sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Desaparecidos em Alto Mar - O Enigma do Mary Celeste



No dia 4 de dezembro de 1872, o pequeno veleiro britânico Dei Gratia navegava pelo Atlântico, a 400 milhas ao leste dos Açores, quando avistou o bergatim Mary Celeste, um veleiro de três mastros. Ambos haviam zarpado de Nova York um mês antes com destino a Genova, na Itália. Além da tripulação composta por sete marinheiros, o Mary Celeste levava como passageiros a mulher e a filha pequena do experiente Capitão Benjamin Briggs. O Dei Gratia era um cargueiro que contava com uma tripulação de sete homens liderados pelo Capitão Morehouse um bom amigo de Briggs.

Logo que avistaram o navio, ficou claro que alguma coisa estranha havia acontecido ao Mary Celeste. Suas velas estavam rasgadas e colocadas de forma errada. Ninguém estava na roda do leme e o veleiro deslizava ao sabor da maré. Quando os tripulantes do Dei Gratia subiram à bordo e chamaram o capitão, a única resposta foi o silêncio. Não encontraram ninguém.

Também havia desaparecido o bote salva vidas; aparentemente teria sido lançado ao mar. A caixa de bússola fora lançada ao chão e o aparelho náutico destruído. A proa do barco abandonado apresentava perfurações de 1,5 metro acima da linha da água mas, apesar disso, estava em perfeitas condições de navegabilidade. Jamais se chegou a uma conclusão do que poderia ter causado essa avaria. Não havia sinal de luta ou de qualquer distúrbio.

Sob o convés, um cenário arrepiante indicava uma fuga apressada. Na cama do capitão estavam espalhadas roupas, cobertores e a boneca de uma criança, como se às pressas, os passageiros tivessem sido evacuados. As provisões encontravam-se em perfeita ordem, comida e bebida suficiete para a viagem. Chegaram a mencionar pratos e xícaras ainda sobre as mesas com a comida intocada. A carga do Mary Celeste, 1700 barris contendo álcool industrial estava no porão, mas nove barris haviam sido abertos e esvaziados.

Na cabine do capitão encontraram o diário de bordo, mas as últimas anotações de Briggs, feitas nove dias antes, nada mencionavam que pudesse esclarecer o ocorrido ou justificar o desaparecimento. Objetos pessoais , dinheiro e roupas estavam guardadas na cabine. Um mapa indicava a rota do navio, a última correção de curso também era de nove dias antes.

Por que o capitão resolveu abandonar o barco? De que modo ele, sua família e os tripulantes desapareceram sem deixar sinal? Insanidade, motim, instrumentos defeituosos, furacão ou algum fenômeno do fundo do mar - o que poderia ter acontecido?


O capitão do Dei Gratia ordenou que o Mary Celeste fosse rebocado até Gibraltar, onde uma corte do Vice-Almirantado britânico analisou essas várias possibilidades. As provas foram inconclusivas, não havia qualquer pista sugerindo uma explicação razoável para o ocorrido, os tripulantes e passageiros do Mary Celeste simplesmente desapareceram da face da Terra.

À época chegou-se a levantar suspeitas a respeito do envolvimento dos marinheiros do Dei Gratia. A suspeita de que eles teriam abordado o Mary Celeste e assassinado a tripulação, no entanto, não resistia ao fato de que os poucos objetos de valor, estavam à bordo no momento que eles chegaram a Gibraltar. Pirataria foi então descartada.

Uma suposição a respeito de ergotismo também foi levantada. A doença causada pela ingestão de fungos presentes no trigo causa alucinações semelhantes ao consumo de LSD. Mas seria esse fungo o responsável por uma loucura coletiva? E como explicar o estado navegável do navio e as acomodações irretocáveis de passageiros e tripulantes. Se a loucura tivesse se espalhado entre os marinheiros o cenário deveria ser de caos e destruição.

Teria o Mary Celeste entrado na rota de alguma onda gigante ou de uma tempestade? O comitê que examinou o caso, afirmou categoricamente que a região navegada pelo Mary Celeste não foi sujeita a mudanças climáticas de natureza dramática. Ou seja, nada diferente ocorreu durante a passagem... ao menos nada que tenha sido testemunhado por outras embarcações.

O caso poderia ter caído na obscuridade, não fosse um sensacional texto escrito por Arthur Conan Doyle que criou uma aura de mistério ao redor do acontecido. No texto de Doyle, uma testemunha, um dos marinheiros do Dei Gratia, fazia um relato perturbador a respeito do que havia visto no navio abandonado. Muitos jornais, o Boston Herald inclusive, não compreenderam que Doyle havia escrito um trabalho de ficção e publicaram o texto na íntegra como se fosse uma narrativa verídica. No conto, Doyle recorria a uma explicação sobrenatural para o caso, que envolvia um navio fantasma.

A fama do Mary Celeste então se espalhou, imortalizando o seu nome como uma das mais famosas lendas de navios assombrados.

Mais de cem anos depois, o enigma do Mary Celeste persiste dando origem a muitas hipóteses e teorias. O que teria acontecido com a tripulação do pequeno cargueiro? Qual teria sido o seu destino?

Um comentário: