Esses dias publiquei um artigo aqui no Mundo tentacular sobre um misterioso desenho retratando o Slender Man e que teria sido encontrado na parede de uma cela no Asilo de Cane Hill, desativado nos anos 90.
Fiquei curioso para sabe um pouco mais a respeito dessa instituição que foi considerada um marco no tratamento das doenças mentais na Inglaterra. Infelizmente hoje em dia o Asilo se encontra em ruínas, lentamente se transformando em um amontoado de entulho. Embora esteja deserto há mais de duas décadas, ele continua sendo imponente, grandioso e, por que não, assustador.
Aqui está, de portas abertas, o Asilo de Cane Hill.
Em meados de 1875, um grupo de magistrados do condado de Surrey, na Inglaterra, concluiu que os dois modestos asilos para mentalmente insanos que existiam na região eram insuficientes para o número crescente de lunáticos. No século XIX o movimento de higiene mental estava no ápice e a Inglaterra buscava uma maneira de internar (e alojar) aqueles que manifestavam problemas dessa natureza.
É importante estabelecer que até o século XIX uma vasta gama de "perturbações" ou "aflições" eram encaradas como males originários da mente. Alcolismo crônico, homosexualismo, indivíduos manifestando manias compulsivas, paranóicos, mulheres que sofriam de histeria, epiléticos, pródigos, sodomitas, pessoas com baixo QI... todos esses indivíduos eram taxados como lunáticos. Para os ricos, afligidos por estes e muitos outros "desvios mentais", havia a solução de se buscar a quietude (e sobretudo) a discrição de um sanatório particular. Uma casa de repouso, onde a pessoa podia ser tratada com o intuito de um dia retornar para casa quando estivesse apresnetando um quadro de normalidade.
Para os pobres que sofriam destes revezes... bem, as coisas não eram tão fáceis.
O número crescente de pacientes deixava as autoridades de saúde em alerta. A fim de solucionar o problema do grande número de pacientes pobres, os magistrados aprovaram a construção de um novo e grandioso sanatório.
Eles escolheram as montanhas de Surrey, nas proximidades de Croydon como o local ideal. Ao custo de 150 mil libras (uma quantia exorbitante para a época), um asilo começou a ser construído em uma área de 200 acres. O objetivo era erguer uma instalação que resolvesse de uma vez por todas a questão e que pudesse receber um grande número de pacientes de uma só vez. Um asilo desse porte poderia alojar indivíduos enviados de toda a Inglaterra, a grande maioria deles sem família ou sem recursos e que passavam de uma instituição para outra.
A planta do Asilo foi idealizada pelo famoso arquiteto C.H.Howell, que criou uma concepção inovadora para as instalações. Ao invés do típico corredor de pavilhões lado a lado, Howell imaginou o lugar como uma pequena cidade e dispôs os prédios em um distinto formato de "U" que dava ao asilo um formato de ferradura. No meio da "ferradura" ficava o enorme asilo e o imponente hospital, cercados por prédios de três andares que serviam de alojamento para os pacientes. Médicos e enfermeiros teriam casas dentro das instalações que seriam administradas por um conselho de gestores como uma pequena cidade.
Em dezembro de 1880, o Asilo batizado como Cane Hill abriu as suas portas para receber lunáticos indigentes de toda a região. Desde cedo ficou claro que Cane Hill teria de lidar com um fantasma inoportuno e ruidoso: a superlotação. Em 1883 o asilo já contava com 1124 pacientes - 644 mulheres e 480 homens distribuídos em seis prédios que margeavam o hospital.
Quando o Conselho da Cidade de Londres assumiu o controle do asilo em 1888 após algumas denúncias de maus tratos e dispensa de pessoal, Howell foi chamado mais uma vez. A proposta do conselho era expandir o Asilo até os seus limites. Mais seis anexos foram construídos o que aumentou a população de internos para 2000 pessoas nos anos seguintes.
Cane Hill se tornou uma verdadeira cidade com uma população quase inteiramente composta por lunáticos. Para ocupar toda essa gente, muitos internos trabalhavam em atividades que ajudavam a manter o lugar funcionando: plantações, atelies de costura, lavanderias, cozinhas etc...
Ao longo de sua existância, o asilo recebeu mais de 100 mil pacientes, sendo que um bom número deles viveu décadas sob os cuidados da instituição, considerada um exemplo de conduta. Mesmo assim, rumores sobre tratamnento desumano, crimes, corrupção e conduta médica questionável surgiam de tempos em tempos. Durante a Grande Guerra, o asilo teria conduzido experiências psiquiátricas em veteranos que apresentavam traumas profundos. Chegou-se a considerar que os médicos estariam usando drogas experimentais para modificar o comportamento dos soldados a fim de criar homens imunes as vissicitudes dos campos de batalha. Na Segunda Guerra Mundial, boatos semelhantes surgiram, mas jamais foram corroborados. Da mesma forma, várias estórias envolvendo maus tratos eram relatadas, mas nenhum desses casos foram provados. Até mesmo um boato infundado sobre uma tenebrosa cadeira elétrica operando clandestinamente nos porões de Cane Hill foi mencionado pelos tablóides.
Apesar de sua fama, o lugar jamais fechou as suas portas. Cane Hill era conhecido por aceitar todos os pacientes enviados para tratamento. Contudo, poucos retornavam ao convívio social, a grande maioria dos pacientes internados atrás dos muros, trabalhou, viveu e morreu sob a supervisão da instituição. Muitos chegaram a ser sepultados no cemitério dentro dos limites do asilo.
Na década de 80, o tratamento em grandes instituições começou a ser duramente criticado e uma reforma nos asilos, motivada pelo Mental Health Act foi implementada para devolver pacientes a vida em sociedade. Cane Hill era visto como algo retrógado, antigo, caro... nos anos seguintes, pacientes começaram a ser transferidos para outras instituições menores ou receber alta. A população de Cane Hill diminuiu gradativamente até que apenas uma ala permaneceu ativa com menos de uma centena de pacientes.
O asilo fechou suas portas definitivamente em 1991.
Mas não demorou para Cane Hill atrair a atenção de visitantes interessados em explorar seus segredos. As gigantescas instalações ofereciam a grupos de "exploradores urbanos" a oportunidade de vagar pelos corredores desertos repletos de história real e rumores inevitáveis sobre fantasmas e assombrações que segundo as lendas locais perambulavam pelo lugar à noite.
Os zeladores que cuidavam das instalações tinham ordens expressas de vigiar as ruínas e impedir a entrada de estranhos, tarefa difícil com um número reduzido de funcionários responsáveis por uma área imensa. Era virtualmente impossível vigiar o lugar e impedir a incursão desses "exploradores" cujo trabalho para entrar se resumia a saltar uma simples cerca de arame.
Nos últimos anos o interior dos prédios se degradou rapidamente. Sem manutenção ou cuidados, Cane Hill se converteu em uma imensa ruína abandonada. Danos físicos e estruturais se multiplicaram criando um ambiente insalubre e perigoso. Tábuas apodrecidas, infiltração nas paredes, goteiras nos telhados, teias de aranha, vidros quebrados, mato crescendo livremente, móveis corroídos e incêndios criminosos...
Cane Hill foi aos poucos consumido pelo abandono e devorado pelo tempo tornando-se um monumento quase esquecido de uma era perdida.
Aqui estão algumas fotos do Asilo que atestam sua grandiosidade:
Um lar perfeito para fantasmas e assombrações que um dia atormentaram mentes fragilizadas.
Caraca, man, acabo de jogar um jogo de escape que utiliza essas mesmas fotos como pano de fundo, sinistro, quem quiser conferir:
ResponderExcluirhttp://www.jogosdefuga.com.br/jogos-de-escape/axend/jogar/
Alguns lugares dão medo... é como se a energia negativa deles contaminasse a paisagem e se impregnasse nas paredes como um verniz maligno, sórdido e oleoso. Eu teria muito receio de entrar em um lugar assim.
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