Outra forma de magia que frequentemente aparece nos Grimórios é aquela que confia seu poder nos corpos celestes como luas, planetas e estrelas. A Chave Menor de Salomão teria sido bastante influenciada por outro livro mais antigo chamado Heptameron, escrito por um filósofo italiano e astrólogo Peter de Albano no final do século XIII e início do XIV. Ele foi publicado em meados de 1400 muito depois dele ter definhado lentamente em uma prisão acusado de heresia.
O livro lidava em grande parte com magia planetária, com forte ênfase em astrologia, alinhamentos planetários, passagem de cometas e eclipses. Cada um desses fenômenos astrais favorecia de alguma forma um tipo de ritual ou uma magia portentosa. o livro trazia rituais de invocação de anjos, bem como a purificação e consagração de objetos, instruções para a criação de círculos mágicos para diversos propósitos.
Outro tomo escrito por um filósofo e tratando com astrologia e magia planetária é considerado um dos mais respeitados grimórios mágicos, o Libri Tres de Occulta Philosophia, ou "Os Três Livros de Filosofia Oculta". O pedigree desse Grimório é impressionante, tendo sido escrito pelo famoso místico e alquimista alemão Heinrich Cornelius Agrippa. Tratando majoritariamente de magia elemental e celestial, bem como astrologia, alquimia e comunicação espiritual, o tomo é dividido em três grandes livros. Sua aproximação intelectual é bastante distinta tratando da natureza da magia sob um ponto de vista racional. Nessa concepção, magia seria um tipo de ciência a ser compreendida e dominada. Além disso, ao longo da obra podiam ser encontradas vários passagens codificadas e trechos cifrados remetendo a notáveis intelectuais como Pitágoras, Ptolomeu, Platão e Aristóteles, que tornavam o livro único entre os outros tipos de grimórios existentes e ajudaram a cimentar a noção moderna de magia.
Um dos maiores e mais conhecidos volumes de magia possui também natureza astrológica. Datando de antes do século XI, o Picatrix foi originalmente escrito em árabe sob o título Ghayat Al-Hakim, que se traduz como "Para alcançar a Sabedoria" ou "O Objetivo do Sábio". Trata-se de uma vasta obra de 400 páginas a respeito de teoria mística e magia, incluindo várias magias com o foco no controle de energias advindas dos planetas, estrelas, cometas e demais corpos celestes e considerado um dos primeiros e mais completos trabalhos no campo das ciências astronômicas jamais escritas. Alguns dos efeitos que podem ser alcançados através do conhecimento contido no livro incluíam induzir viagens astrais, teleportação, alterar os estados de consciência, precognição, controle mental, influenciar pessoas... magias realmente poderosas sugeriam atuar sobre os mortos, destruir pessoas, devastar cidades e liberar pestes. Alguns dos símbolos retratados nas páginas também serviriam para criar amuletos e encantar objetos.
Escrito em árabe, o enorme Grimório foi traduzido para o espanhol e então para o Latim, onde ele recebeu o título Picatrix. Embora o livro tenha se tornado extremamente importante para a Magia Ocidental, sendo citado por magos da Renascença como Cornelius Agrippa e Marsilio Ficino, não se sabe quem o escreveu originalmente, ainda que existam suposições de que sua autoria cabe ao matemático árabe Ahmad Al-Majriti que viveu na Espanha Moura.
Uma das características mais notáveis do Picatrix são os grotescos e perturbadores, algumas vezes considerados obscenos, ingredientes usados na maioria das magias contidas nas suas páginas ancestrais. Recorrendo a materiais exóticos para criar as medonhas misturas que alimentam os rituais e magias, temos uma lista de ingredientes desagradáveis que incluem sangue, esperma, saliva, cera de ouvido, ossos, lágrimas, fezes, suor, urina e matéria cerebral tanto de humanos quanto de animais. Boa parte desses materiais são queimados em cadinhos ou caldeirões para que a fumaça resultante que se ergue da mistura ative as magias. O Picatrix também lida com a utilização de várias plantas e ervas de natureza alucinógena e psicoativa, como hachiche, ópio e outras drogas extraídas de plantas. Talvez por essas razões não seja de se surpreender que alguns utilizadores do tipo de magia descrita no Picatrix afirmassem que seu uso poderia causar uma profunda confusão mental, insanidade, desmaios, doença e um estado de comatose semelhante a morte.
Alguns feiticeiros que tiveram acesso ao tomo advertiam de enormes perigos aio empregar as magias ali descritas. Alardeavam que demônios e elementais surgiam durante sua realização para causar a ruína e destruição dos magos inexperientes que ousavam fazê-lo. É provável, contudo, que a maior parte desses perigos viessem das misturas insalubres e dos vapores que emergiam a partir da queima de tais extratos.
Além dos Grimórios Astronômicos, haviam ainda aqueles que se concentravam na Criação de Artefatos Mágicos e Objetos Encantados ao invés de Magias e Rituais. Um Tomo nessa categoria é o Black Pullet, escrito na França em algum momento do século XVIII. O autor teria sido um soldado ou oficial de baixa patente que serviu no exército de Napoleão Bonaparte que alegava ter sido resgatado do Deserto do Egito por um misterioso feiticeiro turco que o ajudou a se recuperar de seus ferimentos. Posteriormente esse mago teria lhe ensinado mistérios e segredos arcanos que ele transcreveu no livro.
O Black Pullet (A Galinha Preta) se dedica a descrever como criar e construir 22 objetos mágicos, desde talismãs e amuletos, até anéis, varinhas e cajados imbuídos de magia e capazes de operar efeitos miraculosos no mundo. Entre as qualidades destes itens estavam a capacidade de controlar a mente alheia, proteger contra ferimentos, curar doenças, encontrar segredos, revelar a mentira e causar ferimentos apenas apontando na direção de quem se desejava ferir. Alguns dos objetos serviam para invocar seres místicos como gênios, demônios e elementais que eram aprisionados dentro deles. Os objetos eram construídos com material nobre: seda, bronze, aço e adornados com pedras preciosas, recobertos de símbolos e inscrições contendo palavras de poder reveladas pelo livro em detalhes.
O item mais famoso listado pelo livro é justamente aquele que dá nome à obra, o "Black Pullet", que é uma galinha que é capaz de encontrar tesouros ocultos assim como por ovos de ouro. De acordo com o Grimório, qualquer pessoa que fosse capaz de criar e controlar esse feitiço seria rico além de seus sonhos mais febris. O tomo influenciou vários outros trabalhos no campo do ocultismo, inclusive o Grand Grimoire, que já foi citado.
Outro texto que trata especificamente da criação de objetos místicos se concentrava especificamente na legendária Pedra Filosofal. Esta seria um dos mais valiosos artefatos da alquimia e do universo do ocultismo ocidental; segundo as histórias a pedra não apenas era capaz de transmutar chumbo em ouro, mas serviria para concotenar o fabuloso "Elixir da Vida", que curaria toda doença, ferimentos e garantiria imortalidade.
Estes incríveis segredos místicos estariam contidos em uma série de manuscritos ao invés de um livro, e teriam sido escritos por um monge de Yorkshire chamado George Ripley no século XV. Embora Ripley fosse um religioso, aparentemente ele era fascinado pelo mundo oculto e pela alquimia tradicional. Ele teria passado quase 20 anos vagando pela Europa, coletando conhecimento arcano que foi reunido em seus textos.
Os Manuscritos de Ripley, continha não apenas textos notáveis, mas ilustrações, iluminuras e textos cifrados que alegadamente escondiam a fórmula para criar a Pedra Filosofal. Ripley teria obtido uma enorme riqueza pessoal, que não tinha qualquer explicação razoável, visto que ele levava a vida modesta de um monge. Segundo as histórias, ele teria realizado enormes doações, em especial para a Ordem de Cavaleiros de Malta que defendiam a Ilha de Rodes dos Turcos, teria emprestado dinheiro a abadias e compartilhado ouro com nobres benevolentes. Quando morreu, muitos acreditavam que ele teria escondido um tesouro inestimável em algum lugar de seu monastério.
Curiosamente, alguns cientistas importantes demonstravam enorme interesse nesse material. Ninguém menos que Isaac Newton acreditava que os manuscritos realmente tinham fundamento e que poderiam conter os segredos da transmutação alquímica, algo que ainda era buscado pelos primeiros químicos modernos. Os Manuscritos de Ripley desapareceram misteriosamente, mas segundo rumores eles teriam sido enviados após a morte do monge para uma Ordem que prometeu guardá-los e evitar que seus segredos caíssem em mãos erradas. De tempos em tempos, versões deles surgem na Europa em coleções particulares, mas não se sabe ao certo se eles seriam os originais redigidos pelo misterioso Monge de Yorkshire.
Outro livro que trata de objetos mágicos transbordando com poderes sobrenaturais é o curioso Galdrabok. Escrito no século XVI na Islândia, esse Grimório descreve como Runas e Símbolos mágicos podem ser usados para transferir a objetos capacidades notáveis.
O Galdrabok, descreve em suas mais de 300 páginas as propriedades de cada runa associada a um poder esotérico e um fundamento místico. Tais símbolos podem ser escritos em papel, velino e pele, ou então entalhados em madeira ou metal para que o objeto onde ele é afixado receba aquela magia. Os itens mais comuns descritos no Grimório seriam os Galdrastafur: cajados, varinhas e cetros, contudo anéis, braceletes e mesmo espadas podiam receber as runas de poder e assim se tornarem encantados.
Uma vez cobertos com os símbolos os itens poderiam realizar vários efeitos místicos. Alguns concederiam sorte, atrairiam riqueza, saúde, afastariam aflições, induziriam o medo ou a coragem, aumentariam a fertilidade, abririam portas sem chave, aumentariam habilidades naturais e afastariam espíritos malignos ou animais selvagens. Se uma espada recebesse uma determinada runa de poder, por exemplo, ela seria capaz de desferir golpes fatais ou até fulminar qualquer um, além de seu dono original que ousasse erguê-la. Alguns poderes eram mais estranhos ou inusitados: uma varinha poderia comandar os peixes de um lago a saltar para fora da água dentro de uma canoa, um cetro poderia controlar ovelhas e fazer com que elas não se afastassem, já um anel de latão era capaz de provocar em uma pessoa um ataque repentino de gases e flatulência incontrolável. No total, o Galdabrok trazia nada menos do que 47 runas que poderiam ser combinadas a pelo menos 12 diferentes objetos individuais para gerar efeitos.
O Galdabrok se converteu em um dos mais conhecidos Grimórios a respeito de magia tradicional pagã e foi contrabandeado para os países nórdicos onde passou a ser usado por feiticeiros. Até o século XIX ele ainda era bastante usado por supostos magos e curandeiros que viviam em áreas afastadas. Em meados da década de 30, ocultistas redescobriram o Grimório e o associaram a uma espécie de magia que foi muito popular entre as sociedades arianas em voga na Alemanha Nazista.
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Bem, esta série de artigos cobriu alguns dos principais Grimórios e Tomos de ocultismo no Mundo Ocidental. É claro, existem outros além destes e possivelmente muitos outros foram mantidos em segredo e jamais foram descobertos. Alguns ainda devem estar em prateleiras empoeiradas em velhas bibliotecas esperado que alguém os encontre e revele seus segredos milenares para o mundo.
Estes Grimórios conhecidos mundialmente oferecem muitas revelações, um vislumbre de uma época muito distante em que a intuição e as atitudes eram reconhecidas como misticismo e que estavam ligadas a magia. Eles são relíquias de tempos antigos que carregam o conhecimento e saber de coisas que não mais acreditamos ou que cederam lugar para a ciência moderna. Ainda assim, eles serviram para criar a fagulha que resultou na nossa curiosidade para decifrar o que nos cerca e compreender o que aos nossos olhos parecia impossível. Nas palavras de Arthur Clarke, tudo aquilo que não compreendemos e que nos causa espanto pelos seus efeitos na natureza, pode ser compreendido como...
Magia!
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