sábado, 1 de setembro de 2012

Esoterrorists - Resenha do livro de Robin D. Laws para o sistema Gunshoe

O sistema Gumshoe pode atualmente ser mais conhecido por Rastro de Cthulhu, porém ele surgiu originalmente com Esoterorists. O RPG escrito por Robin D. Laws e lançado pela Pelgrane Press em 2007 foi o primeiro jogo a utilizar o sistema que se tornou marca registrada da editora americana. 

A ambientação utiliza esse sistema simples mas funcional em cenários investigativos de horror contemporâneo que giram em torno da Ordo Veritas, uma organização dedicada à enfrentar conspirações sobrenaturais ao redor do mundo. Trata-se de uma versão dark de Arquivo X, mais próxima de Millennium quanto ao conteúdo. Em comparação a outros RPGs lembra o material de Conspiração X ou mesmo Delta Green.
 
Diferente de ambientações lovecraftianas clássicas, em Esoterrorists, os jogadores constroem personagens que são agentes governamentais, altamente treinados para enfrentar forças nefastas que podem ser comparadas aos seres do Mythos de Cthulhu quando se fala em poder, bizarrice e maldade. 

O livro em si não é muito extenso, tendo meras 88 páginas e capa mole. Confesso que à primeira vista fiquei um pouco desapontado folheando o livro, nos últimos anos ficamos acostumados com livros básicos de capa dura, 200+ páginas, arte colorida etc... mas Esoterrorists é um livro conciso que vai direto ao ponto sem firulas, sem frescura... curto e grosso, como a proposta do jogo.

Internamente o livro também não chama muito a atenção. A arte em preto e branco é decente (mas nada de sensacional), a distribuição dos tópicos é bem organizada e contamos com um índice adequado que ajuda a achar o que você precisa encontrar na hora que está mestrando. Não tem nada à primeira vista que chame a atenção, então onde diabos estão os atrativos desse livro?

Simples, onde deveria estar: no texto e na proposta do cenário.

Embora a premissa não seja exatamente nova, Esoterrorists tem algumas ideias agradáveis e reviravoltas na trama que escapa da fórmula batida de "agência governamental lutando contra as forças do mal". A Ordo Veritas é uma organização muito interessante - um bando de investigadores badass-motherfuckers devotados a enfrentar seus inimigos e evitar que o mundo sobrenatural barbarize no mundo normal. Em geral, os agentes são recrutados depois de terem algum encontro com o sobrenatural.
A glamourosa vida de um agente da Ordo Veritas
A referência a "Terrorismo Exterior" do título é uma sacada fenomenal que remete aos tempos atuais de "guerra contra o terror" que vivemos. O jogo usa da palavra "terrorista", literalmente - os oponentes planejam espalhar o terror, medo e incerteza a fim de concluir seus planos de conquista. Rumores de pânico e histeria alimentam seus poderes e permitem que monstros e demônios cada vez mais poderosos sejam invocados.
 
Os inimigos formam uma cabala de ocultistas hardcore, cultistas degenerados e lunáticos sem nada a perder que manipulam forças do que é genericamente chamado Outer Dark. Essas forças estão ativas agindo nas sombras há séculos e a Ordo Veritas é a única coisa capaz de deter seus planos. Uma das coisas mais bacanas na ambientação é a forma como essas forças obscuras agem. Não se trata de um grupo de adversários agindo de forma coesa como uma organização monolítica, mas uma série de grupos dispersos cada um tentando ganhar poder sobre os demais. Uma das sacadas legais é que a própria Ordo Veritas sabe que não poderá fazer nada caso esses cultistas um dia se juntem para tacar o terror em conjunto. Enquanto isso não acontece, os agentes tentam localizar as atividades dos bandos e neutralizar o que podem. Muitas aventuras envolvem investigação, coleta de pistas e correlacionar dados, mas outras tantas estão mais para ações desesperadas com direito a armamento pesado, muita munição e explosivos de alto-impacto. Se o objetivo é deter uma invasão em larga escala nada melhor do que pé na porta, bala na cabeça dos cultistas e lança granadas para detonar as abominações.

Quer jogar com algo que lembra as aventuras de HellboyEsoterrorists permite isso e muito mais. Os membros da Ordo Veritas além de extenso treinamento com armamento e ocultismo também podem aprender a desenvolver psiquismo e doutrinas mentais que os ajudam a equilibrar a dura luta que tem pela frente.   

É curioso que Esoterroristas tenha surgido após o lançamento de outro livro, que é basicamente um catálogo de monstros, aberrações e criaturas simplesmente bizarras chamado "The Book of Unremmiting Horror". Sem brincadeira, esse livro é um achado, uma coleção de monstros tão absurdamente dantescos que mesmo Kult (um RPG barra pesada) tem que suar a camisa para se equiparar. Unremmiting Horror é tão casca grossa que algumas descrições ali contidas merecem fazer constar que o livro é destinado a um público adulto. Outra curiosidade é que esse "livro de monstros" foi idealizado para o D20, nos tempos do Open Game License a fim de ser usado com o D20 Modern. Acho que quando os editores da Pelgrane se depararam com o livro sacaram que estavam diante de algo que justificava um lançamento próprio. Trataram de tocar o projeto do Gunshoe e relançaram o Unremmiting com regras para esse sistema.


Como convém a um jogo moderno, os jogadores tem uma lista bastante extensa de habilidades investigativas (que vão desde História da Arte passando por Astronomia e é claro habilidades combativas).

Na hora de criar os personagens, o jogador dispõe de treze habilidades gerais, incluindo duas essenciais: Vigor e Estabilidade. O jogo assume que os personagens sabem se virar e que receberam um treinamento que permite a eles enfrentar as forças do mal. Desse modo, diferente de Rastro, os personagens tem uma pontuação mais elevada e mandam bem no que fazem: atiram, detonam monstros, explodem meio mundo e tem uma chance real de sair vivos, quer dizer quase sempre...

Treinamento, recursos e coragem... às vezes o melhor é correr!
Além disso, a Ordo Veritas fornece apoio logístico, dinheiro e outros benefícios. A organização, no entanto preza a discrição e como uma espécie de MiB tenta evitar que informações acabem vazando para o público em geral. Melhor que ninguém fique sabendo o tamanho da encrenca para evitar a histeria dos civis. Apesar do apoio, a Ordo Veritas não é reconhecida como uma agência governamental formal, seus membros podem sair de enrascadas recorrendo a contatos e simpatizantes, mas se por acaso a polícia acabar fazendo muitas perguntas a coisa pode ficar feia e os agentes receberem uma reprimenda por parte de seus superiores. 

A mecânica do jogo é basicamente a mesma do Gunshoe. Pouca coisa muda em relação a Rastro de Cthulhu, por exemplo. Para quem gosta do sistema vai ser um prazer descobrir o mesmo engine sendo aproveitado para outra ambientação. 

Um dos únicos poréns é que em virtude do conteúdo enxuto (lembrem-se 88 páginas!), o livro é muito sucinto no que tange a ambientação. Por um lado isso permite que o mestre invente o que melhor encaixa na sua campanha, por outro deixa as coisas meio que "em aberto" para quem prefere as coisas mastigadas. O livro não explica, por exemplo, como funciona a estrutura da Ordo Veritas, quem são os líderes. Ele fornece quando muito algumas diretrizes e deixa o mestre definir todo o resto.

Utilizar o "Book of Unremitting Horror" junto com o Livro Básico é quase que uma necessidade, uma vez que muito do Fluffy do cenário é obtido através desse acessório. Folheando o Unremitting o mestre consegue muitas idéias para apagar aquele sorriso besta da cara dos jogadores quando eles ficam sabendo que tem carta branca para usar armas e equipamento avançado. Como eu disse, esse livro é uma jóia (depois pretendo fazer uma resenha à respeito dele).

 Não se assuste ao ver o livro pela primeira vez e ter a sensação que as coisas estão meio jogadas. Embora o texto seja um tanto conciso, Esoterrorists contém tudo o que você precisa para construir aventuras e rolar até uma campanha.

Eu pessoalmente gostei bastante do livro. Esoterrorists é uma boa pedida para quem quer jogar um RPG de horror nos dias atuais envolvendo elementos obscuros e conspirações de tirar o sono.

11 comentários:

  1. Assino embaixo! Um livro simples e muito funcional.

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  2. Sendo o mesmo sistema do Rastro de Cthulhu eu preciso realmente deste livro? Ou apenas tendo boas idéias e fazendo os jogadores que "mandem bala para todo o lado" com um senso pequeno de auto-preservação já basta?

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  3. Vale a pena comentar também sobre o suplemento "Esoterror Factbook", que amplia muito, mas muito mesmo a ambientaçao com muitas informaçoes, descriçoes, lista de inimigos, grupos esoterroristas, locais malditos, procedimentos investigativos, unidades de assalto da Ord Veritatis e novas regras de combate (fogo automática, ataques localizados, manobras, etc), tudo muito simples e elegante sem deixar o sistema pesado.

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  4. Bruno, o sistema é o mesmo mas a ambientação ~e bastante diferente da proposta de Rastro. Pessoalmente eu acho que vale a pena pois os personagens e os cenários tem uma sutil diferença em relação aos que são criados para Rastro. Sem falar que os inimigos são outros e a forma de enfrentá-los também é outra.

    Comparativamente, Esoterrorists está para Rastro em um patamar semelhante ao que Delta Green representa para Call of Cthulhu.

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  5. Murazor, eu apenas folheei o Factbook e li alguns comentários elogiando esse livro. Eu adoraria ler uma resenha sobre ele. Se você estiver disposto... :-)

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  6. Claro que posso tentar Luciano, mas eu vou avisando que nunca resenhei um livro antes. Mas prometo que vou tentar fazer uma pra esse fim de semana, se possivel (se o trabalho deixar, rsrs).
    Dai coloco todas as minhas impressoes sobre o livro e mando pra voce. Se quiser me passar umas dicas para escrever um resenha, já agradeço.

    Parabéns pelo Blog que esta excelente!!!
    Abraços

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  7. Obrigado King, tá anotado nos meus livros para adquirir à partir de agora.

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  8. Falando nisso Little Fears vocês recomendam?

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  9. Murazor, sem pressa. Faça quando tiver um tempo livre.

    Quanto a dicas... não tem uma fórmula em especial. Eu costumo folhear bem o livro, reunir umas impressões anotadas à parte e desenvolver a partir daí um texto. Não tem muito segredo.

    Bruno, ouvi elogios sobre o Little Fears, mas não cheguei a jogar ou ler.

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  10. Bom, já comecei, e usei a seguinte fórmula: Descrevendo capitulo por capitulo, assim, nao me perco e nao esqueço nada e também mantenho a ordem. Te envio esse fim de semana pra voce dar uma olhada.

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  11. Tenho tudo, inclusive o CD soundtrack. Excelente.

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