quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A Guerra da Astrologia - Quando o Horóscopo fez parte dos bastidores da Segunda Guerra Mundial.


No curso da Segunda Guerra Mundial, o sobrenatural não estava sendo usado apenas pelos Nazistas, mas também pelos Aliados. Há histórias estranhas e narrativas curiosas sobre a disputa mística nos bastidores do conflito.

Uma história muito estranha ocorreu quando nazistas e britânicos se envolveram em uma batalha que incluiu sensitivos, médiuns e astrólogos. Em 2 de novembro de 1938, uma carta chegou às mãos de um funcionário do Serviço de Segurança Nazista chamado Heinrich Fesel que trabalhava subordinado a Heinrich Himmler.  A carta foi mandada pelo astrólogo suíço Karl Ernst Krafft e sua mensagem tinha cunho urgente. Krafft explicou que havia previsto que a vida do Führer estaria em perigo iminente entre 7 e 10 de novembro daquele mês. Segundo ele, haveria uma terrível tentativa de assassinato e que ele deveria cancelar todas as aparições públicas durante esse período. Pode parecer absurdo, mas a cúpula do Regime mantinha em sua folha de pagamento uma série de astrólogos e sensitivos cuja função era traçar mapas astrais e analisar cartas envolvendo os figurões do partido. Um departamento inteiro tinha essa função específica. 

Foi explicado em termos inequívocos que a informação precisava chegar a Himmler e ser repassada ao próprio Hitler. Deixar de fazê-lo seria desastroso para o futuro do Reich de mil anos. Contudo, Fesel não era particularmente apaixonado pelo conceito de astrologia, embora soubesse que muitos devotavam tempo ao assunto. Fesel não estava disposto a levar em consideração aquele tipo de alarmismo que na sua visão era absurdo. Ele silenciosamente ignorou a carta e colocou o alerta de lado. 

No entanto, a previsão de Kraft acabou realmente se concretizando!

Em 8 de novembro de 1938, Hitler estava programado para fazer um grande discurso numa Cervejaria de Munique. Naquele dia, o tempo estava bem ruim, então ele deixou o evento 30 minutos mais cedo sem avisar ninguém. Exatamente 10 minutos depois que o Führer saiu, uma explosão provocada por uma bomba-relógio destruiu o salão. A bomba havia sido colocada numa coluna atrás do pódio onde Hitler faria seu discurso. A explosão matou oito e feriu mais de sessenta pessoas. Ela certamente teria matado Hitler se ele estivesse lá como originalmente programado. O atentado foi orquestrado por um homem chamado Johann Georg Elser. Seu objetivo era matar Hitler e dar início a uma revolução comunista na sequência. Ele foi posteriormente preso, torturado e executado por apoiadores do regime. 

Embora tenha escapado por um triz, a vida do Fuhrer continuava sob ameaça. Inacreditavelmente, no dia seguinte à explosão, um estudante de teologia da Suíça chamado Maurice Bavaud pegou uma pistola e se misturou a uma multidão durante um desfile barulhento também nas ruas de Munique. Seu plano era aguardar e atirar no Führer, mas quando Hitler passou perto dele, a multidão levantou as mãos e Bavaud não conseguiu prosseguir. Simpatizantes perceberam que ele estava armado e o denunciaram. Ele foi detido, entregue às autoridades e posteriormente executado.

Duas tentativas de assassinato em 24 horas se encaixava perfeitamente na previsão que Krafft havia especificado. Quando a notícia chegou até Fesel, ele pressentiu que havia feito besteira em ignorar a carta do astrólogo. Ele contatou Himmler e o vice-Führer Rudolf Hess, contando a eles sobre a previsão sombria que havia recebido. Fesel foi detido preventivamente por ter ignorado o alerta. Em seguida Himmler ordenou que o astrólogo fosse levado até Berlim para explicar como fez a previsão. Ele foi sequestrado pela Gestapo e embarcado para a Alemanha para interrogatório. A suspeita era de que Kraft poderia fazer parte da conspiração. Surpreendentemente ele foi capaz de convencer os nazistas de suas boas intenções e que poderia ser útil em situações similares.

Kraft acabou caindo nas graças da cúpula do Regime Nazista. Ele foi apresentado ao Dr. Joseph Goebbels, chefe do Ministério da Propaganda do Reich que ficou impressionado com suas credenciais e alegadas habilidades premonitórias. Se ele realmente tinha poderes ou não, não importava! Krafft era visto como uma ferramenta de propaganda em potencial nas mãos de Goebbels e este o usou da forma que lhe convinha. 


Goebbels incumbiu Kraft de interpretar as profecias feitas pelo Psíquico Nostradamus com o propósito de encaixar as previsões que fizessem Hitler parecer alguém destinado a grandes conquistas. Os nazistas tencionavam usar as profecias como propaganda, salientando que a Alemanha conquistaria a Europa. 

Krafft se envolveu fortemente neste trabalho e ajudou a interpretar as quadras de Nostradamus. Ele apontou várias profecias e dezenas de milhares de panfletos em seis idiomas foram distribuídos pela Europa expondo como as previsões de Nostradamus favoreciam o Terceiro Reich. 

O astrólogo ganhou importância cada vez maior nos círculos do poder. Ele era recebido por figurões nazistas que ouviam atentamente suas previsões e que se interessavam pelos seus conselhos. Eventualmente Krafft foi apresentado ao próprio Adolf Hitler que pediu várias leituras particulares. Não se sabe quanto das previsões realmente se concretizaram, mas com toda a importância que lhe foi dedicada, tudo indica que ele gozava de grande influência, sobretudo depois que ele escreveu um livro de sucesso que relacionava os Nazistas a previsões de Nostradamus.

Tudo isso começou a deixar os britânicos preocupados. O alto comando militar do Reino Unido começou a se perguntar se essa moda de astrologia, poderia ajudar a eles em uma eventual guerra. Eles não permitiriam que os alemães tivessem o monopólio das informações, então deram início a uma espécie de corrida armamentista astrológica.


Os britânicos contrataram seu próprio astrólogo, um excêntrico místico chamado Louis de Wohl. Recrutado pela Agência de Inteligência, o MI5, o trabalho de Wohl era construir sua própria campanha de propaganda astrológica para combater o que os nazistas estavam fazendo com Krafft. Para isso, Wohl não apenas começou a fazer previsões de horóscopo que contradiziam publicamente as de Krafft, mas também foi enviado aos Estados Unidos para garantir que suas previsões contra a Alemanha nazista fossem publicadas nas principais revistas de lá. 

Wohl alegou ter feito o Mapa Astral dos líderes alemães e que estes atestavam que os nazistas seriam derrotados. Ele também foi contratado para refutar o livro de Krafft que relacionava as previsões d  Nostradamus com as vitórias nazistas. Para Wohl os nazistas estavam fadados a serem derrotados por uma aliança que incluía os Estados Unidos que seriam levados à guerra no momento certo. Segundo ele, Nostradamus havia claramente previsto esses acontecimentos o que contradizia seu rival. 

Coube a Louis de Wohl escalar a guerra astrológica e levá-la a outro nível.

Ele procurou o Comando Militar afirmando ser capaz de usar habilidades paranormais afim de influenciar psiquicamente as ações do Führer. Seu objetivo seria causar confusão, desnortear e até manipular a mente de Hitler fazendo com que ele perdesse o comando de suas tropas. Em dado momento, Wohl alegou que ele poderia conjurar poder psíquico suficiente para matar Hitler usando energias negativas. Contudo é preciso notar que os britânicos não necessariamente acreditavam que o astrólogo tinha os poderes que ele alegava ter, isso parecia importante para as massas, e especialmente Hitler. Anos mais tarde, o major britânico Gilbert Lennox revelou sobre o assunto: "Era totalmente irrelevante nós consideramos aqueles conselhos astrológicos como valiosos. Tudo o que importava para nós era que Hitler seguisse essas regras e acreditasse nesse absurdo."

O plano era semear dúvidas entre as pessoas e deixar Hitler paranoico sobre o futuro. O serviço secreto chegou a cogitar um plano que contemplava assassinar Krafft e substituí-lo por um médium que daria conselhos que acabariam prejudicando os nazistas. Mas o plano era problemático e esbarrava em certas questões. 


Além disso pouco depois Louis de Wohl começou a se tornar um inconveniente. Muitos consideravam que ele era bem mais do que um sujeito excêntrico. Para alguns ele era doido de pedra, considerado uma fraude mesmo entre outros astrólogos. Para alguns ele afirmava ser a reencarnação de Nostradamus e que suas previsões só poderiam ser corretamente interpretadas após a sua morte. Ele chegou a escrever cartas para um jornal usando um pseudônimo. Nelas afirmava ser um agente secreto contratado para matar Hitler psiquicamente. Segundo ele, Hitler morreria até 1942, vítima de um aneurisma que ele causaria, direcionando energias psíquicas contra o Führer.

Depois de descobrir que Wohl era o responsável pelas cartas, ele foi preso e impedido de falar com a imprensa. Posteriormente ele foi silenciado até ser totalmente afastado do esforço de guerra. Wohl morreu de tifo nos anos 1950, afirmando que Hitler passou a sofrer de Parkinson graças às energias que ele canalizou para matar o líder alemão. 

Mas o pior aguardava o adversário de Wohl que ainda estava à serviço dos nazistas. 

Tudo começou quando Rudolph Hess decidiu viajar até a Inglaterra para discutir termos de um cessar fogo no final de 1941. Era uma missão equivocada e não autorizada, influenciada por um sonho que Hess afirmava ter tido na véspera. O segundo em comando acabou preso após saltar de paraquedas sobre a Escócia. Eventualmente ele passaria o resto de sua vida na prisão. As ações de Hess deixaram Hitler furioso, mas também foram uma má notícia para qualquer um que fosse um astrólogo na época. 

Hess era um dos oficiais nazistas que mais acreditavam e apoiavam médiuns e astrólogos. Em dado momento ele tinha pelo menos meia dúzia de assessores paranormais ao seu redor. Muitos acreditavam que ele havia embarcado em sua missão insana a conselho de um desses psíquicos. Hitler ficou possesso! Mandou prender os assistentes sobrenaturais de Hess e torturá-los para saber a verdade. Em seguida deu início a uma repressão em larga escala de pessoas que praticavam qualquer coisa remotamente relacionada a astrologia. Isso resultou na prisão e morte de inúmeros astrólogos que até então eram bem vistos pelo regime. Karl Ernest Krafft acabou sendo denunciado depois de ter feito a previsão de que os nazistas jamais conseguiriam tomar as Ilhas Britânicas. Ele foi preso e deportado, morrendo em 1945 a caminho de ser transferido para o campo de concentração de Buchenwald


Na época, o esforço para expurgar a Alemanha de astrólogos acabou falhando porque alguns dos próprios homens de Hitler ainda acreditavam nessas coisas. O Professor Eric Kurlander, da Universidade Stetson estudou o tema e escreveu à respeito:

A repressão falhou porque o público alemão permaneceu esmagadoramente supersticioso. Membros do próprio alto comando nazista permaneceram teimosamente apegados a vários aspectos do sobrenatural e a crença científica nele. Goebbels e Himmler mantiveram seus astrólogos preferidos à salvo, mesmo após o decreto de Hitler de que eles deveriam ser expulsos.  

De fato, havia muitos nazistas que ainda estavam interessados ​​no paranormal e no ocultismo, e eles iriam abrir caminho para explorações bizarras do mundo sobrenatural. Os nazistas se tornariam conhecidos por essa busca insana em todo curso da guerra gerando muitas histórias que beiram o inacreditável.

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