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Helena Petrovna von Han, a esotérica que ficou conhecida como H.P. Blavatsky ou Madame Blavatsky, nasceu na cidade de Ekaterinoslav, sul da Rússia, atual Ucrânia, em agosto de 1831, filha de um distinto oficial militar e de uma famosa novelista. As primeiras horas de vida da futura ocultista e paranormal pareciam anunciar seu destino incomum: recém-nascida, era tão fraca que foi desenganada. O batizado foi providenciado apressadamente para evitar que a criança morresse pagã. A cerimônia foi marcada por um acidente, considerado mau agouro, quando o padre e vários convidados se queimaram seriamente.
Quando Helena tinha 11 anos, em 1842, sua mãe morreu. Ela e os irmãos, Vera e Leonid, foram morar com os avós maternos, em Saratov; o avô, era governador de província e a avó, botânica e escritora. A mansão da família, tinha uma atmosfera de mistério: galerias subterrâneas, passagens abandonadas, inúmeros recantos e esconderijos; lugares onde a menina se escondia quando queria fugir da disciplina doméstica. Não raro, se perdia naqueles labirintos mas dizia que não tinha medo porque jamais ficava sozinha: tinha a companhia de criaturas invisíveis que a protegiam.
Ainda assim, sofria de crises nervosas, era sonâmbula e as vezes dizia-se perseguida por "terríveis olhos brilhantes". Definitivamente, Blavatsky não foi uma criança normal. Teve uma educação esmerada, com a rica biblioteca à sua disposição: devorava os livros. Era inteligente, aprendia outros idiomas com facilidade, tocava piano muito bem, pintava com maestria, era uma amazona destemida e montava usando cela masculina.
Desde cedo, também demonstrava faculdades esotéricas, ainda sem controle, como a clarividência ─ faculdade inspiradora das incríveis histórias de eras passadas que contava a adultos e crianças ─ a telecinese com a qual movia objetos com a mente e produzia pancadas, a telepatia, comunicação à distancia através do pensamento e leitura do pensamento de terceiros e o mesmerismo, arte do hipnotismo. Ainda na infância, tinha visões de um homem de feições orientais que, mais tarde, revelou-se como seu mestre espiritual, um Mahatma (grande espírito), Mestre Morya.
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Consta que a união jamais foi consumada. Três meses depois ela fugiu, abrigando-se com os avós. No caminho, temendo ser obrigada a voltar para o marido, fugiu de novo e, desta vez, abandonou a Rússia dando início à grande aventura que foi sua vida. Durante dez anos viajou pelos mais diferentes e remotos lugares do mundo: Ásia Central, Índia, América do Sul, África, Leste Europeu, Turquia, Egito, Grécia, México, Ilha de Java, entre outros. Apesar do escândalo, o pai não a desamparou e patrocinou suas viagens providenciando regulares remessas de dinheiro. Daquele casamento ela conservou apenas o nome com o qual tornou-se famosa e voltou à Rússia só depois que a separação foi legalizada.
Em 1851, residindo em Londres ela finalmente, teve seu primeiro encontro, no plano físico, com o Mestre Morya, aquele que aparecia em suas visões de infância. Soube, então, que ele era um Iniciado oriental, um indiano nascido no clã dos Rajput, descendente de uma dinastia de guerreiros. O mahatma revelou que queria muito encontrar Helena e que precisava pedir sua cooperação numa importante tarefa: A criação de uma sociedade teosófica. Explicou que ela teria de passar três anos no Tibete para ser preparada para essa importante missão.
Em 1854, Blavatsky viajou para os Estados Unidos e cruzou o país de costa à costa em um carroção de imigrantes. Em 1855, foi para a Índia, via Japão e finalmente conseguiu entrar no Tibete. Ali, sob a orientação de mestres foi adequadamente treinada e iniciada no teoria e na prática das ciências ocultas. Entre 1860 e 1865, novamente viajando, desta vez pelo Cáucaso, passou por uma séria crise física e psíquica que, uma vez superada, resultou no domínio completo de seus poderes paranormais. Em 1865, em carta para sua irmã, Vera, Blavatsky comentou: "Agora, não estarei mais sujeita a influências externas".
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Continuou em suas viagens em busca do conhecimento antigo: Balcãs, Grécia, Egito, Síria, Itália. Em 1868, estava novamente no Tibete onde ficou hospedada com outro Mestre Iniciado, Koot Hoomi. Na Grécia, embarcou em um navio com destino ao Egito que naufragou. Ela escapou do naufrágio e se estabeleceu no Cairo onde tentou fundar uma Sociedade Espírita, iniciativa que fracassou vergonhosamente sob acusação de produzir fenômenos de forma fraudulenta. Blavatsky justificou o episódio atribuindo os truques, grosseiros, a membros da Sociedade que agiam de má fé.
Em 1873, H.P. Blavatsky chegou a Nova York onde começaria uma nova fase de sua trajetória no Ocultismo. Fase marcada por um trabalho mais sistemático na divulgação do que ela chamava de Doutrina Secreta. Já famosa em seu próprio pais e em toda a Europa, seu prestígio e também o número de seus admiradores e opositores expandiram-se na metrópole norte-americana. A fama foi conquistada não somente pelos comentários das muitas pessoas que, até então, haviam testemunhado os prodígios que realizava mas, também, porque Blavatsky foi jornalista: obtinha parte de seus recursos escrevendo artigos e ensaios sobre temas ocultistas, relatos sobre países exóticos, suas viagens e temas da vida russa.
Nessa epoca, ela conheceu o coronel Henry Steele Olcott, advogado e militar que participou da Guerra Civil, e se converteria no seu grande companheiro e co-fundador da Sociedade Teosófica. Estudioso do Espiritismo, Olcott foi apresentado a Blavatsky em Vermont, em uma fazenda onde estavam ocorrendo fenômenos espantosos: materialização de formas fantasmagóricas e sons guturais. As aparições, sensacionais, atraíam muitos visitantes e estudiosos que queriam ver de perto os fenômenos.
Olcott e Blavatsky se tornaram amigos imediatamente e passaram a trabalhar teorias que iam além do espiritismo kardecista ao inserir elementos de filosofias orientais como o budismo e confucionismo aos ensinamentos mais convencionais.
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Ainda em 1875, poucos meses antes da fundação da Sociedade Teosófica, Blavatsky começou a redigir "Ísis Sem Véu" (Isis Unveiled). As fontes de pesquisa, citações, referências a livros e autores, muitos deles, obras raras, sempre foram um dos grandes mistérios da ocultista. A biblioteca de Madame contava com poucos títulos que cabiam em um pequena estante. Ela explicava que obtinha as informações acessando os livros diretamente em Akasha, a Luz Astral ou, ainda, materializando temporariamente os livros que consultava. Essas referências foram cuidadosamente checadas por seus revisores que constataram a autenticidade das fontes.
A "precipitação" ou "aporte" de objetos tais como livros, cartas, jóias, entre outros, era um dos mais surpreendentes prodígios que Blavatsky realizava e, em numerosas ocasiões, diante de várias testemunhas, em qualquer ambiente, à luz do dia e ao ar livre. Em certa ocasião, materializou para uma amiga um broche de família que estava perdido há muitos anos.
A redação de Ísis Sem Véu continuou, no local que ficou conhecido como Lamaseria, considerado quartel-general nos primeiros tempos da Sociedade Teosófica em Nova Iorque. Ísis Sem Véu foi publicado em 1877 e vendeu mil exemplares somente nos primeiros dez dias (uma quantidade considerável para a época). O sucesso de público tornou sua autora ainda mais famosa. Blavatsky naturalizou-se norte-americana, mas não se estabeleceu no país que a adotou.
Em 1879, Olcott e Blavatsky viajaram para a India e chegando a Bombaim foram recepcionados por simpatizantes que já conheciam Madame HPB e suas façanhas. Durante dois anos visitaram várias cidades e vilarejos indianos, entrando em contato com pessoas que reconheceram seus dons. Decidiram então estabelecer uma Sede Indiana da Sociedade Teosófica em uma ampla propriedade situada as margens do rio Adyar, perto de Madras.
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De volta à Europa ela se estabeleceu na casa da mística Anne Besant, sua mais promissora discípula e fundou a primeira Casa Teosófica em Londres. A Sede foi frequentada por vários ocultistas de renome, entre os quais McGregor Mathers e Westcott os fundadores da Golden Dawn, a mais importante sociedade do século XIX.
Em abril de 1891, Blavatsky passou mal e seu médico, diagnosticou influenza (gripe espanhola), doença que a debilitou além de suas alegadas capacidades curativas. Suas últimas palavras foram "Keep the link unbroken! Do not let my last incarnation be a failure" ("Mantenham o elo intacto! Não façam de minha última encarnação um fracasso").
Blavatsky teve influência em um momento histórico em que a religião estava sendo rapidamente desacreditada pelo avanço da Ciência e da Tecnologia, e que testemunhou o nascimento de uma série de escolas de ocultismo com base conceitual pouco firme, que ganhavam grande número de adeptos em virtude do fracasso do Cristianismo em fornecer explicações satisfatórias para várias questões fundamentais da existência.
A importância da contribuição de Blavatsky foi reafirmar o divino, oferecendo caminhos de diálogo com a Ciência e tentando purgar a Religião institucionalizada de seus erros seculares, combatendo o dogma e a superstição, incentivando a pesquisa científica, o pensamento independente e a crítica da fé cega através da razão.
Sem dúvida, uma vida repleta de aventuras.
ResponderExcluirMamedes
O que impressiona é que Blavatsky sempre é retratada como uma mulher obesa e envelhecida, essa parece ser a imagem que mais ficou no imaginário... em seus tempos de "aventureira" ela era bem diferente.
ResponderExcluirSem dúvida foi uma vida inquieta, quase inacreditável que ela tenha feito tudo isso.