sábado, 29 de setembro de 2018

A Rocha no Precipício - A Lenda do Sepulcro do Gigante na Sibéria


Ela está lá desde o começo dos tempos.

Ou assim diz a lenda.

Uma impressionante rocha com centenas de toneladas, considerada uma das maravilhas da vastidão siberiana, pende na beirada de um precipício, parecendo perigosamente próxima de rolar ribanceira abaixo. Ela possui uma área de contato com o chão de apenas um metro quadrado, e isso é tudo que impede que esse pedregulho caia. Segundo análises de geólogos, ela foi depositada antes da Era Glacial e não se moveu um único centímetro desde esse período. Uma testemunha impassível do tempo, com 500 milhões de anos.

As tribos de nômades siberianos conhecem essa rocha há milênios.

Acreditavam que ela havia sido posta ali por uma raça de gigantes que a arrastaram pelo campo e a posicionaram como uma vigia do vale abaixo, considerado por eles, sagrado. Se qualquer pessoa tentasse colonizar o vale, erguendo construções ao longo dele, os gigantes fariam a pedra rolar, a empurrando e arrasando tudo em seu caminho, matando quem ousasse colonizar aquele território proibido.


Xamãs e Feiticeiros realizavam aos pés da enorme pedra rituais para apaziguar os gigantes e outras forças da natureza. Quando raios atingiam as montanhas e caiam próximo da pedra, era um sinal de que os deuses das estepes estavam insatisfeitos e demandavam alguma compensação dos mortais. Arqueólogos acreditam que sacrifícios animais (cabras, ovelhas e até renas) e possivelmente de seres humanos, aconteciam na base do pedregulho. Segundo alguns, ele era capaz de sorver o sangue derramado sobre ela, bebendo o precioso líquido, como se fosse uma enorme esponja.

Ossos de animais e pessoas encontrados nos arredores parecem corroborar essa teoria. O paredão rochoso onde pende a titânica pedra apresenta ainda vários pontos que foram escavados e onde povos antigos depositaram seus sacrifícios na forma de peles, chifres de renas e até presas de mamutes. Alguns chefes tribais e feiticeiros importantes também receberam a honra de serem enterrados nessas grutas.

Muitos povos supersticiosos temem que a rocha siberiana representa um alerta para o fim dos tempos. Ao longo de séculos se sedimentou a crença de que o dia em que a rocha rolar, o fim dos mundo estará próximo. Outros creem que de baixo da pedra reside um mal ancestral que foi aprisionado ali quando o mundo ainda era jovem. Se um dia a pedra for removida de sua posição, esse mal se verá livre de sua prisão disposto a condenar o homem a uma era de sofrimento e dor.

Outra lenda interessante afirma que a Pedra marca a Sepultura do Gigante Adormecido Sayan, o Mestre da Caçada da Taiga. Essa era uma figura dominante entre os povos nômades que jamais o veneraram como um Deus, vendo-o mais como um monstro aterrorizante. Ele vagava pela taiga com sua enorme lança, capaz de empalar cervos e com seu magnífico arco que lançava flechas do tamanho de um homem através de enormes distâncias. Diz o mito que os homens aprenderam a caçar e construir arcos assistindo o gigante em ação. Ao longo de milênios, Sayan teria dominado toda a vastidão da Sibéria, caçando e se alimentando dos animais locais e afligindo os povos nômades que eram obrigados a render a ele tributo na forma de sacrifícios e peles. Quando a caça se tornava escassa, o gigante demandava carne para saciar seu apetite e se não houvesse animais, mulheres e crianças eram oferecidas. 


Extremamente temido pelas tribos, Sayan acabou sendo ludibriado por xamãs que lhe ofereceram uma bebida mágica fermentada que o deixou zonzo. Apesar de confuso, o monstro ainda era um oponente terrível e foi preciso um grupo de guerreiros para derrotá-lo. Após ser morto, os ossos do gigante foram depositados sob a pedra que marcava o local de seu sepulcro. Segundo a lenda, se a pedra fosse removida, os ossos se regenerariam e ele voltaria à vida para uma vez mais caçar pelas florestas e aterrorizar os homens. 

Uma variação desse mito afirma que a rocha em si é o coração do Gigante Sayan, arrancado do peito dele ainda pulsando. Ele teria se transformado numa gigantesca rocha de granito. Segundo essa crença, no dia em que ele rolar, o imenso órgão voltará a bater, tornando-se carne uma vez mais. Se ele chegar ao lago Voromyn que fica no vale abaixo e onde supostamente os ossos do gigante repousam, ele voltará à vida.

Talvez seja por tudo isso que muitas pessoas se preocuparam quando pequenas rachaduras começaram a ser percebidas na face da rocha. Especialistas locais dizem que a fissura que apareceu na última década poderá causar a queda da titânica rocha que iria rolar de uma altura de aproximadamente 70 metros. Alguns mais dramáticos, atentam para o fato de que isso pode acontecer "a qualquer momento!"


A rachadura que preocupa os geólogos já é conhecida desde os anos 1980, mas ela demonstrou sinais de crescimento a partir de 2012. Turistas e visitantes inoportunos tem o costume de escalar a pedra, saltar sobre ela e arranhar sua superfície desafiando as profecias e maus agouros. Embora a presença humana não tenha incomodado a rocha por séculos, agora ela parece contribuir lentamente para seu desgaste.

"A fissura se espalhou de maneira dramática", disse Leonizid Fiorov, um dos guardas florestais que zela pelo Parque onde se localiza a Rocha do Precipício, "nós tememos que isso poderá causar a queda de toda estrutura, o que seria aterrorizante".

Os guardas florestais tem vigiado constantemente o local, tentando impedir que turistas perturbem o descanso da rocha, mas nem sempre é possível conter esses visitantes. Alguns parecem determinados a se arriscar, pendurando-se na borda. Fiorov conta que alguns anos atrás surpreendeu um grupo de mais de 30 pessoas que estavam ao mesmo tempo saltando em cima da pedra com o intuito de provocar a sua queda.

"É uma lástima! Alguns parecem interessados em arruinar essa bela paisagem e causar um acidente apenas pela brincadeira", concluiu o guarda.

A despeito das muitas superstições e mitos, a Rocha pendendo no Precipício é considerada um patrimônio mundial. Sua queda pode não ser um fator determinante para o fim do mundo ou despertar gigantes adormecidos, mas seria lamentável.


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