Por Clayton Mamedes
Para quem não sabe ainda, a
revista The Unspeakable Oath é uma
competente publicação dedicada exclusivamente aos jogos de RPG baseados nos
contos de H.P. Lovecraft e a outros assuntos relacionados ao Mythos. Neste
ressurgimento, a revista apresenta uma periodicidade quadrimestral; assim em
Julho de 2011 foi publicado o exemplar de número 20. Depois de muito tempo,
consegui ler e sintetizar o seu conteúdo para esta resenha. Antes tarde do que
nunca...
Essa edição começa com uma bela
ilustração de Todd Shearer, que já havia realizado um bom trabalho com a edição
de re-estréia, a #18. Escolha de cores e nível de detalhes adequados para uma
cena bem violenta.
Como de praxe, a primeira seção é
o editorial, chamado de The Dread Page of Azathoth. Estas breves
palavras estão se tornando a minha parte favorita da revista, sempre
apresentando opiniões interessantes. Desta vez a discussão gira em torno do
combate em aventuras de Call of Cthulhu.
São realmente necessários? Quais vantagens posso tirar deles?
Adam Gauntlet é o responsável
pelo primeiro Tale of Terror desta
edição. Em uma página são descritas 3 maneiras distintas de utilizar uma lista
de nomes de pessoas encontradas nas ruínas da sede de um culto derrotado. Coisa
bem simples e de utilidade duvidosa.
The Eye of Light & Darkness concentra uma das poucas críticas
que faço a TUO. Apesar do conteúdo desta seção ser interessante e útil
(resenhas sobre jogos e outros relacionadas ao Mythos), eu não entendo a razão
pela qual esta seção é dividida ao meio: algumas resenhas são apresentadas nas
páginas 6 e 7, continuando somente na 57, sendo que até mesmo a conclusão dos
parágrafos é fracionada. Apesar desta mancada, este volume trás algumas obras
conhecidas do público brasileiro, como Cthulhu
Invictus, Watchers in the Sky, The Curse of Yellow Sign: Act I, e uma
análise de uma coletânea de DVD do Marble
Hornets (O Slender Man ataca novamente!). Acho interessante ler análises
sobre obras que você já conhece; muitas vezes são abordados temas diferentes. Outro
ponto de vista sempre é bem-vindo.
Jeffrey Moeller assina o primeiro
cenário deste volume, feito para CoC nos dias atuais. Nas próximas 11 páginas
temos uma idéia original e bem trabalhada (não entrarei em detalhes para evitar
spoilers), que provavelmente
surpreenderá os jogadores. Contudo, também existe o risco do Keeper ser pego
com as calças arriadas, já que a trama é complexa e precisa ser lida e relida
para ser entendida plenamente.
Mysterious Manuscript de Dan Harms ocupa apenas 2 páginas, mas é um
dos pontos altos desta edição de TUO. Neste breve artigo é contada uma trama
sobre corpos de jovens mulheres que aparecem vitimadas por golpes de facas. O
fato curioso é que em suas coxas esquerdas existem runas esculpidas na carne,
com profunda habilidade. Tais caracteres apresentam um intricado código
criptográfico – The Monongahela Carver
Cipher. Bem original, horripilante e útil.
O Arcane Artifact é chamado de Eye
of Daoloth, que precisa ser armazenado em condições refrigeradas para não
libertar o Mal que está aprisionado em seu interior. Nada muito inspirador,
porém curioso. Seria interessante ver como os jogadores lidariam com o artefato
em uma situação que o sistema de refrigeração falhasse...
As próximas 18 páginas são
preenchidas por um detalhado estudo sobre a seita dos assassinos, cobrindo as
suas origens, ligações com o islamismo, fatos históricos relevantes e, obviamente,
a sua relação com o Mythos. Este tratado feito por David Hardy e Scott Glancy
(com pontos semelhantes à história dos Assamitas do World of Darkness) é extremamente útil para o Keeper, seja para um
cenário historicamente fiel, fantasia medieval ou envolvendo o Mythos de uma
forma mais Pulp. Sem sombra de dúvida, este é o texto medalha de ouro deste
volume de TUO.
James Haughton assina o segundo
cenário desta edição, chamado Let’s learn
Aklo! Nesta rápida trama para Delta
Green, os investigadores se envolvem com um caso de múltiplas mortes
envolvendo o aprendizado de um novo idioma. Aqui, as referências a obra The Courtyard de Alan Moore (!!) são
evidentes, estando a mesma relacionada na bibliografia do cenário. Um cenário
competente, com uma boa dose de investigação e uma revelação final
interessante.
O próximo Arcane Artifact é feito também para Delta Green, desta vez escrito por Bret Kramer. Trata-se de uma
caixa e armazenamento com um braço esquerdo dentro. Porém, um braço que tem
vida própria, como nos filmes mais trash que você pode imaginar. Nem preciso
falar mais nada...
Fechando o volume, temos Scott
Glancy trazendo Delta Green: Directives
from a Cell. Neste ensaio, Scott escreve sobre uma constante crítica de
muitos usuários de DG: a falta de material exclusivo no mercado. Como solução,
o autor considera o uso de elementos de outros jogos, justificando que o RPG é
uma arte colaborativa e em eterna expansão. Assim, o Keeper não precisa ficar
restrito ao universo de Lovecraft para encontrar o antagonista para a sua
próxima mesa de DG. Um texto que trás algumas boas idéias.
Enfim, costumo relacionar o
sucesso de alguma publicação de RPG com a quantidade de idéias para cenários
que a mesma fornece durante a leitura. Este sempre foi o ponto forte da TUO e,
pelo jeito sempre será. Apesar de este edição ser a menos inspiradora até o
momento (considerando o período pós-hiato), ela ainda apresenta material de
altíssima qualidade, como a idéia do Carver
Cipher e o estudo sobre os assassinos. Materiais estes que podem facilmente
ser encaixados nas mais diversas mesas de jogo. Os materiais para Delta Green obviamente vieram para
saciar um pouco a sede do publico que clama por este tipo de jogo. Uma pena que
esta ambientação não é a minha favorita – fato este que ajudou a diminuir a
minha avaliação sobre mais este volume de TUO. Mas afinal, não é uma falha dos
editores; eles precisam ter jogo de cintura para mesclar material que interesse
aos diversos públicos do Mythos. E este objetivo foi alcançado novamente.
The
Unspeakable Oath 20
por Shane
Ivey, John S. Tynes e outros
Arc
Dream Publishing – 66 páginas, capa colorida, U$ 9,99
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