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Mas no início do século XX, tudo isso estava para mudar. Na Alemanha, a proeminente indústria bélica, estava desenvolvendo um novo conceito para armas de fogo que iria revolucionar essa indústria.
Os projetistas alemães sabiam bem que uma arma de fogo poderia ser potencialmente mais letal se ela permitisse disparos contínuos. Eles criaram um mecanismo que usava a força do recuo ou pressão para carregar automaticamente a arma. Cada vez que o gatilho é acionado a arma dispara e uma nova bala fica em posição para o disparo. Assim nasceram as armas automáticas.
Outra inovação da época foi o pente de munição. Através dele, as balas seriam acondicionadas na arma através de um carregador, manualmente inserido na parte posterior. O mecanismo era bem mais prático que o cilindro do revólver, que comportava uma quantidade limitada de disparos e que demorava para ser recarregado. O atirador poderia facilmente descartar um pente e inserir outra para continuar atirando. Além disso, o número de balas era maior, enquanto um revólver normalmente aceitava 6 balas (daí o nome six-shooters) as armas com pente (clip) aceitavam até 10balas.
Finalmente a inovação final veio com o formato diferenciado dessas ovas armas. Se os revólvers tinham um formato padrão, as armas alemãs eram modernas e diferentes de tudo o que já tinha sido visto. Além disso, o formato concedia estabilidade e maior precisão.
Duas pistolas ganharam fama e se tornaram ícones: a Mauser M-96 e a Luger p08.
MAUSER M1896
Mais conhecida como "Broomhandle" (Cabo de Vassoura), a M1896 é uma das mais distintas armas de fogo produzidas e continua sendo um item popular entre atiradores e colecionadores, apesar de ter mais de um século. O apelido, é claro, surgiu em função do cabo de madeira estreito. A recarregador é inserido através de um mecanismo de mola na frente do gatilho e comporta 10 balas.
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Na Grande Guerra e na Guerra Civil espanhola, a Mauser foi adaptada para receber munição ainda maior com 9 mm. Essas armas eram usadas com uma ombreira de madeira que podia ser encaixada na parte poterior, transformando-a em uma espécie de rifle compacto.
O Broomhandle foi criado originalmente na Alemanha, mas foi produzido em vários outros países, incluíndo Noruega, Espanha e China. O exército imperial russo também se interessou por essa arma e mais de 200 mil unidades foram enviadas para a Rússia pouco antes da Grande Guerra. Posteriormente elas acabaram caíndo nas mãos dos Revolucionários bolcheviques. Tavez daí venha a fama do Mauser como pistola preferida de guerrilheiros e insurgentes até os dias atuais.
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Em termos de jogo, é mais provável que personagens europeus, alemães e russos utilizem o Mauser 1896. Na Inglaterra a arma não é muito difundida, embora militares em serviço nas colônias do Império Britânico a utilizem largamente. Os americanos jamais foram muito afeitos dessa arma, talvez pelo fato da munição utilizada ser rara nos Estados Unidos. Alguns veteranos da Grande Guerra, contudo podem ter conseguido uma dessas armas como souvenir nas trincheiras.
LUGER P08
Talvez essa seja a mais conhecida pistola produzida na Alemanha. A Luger está intimamente associada às forças armadas da Alemanha e foi empregada como arma de serviço nas duas Grandes Guerras. A Primeira Grande Guerra deu à Luger enorme fama quando ela se converteu na arma de mão das tropas do Kaiser. Na Segunda Guerra ela continuou sendo largamente usada com algumas poucas modificações.
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A pistola se tornou a arma mais desejada durante a Grande Guerra - perdendo apenas para as espadas dos oficiais japoneses. Os soldados aliados disputavam entre si a posse dessas armas como troféu de guerra. A febre pela Luger era tão grande que os alemães a usavam como isca em armadilhas. Pistolas eram amarradas a granadas e quando o soldado pegava a pistola arrancava o pino causando a explosão. Vários soldados americanos foram mortos dessa maneira e o exército ficou tão preocupado que chegou a emitir uma ordem proibindo os soldados de recolher as armas. De pouco adiantou, fascínio pela Luger continuou.
Em 1938, o comando geral do exército tencionava substituir a Luger como arma padrão, pelo modelo Walther P38, mas os oficiais pediram que a arma continuasse a ser produzida. O apetite pela Luger continuava crescendo e como resultado mais de 400,000 unidades foram produzidas entre 1938 e 1943.
Apesar de ser adorada pelos militares a Luger apresentava dois defeitos óbvios. Sua produção era muito cara. Os modelos P38 que terminaram por substituí-la eram mais baratos e mais fáceis de serem produzidos. O segundo problema é que essa era uma arma sensível a areia, lama e sujeira. A Lugger precisava ser cuidadosamente limpa após o uso, do contrário existia o risco dela engasgar.
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O modelo mais tradicional da Luger é uma pistola semi-automática carregada pelo cabo através de um pente de munição comportando 10 projéteis de 9 mm. É uma arma de ação rápida e o atirador experiente é capaz de trocar o municiador facilmente. Pentes maiores, chamados de "Luger de artilharia" podem ser usados para acomodar até 14 balas. A pistola também permite que uma coronha de madeira seja acoplada transformando-a em um rifle compacto.
Em termos de jogo, a Luger é uma arma difundida em todo mundo. Os alemães a exportaram e ela esteve presente em praticamente todas as grandes guerras da primeira metade do século XX. Na Guerra Civil mexicana ela era usada pelas tropas federais, assim como pelos soldados de Franco na Espanha. A Luger ganhou fama nas mãos dos oficiais nazistas e por isso está intimamente associada aos regimes totalitários e fascistas. Franco e Goebels usavam pistolas Luger quando trajavam uniformes militares, o líder rebelde irlandês Michael Collins também tinha uma que usou na Guerra Civil de seu país. Até no Brasil, o bandoleiro Lampião usava uma Luger roubada do arsenal do exército.
Nos anos 20 e 30, a Luger já era amplamente comercializada e poderia chegar facilmente às mãos de investigadores. Na Grande Guerra muitas foram capturadas e chegaram à América e Inglaterra. Nos anos 40 sua identificação como "arma nazista" fez com que o público perdesse o interesse por ela, alguns investigadores civis podem até ser criticados por usá-la nessa época.