sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

The Unspeakable Oath - Resenha do número #20 da revista


Por Clayton Mamedes

Para quem não sabe ainda, a revista The Unspeakable Oath é uma competente publicação dedicada exclusivamente aos jogos de RPG baseados nos contos de H.P. Lovecraft e a outros assuntos relacionados ao Mythos. Neste ressurgimento, a revista apresenta uma periodicidade quadrimestral; assim em Julho de 2011 foi publicado o exemplar de número 20. Depois de muito tempo, consegui ler e sintetizar o seu conteúdo para esta resenha. Antes tarde do que nunca...

Essa edição começa com uma bela ilustração de Todd Shearer, que já havia realizado um bom trabalho com a edição de re-estréia, a #18. Escolha de cores e nível de detalhes adequados para uma cena bem violenta.

Como de praxe, a primeira seção é o editorial, chamado de The Dread Page of Azathoth. Estas breves palavras estão se tornando a minha parte favorita da revista, sempre apresentando opiniões interessantes. Desta vez a discussão gira em torno do combate em aventuras de Call of Cthulhu. São realmente necessários? Quais vantagens posso tirar deles?

Adam Gauntlet é o responsável pelo primeiro Tale of Terror desta edição. Em uma página são descritas 3 maneiras distintas de utilizar uma lista de nomes de pessoas encontradas nas ruínas da sede de um culto derrotado. Coisa bem simples e de utilidade duvidosa.

The Eye of Light & Darkness concentra uma das poucas críticas que faço a TUO. Apesar do conteúdo desta seção ser interessante e útil (resenhas sobre jogos e outros relacionadas ao Mythos), eu não entendo a razão pela qual esta seção é dividida ao meio: algumas resenhas são apresentadas nas páginas 6 e 7, continuando somente na 57, sendo que até mesmo a conclusão dos parágrafos é fracionada. Apesar desta mancada, este volume trás algumas obras conhecidas do público brasileiro, como Cthulhu Invictus, Watchers in the Sky, The Curse of Yellow Sign: Act I, e uma análise de uma coletânea de DVD do Marble Hornets (O Slender Man ataca novamente!). Acho interessante ler análises sobre obras que você já conhece; muitas vezes são abordados temas diferentes. Outro ponto de vista sempre é bem-vindo.

Jeffrey Moeller assina o primeiro cenário deste volume, feito para CoC nos dias atuais. Nas próximas 11 páginas temos uma idéia original e bem trabalhada (não entrarei em detalhes para evitar spoilers), que provavelmente surpreenderá os jogadores. Contudo, também existe o risco do Keeper ser pego com as calças arriadas, já que a trama é complexa e precisa ser lida e relida para ser entendida plenamente.

Mysterious Manuscript de Dan Harms ocupa apenas 2 páginas, mas é um dos pontos altos desta edição de TUO. Neste breve artigo é contada uma trama sobre corpos de jovens mulheres que aparecem vitimadas por golpes de facas. O fato curioso é que em suas coxas esquerdas existem runas esculpidas na carne, com profunda habilidade. Tais caracteres apresentam um intricado código criptográfico – The Monongahela Carver Cipher. Bem original, horripilante e útil.

O Arcane Artifact é chamado de Eye of Daoloth, que precisa ser armazenado em condições refrigeradas para não libertar o Mal que está aprisionado em seu interior. Nada muito inspirador, porém curioso. Seria interessante ver como os jogadores lidariam com o artefato em uma situação que o sistema de refrigeração falhasse...

As próximas 18 páginas são preenchidas por um detalhado estudo sobre a seita dos assassinos, cobrindo as suas origens, ligações com o islamismo, fatos históricos relevantes e, obviamente, a sua relação com o Mythos. Este tratado feito por David Hardy e Scott Glancy (com pontos semelhantes à história dos Assamitas do World of Darkness) é extremamente útil para o Keeper, seja para um cenário historicamente fiel, fantasia medieval ou envolvendo o Mythos de uma forma mais Pulp. Sem sombra de dúvida, este é o texto medalha de ouro deste volume de TUO.

James Haughton assina o segundo cenário desta edição, chamado Let’s learn Aklo! Nesta rápida trama para Delta Green, os investigadores se envolvem com um caso de múltiplas mortes envolvendo o aprendizado de um novo idioma. Aqui, as referências a obra The Courtyard de Alan Moore (!!) são evidentes, estando a mesma relacionada na bibliografia do cenário. Um cenário competente, com uma boa dose de investigação e uma revelação final interessante.

O próximo Arcane Artifact é feito também para Delta Green, desta vez escrito por Bret Kramer. Trata-se de uma caixa e armazenamento com um braço esquerdo dentro. Porém, um braço que tem vida própria, como nos filmes mais trash que você pode imaginar. Nem preciso falar mais nada...

Fechando o volume, temos Scott Glancy trazendo Delta Green: Directives from a Cell. Neste ensaio, Scott escreve sobre uma constante crítica de muitos usuários de DG: a falta de material exclusivo no mercado. Como solução, o autor considera o uso de elementos de outros jogos, justificando que o RPG é uma arte colaborativa e em eterna expansão. Assim, o Keeper não precisa ficar restrito ao universo de Lovecraft para encontrar o antagonista para a sua próxima mesa de DG. Um texto que trás algumas boas idéias.

Enfim, costumo relacionar o sucesso de alguma publicação de RPG com a quantidade de idéias para cenários que a mesma fornece durante a leitura. Este sempre foi o ponto forte da TUO e, pelo jeito sempre será. Apesar de este edição ser a menos inspiradora até o momento (considerando o período pós-hiato), ela ainda apresenta material de altíssima qualidade, como a idéia do Carver Cipher e o estudo sobre os assassinos. Materiais estes que podem facilmente ser encaixados nas mais diversas mesas de jogo. Os materiais para Delta Green obviamente vieram para saciar um pouco a sede do publico que clama por este tipo de jogo. Uma pena que esta ambientação não é a minha favorita – fato este que ajudou a diminuir a minha avaliação sobre mais este volume de TUO. Mas afinal, não é uma falha dos editores; eles precisam ter jogo de cintura para mesclar material que interesse aos diversos públicos do Mythos. E este objetivo foi alcançado novamente.

The Unspeakable Oath 20

por Shane Ivey, John S. Tynes e outros
Arc Dream Publishing – 66 páginas, capa colorida, U$ 9,99

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