas mortes. Até os dias de hoje não se sabe quantas pessoas o loup-garou matou.

Hans o Lobisomem


O julgamento de Hans, o lobisomem é um típico exemplo de como julgamentos de lobisomens podiam se combinar aos famosos julgamentos de bruxos. Este caso em especial ocorreu no século XVII, na atual Estônia, uma nação que foi varrida pela caça às bruxas e que sofreu muito com a superstição e fanatismo.

Em 1651, um rapaz chamado Hans foi trazido diante da Corte de Justiça na cidade de Idavare, acusado de ser um lobisomem desde os dezesseis anos de idade. Ele tinha na ocasião apenas 18 anos e segundo seus acusadores havia se convertido em um Agente de Satã.

Hans confessou caçar na forma de um lobisomem, cruzando as florestas e matando qualquer animal que pudesse encontrar, geralmente devorando-os, mas em algumas ocasiões apenas pelo prazer de causar a morte. Ele reconheceu ter matado ao menos uma dúzia de ovelhas e cabras, para beber seu sangue quente, coisa que lhe dava muito prazer.

Quando questionado como se dava a transformação, se ela era física ou meramente espiritual (uma preocupação comum na época), ele disse que todo seu corpo se transmutava e que ele podia demonstrar para a corte se eles quisessem assistir a transformação. Os juízes ordenaram que Hans fosse preso em uma corrente para que então realizasse a transformação. Como é de se imaginar, fisicamente o rapaz não mudou, mas produziu o que foi descrito como uma "apresentação desagradável" na qual rosnou, uivou, babou e se urinou enquanto tentava se ver livre dos grilhões que o prendiam.

Depois do espetáculo, os juízes cogitavam que o rapaz simplesmente fosse louco e que deveria ser libertado. Contudo um detalhe na confissão acabou chamando a atenção dos magistrados. Hans havia dito que sua transformação em lobo ocorreu graças a um malefício realizado por um "homem negro". Esse homem misterioso apareceu para Hans em uma madrugada e ofereceu a ele um presente na forma de uma bebida mágica, que uma vez ingerida, concederia poderes mágicos ao custo de sua alma imortal. Quando perguntado se aceitou de bom grado a barganha, ou foi enganado, Hans disse que aceitou pois achou que teria muito a ganhar com a oferta.

A corte considerou então que o rapaz não apenas havia cometido o crime de licantropia - ou seja, se tornar um lobo, mas que, muito mais grave, tinha firmado conluio com o próprio Satã, disfarçado como o tal Homem de Negro. Hans foi julgado como bruxo e condenado.

É triste que a vida de um rapaz de apenas 18 anos, possivelmente com problemas mentais, tenha terminado dessa maneira, fosse ele um lobisomem ou não. O pior é que o caso de Hans, embora estranho, está longe de ser o único. Embora ele seja o mais conhecido dos lobisomens da Estônia, julgamentos similares eram comuns. Ao menos duas dúzias deles aconteceram no mesmo período. É possível que acusados fossem convencidos a confessar seus "crimes", principalmente bruxaria, na esperança de receber perdão. Ao invés disso, acabavam executados já que nos países Bálticos essa era a sentença comum.

Nenhum comentário:

Postar um comentário