Apóstolo acaba de estrear na grade de programação do Netflix, agora dia 12 de outubro. A produção original do canal estava sendo aguardada por todos que assistiram o trailer que vinha sendo divulgado faz mais ou menos um mês. Ele gerou uma baita expectativa nos fãs de horror que gostam de apimentar o gênero com cultos religiosos e seitas fanáticas.
Empolgante e difícil de escrever a respeito sem revelar detalhes da trama (mas fiquem tranquilos, não teremos SPOILERS), Apóstolo é daqueles filmes que pegam a gente de surpresa oferecendo algo além do esperado. Assim como ocorreu com Aniquilação, que oferecia um horror fora do convencional, repleto de plot twists que desconstruíam a própria realidade da trama, Apóstolo envereda em um caminho similar. Com um suspense enervante que vai crescendo a cada cena, o roteiro investe em insanidade borbulhante e em violência escancarada. Toda vez que o espectador acredita ter entendido que tipo de história de horror está assistindo, algo bizarro ocorre, demonstrando que no universo caótico de Apóstolo, tudo pode acontecer. e de fato, acontece um pouco de tudo.
O diretor Gareth Evans constrói passo a passo um pesadelo alucinante, disfarçado em um ambiente com paisagem idílica. A natureza selvagem da ilha isolada na costa de Gales, onde se passa o filme, traduz um senso de urgência e ameaça ocultos. A qualquer momento parece que tudo vai desmoronar pela ação dos personagens e de fato, isso acaba acontecendo em uma conclusão desconcertante.
A primeira hora de Apóstolo parece render uma homenagem ao clássico filme britânico "O Homem de Palha" (Wicker Man, 1973), mas o ambiente da Ilha que se torna refúgio de uma estranha seita logo se mostra muito mais abominável do que qualquer sociedade de neo-pagãos. Os fanáticos em Apóstolo são muito mais perigosos, brutais e dispostos a tudo para controlar o destino de seu rebanho. Em uma espécie de microcosmo da Santa Inquisição, os líderes do Culto não admitem nenhum pensamento individual e estão dispostos a tudo para impor a sua vontade, inclusive perseguir, oprimir e torturar.
Apóstolo se passa na virada do século XX, em meados de 1905, e acompanha a jornada de um sujeito chamado Thomas Richardson (Dan Stevens, ator de Dowton Abbey) que aceita a missão de se infiltrar em uma ilha remota onde se estabeleceu um Culto. Richardson não é exatamente um bom sujeito: ele é a ovelha negra de uma família rica, consumidor contumaz de láudano e atormentado por pesadelos aterradores. A razão para ele aceitar a tarefa é simples, a tal seita sequestrou sua irmã Jennifer (Lucy Boynton) e exige um resgate. Qualquer tentativa de contatar as autoridades irá resultar na morte da garota e Thomas é a única esperança de verificar que ela está viva e se é possível salvá-la. Para isso ele terá de se disfarçar como um seguidor da religião, enganar os verdadeiros cultistas sem levantar suspeitas de suas intenções.
Mas é claro, a situação é muito mais séria do que ele poderia imaginar, afinal ele não está lidando com simples criminosos, mas com zelotes. O líder da comunidade é um auto-proclamado Profeta chamado Malcolm (Michael Sheen) que detém poder de vida e de morte sobre o seu séquito. O discurso maníaco dele já dá a entender que a crença professada na ilha está alinhada com uma postura "fogo e enxofre" ao invés de amor e paz. Além do mais, o objeto de adoração da Seita, é um mistério que Thomas sequer imagina. Algo que vai muito além de uma adaptação da fé cristã, e que parece enraizado em coisas mais obscuras, envolvendo sacrifício, sangue e obediência cega.
No início, o filme parece aderir ao roteiro esperado. É um mistério no qual o protagonista mergulha de cabeça, tentando descobrir o paradeiro de sua irmã e entender o que está acontecendo na comunidade. As escapadas noturnas para explorar os arredores e a comprovação de costumes cada vez mais excêntricos dos habitantes locais se traduzem em uma dúvida que acompanha o espectador até o final: será que o tal culto está envolvido com alguma entidade sobrenatural ou Malcolm não passa de um charlatão? Aos poucos essa dúvida vai sendo respondida, a medida que ficamos sabendo que o paraíso dos fanáticos está impregnado por algo muito ruim.
A investigação de Richardson acaba resultando em uma reação extrema dos fanáticos quando estes descobrem que há um invasor em seu meio e é aí que o filme dá uma guinada para um segundo ato brutal. O diretor não economiza na barbárie, apostando em cenas de tortura com direito a mutilações, crânios sendo arrebentados, colunas fraturadas e dedos dilacerados. A medida que a violência toma conta da tela, baldes de sangue escorrem em profusão e as lutas se tornam mais e mais desesperadas.
Há algumas tramas paralelas concentradas na filha do vigário que duvida da santidade do pai e em um romance proibido entre dois aldeões que acaba descambando em ainda mais loucura. Apesar de quase derrapar perigosamente na estética gore e a longa duração, o filme consegue se manter nos trilhos até o clímax em uma nova explosão de sangue, sangue e mais sangue.
Visualmente o filme é notável, com uma paisagem de natureza exuberante fazendo o contraponto com toda miséria humana. As filmagens panorâmicas, com tomadas aéreas de lagos, florestas e do litoral chamam a atenção, assim como a reconstituição de época, obedecendo a uma estética barroca que remete aos filmes de horror góticos. Tudo parece em perfeito lugar e tecnicamente a produção é muito caprichada.
Em um primeiro momento o protagonista do filme poderia parecer deslocado na trama, afinal Dan Stevens se tornou conhecido como o perfeito cavalheiro educado e simpático de Dowton Abbey, que morre tragicamente na segunda temporada. Quando o vemos barbado, sujo e coberto de sangue, após ter enfrentado todo tipo de situação escabrosa, é difícil lembrar dele como o par ideal de um dama. Seus olhos azuis parecem constantemente assombrados por visões aterrorizantes e pela loucura da ilha que não demora a contaminá-lo. Michael Sheen também defende o papel do pastor fanático com eficiência, sendo teatral e exagerado na medida certa, enquanto recita seus discursos frenéticos.
Apóstolo é uma exploração de como a fé cega e a perversão das crenças podem conduzir à tragédias e desembocar em um rio de loucura e fatalidade. Com certeza ele deve dividir opiniões, mas para a platéia certa ele será um banquete memorável.
Gostei bastante do clima do filme, fotografia, da ambientação, com uma ressalva, pra mim ele se perdeu nos últimos 30 minutos de filme.
ResponderExcluirIrei assistir, aguardando uma resenha sua da serie The Terror, muito boa com toques lovecraftianos!!
ResponderExcluirAchei o filme horrível, um enredo muito fraco, uma trilha sonora que fica gritando nos seus ouvidos a cada momento de tensão, em muitos momentos parece que algo relevante vai acontecer e nada... Diálogos muito fracos. Nem mesmo o tema da seita radical foi bem explorado, e tiveram tempo para isso. Decepcionante.
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