quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vampiros e os Mythos de Cthulhu: Idéias para usar vampiros em Cthulhu.


Para muitos a combinação Vampiros e Entidades dos Mitos não funciona.

Afinal são tipos diferentes de monstros, sub-gêneros dentro de um mesmo gênero.

Os primeiros são criaturas clássicas dos romances de horror gótico. São mortos-vivos que guardam uma estreita relação com a humanidade, vivendo em meio aos humanos e deles tirando seu sustento. De certa forma vampiros precisam dos seres humanos e sem eles não poderiam existir.

Já os Mitos de Cthulhu em sua maioria são aberrações absolutamente inumanas. São entidades de enorme poder ou seres que na maioria das vezes não guardam qualquer relação com a raça humana. Não há qualquer interesse nos humanos, nós somos como meros insetos, fadados a desaparecer em uma data marcada pelo calendário cósmico.

Além disso há o fato de que vampiros são um terror mais mundano, algo enraizado em nossas lendas e folclore. Algo que é conhecido, embora não levado a sério. As pessoas sabem o que são vampiros, conhecem suas fraquezas, seus poderes e a forma mais apropriada de se livrar deles.

Já a respeito dos Mitos sabe-se muito pouco. O conhecimento dos Mitos está nas mãos de poucos estudiosos, cultistas ou insanos. Ou nas páginas de algum tomo ancestral difícil de ser interpretado e capaz de causar bem mais que uma mera dor de cabeça nos leitores que perscrutram suas páginas.

Então como relacionar Vampiros e criaturas dos Mythos em uma mesma campanha ou mesmo em um cenário one-shot?

Eis aqui algumas idéias:

1 - Os Mythos como Poder Supremo

Vampiros são seres que perseguem um ideal de poder. A imortalidade torna essas criaturas desejosas de consolidar a sua presença e sua influência sobre o mundo em que vivem (ok, "vivem" não é a melhor das palavras, mas enfim...)

Trocando em miúdos: Vampiros ambicionam obter poder e o que vale para os poderosos Warlocks e Bruxos que se metem com os Mythos, sem dúvida vale para os mortos vivos. Se os Mythos ancestrais são uma forma de ganhar poder, com certeza os vampiros irão explorá-la.

Vampiros tem uma série de vantagens ao se envolver com os Mythos.

Em primeiro lugar eles são imortais e tem todo o tempo do mundo para aprender rituais e magias ancestrais. Em segundo lugar, muitos deles estão por aí há séculos, alguns podem ter explorado as ruínas de velhas bibliotecas, conhecido feiticeiros lendários ou colecionado tomos e magias hoje esquecidas. Outros podem ser ramanscentes de uma época em que o conhecimento dos Mythos era compartilhado pelos feiticeiros e shamans.

Finalmente vampiros são seres sobrenaturais. Via de regra eles não possuem mais sanidade a ser perdida e passam a ver o mundo sob uma ótica distinta. Eles não são mais humanos e portanto não estão ligados aos pequenos dilemas e conflitos da humanidade.

Um vampiro que procura nos Mythos o Poder Supremo não se importa em sacrificar simples humanos ou servos para alcançar seus sórdidos objetivos. Para eles o que importa é ascender os degraus para um estágio superior.

2 - O Desejo de Transceder

Muitos se referem ao vampirismo como uma maldição.

A condição não natural de continuar existindo mesmo após a morte física. Trata-se de um estado limítrofe que ao mesmo tempo concede benefícios sobrenaturais, mas também promove graves limitações.

Pense bem: Vampiros tem a força de vários homens, mas segundo alguns mitos são incapazes de entrar em casas onde não tenham sido previamente convidados. Certas lendas mencionam que vampiros são capazes de hipnotizar e de mudar de forma, mesmo assim objetos religiosos consagrados fazem com que eles fujam em desespero. De todas as restrições a luz do sol é considerada a mais grave. Um vampiro exposto à luz do sol se desfaz em um monte de poeira.

Embora existam lendas sobre redenção, até onde se sabe o vampirismo é uma condição irreversível e inapelável.

Nesse sentido os Mythos talvez sejam a última esperança para que o vampiro se converta em algo diferente. Se existe algum poder no universo capaz de alterar essas probabilidades, esse poder reside nos Mythos. Vampiros podem buscam nos Mythos uma forma de eliminar ou ao menos diminir suas fraquezas. Seja através de pactos, adoração, rituais ou magias algum poder pode alterar sua condição.

Alguns vampiros, no entanto, ambicionam algo mais. Desejam se converter em alguma coisa que transcende a condição na qual estão aprisionados eternamente. Em alguns casos os Mitos concedem esse benefício, mas a que preço?

3 - O Sangue é Vida

Existe uma relação direta entre sangue e vampirismo. Os mortos vivos são como parasitas, subexistindo do sangue dos vivos. O sangue concede a eles o sustento para sua existência sobrenatural.

Mas o que ocorre se o sangue humano é substituído por outra fonte?

A Mitologia Lovecraftiana é rica em raças e espécies que bem como os vampiros vivem nos recessos escuros ou em regiões ermas, distantes e ocultas da sociedade. Muitas dessas raças independentes são vivas e possuem energia vital que se traduz em sustento para os vampiros. Quais seriam os efeitos que o sangue de uma Raça dos Mythos teria na fisiologia dos mortos vivos? Quais outros poderes despertariam e quais sequelas aberrantes nasceriam dessa mistura profana?

Mais estranhas ainda seriam as implicações decorrentes do sangue dos grandes antigos.

Certas entidades dos Mythos são conhecidas por secretarem substâncias compartilhadas pelos cultistas como uma dádiva. Assim ocorre com o Leite Negro de Shub-Niggurath ou com o semen do Homem Negro um dos aspectos de Nyarlathotep. Mais flagrante é o exemplo da entidade chamada Yibb-Tstill, conhecido pelos seus seguidores como "O Sangue Negro" por verter de suas chagas uma substância semelhante a sangue, ingerida pelos seus cultistas nos rituais de sua adoração.

Só podemos supor o que aconteceria a um vampiro em contato com esse sangue alienígena e antigo.

4 - O Membro do Culto

Cultos e Sociedades Secretas se estruturam em uma pirâmide que contempla vários níveis de conhecimento e de comprometimento.

No topo encontram-se os Líderes do Culto, os indivíduos que comungam diretamente com as Entidades dos Mythos ou que ao menos conhecem o suficiente a respeito deles para criar ao seu redor uma espécie de religião. São estes líderes que obtém recursos para o culto, que recrutam novos membros e que seduzem os demais com promessas atrozes.

No extremo oposto, a base da pirâmide é ocupada pelos cultistas que devotam sua vida aos ensinamentos e que participam dos rituais como simples adoradores. Esses são indivíduos desesperados, párias da sociedade, destituídos de moral que são facilmente arrastados pelo desejo de participar de algo único e significativo. Na melhor das hipóteses esses cutistas são tratados como fonte de energia mística para alimentar os rituais, na pior eles se convertem em sacrifícios para alimentar as bestas famintas de além das esferas.

Entre esses dois grupos distintos encontram-se aqueles que ocupam uma região intermediária.

Eles não são os líderes do culto, contudo tampouco são simples peões sacrificados nas fogueiras e altares. Vampiros podem ser parte integrante de um culto nas mais variadas funções: desde necromantes que tiveram contato com antigos líderes, até conselheiros com a experiência acumulada pelos séculos, passando por assassinos especialmente treinados nos intrincados rituais de morte.

Vampiros são perfeitos para essa posição, sobretudo aqueles que tem uma dívida para com o líder do culto ou que são compelidos a servi-lo por algum forte motivo.

5 - O Líder do Culto

Um vampiro que encabeça um culto devotado aos Mythos talvez seja uma das ameaças mais terríveis existentes.

Os cultos por si só representam um perigo incomensurável, sobretudo quando eles são comandados por indivíduos destituídos de qualquer virtude, capazes de tudo para atingir seus objetivos, atributos bastante comuns nesses mortos vivos.

Vampiros são pacientes, eles não se importam de esperar anos, décadas, séculos para seus planos se concretizarem. Os Mythos de Cthulhu existem em uma sintonia diferente do restante da humanidade, as transformações e mudanças dessas criaturas não podem ser mensuradas pela passagem de meros anos, mas pelo transcorrer de milênios. Que outra criatura na Terra teria tempo para esperar esses planos germinarem além dos vampiros?

Que outras criaturas teriam a disposição de esperar pelos sinais adequados de que as Profecias estão prestes a se concretizar.

Há um consenso de que vampiros se tornam mais poderosos com o passar do tempo. Enquanto o vampiro envelhece ele continua acumulando conhecimento. Quantos livros dedicados aos Mythos um vampiro pode ler ao longo de sua existência? Quantas magias ele pode aprender? Quantos rituais ele pode conduzir?

Isso sem mencionar que um vampiro tem tempo para acumular recursos e ganhar ao longo de muitos séculos de adoração a benção dos Seres das Trevas.

Concluíndo:

O melhor conselho que posso dar para envolver vampiros em sua Campanha dos Mythos é pensar nesses personagens primeiro como um indivíduo atraído pelas entidades. Definir qual a razão que o compeliu a se envolver com os Mythos e então inserir o fato dele ser um vampiro no contexto.

Vampiros são seres fascinantes, mas não são o foco de uma Campanha baseada nos Mythos. O interessante é visualizar o personagem como alguém envolvido com os Mythos que por acaso é um vampiro e não como um vampiro que por acasose envolveu com os Mythos.

2 comentários:

  1. Excelente artigo! Uma boa referência para o tema ele é o artigo Vampiros Extremos, do Diário Lunar.

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  2. Acho que a parte mais interessante é o fato de que sua imortalidade lhes permite REALMENTE esperar pelas "estrelas estarem na posição correta"... hehehehehhehe

    Isso sim tem que ser aproveitado em um jogo!

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