Escondido da vista de todos, na obscura cidade de Kaunas, Lituânia, o MK Ciurlionis Velniu Muziejus ou Museu do Diabo é um segredo muito bem guardado. Existe algo de enervante em vagar pelos seus corredores sendo observado por mais de 3000 peças remetendo ao diabo...
O Velniu Muziejus fica em um prédio de três andares com cada aposento recoberto pela surpreendente coleção de estátuas de todos os tamanhos, formas, cores e materiais, vindas de todas as partes do mundo. O museu tem uma velha tradição: os visitantes estrangeiros podem trazer peças de seus países para acrescentar à coleção. Com isso o acervo continua crescendo com representações demoníacas de todos os continentes e mais de 80 países.
Não é de se espantar que o terceiro andar inteiro seja dedicado à obras provenientes das antigas nações que formavam a União Soviética. Virtualmente cada país e subcultura da Armênia até Yakult está representado. As estátuas originárias das nações eslavas (como Polônia e Ucrânia) parecem compartilhar de um tema comum, a proximidade do diabo da humanidade e sua luta para nos conquistar e perverter. Algumas destas obras são especialmente medonhas como uma pintura do século XVIII que mostra o diabo carregando uma criança nas suas costas e a família em desespero.
O diabo tem um importante papel no folclore eslavo: camponeses russos se mantinham em perpétuo estado de guarda contra suas maquinações. Usavam rosários e crucifixos o dia inteiro e quando eram obrigados a ficar sozinhos rezavam para manter o diabo longe. O lugar mais perigoso segundo a tradição camponesa era a banya, as casas de banho, onde as pessoas removiam suas roupas - e as proteções. Há uma quantidade desconcertante de obras versando sobre os horrores ocultos em casas de banho. Estórias sobre demônios cozinhando e escaldando camponeses em grandes tanques ou candeirões. Diante dessas imagens não é de se espantar que muitos tivessem aversão ao banho.
Os demônios em geral são quase sempre do sexo masculino, e aparecem em uma notável variedade de estilos e aspectos. Alguns tem uma forma bestial com chifres recurvos, rabos pontudos e aparência assustadora. Nas mãos carregam tridentes, espadas, tochas e chicotes. São retratados como monstros, mas nem sempre essa aparência assustadora está presente. Obras mais antigas apresentam demônios humanizados que ocultam sua verdadeira face para tentar as pessoas. Muitas vezes eles assumem a forma de forasteiros, mercadores e estrangeiros que visitam os vilarejos para tentar os aldeões. Em um painel do século XVII, um forasteiro observa com olhos de cobiça um vilarejo, a sombra projetada pelo sol da tarde às suas costas é de uma besta chifruda. Na parte de baixo está escrito: "Cuidado com os forasteiros que oferecem promessas e partem com as almas dos fracos".
A maior parte da coleção é composta de estátuas esculpidas em pedra, argila e madeira e de telas e tecidos pintados. Ela também inclui objetos do dia a dia: cachimbos, cinzeiros, talheres, instrumentos musicais, quebra nozes, armas e louça. Há um grande espaço para manuscritos, livros e documentos antigos guardados atrás de vidros. Alguns destes livros são bastante antigos e versam sobre o demônio, um dos temas mais recorrentes na literatura medieval. Chama a atenção uma armadura cheia de espinhos forjada no século XIV. Ela era usada por um nobre armênio que chamava a si mesmo de "Filho de Satã" e que a usava no campo de batalha para assustar seus inimigos.
Uma escadaria de madeira com entalhes macabros leva ao segundo andar onde estão expostas as contribuições dos visitantes. Peças do México, Japão, Nepal, Austrália e Cuba, apenas para citar alguns países, estão dispostas em prateleiras e displays. Algumas são cômicas ou não passam de caricaturas, outras são obras rústicas, até mesmo grosseiras com acabamento cru e soturno. Se o objetivo delas é chocar, elas cumprem seu propósito.
O primeiro andar oferece uma exposição de máscaras lituanas de madeira e estátuas. Esta visão especificamente dedicada a Lituânia mostra o arquétipo do demônio clássico combatendo e sendo combatido por pessoas. Ocasionalmente as representações são pavorosas e violentas, mas em outras o diabo aparece bebendo com os homens em uma taverna como se todos fossem bons amigos. Elas oferecem uma visão mais profunda do tradicional papel do diabo nas sociedades rurais.
O museu abriu suas portas em 1966 ainda durante o regime comunista, seu idealizador o pintos Antanas Zmuidzinavicius (1876-1966), era fascinado pela demonologia e ocultismo, e usava o tema em suas obras. Ele obsessivamente colecionou os itens burlando as leis soviéticas, que proibiam qualquer artefato relacionado a religião. Uma coleção com itens lituanos poderia ser considerada como anti-soviética e pior anti-comunista. Zmuidzinavicius poderia ser mandado para a Sibéria se a sua coleção fosse encontrada. Ele reuniu 260 itens, inclusive uma pintura que representa Hitler e Stalin como demônios lutando em um campo de batalha repleto de crânios.
Após a morte de Stalin, Zmuidzinavicius doou sua coleção inteira para o Estado e morreu no mesmo ano. Sem herdeiros, o governo resolveu transformar a casa do artista em um museu para acomodar a coleção. Graças a generosas doações internacionais, a coleção continuou a crescer e a casa teve de ser aumentada para comportar todo o acervo.
Os lituanos tem orgulho de sua herança pagã, a atual Lituânia se encontra em uma das últimas regiões a abandonar as tradições pagãs na Europa. De fato, certas práticas continuaram ativas em areas rurais até meados do século XIX. Os povos do Leste europeu tem uma visão distinta do que representa o diabo. Ele é parte do mundo natural, e de certa forma a personificação das forças caóticas da própria natureza.
Nos tempos em que os costumes pagãos estavam no auge, o diabo tinha a mesma importância dos deuses e era aceito pelas pessoas como uma parte normal da vida; apenas com o advento do cristianismo é que o demônio lituânio passou a ser temido e bem... demonizado.
O curador do museu Arunas Androptis acredita que a maioria das obras estão mais para curiosas do que para sinistras. Ele afirma que nunca tiveram a incômoda visita de satanistas ou coisa do gênero e tampouco houve reclamações a respeito da existência do museu.
Uma história curiosa contada pelo diretor do museu envolve um grupo de padres poloneses que estavam visitando a cidade e se depararam com o museu. Os religiosos ficaram relutantes de entrar, temendo se contaminar pela aura "diabólica" do lugar, mas eventualmente criaram coragem e decidiram entrar para olhar seu inimigo olho no olho. Eles acharam a coleção tão interessante que acabaram no bar do Museu (que fica no porão) debatendo a origem de algumas peças entre uma dose e outra de vodka. Posteriormente os mesmos religiosos doaram uma estátua medieval que estava em poder de seu monastéria há séculos. O cartão que acompanhava a peça era bem humorado: "Acreditamos sinceramente que isto ficará melhor com vocês do que conosco".
O Museu atrai todos os tipos de pessoas, de todas as idades, credos e interesses pela curiosidade e pela proposta de ser algo diferente para aqueles que querem conhecer um pouco de história e sentir aquele velho cheiro de enxofre.
Achou interessante? Talvez você goste do seguinte artigo:
- As Catacumbas de Paris, também conhecida como "O Império da Morte":
Parabéns pelo artigo!!! Muito interessante o Museu!
ResponderExcluirMUITO INTERESSANTE............E MUITO DIFERENTE MESMO, MAS SE ESTA LA É PRA SER VISTO
ResponderExcluirEMBORA ASSUSTADOR MAS UM TANTO CRIATIVO
PARABÉNS !!!!
Real
ResponderExcluirAo invés de ter curiosidade pelo Mal busquemos a DEUS criador de tudo e que garante Vida após a morte
ResponderExcluir