Era um dia como qualquer outro para uma equipe de trabalhadores que realizava obras de reparo num trecho da auto-estrada próxima a Gliwice, interior da Polônia.
Os homens já estavam cansados e se preparavam para ir embora, quando um deles verificou que o uso da britadeira no concreto, havia aberto rachaduras em um canto da estrada. Mais estranho ainda, eles descobriram que as rachaduras estavam localizadas em uma espécie de chapa de pedra com algumas estranhas marcas quase apagadas na superfície. O chefe dos empreiteiros resolveu chamar alguém para dar uma olhada e este entrou em contato com o museu mais próximo que despachou um professor de arqueologia para verificar o que era aquilo.
Depois de analisar as marcas, o arqueólogo chegou a conclusão que aquelas eram inscrições em um idioma usado naquela região há muito tempo. Empolgado com a descoberta, ele pediu que os trabalhadores removessem a tampa de pedra, acreditando se tratar de uma tumba medieval. O que eles foi achado era muito mais estranho e perturbador, algo que parecia saído de um filme de horror clássico - a tumba de um bando de vampiros!
Haviam quatro esqueletos espalhados pela pequena câmara, todos eles cuidadosamente decapitados. Seus crânios repousavam acomodados entre as pernas - uma antiga prática eslava para dispor de suspeitos de vampirismo. A ideia é que esses cadáveres não poderiam se erguer depois de terem a cabeça devidamente cortada. Em dois dos crânios, no interior de suas bocas foram encontrados restos de raízes, como acônito, e pétalas de flores. Outro cadáver teve uma cruz de ferro colocada sobre o peito.
Os arqueólogos acreditam que a tumba foi lacrada por volta do século XIII quando a crença em vampirismo era algo recorrente, sobretudo quando crianças morriam, desapareciam ou quando uma determinada comunidade sofria com alguma epidemia inexplicável. Uma das formas de se lidar com esses problemas não raramente era acusar algum bode expiatório de ser um vampiro, executá-lo e torcer para que as coisas melhorassem. Nem sempre funcionava, é claro, mas os aldeões continuavam fazendo isso de qualquer maneira.
Entretanto, a tumba recentemente descoberta na Polônia não é a primeira que pesquisadores apontam como pertencente a suspeitos de vampirismo.
Arqueólogos suspeitam que enterros de supostos mortos-vivos ocorriam tanto no Velho Mundo quanto no Novo Mundo.
Em 1990, o arqueólogo da Colúmbia Britânica Hector Williams descobriu num cemitério na Ilha grega de Lesbos o esqueleto de um homem adulto que havia sido trespassado no peito por uma estaca de ferro. Esta foi devidamente fincada no chão de pedra de modo que o cadáver ficasse completamente imobilizado. Não bastasse essa grande estaca, a vítima também recebeu oito espigões de ferro atravessando seu pescoço, pélvis, pulsos e tornozelo.
"O cadáver foi depositado em um caixão pesado de madeira, quase que completamente deteriorado pela passagem do tempo" contou Williams, "mas ainda era possível encontrar no seu interior indícios de bulbos de alho usados para purificá-lo". Marcas na tampa atestavam que o ataúde havia sido fechado com pregos e supõe-se que uma corda tenha sido passada ao seu redor. Claramente, alguém queria garantir que esse homem não se libertasse da tumba onde fora encerrado. Os antropólogos forenses que examinaram o corpo não encontraram nada diferente nele que pudesse atestar sua suposta herança vampiresca.
Mais recentemente, um time de arqueólogos liderados por pesquisadores da Universidade de Florença e pelo antropólogo forense Matteo Borrini descobriram outra suspeita de enterro de morto vivo na Ilha italiana de Lazzaretto Nuovo. Nesse caso, o cadáver se provou pertencer a uma mulher bastante idosa, que foi depositada de bruços em um caixão de ferro. Não bastasse esse cuidado, um pedaço considerável de tijolo foi colocado em sua boca - uma forma documentada de exorcismo medieval praticada em suspeitos de vampirismo na Itália.
Casos macabros também estão presentes no Novo Mundo. Em 1992, operários trabalhando em um cemitério do século XVIII próximo de Connecticut, encontraram algo completamente incomum: a tumba de um homem de 50 anos cuja cabeça foi decapitada, enquanto os ossos de suas pernas foram serrados e dispostos em um padrão que remetia ao símbolo de "caveira e ossos". Ao lado numa tabuleta de madeira, lia-se as palavras "ravenant", um dos correlatos do vampiro moderno.
Um exame dos restos determinou que o homem morreu de uma doença que na época era chamada de "consumo" - que hoje nós conhecemos como tuberculose. Um verdadeiro flagelo na época. Aqueles acometidos por doenças infecciosas manifestavam sintomas que podiam ser confundidos com vampirismo - palidez, perda de peso e aparência macilenta ou cadavérica. O temor fazia com que as pessoas tentassem se precaver e evitar que esses suspeitos se erguessem de suas tumbas. Uma cruz de prata foi pregada na tampa do esquife o que demonstra que os cuidados justificavam usar algo valioso como prata como precaução.
O desejo dos mortos por sustento era um temor constante. Segundo o folclore de vários povos, os mortos precisavam se alimentar de sangue, fluidos, linfa, bile... diferentes substâncias que, em comum, são extraídas do corpo pulsante dos vivos.
O temor de que um morto se levantasse de uma sepultura para espreitar um vilarejo era uma preocupação bem real. Alguns povos possuíam regras muito rígidas de como dispor dos mortos, como enterrá-los e como cuidar para que eles não voltassem. A mera suspeita de que alguém pudesse ser um vampiro despertava um pavor profundo que motivava pessoas a "fazer o que era certo", ainda que agissem de forma clandestina uma vez que as autoridades religiosas quase sempre considerassem o ato de profanar um cadáver sacrilégio.
De todos os métodos empregados, a decapitação era o favorito. Existia a crença de que cadáveres cuja cabeça fosse separada do corpo não poderiam renascer, ou ao menos não poderiam se alimentar do vivos. Isso não impedia que em algumas regiões do leste europeu vigorasse a suspeita de que corpos ainda que sem cabeça pudessem escavar a terra e predar os vivos.
Entre os métodos mais incomuns, havia uma série de superstições locais que incluíam queimar o corpo, marcá-lo com um ferro em brasa, remover seus dedos e genitais, serrar os pés e até perfurar os olhos e preencher as órbitas oculares com chumbo derretido. Os dentes em alguns casos eram completamente arrancados com faca ou porrete para que eles não pudessem ser usados contra os vivos, a garganta por vezes era cortada ou obstruída com terra e a língua - para alguns um vetor da doença, era cortada e inserida no ânus. Cordas, correntes e outros métodos de captura também eram utilizados mas nesse caso como precaução para que o cadáver ainda que desperto não fugisse e eventualmente se desfizesse de fome.
Um costume muito curioso usado na Itália visava assustar o vampiro e fazer com que ele não deixasse sua tumba. Um espelho era colocado na entrada da tumba, a proposta era de que o vampiro se deparando com sua própria imagem ficaria assustado e não teria coragem de se levantar. Em uma tumba na Sérvia, arqueólogos encontraram um cadáver encerrado em uma armadura de metal sem articulações, uma verdadeira prisão de ferro da qual um vampiro, mesmo com todos os seus poderes, não poderia se livrar.
Hoje, muitos arqueólogos acreditam que a falta de compreensão de doenças e de condições físicas eram a principal causa do mau entendido que levava muitas pessoas a serem enterradas como vampiros. A pouca compreensão sobre a decomposição também era uma causa comum. Cadáveres encontrados em seu lugar de descanso que por algum motivo não se deterioravam eram vistos com suspeita. Na crença medieval, um cadáver que não se decompunha era uma temeridade, a não ser que ele fosse um morto ilustre e candidato a beatitude. A linha entre a santidade e vampirismo era tênue, tão limítrofe que alguns cadáveres mumificados de supostos santos acabaram sendo vistos, décadas depois, como prováveis vampiros. Nesse caso, muitos deles acabavam destruídos para "evitar o pior".
Embora muitos americanos e europeus no século XIX estivessem familiarizados com as vicissitudes do corpo humano, não se sabia muito a respeito do que acontecia com um cadáver meses ou anos depois de seu sepultamento. Para todos os efeitos, a crença de que o morto deveria voltar a ser pó, era esperado e qualquer coisa diferente disso levantava presunções. Em pleno século XIX, quando a ciência já desabrochava, em uma cripta da cidade de Boston, doze cadáveres foram removidos de seu descanso e devidamente decapitados pela suspeita de não estarem totalmente mortos, já que não haviam se decomposto por completo.
Ao que parece, o vampiro na Polônia que já não foi o primeiro, dificilmente será o último.
Ao redor do mundo, continua-se encontrando tumbas malditas onde os restos de supostos vampiros repousam por um tempo muito mais curto do que a eternidade.